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Toolkits for capacity building in Brazil<br />

Roche | Brasil<br />

Fortalecendo o trabalho das Associações<br />

de Pacientes:<br />

Toolkits para capacitação no Brasil<br />

22 de Setembro de 2016<br />

1


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

FORTALECENDO O TRABALHO DAS ASSOCIAÇÕES DE PACIENTES<br />

Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Sumário<br />

1. O que é um Tool Kit ou Conjunto de Ferramentas? 03<br />

1.1 O que contém um Tool Kit 03<br />

1.2 Quem poderá utilizar esse Tool kit 03<br />

2. O que são políticas públicas e como elas podem ajudar os pacientes e suas famílias 03<br />

2.1 Monitoramento e avaliação de políticas públicas 05<br />

2.2 Estudos de caso: Como as políticas públicas têm melhorado a vida de pacientes no Brasil 08<br />

3. Vamos falar de Planejamento Estratégico 11<br />

3.1 Como identificar o problema e priorizar um tópico 12<br />

3.2 Priorização de problemas 13<br />

3.3 Definição de objetivos 14<br />

3.4 Definição de estratégias e táticas 15<br />

3.5 Plano de Engajamento com stakeholders 18<br />

3.5.1 Ciclo Político e seus estágios 20<br />

3.5.2 Tipos e exemplos de stakeholders relevantes nos estágios do Ciclo Político 24<br />

3.6 Como elaborar um Plano de Engajamento 25<br />

3.7 Como identificar oportunidades de engajamento com o Governo 29<br />

3.8 Ética e Compliance 31<br />

4. Superando barreiras na luta contra o câncer no Brasil 33<br />

4.1 O que são barreiras? 33<br />

4.2 Quais são as barreiras e desafios para o enfrentamento do câncer no Brasil 33<br />

4.3 Encontrando soluções para as barreiras e desafios prioritários à sua associação 36<br />

4.4 Priorização de barreiras e definição de projetos 37<br />

4.5 A importância de se trabalhar em redes para superar as barreiras 39<br />

4.6 Superando barreiras: estudo de caso dos centros de referência para DST/Aids 40<br />

5 Mãos à Obra – Atividade 42<br />

6 Referências 46<br />

2


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

1. O que é um Tool Kit (Conjunto de Ferramentas)?<br />

De acordo com o dicionário Collins, um tool kit é um conjunto de ferramentas desenvolvido para ser usado em<br />

conjunto e para um objetivo em particular.<br />

Neste caso em específico, o Conjunto de Ferramentas foi criado para ajudar as associações de pacientes com<br />

câncer a atingir dois objetivos:<br />

<br />

<br />

Saber identificar as Barreiras e os Desafios que comprometem os resultados de sua instituição,<br />

priorizá-las e eliminá-las, de forma a facilitar o seu dia-a-dia e alavancar o atingimento de suas metas.<br />

Desenvolver um planejamento para que sua organização e as pessoas que a representam desenvolvam<br />

Relacionamentos Estratégicos com Influenciadores e Desenvolvedores de Políticas Públicas.<br />

1.1 O que contém um Tool Kit<br />

Esse conjunto de Ferramentas apresenta os passos a serem tomados para que você e sua equipe entendam e<br />

apliquem os conceitos apresentados neste documento, além de poderem utilizar alguns modelos de<br />

planejamento, dicas de passo a passo na criação de projetos e processos, sugestões de relatórios e estudos de<br />

caso, de forma a dar-lhes suporte durante o planejamento e monitoramento de suas atividades.<br />

1.2 Quem poderá utilizar esse Tool Kit<br />

Qualquer membro de sua organização poderá utilizar esse documento. Para isso, será necessário ler o<br />

documento com atenção, fazer as pesquisas necessárias, realizar discussões em equipe, preencher os modelos<br />

(templates) disponíveis ao longo do texto e garantir que todos da equipe estejam alinhados e de acordo com o<br />

planejamento e as táticas elaboradas.<br />

Esse processo depende de sua organização, liderança e o comprometimento de todos.<br />

2. O que são políticas públicas e como elas podem ajudar os pacientes e suas famílias<br />

Segundo a Organização Mundial de Saúde, política de saúde (ou o termo health policy, em inglês) refere-se a<br />

decisões, planos e ações tomados a fim de se alcançar um objetivo de saúde (ou no cuidado em saúde) para a<br />

sociedade 1 . No Brasil, entende-se por política de saúde “decisões de caráter geral, destinadas a tornar públicas<br />

as intenções de atuação do governo e a orientar o planejamento (...). As políticas visam tornar transparente a<br />

ação do governo, reduzindo os efeitos da descontinuidade administrativa e potencializando os recursos<br />

disponíveis” (Fleury & Overney, 2008).<br />

As políticas de saúde podem ser de diversos tipos e serem orientadas para diferentes tópicos (como<br />

financiamento, cobertura dos serviços, acesso ao cuidado, etc.). De forma geral, uma política de saúde tem três<br />

objetivos principais:<br />

1 Extraído de: http://www.who.int/topics/health_policy/en/<br />

3


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

<br />

Garantir equidade:<br />

Definida como tratamento igual para necessidades iguais, igualdade de acesso ou igualdade em saúde. Uma<br />

política baseada na equidade tem como finalidade respeitar e proteger os direitos humanos e melhorar a<br />

saúde de subgrupos populacionais em desvantagem, ao mesmo tempo em que também se ocupa da<br />

melhoria da saúde global.<br />

Exemplo:<br />

Vantagem<br />

social<br />

Desvantagem<br />

social<br />

Estágio da doença no momento do<br />

diagnóstico<br />

(pessoas em desvantagem social,<br />

diagnóstico tardío)<br />

Maior<br />

sobrevivência<br />

Menor<br />

sobrevivência<br />

Fonte: http://www.cqco.ca/common/pages/UserFile.aspx?fileId=291343<br />

Para avaliar se a política do câncer cumpre o objetivo da equidade, podemos fazer a seguinte pergunta: Existem<br />

diferenças no diagnóstico e tratamento para pessoas com câncer, segundo características socioeconômicas? Em<br />

outras palavras, pessoas com nível de escolaridade ou renda (por exemplo) mais baixo têm mais dificuldades em<br />

conseguir diagnóstico e conseguir tratamento para o câncer?<br />

Como as associações de pacientes podem avaliar se existe equidade no acesso ao diagnóstico e tratamento de<br />

cáncer no Brasil dentro de seu dominio de atuação? Uma forma seria a realização de entrevistas com os<br />

pacientes (pesquisa qualitativa) a fim de identificar o que elas fazem, como utilizam os serviços de saúde, como<br />

procuram e recebem tratamento, quanto tempo demoram para serem atendidas, quanto tempo levaram desde<br />

o diagnóstico até o início do tratamento, entre outros. Isso pode ser feito em conjunto com perguntas que<br />

permitam traçar as características socioeconômicas da população, como idade, escolaridade, renda, educação,<br />

ocupação, local de moradia, religião, entre outras. Cada organização pode fazer sua própria pesquisa e, caso seja<br />

parte de uma unidade federada, a unidade pode compilar os resultados da pesquisa para comparar diferentes<br />

contextos e regiões do país. Isso traz força para a pesquisa e para o trabalho em conjunto entre as associadas.<br />

<br />

<br />

Garantir acesso aos serviços de saúde<br />

O acesso aos serviços pode ser na forma de prevenção, diagnóstico ou tratamento. Políticas dessa natureza<br />

têm como objetivo criar condições para que a população possa usufruir dos serviços em sua integralidade,<br />

com qualidade e tempo hábil. A política de assistência farmacêutica do Ministério da Saúde pode ser<br />

considerada uma política que visa garantir o acesso da população a medicamentos básicos e essenciais à<br />

saúde.<br />

Garantir proteção à população<br />

Refere-se à proibição de produtos que prejudiquem a saúde, prevenção comportamentos inseguros ou<br />

promoção educação em saúde. Neste caso, as políticas estão voltadas a leis, regulamentos, ou programas<br />

de promoção da saúde e bem-estar. Como exemplo podemos citar programas de vacinação ou o Programa<br />

de Controle do Tabagismo, do Ministério da Saúde, que visa reduzir a prevalência do uso do cigarro,<br />

promover hábitos de vida saudáveis e utilizar instrumentos legislativos para desencorajar o uso de cigarros<br />

em espaços fechados.<br />

4


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Uma política de saúde sofre influência de inúmeros fatores, como questões de ordem econômica, aspectos<br />

éticos e legais, opiniões das diversas partes interessadas, e problemas que pressionam o sistema de saúde.<br />

A figura abaixo descreve esses aspectos.<br />

Figura 1. Fatores que influenciam as políticas de saúde<br />

Questões<br />

econômicas<br />

Disponibilidade<br />

de tecnologia<br />

Pressão<br />

pública e<br />

política<br />

Mídia<br />

Determinantes<br />

da saúde<br />

Políticas<br />

de<br />

Saúde<br />

Contexto<br />

social e<br />

político<br />

Educação<br />

Novas<br />

evidências<br />

Profissionais<br />

de saúde<br />

Aspectos<br />

éticos<br />

Esses aspectos ditam, de alguma maneira, a definição de um problema de saúde, ou a inclusão de determinado<br />

tópico na agenda (determinantes de saúde, novas evidências, disponibilidade de tecnologia, pressão pública e<br />

política), a escolha de intervenções que serão o foco da política de saúde (mídia, profissionais de saúde,<br />

aspectos éticos) e questões que permeiam a decisão sobre a implementação da política (questões econômicas,<br />

contexto social e político).<br />

Uma política de saúde bem implementada é capaz de ajudar milhões de pessoas, pacientes e suas famílias, pois<br />

atuam em âmbito populacional, e não individual. A política pode ser considerada bem implementada se ela é<br />

capaz de descrever claramente o problema, suas causas e consequências, e propor um plano de ação integrado<br />

voltado, em última instância, à melhoria das condições de saúde da população com base nos três pilares<br />

descritos anteriormente (equidade, acesso e proteção). Por exemplo, o Programa Nacional de Imunizações no<br />

Brasil é considerado em todo o mundo um exemplo de política bem implementada. Desde que foi criado, em<br />

1973, tem ajudado a salvar milhões de vidas por meio da vacinação (proteção), garantindo o acesso de toda a<br />

população à imunização (acesso), com foco em grupos mais vulneráveis (equidade).<br />

2.1. Monitoramento e avaliação de políticas públicas<br />

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, monitoramento significa reunir dados de todas as fontes<br />

relevantes para analisar o que está acontecendo, onde e por quem. O monitoramento usa um conjunto de<br />

indicadores e metas para fornecer informação precisa e no momento oportuno para o acompanhamento de um<br />

projeto, seja para eliminar barreiras e/ou relacionar-se com o governo. Essas informações também podem servir<br />

5


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

de base para apresentar ao governos e parceiros, o progresso do projeto, auxiliando no diálogo com<br />

stakeholders.<br />

A avaliação, por outro lado, é a coleta e análise de informações sobre atividades, características e resultados de<br />

projetos, políticas, programas, planos, entre outros, que auxiliam o julgamento da política pública e/ou barreira,<br />

melhore sua efetividade e/ou informe decisões sobre o curso futuro da política em questão e/ou barreira a ser<br />

eliminada. A análise feita para a avaliação é mais completa do que no monitoramento (embora utilize suas<br />

informações) e leva em conta mudanças contextuais.<br />

O processo de monitoramento é parte fundamental no processo de trabalho da organização, tanto em relação<br />

ao seu próprio desempenho quanto no trabalho em prol de políticas públicas, uma vez que permite mostrar, por<br />

meio do acompanhamento dos indicadores de resultados selecionados em períodos curtos, se a situação está<br />

melhorando, piorando ou se mantendo constante. Ou seja, permite que sejam identificadas áreas de sucesso ou<br />

de necessidade de melhoria aos influenciadores, sejam eles formuladores de políticas ou influenciadores,<br />

inclusive colaborando na explicação da causa dos problemas. O monitoramento também pode informar e<br />

direcionar pesquisas em uma determinada área.<br />

O monitoramento é um processo cíclico, como pode ser visto na figura abaixo. Ele se inicia com a definição dos<br />

indicadores de saúde que são relevantes para uma determinada política ou barreira de saúde. Os dados<br />

necessários para a construção desses indicadores são coletados, e avaliados por diferentes procedimentos<br />

estatísticos, que podem ser simples ou complexos. Com base nos dados apresentados, mudanças podem ser<br />

implementadas, de forma a fazer com que o projeto alcance seus objetivos. Para monitorar os efeitos dessas<br />

mudanças que foram feitas a partir da avaliação prévia, novos dados devem ser coletados e novas análises<br />

feitas. É por isso que o monitoramento é cíclico.<br />

Figura 2: Ciclo de monitoramento em saúde<br />

Seleção de<br />

indicadores<br />

De Saúde<br />

relevantes<br />

Implantação<br />

de mudanças<br />

no curso<br />

da política<br />

Coleta de<br />

dados<br />

Apresentação<br />

de resultados<br />

Análise<br />

de dados<br />

Fonte: WHO (2013).<br />

A avaliação é uma prática fundamental e deveria estar presente em qualquer atividade e/ou política de saúde. É<br />

