13.07.2015 Views

o erotismo religioso de Murilo Mendes - Grupo de Estudos em ...

o erotismo religioso de Murilo Mendes - Grupo de Estudos em ...

o erotismo religioso de Murilo Mendes - Grupo de Estudos em ...

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Poética <strong>de</strong> uma conversão neorromântica259Agoniado <strong>de</strong>mônio que não lhe falta e, talvez, impeça sua percepçãofinamente essencial da vida e da poesia, pois “Eu nunca po<strong>de</strong>ria aplacar estaânsia absoluta,/Esta gana que tenho <strong>de</strong> ti/– Mesmo se te possuísse./(...) Eutenho ciúme <strong>de</strong> Deus/(...) Na noite total s<strong>em</strong> pensamento e s<strong>em</strong> sexo 28 . Enessa agonia (visionariamente <strong>de</strong>moníaca) <strong>de</strong> percepção das formas f<strong>em</strong>ininas,o poeta se redime frente à figura prototípica <strong>de</strong> Mulher que, s<strong>em</strong> pedirnada, oferece tudo a todos. Assim,Os namorados passavam, cheiravam os seios <strong>de</strong> JandiraE eram precipitados nas <strong>de</strong>lícias do inferno.Eles jogavam por causa <strong>de</strong> Jandira,Deixavam noivas, esposas, mães, irmãsPor causa <strong>de</strong> Jandira.E Jandira não tinha pedido coisa alguma 29 .Romantismo muriliano: <strong>erotismo</strong> e(m) <strong>de</strong>sejo;oração e(m) pecadoDe extensa amplitu<strong>de</strong> conceitual, os termos clássico e romântico terminariampor significar respectivamente “equilíbrio e interrupção <strong>de</strong> equilíbrio”, oque, na visão do autor, po<strong>de</strong>ria ser tomado como aproximação da <strong>de</strong>finição<strong>de</strong> Goethe. O escritor al<strong>em</strong>ão, ao avaliar a presença dos dois termos, dizque “por clássico, indico a saú<strong>de</strong>, e por romântico, a doença”, <strong>de</strong>finição que<strong>de</strong>nota a postura <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> vê o estado sereno da pessoa que não percebe aprópria saú<strong>de</strong> porque sadia; do outro, o estado <strong>de</strong> fermentação, <strong>de</strong> labutafebriciante que luta para superar a própria doença, isto é, para alcançarnovo equilíbrio 30 .Percebe-se pela composição muriliana a articulação entre el<strong>em</strong>entosclássicos (mo<strong>de</strong>rnizados) e líricos, aplicados a um romantismo íntimo (esocial) estabelecendo aproximações que, enfim, dão o tom <strong>de</strong> análise i<strong>de</strong>alpara “compreen<strong>de</strong>r” sua poética. Por ex<strong>em</strong>plo, mesmo sua expressão barrocarevela – também – uma sensação erótica que extrapola o jogo claro-escuropós-medieval, con<strong>de</strong>nsando-se na brilhante clarida<strong>de</strong> neorrenascentista da28Men<strong>de</strong>s, “Poesia do ciúme”, <strong>em</strong> A poesia <strong>em</strong> pânico, p. 293.29Id., “Jandira”, <strong>em</strong> O visionário, p. 203.30Praz, A carne, a morte e o diabo na literatura romântica.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!