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Distribuição de papéis: Murilo Mendes escreve a Carlos Drummond ...

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Fundação Casa <strong>de</strong> Rui Barbosawww.casaruibarbosa.gov.brJá nas cartas a <strong>Drummond</strong>, é possível encontrar pelo menos um comentário, não apenas àelaboração <strong>de</strong> suas obras, mas sobre sua concepção <strong>de</strong> poesia e sua posição <strong>de</strong>ntro domo<strong>de</strong>rnismo, como ao se referir a seu primeiro livro em carta datada <strong>de</strong> Pitangui, 3 <strong>de</strong>fevereiro <strong>de</strong> 1931:Mesmo porque nunca comunguei com certas idéias do Graça - perpétua alegria, entusiasmopela máquina, América do Norte, etc. Isto é - não acho isto finalida<strong>de</strong> nenhuma, comotambém não penso em combater a máquina, Deus me livre. (Minha Wassermann éfrancamente positiva.) O que pretendo frisar é que meu livro não tresanda a estas admiraçõesformidáveis pela obra do esforço humano - você compreen<strong>de</strong>. Acho que o carnaval, porexemplo, é um título <strong>de</strong> glória muito maior para o homem, para a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênio,do que o arranha-céu. A minha inquietação (<strong>de</strong>sejo situá-la, porque já está se tornando muitoliterário falar em tal cousa) é a <strong>de</strong> um sujeito que não vê continuida<strong>de</strong> no mundo - vivo emestado <strong>de</strong> evaporação constante - precisava <strong>de</strong> mais olhos, mais eletricida<strong>de</strong>, todos os espaços,ou nenhum espaço. Seria capaz <strong>de</strong> dar um tiro na cabeça porque não posso suportar às vezestanto coisa bonita e formidável que vejo na minha frente. Conforme digo num poema - (mepermita me citar - agora sou poeta laureado, e venho nos jornais!...) - tenho horas <strong>de</strong>seiscentos minutos - meus aborrecimentos não são vagos, sei muito bem quais são. Souescravo duma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> potências <strong>de</strong>scontínuas do mundo - não tenho temperamento, oupor outra, tenho vários temperamentos. Acordo padre e anoiteço moleque. Daí minhadificulda<strong>de</strong> diante da "vida prática" - e sou a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. Ultimamente tenho feito esforços praver se arranjo uma eternida<strong>de</strong>zinha - mas qual! Está difícil. O instantâneo, o imediato, não melarga. Mas o mundo hoje é terrível espetáculo. Basta abrir um jornal pra ficar arrepiado.Quanto à luta <strong>de</strong> classes, estive pensando em tomar parte nalguma campanha, agir, mas<strong>de</strong>pois vi que era besteira. Pra qualquer classe que me transfira sou infeliz. Além disto, nãoconsegui resolver o meu próprio problema econômico, acho loucura preten<strong>de</strong>r resolver o dahumanida<strong>de</strong>.Comentário <strong>de</strong>ste tipo po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado único; na verda<strong>de</strong> a maioria dos comentáriosnesta área são breves referências à produção literária <strong>de</strong> ambos ou, raramente, <strong>de</strong> terceiros,<strong>de</strong> modo mais específico em termos <strong>de</strong> vida literária. Suce<strong>de</strong>m-se referências a Algumapoesia (carta do Rio, 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1930); à antologia <strong>de</strong> escritores brasileiros organizadaJÚLIO CASTAÑON GUIMARÃES: <strong>Distribuição</strong> <strong>de</strong> <strong>papéis</strong>: <strong>Murilo</strong> Men<strong>de</strong>s <strong>escreve</strong> a <strong>Carlos</strong><strong>Drummond</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> e a Lúcio Cardoso 19

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