por meio da avaliação que se torna possível identificar o que tem dado certo ou não, e o que precisa ser<br />

modificado de forma a se alcançar o objetivo do projeto. A avaliação também pode colaborar na avaliação de<br />

desempenho. Algumas considerações merecem destaque a respeito desse tema.<br />

6


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Em primeiro lugar, é necessário entender a proposta da avaliação, que pode ser:<br />

a) fazer um julgamento sobre o mérito do projeto<br />

b) melhorar o projeto<br />

c) auxiliar o desenho de um novo projeto<br />

d) gerar um novo conhecimento para o projeto<br />

É preciso também identificar a quem se destinam os resultados dessa avaliação, ou seja, identificar quem serão<br />

os beneficiários dessa avaliação, ou seja, quem serão aqueles afetados por ela, como pacientes ou famílias. Por<br />

exemplo, na avaliação de um programa de saúde como o Mais Médicos, se a proposta for avaliar a qualidade<br />

dos serviços, o foco final será no profissional de saúde contratado. Se o objetivo for verificar se houve melhoria<br />

no acesso da população aos serviços, o foco então está na população e nos pacientes. Definidos esses primeiros<br />

fatores, torna-se necessário avaliar quais serão as estratégias metodológicas utilizadas, reunir os dados<br />

necessários para tal e proceder a análise. Um ponto crucial após essa etapa refere-se à discussão dos resultados,<br />

avaliação de opiniões e outros tipos de avaliações com o mesmo propósito, a fim de se construir um consenso<br />

sobre os resultados encontrados.<br />

O processo de monitoramento e avaliação, e a prática do uso de dados em organizações não governamentais,<br />

filantropia e negócios sociais tem se tornado cada vez mais comum. Isso ocorre pela maior disponibilidade de<br />

informações de fontes variadas (ex.: Big Data) e da crescente necessidade de as organizações mostrarem<br />

evidências sobre o impacto de suas ações.<br />

Diferente do setor privado tradicional, em que as métricas externas, em geral, estão focadas em indicadores<br />

financeiros, na área de filantropia ou organizações não governamentais, ou mesmo negócios sociais, as métricas<br />

atendem a diferentes expectativas, como aquelas relacionadas à:<br />

a) missão da organização (por exemplo, número de pessoas alcançadas com determinada ação)<br />

b) resultados esperados pelos patrocinadores<br />

c) desempenho da própria organização<br />

d) monitoramento de políticas públicas<br />

As organizações sociais coletam dados para responder às questões que se alinham intimamente com a<br />

identificação das demandas básicas da população que atendem. O tipo de dado que as associações de pacientes<br />

coletam não é o mesmo que o governo usa para suas atividades. Ambos são importantes e agem ou deveriam<br />

atuar para o mesmo fim, ou seja, melhorar a saúde da população.<br />

Suponhamos uma associação de pacientes que tem como propósito reduzir as barreiras no acesso a<br />

medicamentos aos pacientes. Sua missão é buscar os medicamentos e distribuí-los aos pacientes que precisam e<br />

não conseguem por dificuldades na locomoção ou barreiras geográficas. O tipo de dado que essa associação<br />

coletará para avaliar a efetividade de sua ação refere-se ao número de pacientes atendidos pela associação de<br />

pacientes, por exemplo. Por outro lado, o governo desenvolve programas que facilitam o acesso aos<br />

medicamentos para a população. O dado que o governo coleta refere-se ao número de pessoas com demanda<br />

por determinados medicamentos nos municípios, a fim de entender onde alocar as farmácias populares. Ambos<br />

(governo e associações de pacientes) têm como objetivo aumentar o acesso da população aos medicamentos,<br />

mas cada um age de uma forma, e por isso os dados coletados são distintos.<br />

A partir desse exemplo podemos perguntar: como associações de pacientes podem ajudar o governo com dados<br />

e informações de pacientes? De forma simplificada, vamos dar um exemplo do Programa Nacional de Câncer de<br />

Mama do governo federal.<br />

Uma das ações do programa prevê o aumento de mamografias no país para a detecção precoce do câncer de<br />

mama. O governo define, com base em estudos prévios, onde devem se concentrar os mamógrafos a serem<br />

disponibilizados à população. A fim de identificar se houve aumento da oferta de mamógrafos, o governo<br />

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Toolkits para capacitação no Brasil<br />

coletará dados sobre o número de mamógrafos por 100 mil mulheres, ou seja, este é um dos indicadores<br />

utilizados para avaliar se houve aumento da oferta deste equipamento à população, como preconiza o<br />

programa.<br />

Que tipo de informação as associações podem procurar? Elas podem procurar informações dos pacientes sobre<br />

as dificuldades no acesso aos mamógrafos, a fim de identificar possíveis falhas no sistema de saúde observados<br />

em suas localidades. Assim, enquanto o governo está coletando dados agregados quantitativos, as associações<br />

podem obter informações qualitativas sobre as dificuldades enfrentadas pelas pacientes no acesso ao<br />

diagnóstico.<br />

Esses dados podem ser usados em seminários com presença de representantes do governo, em audiências<br />

públicas ou reuniões e, em meios de divulgação para informar a situação de saúde dos usuários em uma dada<br />

localidade. Em outro exemplo, os dados agregados do governo podem nos mostrar que o tempo entre o<br />

diagnóstico e o tratamento de câncer em uma localidade X é duas vezes maior que na localidade Y. Por que isso<br />

acontece? Embora seja uma informação importante, ela não terá muita utilidade se a causa não for investigada.<br />

Ao trabalhar proximamente aos pacientes, as associações de pacientes podem ajudar o governo a entender o<br />

motivo disso acontecer, fornecendo instrumentos para a melhoria da qualidade do serviço.<br />

2.3 Estudos de caso: Como as políticas públicas têm melhorado a vida de pacientes no Brasil<br />

Estudo de Caso 1: Programa Brasileiro de HIV/Aids<br />

O Programa Brasileiro de HIV/Aids representa um exemplo mundial de um programa plenamente instalado de<br />

acesso universal à terapia anti-retroviral em países em desenvolvimento. A implantação desse programa voltado<br />

ao acesso a terapias anti-retrovirais, em conjunto com políticas de prevenção, foi fundamental para a redução<br />

da morbi-mortalidade no país e constitui-se como um caso exemplar de política pública que trouxe um grande<br />

benefício a pacientes com a doença. Outro ponto importante é que as estratégias de combate à doença<br />

contaram com a participação integrada de segmentos organizados da sociedade, como associações de<br />

pacientes, governo federal, estadual e municípios e organismos internacionais. Este é um exemplo de política de<br />

inclusão dos direitos da população na agenda governamental, por meio da colaboração entre vários<br />

stakeholders.<br />

O primeiro caso de Aids no Brasil ocorreu em 1980 e logo se transformou em epidemia. A pesar do emprego de<br />

inibidores de transcriptase reversa no tratamento da Aids desde 1987, foi apenas em 1996, com a lei federal que<br />

instituiu a distribuição gratuita de medicamentos - terapia anti-retroviral de alta potência (HAART) - aos<br />

portadores de HIV e doentes de Aids, que que a mortalidade por Aids caiu vertiginosamente no país. Em 1995 a<br />

taxa de mortalidade por Aids havia atingido seu pico, cerca de 9,6 mortes por 100 mil habitantes. Já em 1999,<br />

apenas três anos após a lei, a taxa se reduziu para 6,4 óbitos por 100 mil habitantes, com relativa estabilização<br />

das taxas de incidência.<br />

Vários fatores contribuíram para que o governo brasileiro elegesse o controle da epidemia de HIV como uma de<br />

suas prioridades:<br />

- O crescimento da doença em todo o mundo, pandemia em alguns países em desenvolvimento e a crescente<br />

preocupação de organismos internacionais e países desenvolvidos em relação ao controle da epidemia<br />

- O movimento da Reforma Sanitária no país na década de 1980, que colocou a saúde como um direito dos<br />

cidadãos e um dever do Estado, o que resultou na criação do SUS em 1990<br />

- O ativismo relacionado à Aids no Brasil, beneficiado pelo momento de reforma política, elaboração da nova<br />

Constituição, em 1988, restauração da democracia, anistia política e pelo retorno de diversos líderes políticos e<br />

asilados ao país<br />

- A cooperação entre entes governamentais, pesquisadores, ONGs e organismos internacionais, como a ONU e<br />

suas agências (Organização Mundial da Saúde e Unaids), e apoio financeiro do Banco Mundial<br />

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Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Em relação ao trabalho de organizações não governamentais, as primeiras ONGs surgiram na década de 1980, a<br />

exemplo da GAPA (Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS) e ABIA (Associação Brasilieira Interdisciplinar de AIDS),<br />

um observatório nacional de políticas relacionadas à HIV/Aids. A GAPA representa uma rede de apoio, criada no<br />

Estado de São Paulo em 1985 e hoje presente em vários estados brasileiros. Foi uma das primeiras no país a<br />

trabalhar com suporte emocional, treinamento em questões relacionadas à saúde para profissionais de saúde,<br />

distribuição de preservativos e informação sobre a doença. A ABIA, por outro lado, foi criada em 1987 por<br />

Herbert de Souza (Betinho), um conhecido ativista sobre direitos humanos para pessoas com HIV no país. O<br />

trabalho da ABIA tem como foco advocacy por meio de estudos, pesquisa e discussão política em relação ao<br />

acesso ao diagnóstico e tratamento, assim como defesa dos direitos humanos.<br />

É importante mencionar que muitas ONGs trabalham em parceria direta com o governo para oferecer<br />

aconselhamento, diagnóstico e informação a populações vulneráveis. Existe uma legislação específica com<br />

recomendações sobre o trabalho dessas ONGs, chamadas Casas de Apoio, incentivos financeiros e tipo de<br />

serviço que elas fornecem. No website do Ministério da Saúde para a Aids (www.aids.gov.br) é possível<br />

consultar a disponibilidade de 60 dessas ONGs que trabalham em parceria com o governo no âmbito do<br />

programa “Viva Melhor Sabendo”. Este programa foi criado em 2014 com o objetivo de oferecer diagnóstico<br />

ráipido por meio de um exame oral desenvolvido pela Fiocruz/Biomanguinhos. As ONGs atuam em parques,<br />

praças, bares e outras localidades onde se encontram populações vulneráveis e oferecem aconselhamento e<br />

teste diagnóstico da Aids, que fica pronto em 30 minutos.<br />

O caso do HIV/Aids é um exemplo de política pública criada por uma janela de oportunidade e em colaboração<br />

com ONGs e que ajudou a reduzir consideravelmente a mortalidade pela doença no país, além de reduzir o<br />

estigma associado à doença, melhorando a vida de pacientes e seus familiares.<br />

Estudo de Caso 2: Atenção Nutricional à Desnutrição Infantil (ANDI) no contexto da Política Nacional de<br />

Alimentação e Nutrição (PNAN) e Combate à Desnutrição Infantil<br />

O Programa de Combate à Desnutrição Infantil representa um marco nacional pelo impacto ocasionado na<br />

redução da mortalidade na faixa etária menor de um ano, por meio de uma solução de baixo custo para a<br />

desnutrição infantil. Além disso, é um estudo de caso importante pois se trata de um programa iniciado por uma<br />

organização não governamental e que se transformou em uma política pública nacional posteriormente, no<br />

âmbito do Ministério da Saúde. O monitoramento e demonstração do impacto da iniciativa foram fundamentais<br />

para sua disseminação e efetiva implantação em todo o território nacional.<br />

A iniciativa para o combate à desnutrição infantil começou em 1983, em uma reunião entre o diretor executivo<br />

da UNICEF e o atual arcebispo emérito de São Paulo, Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, em Genebra. James<br />

Grunt, então diretor da UNICEF, sugeriu a Dom Evaristo que fizesse algum trabalho no Brasil para combater a<br />

mortalidade infantil no Brasil. O bispo Dom Evaristo sugeriu, então, à Dra Zilda, que trabalhava como pediatra há<br />

25 anos, que criasse um projeto de combate à desnutrição e mortalidade infantil.<br />

Dra Zilda elaborou um projeto que contava com dois componentes:<br />

1 – O primeiro era relacionado à ação, propriamente, de redução da desnutrição: formas simples de combate à<br />

desnutrição, como disseminação do soro caseiro para combater a desidratação, uma das principais causas de<br />

morte entre crianças menores de 1 ano na época,<br />

2 – Metodologia de disseminação dessa ação: por meio de uma metodologia comunitária de multiplicação do<br />

conhecimento, Dra Zilda Arns recrutou inicialmente 20 mulheres para atuarem como voluntárias no<br />

mapeamento de mulheres e seus filhos abaixo de 6 anos, e na identificação de outros potenciais líderes. Ela<br />

criou folhetos educacionais, em linguagem acessível, para educar mães sobre a saúde e nutrição de seus filhos.<br />

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Toolkits para capacitação no Brasil<br />

