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História e mito em “O dia em que explodiu Mabata-bata”, de Mia ...

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Revista Litteris – ISSN 19837429Março 2011. N. 7É certo, porém, <strong>que</strong> não cabe à literatura contar os fatos históricos, mas acabanos r<strong>em</strong>etendo a eles segundo a verossimilhança ou mesmo a necessida<strong>de</strong>(ARISTÓTELES, 2005, p. 43), sendo <strong>que</strong>, neste caso, “a literatura, como „totalida<strong>de</strong>significante‟, t<strong>em</strong> a ver com a imag<strong>em</strong> e o registro da tradição, sendo a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>literária um dos campos privilegiados da construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional” (MATA,2001, p. 37). Dessa forma, seria mais coerente perceber <strong>que</strong> <strong>Mia</strong> Couto, através <strong>de</strong>escrita, não resgata a tradição <strong>de</strong>vastada, mas, sobretudo, intenta <strong>que</strong> esta seja re-criada.No seu livro “Vozes Anoitecidas” (1986) parece conter uma sintetização dasvertentes literárias bastante verossímeis com a realida<strong>de</strong> moçambicana, <strong>que</strong> sãoabsorvidas no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> outros trabalhos subse<strong>que</strong>ntes, a ex<strong>em</strong>plo da justiçasendo confortada pela tradição e a escrita permeada pela oralida<strong>de</strong> (CHAGAS, 2006, p.93). Assim, esse “aproveitamento” do real parece ficar b<strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nte na compreensão <strong>de</strong>Maria Aparecida Santilli, pois para ela “<strong>de</strong> fato, „qual<strong>que</strong>r coisa acontecida <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>‟– como anuncia o „texto <strong>de</strong> abertura‟ <strong>de</strong> Vozes anoitecidas – teria <strong>em</strong>brionado a criaçãodas histórias <strong>de</strong> <strong>Mia</strong> Couto” (1999, p. 99). (Grifos da autora).Diante disso, a análise <strong>que</strong> ir<strong>em</strong>os <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r do conto “O <strong>dia</strong> <strong>em</strong> <strong>que</strong> <strong>explodiu</strong><strong>Mabata</strong>-bata” nos permite consi<strong>de</strong>rar o contexto conflituoso <strong>de</strong> pós-in<strong>de</strong>pendência e <strong>de</strong>guerra civil <strong>em</strong> Moçambi<strong>que</strong>, b<strong>em</strong> como apreen<strong>de</strong>r o traço estético hipersensível erevelador do escritor <strong>que</strong> não se dissocia dos fatores sociais aos quais está inserido e,por conseguinte, conceber uma literatura análoga a essas <strong>que</strong>stões.Um Paradoxo da Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>?Ao iniciar a leitura do conto “O <strong>dia</strong> <strong>em</strong> <strong>que</strong> <strong>explodiu</strong> <strong>Mabata</strong>-bata” nos<strong>de</strong>paramos ime<strong>dia</strong>tamente com uma tragé<strong>dia</strong> <strong>que</strong> se abre no momento exato <strong>em</strong> <strong>que</strong> anarrativa t<strong>em</strong> começo, e por isso partilhamos <strong>de</strong>sse acontecimento <strong>que</strong> irá se <strong>de</strong>svelando<strong>de</strong> modo a envolver todos os personagens. Note-se:Revista Litteris – www.revistaliteris.com.brMarço 2011. N. 7De repente, o boi <strong>explodiu</strong>. Rebentou s<strong>em</strong> múúú. No capim <strong>em</strong> voltachoveram pedaços e fatias, grãos e folhas <strong>de</strong> boi. A carne eram já borboletasvermelhas. Os ossos eram moedas espalhadas. Os chifres ficaram numqual<strong>que</strong>r ramo, balouçando a imitar a vida, no invisível pescoço do vento(COUTO, 1986, p. 27).

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