Folha de Jacarandá | Ano XIX | n. 18 | nov. 2015
- No tags were found...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A seção literária traz um conto para pais e filhos lerem juntos - avós, tios, primos e amigos também! Neste nº,<br />
um conto norueguês para vocês embarcarem na fantasia...<br />
A Boneca da Grama<br />
adaptação <strong>de</strong> Asbjornson, por Lucas Valadares<br />
ssa história começa com um rei. Em um belo<br />
dia, olhou para os <strong>de</strong>dos das mãos e lembrou que<br />
já estava na hora <strong>de</strong> dar para cada um dos seus<br />
<strong>de</strong>z filhos, um cavalo branco cor <strong>de</strong> neve, um<br />
casaco e um chapéu com uma pluma, para que eles<br />
cavalgassem em busca <strong>de</strong> uma esposa que soubesse<br />
fiar, tecer e branquear uma camisa num só dia, num<br />
clarear <strong>de</strong> espuma. O rei não queria outra como<br />
nora.<br />
Os <strong>nov</strong>e irmãos conversaram entre si, e chegaram<br />
à conclusão <strong>de</strong> que não levariam o irmão caçula, o<br />
irmão João, o <strong>de</strong>do mindinho daquela situação, pois<br />
não po<strong>de</strong>riam per<strong>de</strong>r tempo cuidando <strong>de</strong>le.<br />
Tristonho ficou João ao vê-los partindo pela relva e<br />
com alguma esperança <strong>de</strong> que seus irmãos pu<strong>de</strong>ssem<br />
nota-lo, ele acenou dizendo tchau. Mas sua voz era<br />
tão baixinha que quase ninguém po<strong>de</strong>ria ouvi-la. A<br />
não ser uma menina serelepe que por ali passava:<br />
- Você não quer vir comigo procurar a boneca da<br />
grama?<br />
João também queria cumprir a tarefa assim<br />
como seus irmãos maiores e <strong>de</strong>cidiu tentar a sorte<br />
aceitando prontamente a ajuda da menina. Acenou<br />
que sim com a cabeça e com o indicador apontando<br />
para o alto, disse:<br />
- Opa, peraê que eu vou!<br />
Lá foram eles com as mãos<br />
entrelaçadas, por estradas que<br />
passavam por campos ver<strong>de</strong>s<br />
e cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sconhecidas, sem<br />
medo. Logo encontraram a<br />
linda boneca da grama, sentada<br />
numa ca<strong>de</strong>irinha, junto a um<br />
lago, num belo parque. João a<br />
olhou, encantado, sem saber<br />
o que dizer, mas a boneca lhe<br />
interrogou:<br />
- Aon<strong>de</strong> você vai, João?!<br />
Ele respon<strong>de</strong>u sem <strong>de</strong>mora,<br />
dobrando o <strong>de</strong>dão direito<br />
para <strong>de</strong>ntro da sua palma e<br />
esten<strong>de</strong>ndo <strong>nov</strong>e <strong>de</strong>dos:<br />
- Estou à procura, assim<br />
como meus <strong>nov</strong>e irmãos, a<br />
pedido do meu pai, <strong>de</strong> uma<br />
moça que saiba fiar, tecer e<br />
branquear uma camisa num só<br />
dia. Sem cavalo e casaco, e sem<br />
Ilustração “The Doll in the Grass” <strong>de</strong> The Fairy Ring editado por Kate Douglas Wiggin<br />
e Nora Archibald Smith - ilustrado por Elizabeth MacKinstry, publicado em 1910.<br />
um chapéu com pluma, cá estou andando em busca<br />
da minha fortuna!<br />
A boneca, apesar <strong>de</strong> pequena e feita <strong>de</strong> grama,<br />
galhos e folhas, tinha muitas habilida<strong>de</strong>s e sem<br />
<strong>de</strong>mora, <strong>de</strong>u um jeito <strong>de</strong> com o mais puro algodão,<br />
fiar e tecer um tecido digno <strong>de</strong> um rei. A boneca <strong>de</strong><br />
grama costurou uma camisa branquinha que, mesmo<br />
sendo pequena como ela, fez com que João voltasse<br />
para casa correndo e falando da <strong>nov</strong>ida<strong>de</strong> aos quatro<br />
ventos. Todos ficaram admirados com a beleza da<br />
camisa! Então, seu pai lhe disse para trazer aquela<br />
moça tão prendada e casar-se com ela, sem saber que<br />
era uma boneca <strong>de</strong> grama.<br />
João voltou para pegar a boneca, <strong>de</strong>sta vez<br />
com o seu cavalo! A boneca lhe disse que só viajaria<br />
numa carruagem <strong>de</strong> prata puxada por dois cavalinhos<br />
brancos. João era muito esperto e, com todo cuidado,<br />
acomodou a bonequinha numa bela colher <strong>de</strong> prata,<br />
atrelada a dois ratinhos brancos, e partiram.<br />
Ao chegaram num riacho, o cavalo do João se<br />
assustou e <strong>de</strong>rrubou a boneca <strong>de</strong> sua colher <strong>de</strong> prata,<br />
direto na água... Toda ensopada, ela saiu do riacho<br />
mais linda do que antes, agora uma moça do tamanho<br />
do João! Ela montou no cavalo e saiu com ele numa<br />
só cavalgada, pois para João era tudo ou nada.<br />
Ao chegar em casa, viu os <strong>nov</strong>e irmãos<br />
acompanhados <strong>de</strong> <strong>nov</strong>e<br />
mulheres, cada uma mais feia<br />
que a outra, sem saber fiar, tecer<br />
e branquear. Elas só queriam<br />
saber do ouro que ganhariam<br />
<strong>de</strong>pois do casamento e faziam<br />
muito barulho, com os <strong>de</strong>dos da<br />
mão estalando em confusão! O<br />
rei expulsou todas elas <strong>de</strong> lá, só<br />
ficando João com a sua noiva. A<br />
menina que o ajudou ficou sua<br />
amiga e foi morar no castelo.<br />
Eles viveram juntos por<br />
muitos anos e tiveram muitos<br />
filhos.<br />
A boneca da grama fez<br />
uma camisa para cada criança<br />
e agora, felizes por todos os<br />
lados, os dois contavam nos<br />
<strong>de</strong>dos para que chegasse o dia<br />
<strong>de</strong> vestir cada um dos seus<br />
filhos.<br />
<strong>Folha</strong>Jacaranda_ed<strong>18</strong>.indd 9 27/11/15 13:54