O projeto piloto iniciou-se no município de Florestópolis (15 mil habitantes) no Estado do Paraná, à época com<br />

uma das maiores taxas de mortalidade infantil no Estado (127 mortes por 1000 nascidos vivos) 2 . Ele foi realizado<br />

no âmbito da igreja católica sob a denominação de Pastoral da Criança. Em 1991, menos de uma década após o<br />

programa se iniciar, a taxa de mortalidade infantil de Florestópolis se reduziu para 43,8 mortes por 1000<br />

nascidos vivos, de acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil de 2013.<br />

Após três anos de atividades, Dra Zilda Arns e sua equipe de voluntários visitaram comunidades onde o projeto<br />

havia tido sucesso e outros em que o programa não estava funcionando tão bem. Eles perceberam que os<br />

principais problemas incluíam:<br />

- Ausência de recursos para treinar lideranças,<br />

- Falta de comprometimento pelos coordenadores locais dos programas, relacionado à escassez de tempo<br />

Ao notar esses problemas, Dra Zilda Arns solicitou uma reunião individual com o presidente do então INAMPS<br />

(Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social) para apresentar o trabalho e solicitar auxílio<br />

financeiro para dar continuidade ao projeto. Dr. Ezio Cordeiro, presidente do INAMPS, enviou técnicos para<br />

avaliar o trabalho nas comunidades. Como a avaliação dos resultados já iniciada pela equipe da Dra. Zilda Arns<br />

era promissora e o custo do programa muito baixo (menos de US$ 1 por criança ao mês), em 1987 a Pastoral da<br />

Criança e o Ministério da Saúde assinaram um convênio. Nesta parceria, a Pastoral da Criança ofereceria os<br />

serviços de aconselhamento para as famílias e o Ministério da Saúde ajudaria com recursos financeiros. Neste<br />

mesmo ano outra fonte de recursos financeiros foi fundamental para a expansão do programa: o apoio oficial da<br />

Rede Globo de Televisão, por meio do programa Criança Esperança. Atualmente conta, ainda, com ajuda de<br />

empresas privadas e um percentual da renda obtida com as contaas de energia elétrica em alguns estados<br />

brasileiros.<br />

Em 1991 o Ministério da Saúde institucionalizou o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS) como parte<br />

de seu plano de reorganização da atenção à saúde no Brasil. Como o trabalho da Pastoral da Criança também se<br />

baseava no suporte a lideranças comunitárias, seu trabalho teve continuidade no âmbito do PACS, com inteiro<br />

apoio institucional do Ministério da Saúde.<br />

De acordo com a própria Dra. Zilda Arns, em entrevista concedida em 2003, a participação comunitária foi a<br />

principal chave para o sucesso do programa. O monitoramento quantitativo e avaliação do programa também<br />

foram fundamentais para garantir estabilidade financeira e possibilitar sua disseminação. Esse monitoramento<br />

era realizado semanalmente por meio da avaliação do peso das crianças, ao mesmo tempo em que mães, avós e<br />

líderes comunitárias trocavam conhecimento e informação. Havia um sistema de informação próprio do<br />

programa, o que permitiu que os resultados fossem mensurados quantitativamente e, inclusive, publicados em<br />

artigos científicos e encontros com diversos stakeholders, como governo e outras organizações não<br />

governamentais, do Brasil e do mundo.<br />

Uma das chaves para o sucesso no recrutamento e manutenção de voluntários veio, segundo ela, pela<br />

valorização humana e pela rede de solidariedade criada, com encontros anuais para troca de experiências e<br />

fortalecimento dos vínculos e da rede. Em 1994 esse programa ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Este<br />

reconhecimento tornou possível a disseminação deste programa para outros países, além do Brasil.<br />

A iniciativa da Pastoral da Criança é um exemplo de como um programa com claro reconhecimento do problema<br />

e solução de baixo custo, além do engajamento comunitário e rigoroso processo de avaliação e monitoramento<br />

tornaram possível sua disseminação a nível nacional e internacional e suporte do Ministério da Saúde.<br />

2 Para se ter uma ideia da magnitude desse valor, a taxa de mortalidade infantil no Brasil em 2015 é de 13,8, e ainda acima de países como Japão, com uma<br />

taxa inferior a 3 óbitos por 1000 nascidos vivos.<br />

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Toolkits para capacitação no Brasil<br />

3. Vamos falar de Planejamento Estratégico<br />

Organizações não governamentais têm inúmeros desafios, que vão desde a sustentabilidade da organização até<br />

a solução de um problema de grande relevância local ou nacional. Se elas querem prosperar, sobreviver e fazer o<br />

bem precisam responder aos desafios que a situação apresenta. A resposta aos desafios pode ser a melhoria do<br />

que já tem sido feito, ou mudança do foco e estratégia de suas ações. Para tudo isso o planejamento é<br />

fundamental.<br />

De acordo com Bryson (2011), o planejamento estratégico é um processo que representa uma abordagem<br />

disciplinada para produzir decisões cruciais e ações destinadas a moldar e guiar o que uma organização é, faz,<br />

como faz e por quê faz. O planejamento pode ajudar as organizações não governamentais a aprender, pensar e<br />

agir estrategicamente.<br />

O planejamento estratégico utiliza-se de uma metodologia que descreve claramente os objetivos em relação às<br />

barreiras que se pretende superar, ou aos avanços que se quer fazer na associação. Basicamente, esse<br />

planejamento constitui-se de uma ferramenta usada para aproximar a equipe de trabalho do estado desejado<br />

no futuro tendo com base evidências de situações atuais. A figura abaixo ilustra os passos necessários para<br />

construção do planejamento estratégico:<br />

ESTADO/VISÃO DE<br />

FUTURO DESEJADO<br />

OBJETIVOS<br />

ESTRATÉGIAS<br />

TÁTICAS<br />

RECURSOS,<br />

RESPONSABILIDADES<br />

E PRAZOS<br />

O guia claro para<br />

escolha de<br />

objetivos<br />

Define o que você<br />

busca realizar<br />

numa perspectiva<br />

A abordagem que<br />

tomará para o<br />

alcance do objetivo<br />

As atividades, prazos, responsabilidades e<br />

recursos necessários para garantir planos<br />

factíveis e mensuráveis<br />

Esse passo-a-passo do processo de definição de um planejamento estratégico inicia-se com a definição de um<br />

problema relevante.<br />

Esses passos serão tratados um a um, começando pela identificação de evidências atuais, ou do problema a ser<br />

resolvido.<br />

11


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Passo 0<br />

Passo 1<br />

Passo 2<br />

Passo 3<br />

Passo 4<br />

IDENTIFICAÇÃO E<br />

PRIORIZAÇÃO DO<br />

PROBLEMA<br />

Estratégia 1.1<br />

Táticas 1.1.1<br />

...<br />

• Prazos<br />

• Responsabilidades<br />

• Recursos<br />

Necessários<br />

Objetivo 1<br />

Estratégia 1.2<br />

...<br />

ESTADO/VISÃO<br />

DESEJADO<br />

Objetivo 2<br />

...<br />

Estratégia 2.1<br />

...<br />

3.1. Como identificar o problema e priorizar um tópico<br />

Em geral, o processo de definição de questões prioritárias para uma organização tem início com a percepção do<br />

problema. Para que um problema possa efetivamente influenciar uma decisão, o problema deve ser passível de<br />

solução para o gestor.<br />

Por exemplo, no caso da obesidade, para que um gestor público consiga priorizar esse tópico na agenda pública,<br />

é preciso mostrar que essa condição não é apenas danosa ao indivíduo, pois não é possível legislar sobre o<br />

comportamento individual. Porém, ao definir a obesidade como um problema de saúde pública, é possível traçar<br />

intervenções com um enfoque na sociedade e direcionar o debate das soluções possíveis a um conjunto de<br />

fatores (mudanças comportamentais como o incentivo a hábitos de alimentação saudáveis, questões culturais e<br />

questões de ordem econômica, como a disponibilização de formas para que as pessoas tenham acesso ao que<br />

irá provocar a mudança, como oferta de produtos de alimentação ou espaços de lazer, além de questões<br />

regulatórias). O importante aqui é que fique claro que não importa a complexidade do problema, a clara<br />

definição do problema e suas causas é que irá direcionar o debate em torno das soluções possíveis para lidar<br />

com ele.<br />

A relevância de uma determinada condição pode ser identificada a partir de dois tipos de informações:<br />

<br />

Quantitativas: indicadores ou variáveis epidemiológicas e/ou de uso dos serviços de saúde. As principais<br />

variáveis ou indicadores que influenciam a relevância de um problema podem ser dadas por incidência,<br />

prevalência e mortes. A dimensão do problema pode ser dada ao se comparar essas medidas ao longo do<br />

tempo, entre sub grupos populacionais (diferentes grupos etários, população por nível socioeconômico,<br />

sexo, etc.) ou entre localidades distintas. Também podem ser usados para comparação de metas definidas<br />

por organizações nacionais internacionais, como Organização Mundial da Saúde.<br />

<br />

Qualitativas: as informações podem ser obtidas por meio de revisão de literatura, surveys, entrevistas,<br />

rodas de conversa, seminários, entre outros, com pacientes, população, profissionais de saúde e<br />

stakeholders envolvidos com a temática, além de documentos da política como boletins, informes,<br />

relatórios, notícias, entre outras fontes, que podem ou não englobar aspectos quantitativos para<br />

dimensionar o problema e, então, definir o que priorizar.<br />

12


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

3.2 Priorização de Problemas<br />

Ao observar o problema e compreender suas causas, o passo seguinte corresponde à definição do que priorizar<br />

entre tantas opções para um planejamento estratégico, tanto para eliminar barreiras quanto para o trabalho de<br />

advocacy. É necessário avaliar a relevância de um tópico sobre outros e sua aplicabilidade à realidade local.<br />

Muitas vezes, um determinado problema parece muito relevante, mas a solução não é viável economicamente<br />

ou não replicável ou adaptável ao contexto. A evidência de pesquisa é apenas um meio para priorização de um<br />

tema e definição de um planejamento, porém as partes interessadas podem acrescentar valor significativo aos<br />

processos, por meio de diálogos entre todos para a definição das alternativas existentes.<br />

Além da definição do problema e dos critérios para priorização, o trabalho de planejamento em advocacy, por<br />

exemplo, envolve a identificação das políticas em torno do tema. Vejamos alguns exemplos:<br />

PROBLEMA<br />

Alta prevalência e mortalidade por câncer de mama<br />

no país.<br />

- Não existe monitoramento da prevalência de<br />

câncer de mama no país e o sistema de informações<br />

sobre incidência (SISMAMA) computa apenas<br />

aquelas mulheres atendidas na rede ambulatorial do<br />

SUS diagnosticadas com a doença.<br />

Problemas no acesso ao diagnóstico precoce. Cerca<br />

de 40% das mulheres acima de 50 não fizeram<br />

mamografia em 2013, de acordo com a Pesquisa<br />

Nacional de Saúde do IBGE.<br />

Diretrizes para tratamento de câncer não estão<br />

sendo seguidas corretamente.<br />

POLÍTICA ASSOCIADA<br />

SISMAMA (Sistema de Informação do Câncer de<br />

Mama).<br />

Programa Nacional de Controle do Câncer de Mama,<br />

que prevê disponibilização de mamógrafos em todo<br />

o território nacional.<br />

Lei dos 60 dias.<br />

A identificação das lacunas entre o problema encontrado e a política associada (a qual pode, também,<br />

apresentar lacunas em sua proposição) ajudará a identificar o estado futuro desejado.<br />

Uma vez identificado e priorizado o problema e realizada uma análise das condições atuais (estado corrente) do<br />

problema, o passo seguinte consiste em identificar a visão de futuro desejada. Essa visão descreve as condições<br />

ideais que se está tentando alcançar, considerando possibilidades factíveis para a solução deste problema<br />

(ambiente político, nível de suporte e engajamento, aspectos legais, cumprimento da lei dos 60 e 90 dias para<br />

diagnóstico e tratamento, questões éticas e<br />

financeiras, entre outras).<br />

A análise da lacuna entre o estado atual e o<br />

desejado irá ajudar a formulação dos objetivos. Ou<br />

seja, a análise da lacuna ajudará a definir o que é<br />

preciso ser feito para avançar em direção ao estado<br />

futuro desejado.<br />

DEFINIÇÃO<br />

DO OBJETIVO<br />

13


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

3.3 Definição de Objetivos<br />

A análise das lacunas entre o estado atual e o desejado ajudam a formular os objetivos do planejamento. Os<br />

objetivos definem como avançar em direção ao estado de futuro desejado. São eles que fazem a organização se<br />

aproximar do estado futuro desejado.<br />

É importante considerar a definição de objetivos como um processo contínuo de realizações provisórias a<br />

estados desejados. Neste sentido, é muito útil preparar um passo-a-passo que permite o alcance de pequenas<br />

realizações (metas) ao longo do caminho para alcançar o objetivo principal. Sequencie objetivos para garantir<br />

que objetivos intermediários sejam cumpridos, de modo a alcançar o objetivo final.<br />

Uma boa dica para avaliar se o objetivo traçado é um bom objetivo é o acrônimo SMART:<br />

