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Ricardo Vidal Golovaty. A “psicologia do boato” numa ... - ANPUH-SP

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a redação da Gazeta de Candeias e pede ao redator para que poupe seu amigo (depois de notíciaironizan<strong>do</strong> o vigário).Creio que esses enre<strong>do</strong>s imbrica<strong>do</strong>s entre Franco da Rocha e Amadeu Amaral revelam apresença da psicologia coletiva/das multidões na Pulseira. Contemporâneo da novela, Amaralinteressava-se nas chamadas tradições populares: costumes, crenças e literaturas populares queprincipiou a investigar em busca da demopsicologia <strong>do</strong> povo paulista e brasileiro, em projetonão finaliza<strong>do</strong> e que seria concretiza<strong>do</strong> com livro intitula<strong>do</strong> “Cancioneiro Caipira”.O termo demopsicologia provavelmente provém de Giuseppe Pitré, teórico socialitaliano. As influências folclóricas de Amadeu Amaral perpassavam ainda outros autores:Arnold Van Gennep, André Varagnac e Paul Sébillot. É possível entender demopsicologia comoestu<strong>do</strong> da demografia psicológica de determina<strong>do</strong> espaço/nação, um rastreamento <strong>do</strong>s usos ecostumes tradicionais/morais da população distribuí<strong>do</strong>s no território. Consagrava-a o méto<strong>do</strong>histórico-geográfico, peculiar aos folcloristas <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> aqui retrata<strong>do</strong>. A Pulseira é exemplo deestu<strong>do</strong> de caso ficcional destes aportes/interesses, depois inicia<strong>do</strong>s e des<strong>do</strong>bra<strong>do</strong>s nos rodapés<strong>do</strong> OE<strong>SP</strong> intitula<strong>do</strong>s “Tradições Populares” em 1925.Para concluir volto à “estrutura social” de Candeias e aos fundamentos implícitos dapsicologia <strong>do</strong> boato. Volto à idéia de que o boato toma forma como vilão, mas um vilão que éuma verdadeira instituição social da pequena cidade. No interior dessa totalidade os personagensrepresentam posições sociais específicas: padre Guilherme e Veloso como intelectuais; Nicola,Felisberto e professor Camacho como classe média; Chicão e Rosa como pobres/escravos ou exescravos,negros, trabalha<strong>do</strong>res.Posto que ao final da novela a farsa é descoberta como fruto de adultério de Chicão porsua esposa, que a denuncia aos cunha<strong>do</strong>s em cena de “reboliço com muita pinga, muito choro,muita descompostura, várias porretadas e facadas” 27 esclarecidas na polícia, descortina-se arepresentação <strong>do</strong>s negros como perigosos, caborteiros, traiçoeiros: entre si e diante <strong>do</strong>s brancos.Imagem comum na literatura <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>. Imagem fiel à idéia de negros = classes perigosas =vagabun<strong>do</strong>s ou bandi<strong>do</strong>s. Lugar comum da psicologia das multidões, da psicologia <strong>do</strong> boato deFranco da Rocha e Amadeu Amaral. 28 Lugar para concluir que o estu<strong>do</strong> naturalista de Amaral é27 Idem. Opus cit. p.120.28 Outro paralelo, a conclusão de cada texto: “Caminha para a perfeição espiritual aquele que consegue tornarconsciente a maior parte da maldade que lhe existe no inconsciente, e assim pode <strong>do</strong>miná-la. Ainda estamos longeda perfeição; não podemos exigir a extinção <strong>do</strong> boato.” ROCHA, Franco da. Psicologia <strong>do</strong> Boato, in: AMARAL,Amadeu. Opus cit. p.XXXI.“Chicão pegou no pequeno far<strong>do</strong>, atravessou em silêncio a vila silenciosa, e foi largá-lo, com uma chupeta na boca,à entrada da igreja. Depois, chamou Vito, Pó-lo de guarda ao templo, recomendan<strong>do</strong>-lhe, com uma carrancaimperativa, que não saísse da sacristia, e foi chamar o padre... O resto sabe-se. Candeias achou imensa graça àfinura <strong>do</strong>s brutos, e riu-se regaladamente da peça pregada a padre Guilherme de Meneses.” AMARAL, Amadeu.Novela e Conto. Opus cit. p.120-121.Texto integrante <strong>do</strong>s Anais <strong>do</strong> XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. <strong>ANPUH</strong>/<strong>SP</strong>-U<strong>SP</strong>. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

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