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“Eu fora batizado.<br />
E sentia uma<br />
ligeireza de espírito<br />
para apreender tudo,<br />
formando a minha<br />
personalidade, com a<br />
aceitação dos frutos<br />
bonitos postos por<br />
Deus na Terra”<br />
árvore produzia em mim certos efeitos<br />
agradáveis, que eu gostava de sentir e,<br />
sobretudo, de analisar. Quando recebo<br />
o perfume e a harmonia bonita desta<br />
acácia, o que se dá comigo?<br />
Passa-se algo pelo qual um tanto de<br />
cultura e de civilização penetra em mim.<br />
É diferente de olhar uma minhoca, por<br />
exemplo. Comprazia-me ver como eu<br />
ficava mais flexível, menos selvagem,<br />
olhando para a acácia. E como, com<br />
essas disposições, eu crescia em algo<br />
que não sabia definir.<br />
Muitas outras coisas produziam em<br />
mim esse bom efeito, e até mais profundo.<br />
Entre elas, fotografias de armaduras<br />
medievais. Aquela armadura brilhante,<br />
com o cavaleiro segurando uma<br />
espada, a viseira baixa, luvas de metal<br />
nas mãos, perneiras, braçadeiras e aquela<br />
resolução! Agradava-me contemplálas<br />
longamente. Tinha a impressão de<br />
que algo da robustez daqueles cavaleiros,<br />
da sua vontade indomável e da<br />
sua deliberação me influenciava. E ficava<br />
encantado.<br />
Pia Batismal<br />
em que <strong>Plinio</strong><br />
recebeu as<br />
águas do<br />
Santo<br />
Batismo<br />
do exterior e se estabeleciam na minha<br />
alma, produzindo nela um certo efeito,<br />
uma determinada sensação que eu gostava<br />
de notar.<br />
Então, por exemplo, no centro do<br />
jardim de casa havia uma árvore com<br />
uma flor bonita, chamada camélia. A<br />
árvore era linda, uma das poucas cujo<br />
tronco eu achava igualmente belo. Era<br />
prateado, com uma espécie de azuladocinzento<br />
revestindo a casca.<br />
Outra árvore erguia-se com os vários<br />
ramos de tamanho muito proporcionado,<br />
armando uma copa interessante,<br />
com folhazinhas todas feitas dessa<br />
espécie de veludo cinza-prata. Como<br />
flor dava umas bolinhas pequenas<br />
entre amarelo e dourado, muito perfumadas,<br />
constituídas de fiozinhos que<br />
formavam uma espécie de esponjinha.<br />
Era a acácia. Uma esplêndida árvore.<br />
Perto da acácia havia um caramanchão,<br />
e sob este um banco de madeira,<br />
pintado de verde-garrafa. Eu gostava<br />
de me sentar e ficar olhando a acácia...<br />
“Ali está ela e aqui estou eu”. Aquela<br />
Uma “alfândega” interior<br />
como fruto da inocência<br />
batismal<br />
Alguém me dirá: “Mas o que fazia<br />
com que as coisas repercutissem tão<br />
intensamente no senhor? O que fazia<br />
com que, numa idade ainda tão tenra,<br />
o senhor percebesse as diferenças entre<br />
o que lhe causava boa influência e<br />
o que poderia influenciar de modo nocivo,<br />
e estabelecesse uma espécie de<br />
alfândega dentro de sua alma?”<br />
É que eu fora batizado. Era a inocência.<br />
A inocência e, enquanto eu não<br />
pecasse, a habitação do Divino Espírito<br />
Santo na minha alma. Essa presença<br />
se verifica em todo inocente, a tal<br />
ponto que Orígenes, uma das grandes<br />
figuras dos primórdios do Cristianismo,<br />
diante de uma criança que acabava<br />
de ser batizada, osculava-a no peito.<br />
E quando lhe indagavam a razão desse<br />
gesto, ele respondia:<br />
— Deus mora aí.<br />
Ora, eu sentia qualquer coisa de<br />
uma ligeireza de espírito para apreen-<br />
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