Específico (Specific):<br />

Indique exatamente o que se pretende alcançar<br />

(Quem, O que, Onde, Por quê?)<br />

Mensurável (Measurable):<br />

Como você irá demonstrar e avaliar a medida para<br />

a qual o objetivo foi realizado?<br />

Alcançável (Achievable):<br />

Mire alto, mas faça com que seus objetivos sejam<br />

alcançáveis, factíveis.<br />

Relevante (Relevant):<br />

Como seus objetivos se encaixam dentro das<br />

responsabilidades das equipes e da missão da sua<br />

organização?<br />

Tempo limite (Time-bound):<br />

Estabeleça prazos/datas-limite factíveis para a<br />

implantação de estratégias e táticas e para o<br />

alcance dos objetivos.<br />

O checklist abaixo também ajuda a avaliar o objetivo:<br />

14


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Questões para confirmar se o objetivo está bem definido Sim Não<br />

Você possui evidências que sustentem o alcance dos objetivos? <br />

Você conhece e compreende os desafios? <br />

Você conhece as políticas e práticas que estão em vigor atualmente<br />

sobre a questão que pretende trabalhar?<br />

<br />

<br />

O objetivo desejado é executável? <br />

3.4 Definição de estratégias e táticas<br />

Uma vez definidos os objetivos, é necessário identificar a rota para se chegar até lá. As estratégias mostram os<br />

caminhos para se alcançar os objetivos, ou COMO chegar até seu objetivo. Por exemplo, vamos supor que um<br />

dos objetivos seja reduzir o tempo de espera por início do tratamento do câncer em 20% no município Y (para<br />

ter essa meta clara de redução, é necessário conhecer o tempo atual e ser realista quanto à meta). As<br />

estratégias utilizadas pelas associações de pacientes poderiam ser:<br />

1. Realizar estudo que mostre o impacto do início do tratamento em tempo hábil<br />

2. Mobilizar tomadores de decisão para a importância do tratamento oportuno<br />

As táticas, ou ações, por sua vez, referem-se às atividades que precisam ser realizadas para cada uma das<br />

estratégias, bem como a necessidade de recursos, e tempo necessário para sua realização. Para cada uma das<br />

estratégias acima, as táticas poderiam ser:<br />

Para estratégia 1:<br />

<br />

<br />

<br />

Realizar revisão de literatura sobre o efeito do tratamento em tempo hábil e como melhorar o diagnóstico<br />

para pessoas diagnosticadas com câncer<br />

Coletar dados com organizações afiliadas sobre o tempo em que os pacientes levam entre o diagnóstico e o<br />

início do tratamento<br />

Escrever um relatório com as evidências científicas obtidas da literatura e resultados obtidos com os<br />

pacientes<br />

Para estratégia 2:<br />

<br />

<br />

Preparar seminário com a presença de diversos stakeholders que atuam na defesa do tratamento em<br />

tempo hábil (médicos, pacientes) e representantes do governo<br />

Agendar reuniões individuais com tomadores de decisão para discutir barreiras no acesso ao tratamento<br />

oportuno<br />

Checklist de questões para confirmar se as estratégias estão alcançando os objetivos:<br />

15


ADEQUAÇÃO<br />

QUALIDADE<br />

ENGAJAMENTO<br />

Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Questões para confirmar se as estratégias estão ajudam a alcançar o objetivo Sim Não<br />

A abordagem tem foco/ é específica? <br />

A abordagem está ligada à direção organizacional? <br />

Foi dada alta prioridade ao público de interesse? <br />

É possível que o resultado da abordagem (estratégia) seja tanto eficiente como eficaz? <br />

Poderiam os resultados da abordagem trazer políticas diferentes das políticas desejadas<br />

e/ou eliminar outras barreiras que não as definidas no plano?<br />

A sua abordagem é atingível e realista? <br />

Você se sente confortável em implementar sua abordagem? <br />

<br />

<br />

A abordagem é viável em termos de financiamento, esforço e pontualidade? <br />

A abordagem segue todas as leis apropriadas? <br />

A sua abordagem é mensurável e os progressos podem ser avaliados? <br />

Os stakeholders foram incluídos na abordagem? <br />

A sua abordagem envolve grupos que são capazes de lidar com as barreiras identificadas? <br />

Você estabeleceu o que será necessário para mover grupos relevantes adiante? <br />

A sua abordagem reduz a oposição à política? <br />

Será que a abordagem fará com que os stakeholders apoiem a política? <br />

Se a resposta a alguma dessas questões for “não”, considere a possibilidade de adaptar a estratégia. Após criar<br />

uma lista de potenciais estratégias, elas precisam ser avaliadas e as estratégias mais apropriadas devem ser<br />

selecionadas. É recomendável não selecionar mais de duas estratégias por objetivo, uma vez que será preciso<br />

preencher a lista de táticas, e considerar os recursos necessários para tal, além do tempo.<br />

Para cada tática/ação, é necessário determinar os seguintes elementos:<br />

1. Delegar responsabilidades: quem será o responsável por essa ação?<br />

2. Definir cronograma: quando esta ação deverá ser finalizada? Considere incluir eventos não esperados que,<br />

caso não ocorram, permitam que a ação seja finalizada antes do tempo programado.<br />

3. Defina os recursos necessários: quais são os recursos para completar essa ação?<br />

Vejam abaixo uma sugestão de template que pode ser utilizado para o planejamento estratégico, contendo o<br />

objetivo que se quer alcançar, o tipo de estratégia (intervenção) realizada, a meta ou resultados esperados. No<br />

quadro descrevemos as táticas ou o plano de ação detalhado, com atividades que devem ser feitas para a<br />

estratégia específica de forma a atingir os objetivos. Este modelo representa uma forma organizada de preparar<br />

o documento com os informes sobre o plano de ação.<br />

16


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Objetivo geral: Definir aqui a que se destina a política ou a barreira a ser eliminada<br />

Estratégia (ou objetivos específicos): Definir como se pretende alcançar o objetivo esperado<br />

Meta/Resultados esperados (opcional): Existe alguma meta a ser alcançada? O que se espera com essa<br />

eliminação da barreira e/ou política implementada?<br />

Objetivo Estratégia Tática/Ação Cronograma Responsabilidades<br />

Definir a que<br />

se destina a<br />

política ou a<br />

barreira<br />

eliminada<br />

Definir<br />

como se<br />

pretende<br />

alcançar o<br />

objetivo<br />

esperado<br />

1 TRI / 2 TRI / 3<br />

TRI/ 4 TRI (ANO)<br />

Qual a equipe<br />

responsável, setor,<br />

etc. Quem serão os<br />

responsáveis pela<br />

implementação do<br />

projeto?<br />

Recursos<br />

necessários<br />

Financeiro,<br />

tempo, humano,<br />

tecnologia, etc.<br />

Veja exemplo abaixo (para o caso de planejamento estratégico em advocacy):<br />

Objetivo geral: Reduzir o tempo de espera por início do tratamento do câncer em 20% no município Y<br />

Estratégias:<br />

1. Realizar estudo que mostre o impacto do início do tratamento em tempo hábil<br />

2. Mobilizar tomadores de decisão para a importância do tratamento oportuno<br />

Meta/Resultados esperados: Reduzir em cerca de 20% o tempo de espera para o tratamento do câncer até<br />

dezembro de 2017<br />

Estratégia Tática/Ação Cronograma Responsabilidades Recursos necessários<br />

Realizar estudo que<br />

mostre o impacto do<br />

início do tratamento<br />

em tempo hábil<br />

Realizar revisão de literatura<br />

sobre o efeito do tratamento<br />

em tempo hábil e como<br />

melhorar o diagnóstico para<br />

pessoas diagnosticadas com<br />

câncer<br />

Coletar dados com<br />

organizações afiliadas sobre o<br />

tempo em que as pacientes<br />

levam entre o diagnóstico e o<br />

início do tratamento<br />

Escrever um relatório com as<br />

evidências científicas obtidas<br />

da literatura e resultados<br />

obtidos com as pacientes<br />

3 TRI 2016<br />

4 TRI 2016<br />

1 TRI 2017<br />

- Equipe de pesquisa da<br />

associação<br />

Equipe de pesquisa da<br />

associação<br />

Equipe de pesquisa da<br />

associação<br />

- Recursos financeiros para<br />

impressão de relatório<br />

-Tempo de equipe para o<br />

desenvolvimento do trabalho<br />

e reunião com pacientes para<br />

engajamento<br />

- Computador<br />

- Telefone<br />

- Recursos financeiros para<br />

viagens<br />

- Tempo de equipe<br />

- Computador<br />

- Designer gráfico para arte<br />

final do relatório<br />

Mobilizar tomadores<br />

de decisão para a<br />

importância do<br />

tratamento oportuno<br />

Preparar seminário com a<br />

presença de diversos<br />

stakeholders que atuam na<br />

defesa do tratamento em<br />

tempo hábil (médicos,<br />

pacientes) e representantes do<br />

governo<br />

1/2 TRI 2017<br />

Equipe de comunicação e<br />

marketing da associação<br />

-Patrocínio para o local do<br />

evento e logística do dia do<br />

seminário (coffee break,<br />

material de apoio, data show)<br />

-Tempo da equipe para<br />

organização do seminário<br />

(preparação de convites<br />

Agendar reuniões individuais<br />

com tomadores de decisão<br />

para discutir barreiras no<br />

acesso a tratamento oportuno<br />

2 TRI 2017<br />

Presidente ou advogado da<br />

associação<br />

-Tempo da presidência e<br />

advogado<br />

-Passagens/transporte<br />

17


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Como as associações de pacientes podem dar suporte às ações do governo? Oferecendo informações, usando a<br />

sua expertise no trabalho com os pacientes para informar ao gestor sobre desafios específicos vividos por esses<br />

pacientes, soluções inovadoras em localidades onde se encontram os pacientes, caso existam, com campanhas<br />

educativas de mobilização da população e outros atores, além de pesquisas que subsidiem as decisões em<br />

saúde.<br />

3.5 Plano de Engajamento com stakeholders<br />

A análise de stakeholder é um processo de agregação e análise de informações qualitativas de pessoas ou<br />

organizações (stakeholders) com o objetivo de determinar os interesses a serem levados em consideração ao se<br />

implementar um programa ou promover a colaboração com diferentes atores sobre uma determinada política<br />

ou programa.<br />

No setor social, o stakeholder é também conhecido como “ator” ou “parte interessada”, e pode ser uma pessoa<br />

ou organização, que tenha interesse ou sinergia com o trabalho realizado pelas associações de pacientes, por<br />

exemplo, ou que tenha conexão com a missão da associação. Eles podem ser agrupados nas seguintes<br />

categorias: pacientes, consumidores, organizações ou representantes da sociedade civil, grupos políticos,<br />

hospitais, jornalistas, acadêmicos, setor privado (empresa, associações de classe), influenciadores em geral,<br />

dentre outros.<br />

A análise de stakeholder é fundamental para o trabalho das associações. Ao compreender quem são os atores e<br />

o conhecimento que eles possuem sobre determinado tópico, além de seus interesses, posicionamentos,<br />

alianças e sua importância em relação à missão da organização ou alguma atividade, é possível interagir de<br />

forma mais efetiva para aumentar o nível de suporte a uma determinada ação.<br />

Por exemplo, antes de iniciar um projeto, a associação pode conduzir a análise de stakeholder para agir de<br />

forma preventiva a uma potencial oposição à implementação desse projeto ou defesa de uma determinada<br />

causa. A ação terá mais chances de ser bem-sucedida se os atores forem mapeados para facilitar a união de<br />

forças ou se preparar para uma eventual má interpretação da atividade. Além disso, o uso apropriado da análise<br />

de stakeholder pode ajudar a moldar questões de forma que as atividades sejam tecnicamente e politicamente<br />

viáveis, defensáveis legalmente e moralmente, e que possam criar valor e avançar em direção a um bem<br />

comum. A análise de stakeholder também é muito útil em conjunto com o planejamento estratégico da<br />

organização ou planejamento de alguma atividade.<br />

O primeiro passo para a condução da análise de stakeholder refere-se à definição da proposta da análise, ou<br />

seja, a que fim ela serve. Vejamos dois exemplos abaixo:<br />

18


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Objetivo<br />

Realizar campanha de conscientização da<br />

população sobre determinada doença e<br />

tratamentos possíveis/disponíveis<br />

Defender a efetiva implantação de uma política de<br />

saúde destinada a melhorar a vida dos pacientes<br />

Tipo de stakeholder<br />

- Grupos de pacientes,<br />

- Imprensa,<br />

- Patrocinadores conectados à causa,<br />

- Pessoas de influência (celebridades,<br />

blogueiros, etc, pessoas que possam dar<br />

visibilidade à causa).<br />

- Associações de classe (ex.: médicos),<br />

- Grupos de pacientes,<br />

- Sociedade civil,<br />

- Representantes do poder executivo,<br />

- Representantes do poder legislativo,<br />

- Ministério Público,<br />

- Políticos defensores da causa.<br />

Para cada um dos tipos de stakeholders listados na coluna à direita, é necessário realizar o mapeamento das<br />

lideranças. Existe uma ampla gama de metodologias de análise de stakeholder 3 :<br />

