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História e mito em “O dia em que explodiu Mabata-bata”, de Mia ...

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Revista Litteris – ISSN 19837429Março 2011. N. 7casa, avó! – O Azarias vai negar <strong>de</strong> ouvir quando chamares. A mim, há-<strong>de</strong> ouvir”(COUTO, 1986, p. 31). (Grifos do autor). E era b<strong>em</strong> verda<strong>de</strong>, pois o menino só confiouna avó e só a ela confi<strong>de</strong>nciou <strong>que</strong> iria fugir, mesmo não havendo lugar para ir. Durantetodo esse t<strong>em</strong>po Raul permanece impermeável a qual<strong>que</strong>r <strong>em</strong>otivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixandotransparecer apenas os pensamentos <strong>de</strong> agressão ao menino: “– Esse gajo vai voltarn<strong>em</strong> <strong>que</strong> eu lhe chambo<strong>que</strong>ie até partir-se dos bocados” (COUTO, 1986, p. 32).(Grifos do autor). Mas ele é repreendido pela avó, <strong>que</strong> enten<strong>de</strong> o sofrimento dope<strong>que</strong>no: “– Cala-te, Raul. Na tua vida n<strong>em</strong> sabes da miséria” (COUTO, 1986, p.32). (Grifos do autor) Note-se <strong>que</strong> esse momento da narrativa nos aproxima do efeitotrágico, tendo <strong>em</strong> vista <strong>que</strong> este representa uma ação <strong>que</strong> representando pena e t<strong>em</strong>oropera a catarse das <strong>em</strong>oções (ARISTÓTELES, 2005, p. 35), copiosamente como anarrativa. Avó Carolina é reconhecedora do sofrimento do pe<strong>que</strong>no e, principalmente,sabe <strong>que</strong> ele não t<strong>em</strong> culpas pelo inci<strong>de</strong>nte do boi e <strong>que</strong> por isso não <strong>de</strong>ve ser punido.Nesse espaço <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po ela consegue obter retorno pelo chamado ao neto, e apósele lhe dizer <strong>que</strong> já recolheu os bois ela faz com <strong>que</strong> seu tio lhe prometa o direito <strong>de</strong> ir àescola no próximo ano. E Raul promete, mas mentiras. O <strong>que</strong> nos r<strong>em</strong>ete a MariaAparecida Santilli:Por um lado, o <strong>de</strong>sejo aqui se manifesta no jogo <strong>de</strong> contrários, do prazer e dador: da dor da vida reprimida/insatisfeita e a do prazer do b<strong>em</strong>-para-ohom<strong>em</strong>,aqui projetado no imaginário juvenil, na transmutação <strong>de</strong>implicações i<strong>de</strong>alistas, por necessida<strong>de</strong>s ditadas pelas condições <strong>em</strong> <strong>que</strong> apersonag<strong>em</strong>, Azarias, vive (1999, p. 103).Assim, <strong>dia</strong>nte <strong>de</strong>ssa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>sejo reprimido, Azarias vai serevelando, saindo do oculto. Contudo, um fato inesperado ocorre e atribui à narrativanovos caminhos. O menino vê uma clarida<strong>de</strong> súbita no meio da noite. O pe<strong>que</strong>no pastorabsorve o vermelho <strong>que</strong> se faz com o barulho <strong>de</strong> fogo estourando, e eis <strong>que</strong> no escuro danoite ele avista o ndlati. Sentiu vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> gritar perguntando <strong>em</strong> qu<strong>em</strong> a ave pousaria,porém não o fez. Então, Azarias pensa:– Vens pousar a avó, coitada, tão boa? Ou preferes no tio, afinal dascontas, arrependido e prometente como o pai verda<strong>de</strong>iro <strong>que</strong> morreume?Revista Litteris – www.revistaliteris.com.brMarço 2011. N. 7

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