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Ricardo Vidal Golovaty. A “psicologia do boato” numa ... - ANPUH-SP

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conferências literárias realizadas nos anos 1910. O Dialeto Caipira, hoje seu título maisconheci<strong>do</strong>, polemizou sobre o falar caipira e os brasileirismos, revelan<strong>do</strong> que a sintaxe,morfologia e fonética <strong>do</strong> dialeto remetiam às raízes portuguesas, aos arcaísmos, em fase detransformação ou decomposição acentuada.Sobre a Pulseira, ela compõe um projeto da Sociedade Editora Olegário Ribeiro, deintuito de popularização da leitura intitula<strong>do</strong> “A Novella Nacional”, tal como bem analisa<strong>do</strong> noestu<strong>do</strong> de Teresinha Del Fiorentino. 18 Talvez a natureza deste e de outros projetos editoriais <strong>do</strong>perío<strong>do</strong> sejam um <strong>do</strong>s incômo<strong>do</strong>s implícitos da crítica literária de Antonio Candi<strong>do</strong>, sobretu<strong>do</strong>quanto ao regionalismo e sua sintomática persistência na “subliteratura e no rádio”. Fato nãoentendi<strong>do</strong> pelo crítico é que esses livros foram escritos por autores/intelectuais egressos <strong>do</strong>interior para a capital <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de São Paulo. Autores que produziram textos de visadapopular/popularizante nos projetos editoriais e temáticos que, com maior cuida<strong>do</strong>, descortinammotivos outros em suas tramas, para além <strong>do</strong>s estereótipos e piadas sobre caipiras e matutos,Jeca Tatu e Pedro Malasartes.A Pulseira não é apenas um “causo” passa<strong>do</strong> em pequena cidade; é obra de autor afina<strong>do</strong>com as teorias sociais de seu tempo 19 , as usan<strong>do</strong> como inspiração/motivação para suas própriasdescobertas <strong>do</strong> “povo”. Fato que desloca a idéia de Candi<strong>do</strong> de que o regionalismo ganha aresde estu<strong>do</strong>s sociais na década de 1930 quan<strong>do</strong> contraposta a 1920, década <strong>do</strong> reitera<strong>do</strong> pitorescoe jocoso (ao menos, então, no caso de Amadeu Amaral).Na década de 1970, na organização das Obras de Amadeu Amaral, Paulo Duarte dispôs oartigo Psicologia <strong>do</strong> boato, de Franco da Rocha, como prefácio ao livro Novela e Conto. 20 Omotivo é simples e inquietante: logo após a publicação da Pulseira, o alienista e diretor <strong>do</strong> Asilo<strong>do</strong> Juquery 21 enviou à redação <strong>do</strong> jornal O Esta<strong>do</strong> de São Paulo (no qual Amaral trabalhava)carta elogian<strong>do</strong> a obra. Afirmou que procurara ficção que retratasse o seu estu<strong>do</strong>, mas nada18 FIORENTINO, Teresinha Del. Prosa de ficção em São Paulo: produção e consumo. São Paulo: Hucitec;Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Cultura, 1982.19 Sobre Franco da Rocha, “prefacia<strong>do</strong>r” da Pulseira, diz Maria Clementina Pereira Cunha: “O alienismo brasileiromantém uma absoluta atualização em relação àquilo que se produz nos centros mais “avança<strong>do</strong>s” <strong>do</strong> saberpsiquiátrico. Particularmente no caso de São Paulo, onde Franco da Rocha foi figura <strong>do</strong>minante – e, em parte, pormérito seu -, a fala alienista demonstra intimidade com os autores mais recentes <strong>do</strong> alienismo internacional (...).”CUNHA, Maria Clementina Pereira. O espelho <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Juquery, a história de um asilo. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1988, p.28.20 O livro Novela e Conto está forma<strong>do</strong> por: A Pulseira de Ferro e pelo conto Ratinha de Esgoto.21 Franco da Rocha (1864-1933) formou-se em 1890 na academia Nacional de Medicina <strong>do</strong> Rio de Janeiro. Em1893 ingressou no corpo médico <strong>do</strong> asilo de loucos de São Paulo como o seu primeiro especialista. Influencia<strong>do</strong> poruma série de teorias e práticas psiquiátricas (da teoria da degenerescência nos anos de formação a divulga<strong>do</strong>r deFreud no Brasil nos anos 1920) dirigiu o Asilo <strong>do</strong> Juquery de 1903 ao final da década de 1920. De intervenção“moral” e social, o papel <strong>do</strong> asilo durante este perío<strong>do</strong> pode ser sintetiza<strong>do</strong> como abrigo e prisão de tipos sociaiscaracteriza<strong>do</strong>s como “loucos em potencial”, “demi-fous”: vagabun<strong>do</strong>s, prostitutas, alcoólatras, pederastas,homicidas, revolucionários, criminosos, fracos (para os desafios da vida social) e degenera<strong>do</strong>s.Texto integrante <strong>do</strong>s Anais <strong>do</strong> XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. <strong>ANPUH</strong>/<strong>SP</strong>-U<strong>SP</strong>. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

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