1) Técnica Básica<br />

Consiste, minimamente, de três passos:<br />

A – Identificar exatamente quem são os stakeholders mais importantes/influentes. No setor governamental, por<br />

exemplo, existem diversos tipos de stakeholders (técnicos, influenciadores, tomadores de decisão, sindicatos,<br />

cidadãos, conselheiros, políticos, legisladores, entre outros). E, assim como no governo, em qualquer<br />

organização existem grupos que agem a favor e contra determinada política/programa ou grupo, que luta por<br />

recursos próprios e atenção. A maior proposta da análise de stakeholder é ter uma visão clara de quem são<br />

essas pessoas ou grupos.<br />

B – Especificar quais os critérios que os stakeholders utilizam para mensurar o desempenho da organização.<br />

Existem duas formas: uma seria tentar “adivinhar” qual o critério, com base em depoimentos, entrevistas,<br />

análise da área, ou seja, por meio de evidências coletadas indiretamente. O outro seria realizar uma entrevista<br />

com os stakeholders a fim de perguntar-lhes, por meio de questionários, entrevistas, discussões em grupo ou<br />

seminários.<br />

C - Fazer um julgamento sobre o desempenho da organização frente às expectativas dos stakeholders, ou seja,<br />

como esses atores vêem a organização ou qual o nível de suporte às atividades que realizam. A análise não<br />

precisa ser sofisticada. Categorias como: bem avaliada, médio ou mal avaliada são suficientes para a discussão<br />

interna. Os tópicos da discussão podem incluir as forças e fraquezas da organização frente aos interesses dos<br />

stakeholders (conectados à missão ou atividade a que a discussão encerra), hiatos, conflitos, sobreposição de<br />

atividades, contradições, oportunidades, desafios e ameaças do desempenho da organização frente aos atores<br />

mapeados e sua influência.<br />

É importante notar aqui que a análise de stakeholder faz com que os membros da associação se coloquem no<br />

lugar do outro, o que permite ter uma visão mais racional (e menos passional) de seu próprio desempenho, sob<br />

o ponto de vista do outro. Exemplo: uma associação de paciente pode supor que está realizando um ótimo<br />

trabalho de advocacy. Ao realizar a análise de stakeholder ela pode ficar ciente de que tem encontrado muita<br />

resistência por parte do governo pela forma como se posiciona diante do assunto, de uma maneira que cria<br />

3 Bryson (2011).<br />

19


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

conflitos mais que sinergias e colaboração. Logo, a análise de stakeholder pode ser muito útil na elaboração de<br />

uma análise SWOT, tanto da associação como um todo quanto de alguma ação específica.<br />

A esses três passos podem se unir outros, como a definição clara de como cada stakeholder influencia a<br />

organização, o que se espera e o que irá ser demandado deles (quando for este o caso). As duas próximas<br />

técnicas elucidam esse ponto.<br />

2) Grade de interesses X poder de influência<br />

O diagrama de interesses X poder de influência organiza os stakeholders de acordo com seu interesse e poder de<br />

influência na organização ou na questão que está sendo analisada (ex.: uma campanha, planejamento<br />

estratégico, pesquisa, um programa, etc.). Ele é feito em uma matriz 2X2 como se vê abaixo:<br />

Fonte: Bryson (2011)<br />

Os stakeholders do quadrante 1 são aqueles que têm capacidade para se envolver e apoiar a<br />

organização/atividade, mas pouco poder para influenciá-la. No quadrante 2 estão aqueles a quem se aconselha<br />

o estabelecimento de um contato mais próximo, pois eles têm alto potencial para afetar o planejamento ou<br />

atividade. O quadrante 3 envolve os atores com pouca influência e poder, mas que podem ser monitorados a<br />

fim de verificar uma potencial mudança na dinâmica das relações. O quadrante 4 compreende atores que<br />

podem se engajar na organização ou na atividade, mas em algum ponto específico do projeto.<br />

Este diagrama é muito útil para determinar quais interesses e poder devem ser levados em consideração em<br />

cada etapa da atividade ou momento/esfera da organização. Além disso, ele ajuda a identificar possíveis<br />

coalizões entre vários stakeholders, o que pode ser de grande importância para avaliar os riscos da atividade ou<br />

planejamento. Esse diagrama pode, então, ser usado para mostrar a ordem de influência e conexão entre os<br />

diversos stakeholders e como eles podem ajudar a avançar o propósito da organização.<br />

3.5.1 Ciclo político e seus estágios<br />

A identificação correta de stakeholders é muito importante para as organizações, pois eles são elementos chave<br />

para dar suporte às ações da associação. Para que seja possível identificar e selecionar stakeholders relevantes,<br />

um primeiro passo consiste em identificar a fase do processo político na qual se encontra a missão da<br />

associação.<br />

20


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

A Figura 2 representa as duas fases do processo de desenvolvimento de políticas e os seus diferentes passos. São<br />

eles:<br />

1) Agenda política: consiste em seis passos que mostram a evolução do consenso em torno de um problema<br />

ou solução política<br />

2) Direcionando as ações: correspondem a quatro passos relacionados ao engajamento político. Estes passos<br />

levam ao desenvolvimento e implementação de políticas públicas.<br />

Figura 2: O ciclo político*<br />

*Corresponde à clássica ilustração do processo político baseado no modelo “Role in Policy Influencing” de uma adaptação de Judy Shamian’s à política<br />

pública de Alvin Tarlov’s, de 1999, voltada à melhoria da saúde da população.<br />

A missão da organização pode estar conectada a cada um dos passos, ou a mais de um deles. O quadro abaixo<br />

fornece uma explicação sobre a racionalidade por trás de cada estágio do ciclo político e exemplos de sua<br />

relação com a missão das associações.<br />

Passos Descrição Exemplo<br />

1.Valores e crenças<br />

Qualquer atividade que tenha como foco<br />

questões de políticas públicas devem estar<br />

ancoradas em um conjunto de valores. Este<br />

estágio do processo envolve a identificação,<br />

articulação e validação de valores básicos<br />

essenciais no processo de política. Os valores<br />

podem ser definidos como um conjunto de<br />

características ou preferências da organização<br />

que determina a forma como ela se comporta<br />

e se articula com outras organizações e/ou<br />

indivíduos. A crença é o estado psicológico em<br />

que uma pessoa define uma proposição ou<br />

premissa como verdadeira.<br />

Uma associação que defende que as pessoas<br />

precisam ter acesso a serviço de qualidade e<br />

em tempo oportuno está ancorada em valores<br />

e crenças fundamentais de direitos humanos.<br />

21


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Passos Descrição Exemplo<br />

2.Problemas ou<br />

questões<br />

emergentes<br />

3.Desenvolvimento<br />

do conhecimento e<br />

definição de<br />

prioridades de<br />

pesquisa<br />

4.Disseminação de<br />

conhecimento<br />

5.Conscientização<br />

pública<br />

Neste estágio, um problema é identificado e<br />

examinado. O problema ou questão se torna<br />

visível, ganha relevância pública, e toma o<br />

sentido de urgência que resulta em desejo<br />

político para o apoio a determinada política.<br />

A evidência é construída ou compilada para<br />

apoiar a questão que está sendo discutida.<br />

Pesquisa contínua e descobertas ajudam a<br />

fortalecer a direção da política na área da<br />

saúde. A evidência deve ter relevância,<br />

credibilidade e utilidade.<br />

Este estágio envolve a comunicação efetiva e<br />

intensa discussão sobre uma questão ou<br />

tópico em particular. O uso da evidência ou<br />

de dados é necessário para criar mensagens<br />

de alinhamento e que estimulem uma<br />

comunicação articulada, facilmente<br />

disseminada e repetida.<br />

Este estágio tem como foco a criação de uma<br />

ampla conscientização tanto do problema<br />

quanto das estratégias para solucioná-lo.<br />

Todos os potenciais stakeholders - ou grupo<br />

de stakeholders - devem ser convocados e,<br />

idealmente, a mensgem deve ser customizada<br />

para cada grupo. Criar situações de ganhos<br />

para ambas as partes é um dos principais<br />

objetivos deste estágio. Além disso, diferentes<br />

meios de comunicação podem ser acessados,<br />

como websites, jornais locais, redes sociais,<br />

entre outros.<br />

A associação identifica um problema quando<br />

ela percebe que existe uma lacuna entre o que<br />

se deseja e o que se é oferecido. Por exemplo,<br />

ao dizer que a vontade de criar uma associação<br />

surgiu após a identificação dos altos índices de<br />

mortalidade por câncer, o que notou não<br />

existirem protocolos de tratamento para<br />

determinados tipos de câncer, ela identificou o<br />

problema. Se a associação conseguiu dar<br />

visibilidade a essas questões por meio de<br />

estratégias, teve o aporte necessário de<br />

recursos e foi capaz de mobilizar stakeholders<br />

para essa causa, então pode-se dizer que ela é<br />

capaz de influenciar esse estágio político.<br />

A associação influencia esse estágio se ela<br />

desenvolve estudos inovadores baseados em<br />

dados próprios ou do governo, compila<br />

informações de trabalhos de pesquisa ou<br />

outros relatórios e monitora o trabalho de sua<br />

organização e das políticas públicas.<br />

Neste estágio a associação compartilha os<br />

resultados de sua pesquisa, seu trabalho e<br />

lições aprendidas por meio de vídeos, press<br />

releases, e outras formas de comunicação (TV,<br />

rádio, panfletos, cartazes, materiais gráficos,<br />

mala direta, telemarketing, site, portal, revista,<br />

jornal, email, newsletter, facebook, twitter,<br />

instagram, youtube, etc.) para stakeholders<br />

importantes à associação.<br />

Realização de campanhas com o público e com<br />

stakeholders para divulgar o conhecimento<br />

sobre determinado problema, ou para apontar<br />

possíveis soluções são características das<br />

associações que influenciam esse estágio<br />

político.<br />

22


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Passos Descrição Exemplo<br />

6.Filtragem da<br />

evidência e<br />

amplificação<br />

Filtrar e amplificar refere-se à seleção de<br />

partes da evidência para difusão a tomadores<br />

de decisão. Envolve a tradução de<br />

descobertas de pesquisa primária em recursos<br />

que podem ser usados para melhorar a saúde.<br />

Neste estágio, as organizações podem decidir<br />

filtrar parte da pesquisa e traduzi-las em<br />

mensagens políticas para, então, amplificá-la<br />

para influenciar os tomadores de decisão. Em<br />

geral, o trabalho das associações de pacientes<br />

ou outros grupos que trabalham em defesa de<br />

políticas públicas têm grande foco nesse<br />

estágio.<br />

A associação participa desse estágio se ela<br />

utiliza evidências para organizar seminários,<br />

workshops, fóruns e outros tipos de eventos<br />

para tomadores de decisão e/ou seus<br />

influenciadores.<br />

7.Engajamento<br />

político<br />

8.Ativação dos<br />

grupos de<br />

interesse<br />

9.Deliberação e<br />

aprovação da<br />

política pública<br />

Para que um problema se transforme em ação<br />

e entre na agenda política, o engajamento<br />

político é essencial. O engajamento político<br />

impulsiona uma questão do ponto em que ela<br />

é apenas uma questão para o ponto em que<br />

se torna uma questão inserida na agenda dos<br />

tomadores de decisão.<br />

Grupos de interesse são stakeholders<br />

importantes pela influência que podem<br />

exercer na política. Neste estágio, os<br />

stakeholders se envolvem em uma dada<br />

questão política. Isto oferece uma<br />

oportunidade para trazer a questão à tona,<br />

assim como identificar potenciais soluções,<br />

apresentá-las para a sociedade e tomadores<br />

de decisão por meio de outros canais.<br />

Quando há apoio suficiente para uma questão<br />

de interesse, a deliberação política começa<br />

entre os representantes do governo e<br />

tomadores de decisão. As soluções potenciais<br />

e formulações políticas são discutidas e<br />

deliberadas. Neste estágio, para que a<br />

intenção política se torne realidade, a política<br />

deve atender aos seguintes critérios:<br />

viabilidade técnica, aceitabilidade dentro da<br />

comunidade política, custo aceitável, e<br />

anuência antecipada da população. As<br />

discussões são seguidas da implantação da<br />

política por meio de votos, leis, regulações ou<br />

ordens executivas. Durante esse estágio do<br />

processo, a proposta se torna uma lei,<br />

regulação, ou outro tipo de instrumento<br />

político.<br />

A associação é capaz de influenciar esse<br />

estágio quando ela diz que tem<br />

representatividade em conselhos de saúde<br />

(locais, regionais ou nacional) e consegue<br />

endereçar as demandas; se atua em conjunto<br />

com o poder público em ações que visem<br />

melhorar a vida do paciente; se possui um<br />

diálogo aberto e constante com os tomadores<br />

de decisão para a colaboração em decisões que<br />

beneficiem os pacientes a quem eles apoiam.<br />

Por exemplo, ao unir diferentes stakeholders<br />

em um único evento para discutir um<br />

problema em conjunto, ou ao liderar outros<br />

grupos de associações ou estabelecer uma<br />

rede, pode-se dizer que a associação tem<br />

influência nesse estágio.<br />

A associação é capaz de influenciar esse<br />

estágio se ela tem um papel fundamental na<br />

decisão ou adoção de uma determinada<br />

política, e/ou se ela possui voto em<br />

determinado conselho que irá decidir sobre<br />

uma política específica.<br />

23


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

10.Experiência em<br />

regulação e revisão<br />

Neste estágio, a política é implementada e<br />

seu impacto avaliado. Como questões<br />

específicas ocorrem durante a<br />

implementação, a política pode necessitar de<br />

revisões para alcançar os objetivos propostos.<br />

A associação é convidada a deliberar sobre<br />

uma decisão política, e participa ativamente da<br />

discussão sobre mudança no curso das políticas<br />

existentes, e suas demandas são consideradas<br />

como parte desse processo.<br />

Dependendo do estágio do ciclo político em que a missão da organização se encontra, diferentes tipos de<br />

stakeholders podem ser vislumbrados. O quadro abaixo fornece uma seleção de stakeholders do Brasil, por tipo<br />

de stakeholder, nível de envolvimento nas políticas públicas e quais estágios do ciclo político eles são capazes de<br />

influenciar. Ao identificar o estágio político no qual a associação se enquadra, é possível identificar stakeholders<br />

conectados à sua missão.<br />

3.5.2 Tipos e exemplos de stakeholders relevantes nos estágios do Ciclo Político<br />

Tipo de<br />

stakeholder<br />

Tomadores de<br />

decisão nacionais<br />

e representantes<br />

do poder<br />

legislativo<br />

Tomadores de<br />

decisão e<br />

representantes<br />

do poder<br />

executivo<br />

Tomadores de<br />

decisão globais<br />

ou membros de<br />

organizações<br />

supranacionais<br />

Stakeholders oficialmente envolvidos,<br />

fundamentais e ativos em defesa<br />

direta da saúde<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Examplos para o Brasil<br />

