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Ricardo Vidal Golovaty. A “psicologia do boato” numa ... - ANPUH-SP

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encontrara, salvo a Pulseira. Nas mãos de Paulo Duarte nos anos 1970, o ensaio “Psicologia <strong>do</strong>boato” <strong>do</strong> alienista <strong>do</strong> Juquery virou prefácio da edição que tenho em mãos. 13Mas antes de abordar o ensaio de Franco da Rocha volto à abordagem de AntonioCandi<strong>do</strong> sobre o regionalismo <strong>do</strong>s anos 1920, pois nem próximo e nem afasta<strong>do</strong> <strong>do</strong> pitoresco e<strong>do</strong> jocoso, Amaral escreveu uma novela que comportava outros interesses. 14 Quais?2) UMA LITERATURA DA ESCRAVIDÃO?Em 1918, trinta anos após a “abolição da escravidão”, exatamente no dia 13 de maio,Amadeu Amaral palestrava sobre o tema “Literatura da Escravidão”. Não vou sintetizar o texto,mas enfatizar a conclusão <strong>do</strong> autor sobre a realidade das relações entre escravos e senhoresquan<strong>do</strong> contraposta aos registros literários (<strong>do</strong>s românticos e <strong>do</strong>s realistas). Nem o negro forauma criatura superior, nem o branco fora um monstro. As fazendas não tinham um cotidiano dehorrores. Havia relações cordiais entre brancos e negros, principalmente entre os escravos<strong>do</strong>mésticos. E mesmo os escravos <strong>do</strong> trabalho pesa<strong>do</strong> tinham os seus momentos de folga. Haviasenhores de escravos cruéis e explosivos, outros bonachões e pie<strong>do</strong>sos. Neste viés, Amaralsalienta que o verdadeiro horror perpassava, ao mesmo tempo, brancos e negros, ou seja, ainstituição escravatura. 15Sem dúvida uma “bela saída” ideológica e política no momento em que palestrava, e, emhipótese, um mote político e estético para a Pulseira, bem como para que se entenda(m) o(s)juízo(s) <strong>do</strong> autor sobre os negros no livro: Rosa e Chicão traíram o padre inocente? Ou foramastutos? Nesse caso, Rosa demonstraria grande engenhosidade em resolver o problema <strong>do</strong>sacristão e ainda dar ao padre um filho a<strong>do</strong>tivo para superar sua carência de afetos? Nas relaçõessociais expressas entre brancos e negros a novela revela um subestimar <strong>do</strong>s primeiros sobre os13 O projeto Obras de Amadeu Amaral foi dirigi<strong>do</strong> por Paulo Duarte. Foram publica<strong>do</strong>s 9 entre 11 livrosanuncia<strong>do</strong>s. São eles: Tradições Populares, O Dialeto Caipira, O Elogio da Mediocridade, Poesias Completas,Novela e Conto, Política Humana, Letras Floridas, Memorial de um Passageiro de Bonde e Ensaios eConferências. Não foram publica<strong>do</strong>s: Crônicas e Correspondência.14 Em 1921 Tristão de Athayde notava mistura de realismo, tragédia e sátira nos contos que julgou os melhorespublica<strong>do</strong>s no ano anterior, por Amadeu Amaral, A pulseira de ferro, Monteiro Lobato, Negrinha, Gastão Cruls,Coivara e Lima Barreto, História e sonho: “Quan<strong>do</strong> a imaginação cede passo à observação, surge logo um caráternovo e que vamos encontrar em quasi to<strong>do</strong>s os livros de prosa da epoca, como adeante veremos, - a sátira. – Oslivros <strong>do</strong>s srs. Monteiro Lobato, Lima Barreto e Gastão Cruls e mesmo a novella <strong>do</strong> sr. Amadeu Amaral, estãoimpregna<strong>do</strong>s delle. Ha em to<strong>do</strong>s elles uma visão aguda da realidade, tragica ou satirica, conforme a posição <strong>do</strong>autor perante o espetaculo <strong>do</strong> mal.” ATHAYDE, Tristão. “A literatura em 1920”, parte IV, in: Revista <strong>do</strong> Brasil,nº65, volume XVII, ano IV, 1921, p.119.15 AMARAL, Amadeu. Literatura da escravidão, in: Letras Floridas. São Paulo: Hucitec; Secretaria de Cultura eTecnologia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo, 1976, p.95-122. Tenho como mote meto<strong>do</strong>lógico <strong>do</strong> <strong>do</strong>utoramento a tentativade entender e descrever, pelo cruzamento <strong>do</strong>s diferentes escritos de Amadeu Amaral, sua “chave de leitura” da vida,da vida social e política, da vida como escritor e jornalista, bem como das suas idéias políticas (principalmente noque se refere aos “populares” ou ao “povo”). Neste viés, defen<strong>do</strong> que a interpretação <strong>do</strong>s seus escritos de diferentesnaturezas (poesia, crítica literária, folclore, ficção em prosa) deve cruzá-los, pois assim se descortinam motivos etópicas recorrentes no seu estilo ou forma: o que não significa linearidade, evolução interna ou totalidade. Sãoestratégias e figuras retóricas que demonstram um autor “polígrafo”, característica conhecida <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>. Portanto,o méto<strong>do</strong> não é nada mais <strong>do</strong> que um aporte que se pretende “fiel” às características <strong>do</strong> “objeto” estuda<strong>do</strong>.Texto integrante <strong>do</strong>s Anais <strong>do</strong> XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. <strong>ANPUH</strong>/<strong>SP</strong>-U<strong>SP</strong>. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

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