12.07.2015 Views

Ricardo Vidal Golovaty. A “psicologia do boato” numa ... - ANPUH-SP

Ricardo Vidal Golovaty. A “psicologia do boato” numa ... - ANPUH-SP

Ricardo Vidal Golovaty. A “psicologia do boato” numa ... - ANPUH-SP

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

década de 1940 foi rica em fornecer lugares à fortuna crítica de Amaral. Mário o definiu comoseu contemporâneo nos estu<strong>do</strong>s de folclore, apesar de usá-lo como objeto de combate no campoda poética. 2 Já Milliet traçou um retrato <strong>do</strong> autor e da obra específica que aqui focalizo: Amaralfora respeita<strong>do</strong> em 1922 devi<strong>do</strong> à sua qualidade (seja no folclore, seja no “vago simbolismo”nomea<strong>do</strong> pelo próprio) e sua maturidade intelectual naquele momento. Quanto à Pulseira, ele arecorda como fruto de um “prosa<strong>do</strong>r limpo”. 3Prosa<strong>do</strong>r limpo? Como entender uma novela que se passa em pequena localidade <strong>do</strong>interior de São Paulo como “prosa limpa”, se na história da literatura brasileira por AntonioCandi<strong>do</strong> o regionalismo <strong>do</strong>s anos 1900-1920 se caracteriza por elementos exóticos e jocosos,por visões equivocadas sobre o homem rural, por juízos estéticos e políticos perigosos? 4 Nãohaveria sob este juízo generalizante <strong>do</strong> crítico uma ponte para o entendimento <strong>do</strong>s modernistasde 1922 como os “bons interpela<strong>do</strong>res” <strong>do</strong> popular na literatura? Em que medida a noção de prémodernoestá insidiosamente pré-colocada aos escritores regionalistas nos senti<strong>do</strong>s de antimodernos,de (pre)destina<strong>do</strong>s ao limbo, ou, em registro “melhor”, como (pre)cursores <strong>do</strong>smodernos?Será mera coincidência Antonio Candi<strong>do</strong> definir Amadeu Amaral tal qual Mário deAndrade? Em prefácio a Paulo Duarte, o crítico ressalta Amaral como poeta parnasiano que teveo mérito de, ao interessar-se por folclore, alçar <strong>do</strong>is temas importantes aos modernistas: acultura popular e a língua falada. 5 Para contraste deste lugar-comum historiográfico, canônico,vou sintetizar A Pulseira de Ferro para prosseguir na análise.1) A PULSEIRA DE FERRO: ESTUDO NATURALISTA DO BOATOResumo ao máximo a novela, toman<strong>do</strong> como base seu próprio prólogo: segun<strong>do</strong> AmadeuAmaral, tal história poderia ter si<strong>do</strong> narrada em poucas páginas. Sua inspiração foi apenas2 ANDRADE, Mário de. “Amadeu Amaral”, in: O empalha<strong>do</strong>r de passarinho. São Paulo: Martins; Brasília: INL,1972, p.178-181. O texto é de fins de 1939. Por isso o remeto à década de 1940.3 MILLIET, Sérgio. “2 de outubro de 1947”, in: Diário crítico de Sérgio Milliet. São Paulo: Martins, 1981, p.205-209. Contemporâneo de Amadeu Amaral, Fernan<strong>do</strong> de Azeve<strong>do</strong> notava em 1924 ou 1925: A sua arte é uma artesempre orientada segun<strong>do</strong> a razão e a logica, essas duas medidas, essas duas forças de equilibrio de toda a belleza.Dahi não procurar elle dar á sua prosa aspectos de originalidade ficticia, sobre carregan<strong>do</strong>-a de ornatos poeticos.(...) A profissão <strong>do</strong> jornalismo, contra cujos pen<strong>do</strong>res á superficialidade reagiu pela cultura (o sr. Amadeu Amaral éum grande auto-didacta), foi-lhe, certamente, sob esse aspecto, favoravel á formação <strong>do</strong> estilo, para que elle passouessa simplicidade agil e essa fluidez correntia <strong>do</strong>s que são obriga<strong>do</strong>s a manter a sua penna em actividade cotidiana.Foi, porém, no contacto espiritual com os grandes parnasianos, que elle aprendeu, (...) a sabia economia daspalavras, a fidelidade caracteristica, a precisão energica, e a justeza <strong>do</strong> sentimento aliada a um tacto raro naexpressão.” AZEVEDO, Fernan<strong>do</strong> de. “Amadeu Amaral”, in: Ensaios. Critica literaria para “O Esta<strong>do</strong> de SãoPaulo” 1924-1925. São Paulo; Rio de Janeiro: Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1929, p.172-173-174.4 CANDIDO, Antonio. “Literatura e cultura de 1900 a 1945”, in: Literatura e Sociedade. São Paulo: EditoraNacional, 1975, p.113-114.5 CANDIDO, Antonio. Prefácio, in: DUARTE, Paulo. Mário de Andrade por ele mesmo. São Paulo: Hucitec;Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, 1985, p.XV. Candi<strong>do</strong> alude aos estu<strong>do</strong>s de folclore e ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>dialeto caipira. Os primeiros foram publica<strong>do</strong>s nos rodapés <strong>do</strong> jornal O Esta<strong>do</strong> de São Paulo, e o segun<strong>do</strong> veio alume no ano de 1920.Texto integrante <strong>do</strong>s Anais <strong>do</strong> XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. <strong>ANPUH</strong>/<strong>SP</strong>-U<strong>SP</strong>. São Paulo, 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!