Presidente, Câmara de Deputados<br />

ou Vereadores<br />

Presidente, Comissão da<br />

Seguridade Social e Família (CSSF),<br />

Comissão Mista de Orçamento<br />

(CMO), Senado e Câmara dos<br />

Deputados, ou presidentes de<br />

comissões locais da área de<br />

interesse,<br />

Líderes de partidos políticos<br />

nacionais, regionais ou locais<br />

Comissão Nacional de<br />

Incorporação de Tecnologias no<br />

SUS (CONITEC)<br />

Agência Nacional de Vigilância<br />

Sanitária (ANVISA)<br />

Secretaria de Ciência, Tecnologia<br />

e Insumos Estratégicos<br />

(SCTIE/Ministério da Saúde)<br />

Departamento de Gestão da<br />

Educação na Saúde<br />

(DEGES/Ministério da Saúde)<br />

Fundo Nacional de Saúde<br />

Organização Mundial da Saúde<br />

(OMS)<br />

Organização Panamericana de<br />

Saúde (OPAS)<br />

União de Nações Sul-Americanas<br />

(UNASUL)<br />

Mercado Comum do Sul<br />

(MERCOSUL)<br />

Stakeholders parcialmente<br />

envolvidos, interessados e um pouco<br />

menos ativos em defesa direta da<br />

saúde<br />

Membros do senado, câmara<br />

dos deputados e vereadores, ou<br />

membros de comissões<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Agência Nacional de Saúde<br />

Suplmentar (ANS)<br />

Banco Nacional para o<br />

Desenvolvimento Econômico e<br />

Social (BNDES)<br />

Conselho Nacional, Estadual e<br />

Municipal de Saúde<br />

Banco Mudial<br />

Banco Interamericano de<br />

Desenvolvimento (BID)<br />

Estágios no<br />

ciclo político<br />

que eles<br />

influenciam<br />

3, 5, 7, 9, 10<br />

1, 3, 5, 7, 8, 9,<br />

10<br />

1, 2, 3, 4, 5, 6,<br />

8, 9<br />

24


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Tipo de<br />

stakeholder<br />

Lideranças e<br />

outros membros<br />

de sociedades<br />

médicas<br />

Pesquisadores e<br />

academia<br />

Lideranças<br />

mundiais e<br />

outros membros<br />

de organização<br />

em defesa dos<br />

pacientes com<br />

parceiros<br />

<br />

Stakeholders oficialmente envolvidos,<br />

fundamentais e ativos em defesa<br />

direta da saúde<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Examplos para o Brasil<br />

Sociedades médicas, como:<br />

o Sociedade Brasileira de<br />

Oncologia Clínica (SBOC)<br />

o Sociedade Brasileira de<br />

Oncologia (SBC)<br />

o Sociedade Brasileira de<br />

Oncologia Pediátrica (SOBOPE)<br />

Instituto Nacional do Câncer (INCA)<br />

Instituto do Câncer do Estado de<br />

São Paulo (ICESP)<br />

Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)<br />

Instituições que fazem parte da<br />

Rede Brasileira de Avaliação de<br />

Tecnologias em Saúde (REBRATS)<br />

Universidades Brasileiras<br />

UICC (Union for International<br />

Cancer Control)<br />

ACS (American Cancer Society)<br />

ULACCAN (União Latino-<br />

Americana Contra o Câncer da<br />

Mulher)<br />

Susan G. Komen<br />

IAPO (International Alliance of<br />

Patients' Organizations)<br />

Alianza Latina<br />

Stakeholders parcialmente<br />

envolvidos, interessados e um pouco<br />

menos ativos em defesa direta da<br />

saúde<br />

Sociedade Brasileira de<br />

Enfermagem Oncológica (SBEO)<br />

Sociedade Brasileira de<br />

Radioterapia (SBRT)<br />

Sociedade Brasileira de Psico-<br />

Oncologia (SBPO)<br />

Sociedade Brasileira de<br />

Psicologia Oncológica (SBRAPO)<br />

Associação Brasileira<br />

Multiprofissional em Oncologia<br />

(SBRAMO)<br />

Associação Brasileira de<br />

Oncologia Ortopédica (ABOO)<br />

Sociedade Brasileira de<br />

Hematologia (SBHH)<br />

Rede do Câncer<br />

Fundação do Câncer<br />

Estágios no<br />

ciclo político<br />

que eles<br />

influenciam<br />

2, 3, 4, 6, 9<br />

2, 3, 4<br />

1, 2, 3, 4, 5, 6,<br />

7, 8<br />

3.6 Como elaborar um Plano de Engajamento?<br />

Após a análise de stakeholder e identificação do estágio na agenda política que a associação pretende atuar, a<br />

informação pode ser usada para criar um plano de engajamento com os diferentes atores mapeados. Esse plano<br />

pode ser relacionado à comunicação estratégica, atividades de advocacy, seminários, workshops, diálogos<br />

deliberativos para obtenção de consenso em torno de determinado tópico ou sobre a organização em si, entre<br />

outros.<br />

Os seguintes passos ajudam a definir o plano de engajamento. Veja o passo-a-passo para ajudá-lo a preparar seu<br />

plano.<br />

25


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

1) Definir o objetivo do engajamento<br />

2) Definir cenários potenciais para esse objetivo: é preciso entender claramente os diferentes cenários<br />

possíveis, a fim de identificar opções de enfrentamento de cada um deles e ter respostas e argumentos<br />

antes desse engajamento acontecer<br />

3) Determinar questões chave e mensagens a serem discutidas durante o engajamento:<br />

o Parceria com a equipe de comunicação da associação é essencial<br />

o Cada mensagem deve ser acompanhada de dados/evidências científicas para dar consistência e<br />

credibilidade à mensagem<br />

o As mensagens precisam ser adaptadas aos públicos específicos e aos tipos de decisões que influenciam<br />

(econômicas, sociais, políticas)<br />

o As mensagens podem ser construídas para um ou mais dos nove elementos que influenciam o<br />

processo de tomada de decisão: custo-efetividade, priorização, financiamento/orçamento, preço,<br />

decisões políticas, importância da doença (para a saúde, para a economia), recomendações das<br />

organizações supranacionais, considerações éticas e, complexidade da implantação.<br />

4) Analisar os stakeholders para engajamento<br />

5) Monitorar e atualizar as informações: as seguintes questões ajudam a monitorar a implantação do plano<br />

de engajamento de stakeholder<br />

o Os resultados intermediários foram alcançados? Quais?<br />

o Para os resultados intermediários que ainda não foram alcançados, o que é necessário para que sejam<br />

plenamente realizados?<br />

o Os seus objetivos ou resultados intermediários foram modificados?<br />

o Os cenários criados são válidos e razoáveis?<br />

o As prioridades foram identificadas e corresponderam aos objetivos?<br />

o Que tipo de informação está faltando e como você pode obtê-la?<br />

o Como tem sido a reação às mensagens previamente definidas e suas evidências? Há necessidade de<br />

revisá-las?<br />

o Há algum stakeholder mais fácil ou mais difícil de engajar? Se sim, considere reformular sua lista de<br />

stakeholders, o cronograma, local de engajamento ou a pessoa que será responsável por entrar em<br />

contato com esse stakeholder.<br />

26


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Dicas para o engajamento com tomadores de decisão:<br />

1) Faça contato<br />

O primeiro passo para a construção de relacionamento com stakeholders é estabelecer o contato. Use<br />

o passo-a-passo de como identificar stakeholders e estabelecer um plano de engajamento, promova<br />

encontros e convide-os para eventos. Crie oportunidades para que eles façam perguntas, dêem<br />

testemunhos e levantem questões pertinentes ao assunto. Documente e use essas respostas para<br />

melhorar as estratégias para o engajamento efetivo dos stakeholders.<br />

2) Seja visível na comunidade<br />

Organize eventos e foruns para educar e engajar diferentes tipos de stakeholders. Isso expandirá sua<br />

rede de contatos, além de dar visibilidade à sua organização e causa. Seja transparente com seus<br />

propósitos e aberto ao diálogo.<br />

3) Dissemine materiais, compartilhe informações<br />

Materiais informativos e pesquisas inéditas são um componente importante do engajamento. Muitas<br />

áreas técnicas do governo se alimentam de dados fornecidos por outras instituições, como<br />

universidades e organizações não governamentais que se dedicam a pesquisa. Produza dados,<br />

transforme-os em informação e dê visibilidade, use a mídia para disseminá-los. Dessa forma o<br />

conhecimento gerado por sua organização se tornará uma fonte de consulta permanente. Isso<br />

facilitará um primeiro contato e contínuo engajamento.<br />

4) Fique atento a editais do governo<br />

Editais como o PRONON e outros editais de financiamento de eventos, por exemplo, representam<br />

uma boa oportunidade de estabelecer contato e parceria contínua com o governo. Fique atento a<br />

eles.<br />

5) Monitore os stakeholders e suas opiniões<br />

É importante que, ao estabelecer um contato com os stakeholders, a opinião deles sobre<br />

determinado tópico de interesse esteja muito clara. Dessa forma você poderá evitar um possível<br />

desalinhamento de expectativas, o que poderia colocar essa parceria em risco.<br />

6) Aprenda com os outros<br />

Faça networking com outras associações de pacientes ou outros grupos que tenham um contato<br />

próximo com o governo, imprensa, associações de classe, enfim, os stakeholders de seu interesse.<br />

Entenda como funciona essa parceria, o que se discute, quais as estratégias utilizadas para o<br />

engajamento. O engajamento com outros colegas pode oferecer uma das melhores formas de<br />

aprendizado.<br />

27


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Template para o Plano de Engajamento de Stakeholders<br />

TÓPICO DE INTERESSE:<br />

Que tipo de política você quer influenciar? Financiamento para determinada ação, inclusão de medicamentos, aumento<br />

da oferta de serviços, melhoria no acesso, entre outros.<br />

Que tipo de barreira você quer eliminar? Priorização do paciente com câcer nos sistemas de saúde, conhecimento do<br />

paciente com relação à patologia, prevenção, diagnóstico e tratamento, qualidade de vida do paciente durante e após o<br />

tratamento, sustentabilidade financeira da organização, levantamento de evidências, entre outros.<br />

Objetivo:<br />

Qual o objetivo desse engajamento?<br />

Cenários potenciais do objetivo:<br />

Melhor cenário<br />

Descreva o melhor cenário possível do que se espera com esse engajamento com os<br />

stakeholders<br />

Cenário positivo<br />

Cenário neutro<br />

Cenário negativo<br />

Descreva um cenário positivo esperado para esse engajamento<br />

Descreva um cenário neutro, onde o engajamento não se concretiza, porém não<br />

influencia negativamente o resultado<br />

Descreva um cenário negativo possível para esse engajamento<br />

Pior cenário<br />

Descreva o que poderia acontecer de pior nesse engajamento com stakeholders<br />

Questões chave e mensagens (a serem discutidas durante o engajamento e voltadas à realização do objetivo):<br />

1 4<br />

2 5<br />

3 6<br />

Avaliação de stakeholders-chave:<br />

Stakeholder<br />

Em que<br />

momento<br />

do<br />

processo<br />

ele atua?<br />

Qual o<br />

nível de<br />

apoio?<br />

O quão<br />

afetado ele<br />

é pelo<br />

plano?<br />

Quão<br />

influente é o<br />

stakeholder?<br />

Questões<br />

chave e<br />

mensagens<br />

específicas<br />

a esse<br />

stakeholder<br />

Quem, da<br />

equipe,<br />

deveria<br />

entrar em<br />

contato<br />

com o<br />

stakeholder<br />

Quando/onde<br />

se engajar<br />

28


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Um exemplo de engajamento bem-sucedido para solucionar um problema de saúde:<br />

