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o erotismo religioso de Murilo Mendes - Grupo de Estudos em ...

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260 Robson Coelho Tinocomo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. É nesse “con<strong>de</strong>nsamento” que “A múltipla sinfonia avançapara mim/Com os quadris s<strong>em</strong> sinos e violoncelos/A mulher <strong>de</strong> aço me interroganas altas serras,/Deverei <strong>de</strong>cifrar o seu enigma” 31 . É nele, ainda, queo sentido sublime da forma todo se esvai sob uma camada concreta fundadano prosaísmo do factual. Assim, “Carm<strong>em</strong> fica matutando/No seu corpo jápassado./– Até a volta, meu seio/De mil novecentos e doze./A<strong>de</strong>us, minhaperna linda/De mil novecentos e quinze” 32 .Entenda-se que o termo romântico, <strong>em</strong> suas origens r<strong>em</strong>otas, significavamais do que romanesco – quimérico, fabuloso – ou pitoresco – usado para<strong>de</strong>screver cenários que se abr<strong>em</strong> aos olhos e conotariam admiração. Assim,romântico não <strong>de</strong>screvia somente o cenário, mas a <strong>em</strong>oção pessoal suscitada<strong>em</strong> qu<strong>em</strong> o cont<strong>em</strong>plasse. Nesse sentido, e frente ao racionalismo da socieda<strong>de</strong>mo<strong>de</strong>rna, a poesia po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o romantismo, um tipo<strong>de</strong> “nostalgia” da religião. Todavia, frente ao cristianismo, será pecaminosaexaltação da carne, culto mais do b<strong>em</strong> do amor do que da graça 33 .Sob esses conceitos <strong>em</strong> <strong>Murilo</strong> Men<strong>de</strong>s, percebe-se que sua poesia retraçaa linha tênue entre prazeres mundanos e orações místicas. O poeta, assim,escreve/entoa cânticos <strong>em</strong> queCabeleiras <strong>de</strong> palmeirasMorenas vermelhas lourasSe agitam neste <strong>de</strong>serto.Água não falta, cerveja,Uísques e aguar<strong>de</strong>ntes.Po<strong>em</strong>as faz<strong>em</strong> l<strong>em</strong>brarQue se <strong>de</strong>ve rezar um pouco 34 .Cânticos que repet<strong>em</strong>, murilianamente, o tom bíblico dos “Cânticos <strong>de</strong>Salomão” 35 . Neles, o autor, <strong>em</strong> tom <strong>de</strong> ternura apaixonada, diz:Como és bela, minha amada, (...)Teu pescoço é a torre <strong>de</strong> Davi,31Men<strong>de</strong>s, “Segunda natureza (I)”, <strong>em</strong> A poesia <strong>em</strong> pânico, p. 290.32Id., “A mãe do primeiro filho”, <strong>em</strong> O visionário, p. 198.33Merquior, O fantasma romântico e outros ensaios.34Men<strong>de</strong>s, “Po<strong>em</strong>a no bon<strong>de</strong>-carmelo”, <strong>em</strong> O visionário, pp. 234-5.35Bíblia <strong>de</strong> Jerusalém.

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