Em 2002, uma professora universitária da área de nutrição decidiu promover uma ação para reduzir a obesidade<br />

de crianças em idade escolar em uma cidade dos Estados Unidos. Ela decidiu unir diferentes atores, como<br />

governo, educadores, empresários, organizações sem fins lucrativos e cidadãos para definir práticas de<br />

promoção de bem-estar e prevenção de obesidade. Atores foram mapeados e sua importância definida (poder e<br />

interesse) para realizar o plano de engajamento. O objetivo era oferecer alimentação mais saudável nas escolas,<br />

ensinar nutrição básica e promover atividade física. Como as escolas eram parte do plano, os educadores e os<br />

representantes da escola eram stakeholders com alto nível de influência e poder para promover a mudança<br />

(quadrante 1). Os empresários, principalmente do ramo alimentício, tinham grande interesse, mas pouco poder<br />

para promover a mudança (quadrante 2), apesar de nunca terem sido engajados para ofertar alimentos mais<br />

saudáveis. Além disso, os restaurantes locais passaram a receber certificação caso servissem alimentos com<br />

baixo teor de gordura e alto nível de nutrientes. Associações de classe das empresas também se uniram para<br />

oferecer incentivos, como redução do valor da filiação a centros esportivos para mudança dos hábitos de vida. O<br />

governo também se uniu à causa ao reformar as calçadas para incentivar as crianças a irem a pé para a escola.<br />

Este é um exemplo de um objetivo bem definido (reduzir a obesidade de crianças na escola), análise de<br />

stakeholders, seus interesses e poderes, e plano de engajamento de todos eles, de forma a promover uma<br />

colaboração onde todos ganhariam. O resultado foi uma redução no IMC das crianças do município entre 2002 e<br />

2005.<br />

Este caso ilustra o exemplo de um engajamento de todos os stakeholders em nível municipal para um objetivo<br />

em comum. Tomadores de decisão regionais ou nacionais também poderiam ser consultados para expandir o<br />

plano a um outro nível. Um exemplo foi a Pastoral da Criança, de Zilda Arns, um estudo de caso que será<br />

mencionado a seguir e que começou em um município no interior do Paraná e se tornou um programa nacional.<br />

Dra. Zilda Arns contou, inicialmente, com o engajamento da igreja católica para expandir o programa localmente<br />

e, em seguida, regionalmente. Ao obter reconhecimento da UNICEF, obteve visibilidade com relação ao<br />

programa, alavancando o projeto para o Ministério da Saúde, que adotou seu programa de redução da<br />

desnutrição infantil, sendo expandido para todo o país.<br />

3.7 Como Identificar oportunidades de engajamento com o Governo<br />

“Pessoas ou organizações que estão lutando por alguma mudança são como surfistas esperando a grande<br />

onda. Para você chegar a ela, você precisa estar pronto para remar. Se você não está pronto quando a<br />

grande onda chega, você não irá conseguir surfar sobre ela”<br />

Tradução livre. Kingdon (2011), p. 165<br />

Estabelecer, fortalecer e manter um bom relacionamento com o governo e outros stakeholders é essencial para<br />

assegurar oportunidade de genuinamente influciar decisões em benefício dos pacientes e da população. O<br />

engajamento não é um processo de curto prazo, é algo a ser construído e fortalecido continuamente.<br />

Como identificar oportunidades de engajamento?<br />

Existe um termo muito utilizado nas políticas públicas chamado “janela de oportunidades”, quando há um<br />

espaço aberto e uma necessidade clara de colaboração entre governo e stakeholders externos. Essas janelas<br />

podem ser criadas espontaneamente ou de forma repentina.<br />

Alguns exemplos de janelas de oportunidade criadas espontaneamente:<br />

<br />

Ciclos de debate: por exemplo na Conferência Nacional de Saúde, a cada 4 anos, em que a sociedade é<br />

convidada a participar das discussões em nível municipal e regional<br />

29


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

<br />

<br />

<br />

Audiências públicas: sociedade é convidada a colaborar na decisão sobre algum tópico. Mesmo que essa<br />

colaboração não seja presencial, é possível identificar questões prioritárias para o governo e estabelecer<br />

sinergias fora do ambiente exclusivo das audiências<br />

Editais públicos: a exemplo do PRONON, é um espaço para envio de projetos e estreitamento da relação<br />

com o governo<br />

Seminários, palestras e workshops promovidos pelo próprio governo ou outras entidades, com<br />

representantes do governo e da sociedade, em que se cria um espaço de diálogo em torno de uma questão<br />

relevante<br />

Exemplos de janelas de oportunidades criadas de forma imprevisível:<br />

<br />

<br />

<br />

Mudança no governo: central ou gestor de determinada área (por exemplo, mudança do Ministro da Saúde<br />

ou diretor ou secretário de determinada área). Essa mudança pode ser esperada, ou repentina. Neste caso,<br />

a diferença de janelas espontâneas é que não necessariamente se cria uma demanda do governo, mas abrese<br />

um espaço para discussão ocasionada pela mudança<br />

Desequilíbrio das forças políticas: mudança no congresso nacional, partidos políticos, comitês, entre<br />

outros. Isso pode fazer com que os interesses mudem, e surjam oportunidades para diálogo e colaboração<br />

Mudança do humor nacional: mudança de valores e percepções da sociedade, resultante de algum<br />

acontecimento que provoca o gatilho para a mudança, ou para uma discussão sobre a mesma. Um exemplo<br />

foram as manifestações de 2013, que se iniciaram com o movimento em São Paulo contra o aumento de R$<br />

0,20 no ticket do transporte público e culminaram em uma série de reivindicações, incluindo demandas<br />

para a área da saúde.<br />

Exemplo de janela de oportunidade em saúde no Brasil recente:<br />

- Epidemia de zika vírus: a possível relação entre zika vírus e microcefalia, observada após vários casos de bebês<br />

com microcefalia em Pernambuco no início de 2016, suscitaram um imenso debate e pesquisa em torno da<br />

relação entre esses dois fatores, e um direcionamento de ações e recursos dos órgãos de saúde para pesquisas<br />

na área. Foram criadas oportunidades para discussão de saneamento básico no Brasil, formas alternativas de<br />

controle de vetores, vacinas e medicamentos e planejamento familiar.<br />

As oportunidades de engajamento podem estar inseridas na agenda governamental ou na agenda decisória do<br />

governo, de acordo com Kingdon (2011):<br />

Agenda<br />

governamental<br />

Agenda<br />

decisória<br />

Kingdon aponta que três condições devem ser satisfeitas para que temas inseridos na agenda governamental<br />

ganhem apoio na agenda decisória (legislativa ou alto poder executivo):<br />

Problema precisa estar bem definido,<br />

Solução precisa estar disponível para quando a oportunidade surgir,<br />

É preciso ter apoio político<br />

30


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

É importante participar de debates promovidos pelo governo ou que tenham representantes do governo,<br />

monitorar notícias do setor e do tema de interesse, monitorar a agenda legislativa e, além disso, ter um<br />

posicionamento e um plano de ação prontos para quando essa oportunidade surgir. Ao mesmo tempo, é preciso<br />

estar aberto ao diálogo pois muitas vezes as soluções para o enfrentamento do problema serão soluções que<br />

envolvem sugestões de várias partes interessadas, de forma a atender a todas as demandas.<br />

Pelo contato com pacientes e conhecimento profundo sobre os problemas enfrentados por eles, as associações<br />

de pacientes podem se valer dessa compreensão para discutir soluções, promover grupos focais ou rodas de<br />

discussão para ouvir propostas dos próprios pacientes e familiares e levá-las ao governo, ou serem<br />

intermediárias em projetos para o enfrentamento do problema apontado. Elas podem participar tanto da<br />

definição do problema, quanto da proposta de soluções e se engajar continuamente com o governo para que<br />

suas propostas tenham mais chance de serem atendidas.<br />

Se, no momento em que a janela se abre, as alternativas não se apresentam aos tomadores da decisão, essa<br />

janela pode se fechar e a oportunidade perdida. Recomendamos, aqui, o tópico sobre Priorização de Problemas<br />

para a organização do trabalho das associações para quando a oportunidade surgir.<br />

Para refletir:<br />

Pense em exemplos de janelas de oportunidades criadas de forma espontânea ou imprevisível no seu tema<br />

de interesse. Responda às perguntas:<br />

- Existem janelas de oportunidade abertas para o diálogo com o governo?<br />

(Caso a resposta seja negativa: Estamos prontos para discutir o tema quando essas janelas surgirem<br />

novamente?)<br />

- Temos um plano de ação bem estabelecido?<br />

- Temos clareza do que queremos com essa colaboração?<br />

- Temos clareza do que podemos oferecer com essa colaboração?<br />

- Temos apoio da equipe interna para levar adiante uma possível colaboração?<br />

- Estamos preparados para arcar com recursos necessários (tempo da equipe, recursos humanos,<br />

viagens e outros recursos financeiros, material) para essa parceria?<br />

3.8 Ética e Compliance<br />

Os códigos de ética são uma prática eminentemente americana e nasceram baseados em aspectos de ordem<br />

legal, disciplinar e punitiva em face das exigências do stakeholder externo: governo, sociedade e consumidores<br />

(CRESSEY; MOORE, 1983). Na evolução para a ética de integridade, Paine (1994) redefine o código de ética como<br />

qualquer documento da organização que instile valores de integridade ética para guiar e forjar o<br />

comportamento e a tomada de decisão ética por parte dos funcionários, não importando sua forma, desde de<br />

que seu foco esteja em valores ou aspirações: código de conduta, declaração de visão, propósitos, crenças,<br />

princípios ou valores.<br />

No Brasil, o Instituto Ethos (2000) reitera: 'O código de ética ou de compromisso social é um instrumento de<br />

realização da visão e missão da empresa, que orienta suas ações e explicita sua postura social a todos com quem<br />

mantém relações' (ETHOS, 2000, p. 5) 4 .<br />

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, criou, no ano 2000, um guia que ajuda as organizações<br />

a formular e implantar o seu código de ética 5 , um instrumento útil para dar aos profissionais de uma organização<br />

4 Trecho extraído do artigo: Cherman & Tomei, 2005, Rev. adm. contemp. vol.9 no.3 Curitiba, Códigos de ética corporativa e a tomada de decisão ética:<br />

instrumentos de gestão e orientação de valores organizacionais<br />

31


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

diretrizes e orientações sobre como agir em momentos de tomada de decisões difíceis e/ou relevantes,<br />

reduzindo os riscos de interpretações subjetivas quanto aos aspectos morais e éticos. O que precisa ser levado<br />

em consideração é o conjunto de relacionamentos internos e externos que a empresa mantém. Uma forma útil<br />

de sistematizá-los é raciocinar em termos dos diferentes públicos com os quais a organização interage, desde<br />

governos em todas as instâncias, hospitais, outras associações, pacientes, patrocinadores, influenciadores,<br />

dentre outros.<br />

Riscos e Oportunidades:<br />

Oportunidade de aumentar a integração entre as pessoas da associação, pois ele gera debate aberto e<br />

desperta a consciência das pessoas.<br />

O Código de Ética será adotado pelas pessoas se as formulações forem eqüitativas na atribuição de<br />

responsabilidades, tanto para a associação de pacientes, quanto para os seus funcionários e voluntários,<br />

sendo suas atividades necessariamente coerentes com as exigências do código.<br />

É recomendável que o Código de Ética exprima sempre as idéias de forma clara e simples.<br />

É possível ocorrer casos em que seja importante que parceiros e fornecedores adotem pontos do Código de<br />

Ética como condição da manutenção da parceria.<br />

É preciso criar formas para mensurar constantemente se o código de ética está sendo seguido por todos.<br />

Além disso, é preciso que ele seja reavaliado de tempos em tempos, sendo fundamental que os<br />

funcionários e voluntários da associação passem por treinamento anual sobre o código e seu conteúdo,<br />

com atividades e exemplos de práticas e atitudes bem-sucedidas do ponto de vista ético.<br />

O Código de Ética deve descrever como a associação deve se comportar junto aos seus principais públicos. Esse<br />

comportamento deve começar pela liderança da associação. A alta direção é a primeira a agir de acordo com o<br />

Código de Ética. A forma mais concreta de percepção desses atos ocorre na relação da direção com sua equipe.<br />

Todos devem vivenciar a decisão da mudança e do compromisso.<br />

O código de ética de uma associação deve conter, no mínimo:<br />

1. Apresentação da missão da associação e como a associação ajuda os pacientes<br />

2. Princípios e Valores da associação<br />

3. Atitudes Adequadas e Inadequadas<br />

4. Como a Associação se relaciona com stakeholders: funcionários, voluntários, pacientes, patrocinadores,<br />

associados, parceiros, fornecedores, governo, influenciadores e imprensa, profissionais de saúde, hospitais<br />

e clínicas, etc.<br />

Alguns bons exemplos de Código de Ética que podem ajudar sua associação na construção de seu código de<br />

ética:<br />

Código de Ética da AACD: https://aacd.org.br/wp-admin/images/Codigo_de_Conduta_21_08.pdf<br />

<br />

<br />

Código de Ética da WWF: http://wwf.panda.org/es/acerca/estructura/codigo_etica/<br />

Código de Ética da UNICEF: http://www.unicef.org/lac/codigodeetica.pdf<br />

4. Superando barreiras e desafios na lutra contra o câncer no Brasil<br />

5 http://www3.ethos.org.br/wp-content/uploads/2013/05/Elaboracao-Codigo-de-Etica-Ethos-Claudio-Abramo.pdf<br />

32


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

4.1 O que são barreiras?<br />

De acordo com o dicionário Merriam-Webster, uma Barreira é algo como um muro ou obstáculo natural que<br />

impede ou bloqueia o movimento de um lugar para outro. Já, nas relações entre organizações e pessoas, uma<br />

barreira pode ser uma lei, regra ou problema que impede que uma ação ou atividade seja realizada, algo que<br />

limita a compreensão de um conteúdo ou de um fato.<br />

No mesmo dicionário, a palavra Desafio significa que algo pode não ser verdadeiro ou correto. A mesma palavra<br />

pode significar também o questionamento de uma ação, uma menção, lei ou uma autoridade.<br />

Em ambos os casos, as barreiras e desafios encontrados pelas Associações de Pacientes voltadas ao Câncer no<br />

Brasil são muito similares. Por esse motivo, a Roche Brasil desenvolveu um conjunto de ferramentas que darão o<br />

suporte necessário à sua organização.<br />

4.2 Quais são as barreiras e desafios para o enfrentamento do Câncer no Brasil<br />

O Brasil é o quinto país em extensão territorial no mundo e o maior da América Latina, contando com uma<br />

população aproximada de 210 milhões de habitantes. Assim como em outros países de renda média - alta, as<br />

doenças crônicas não transmissíveis representam um importante ônus para a sociedade, sobretudo as<br />

neoplasias malignas, que são responsáveis por pouco mais de 15% de todas as mortes no país. Com cerca de 600<br />

mil novos casos por ano estimados pelo INCA (Instituto Nacional do Câncer, Brasil) para 2016, o câncer<br />

compreende a segunda causa de morte na população brasileira, ceifando a vida de 225 mil indivíduos<br />

anualmente. A estimativa é que até os 75 anos de idade, um em cada cinco brasileiros desenvolva algum tipo de<br />

câncer. Pelo cenário apresentado, entende-se a responsabilidade dos gestores públicos e de nós mesmos, como<br />

cidadãos, no controle desta doença 6 .<br />

Existem inúmeras associações de pacientes com Câncer no Brasil. Porém, cada uma atua em uma área de<br />

interesse específico. Nesse sentido, você encontrará abaixo, uma relação de barreiras e desafios para o<br />

enfrentamento do câncer no país, dividido em quatro públicos impactados: pacientes, associações, sistemas de<br />

saúde e fornecedores de saúde em geral, tais como hospitais, clínicas e profissionais de saúde.<br />

Essas barreiras e desafios foram construídas com base na jornada do paciente com câncer. A partir da análise da<br />

jornada do paciente e da relação de barreiras e desafios, você e seu time poderão descobrir as barreiras e<br />

desafios que sua organização decidirá superar visando uma solução para facilitar o diagnóstico, tratamento,<br />

acesso e a qualidade de vida do paciente.<br />

6 Texto extraído do Atlas do Câncer no Brasil – segunda edição, lançado em março de 2016<br />

33


34


Toolkits for capacity building in Brazil<br />

Como identificar barreiras para melhorar o acesso do paciente ao diagnóstico e tratamento<br />

Na tabela abaixo será possível encontrar as principais barreiras e desafios com relação ao câncer, encontradas<br />

por pacientes, associações, hospitais, clínicas e sistemas de saúde em geral.<br />

A ideia central dessa tabela é sugerir que você e sua equipe identifiquem quais são os pontos de contato que sua<br />

entidade tem com o paciente durante sua jornada e quais barreiras sua organização definiu eliminar ou reduzir o<br />

impacto junto ao paciente.<br />

Agora, liste as barreiras que sua instituição pretende enfrentar. Analise os motivos que levam à criação dessas<br />

barreiras. Identifique, na jornada do paciente, onde essas barreiras são encontradas, e faça alguns exercícios de<br />

brainstorming junto à sua equipe visando identificar soluções para eliminar essas barreiras.<br />

PÚBLICO<br />

PACIENTES<br />

BARREIRAS E DESAFIOS<br />

Falta conhecimento<br />

DETALHAMENTO<br />

Patologia<br />

Prevenção<br />

Sintomas<br />

Diagnóstico<br />

Tratamento<br />

Reabilitação<br />

Metástase<br />

ASSOCIAÇÕES DE<br />

PACIENTES<br />

SISTEMAS DE<br />

SAÚDE<br />

Estigmas e Mitos Relacionados ao Câncer<br />

Falta Diagnóstico Precoce<br />

Lentidão no início do tratamento<br />

Qualidade de Vida<br />

Sustentabilidade Financeira<br />

Necessidade de Formação de Redes<br />

Necessidade de Mobilização de Atores Influenciadores<br />

Falta Relacionamento c/ Gestores de Políticas Públicas<br />

Falta monitoramento das políticas públicas<br />

Falta Relacionamento com Profissionais de Saúde<br />

Faltam Recursos para Diagnósticos<br />

Falta Priorização do Paciente com Câncer<br />

Falta Infraestrutura<br />

Processo Estruturado Nacional para acompanhar a Jornada<br />

do Paciente, independentemente de sua localidade<br />

Acesso<br />

Equipamentos para<br />

tratamento e diagnóstico<br />

Móveis apropriados<br />

Espaços apropriados<br />

Equipe de saúde treinada<br />

Sistema Nacional de<br />

Rastreamento do Paciente<br />

Falta de Protocolos Únicos de<br />

Tratamento<br />

Diagnóstico<br />

Tratamentos Inovadores e de<br />

Alto Custo<br />

35


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

PÚBLICO<br />

IMPACTADO<br />

HOSPITAIS,<br />

CLÍNICAS E<br />

FORNECEDORE<br />

S DE SAÚDE EM<br />

GERAL<br />

BARREIRAS E DESAFIOS<br />

Capacitação de Profissionais de Saúde<br />

Priorização do paciente com câncer<br />

Mobilização com relação à patologia e a jornada do<br />

paciente<br />

Acompanhamento do Paciente durante sua<br />

jornada, inclusive a reabilitação<br />

Controle da Dor<br />

Qualidade de Vida e Serviços anti-stress<br />

Falta de recursos<br />

Falta de Profissionais em alguns locais do país<br />

DETALHAMENTO<br />

Diagnóstico<br />

Precoce<br />

Uso dos<br />

Equipamentos<br />

Compreensão<br />

das Patologias<br />

do Câncer,<br />

sintomas,<br />

prevenção,<br />

tratamento de<br />

lesões, da dor,<br />

encaminhament<br />

o, tratamento,<br />

reabilitação,<br />

metástase, nova<br />

jornada<br />

Acompanhamen<br />

to e<br />

Comunicação<br />

com o paciente<br />

durante sua<br />

jornada<br />

4.3 Encontrando soluções para as Barreiras e Desafios prioritários à sua associação<br />

Após identificar os pontos de contato que sua entidade tem com o paciente durante sua jornada e as barreiras<br />

que sua organização definiu eliminar ou reduzir o impacto junto ao paciente, é preciso avaliar se as soluções<br />

sugeridas trarão o resultado esperado para a eliminação das barreiras identificadas.<br />

Para priorizar as barreiras e as soluções a serem trabalhadas por sua organização, é importante que você e sua<br />

equipe respondam às seguintes perguntas orientadoras, que o ajudarão a priorizar seus objetivos a curto, médio<br />

e longo prazo.<br />

36


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

<br />

Explique a complexidade e o impacto direto ou indireto da solução sugerida por sua equipe sobre cada<br />

barreira, conforme questionário abaixo:<br />

o Informação e Troca de Conhecimento do Paciente:<br />

• Conhecimento do paciente com relação ao Câncer e seus sintomas, diagnóstico, tratamento,<br />

medicamentos exixtentes e seus direitos como cidadão brasileiro, seja atendido pelo SUS ou por<br />

um plano de saúde<br />

• Tipo de alimentação, atividades físicas e estilo de vida que o paciente com câncer deve buscar<br />

para melhorar sua qualidade de vida<br />

• Como e onde o paciente pode buscar informações e suporte para tirar dúvidas e trocar<br />

informações com outros pacientes<br />

o Crescimento e Profissionalismo da Associação de Pacientes, de forma a:<br />

• Ter sustentabilidade financeira<br />

• Participar de uma rede forte de associações para troca de conhecimento e melhoria das<br />

condições do paciente<br />

• Desenvolver capacidade de engajamento e mobilização de influenciadores (profissionais de<br />

saúde, academia e governos municipais, estaduais e federal)<br />

• Acompanhamento das Decisões Políticas voltadas à saúde<br />

o Suporte aos profissionais de saúde para:<br />

• Levantamento de dados específicos que tragam evidências relevantes sobre questões de<br />

interesse diversas<br />

• Suporte na atenção ao paciente, serviços anti-stress, alimentação, qualidade de vida, etc<br />

• Treinamentos específicos voltados à priorização do diagnóstico e tratamento<br />

• Treinamentos específicos voltados à atenção do paciente<br />

o Motivar a troca de relacionamento e comunicação entre pacientes, profissionais de saúde, academia,<br />

decisores de políticas públicas, influenciadores e sociedade civil<br />

• Criação de canais de comunicação e encontros de relacionamento<br />

• Sensibilização da sociedade civil para a questão do câncer e a jornada do paciente<br />

o Outros pontos relevantes para sua organização não mencionados nesse questionário<br />

4.4 Priorização de Barreiras e Definição de Projetos<br />

Agora, para ajudá-lo na tomada de decisões, com base nas respostas feitas com sua equipe, defina e liste as<br />

barreiras que sua organização deseja combater e as soluções sugeridas pela equipe para cada barreira.<br />

Para cada barreira, crie um projeto a partir das soluções sugeridas. Esse projeto será desenvolvido para eliminar<br />

essa barreira. Para a criação de um projeto, é importante realizar os seguintes passos:<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Nomeie o projeto<br />

Defina o objetivo, que é o resultado que sua organização deseja alcançar com o projeto. Importante: nunca<br />

estabeleça mais do que 3 objetivos para um projeto.<br />

Construa as estratégias para cada objetivo. Uma estratégia é a definição do que será feito para atingir esse<br />

objetivo (entenda como um plano de ação amplo projetado para um determinado prazo). É sugerido não<br />

estabelecer mais do que 2 ou 3 estratégias por objetivo.<br />

Agora, defina as táticas que serão realizadas por estratégia. Táticas são atividades do dia a dia que visam<br />

alcançar os pontos estabelecidos na estratégia que, por sua vez, pretendem alcançar um objetivo. Não<br />

realize mais do que 3 a 4 táticas por estratégia.<br />

37


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

<br />

Defina público-alvo para o projeto, tempo de criação, implantação e adoção do mesmo pelo público-alvo,<br />

resultados esperados, responsável da equipe a liderar o projeto e investimento esperado.<br />

Após a definição de um Planejamento para cada projeto, será preciso priorizar os projetos a serem realizados em<br />

um determinado período de tempo (sugestão: dentro de 1 ano), uma vez que as equipes, o tempo e os recursos<br />

são limitados. Para ajudá-lo nessa priorização, sugerimos que você e sua equipe preencham a tabela abaixo<br />

dando notas para o nível de complexidade do projeto e o impacto causado pelo mesmo. Repare que a tabela de<br />

complexidade sugere que as notas sejam mais altas para os projetos menos complexos. Por outro lado, a tabela<br />

de impacto sugere que as notas sejam mais altas para as atividades mais impactantes. Sua escolha para a<br />

priorização do projeto dependerá do quanto sua organização pretende realizar projetos com maior ou menor<br />

impacto e complexidade.<br />

BARREIRAS QUE IMPEDEM QUE A<br />

JORNADA DO PACIENTE ACONTEÇA DE<br />

FORMA MAIS EFETIVA E SEM<br />

SOBRESSALTOS<br />

escreva aqui a barreira que pretende<br />

eliminar<br />

NOME DO PROJETO QUE ELIMINARÁ A<br />

BARREIRA<br />

escreva aqui o nome do projeto que<br />

eliminará a barreira<br />

Valor do<br />

Investimento<br />

Processos<br />

(treinamento,<br />

pesquisa, etc)<br />

COMPLEXIDADE<br />

(DÊ NOTA 5 PARA O MENOS COMPLEXO E 1 PARA O MAIS COMPLEXO)<br />

Tempo<br />

Time Interno<br />

Engajamento<br />

Influenciadores<br />

Engajamento<br />

Decisores Políticas<br />

Públicas<br />

Comunicação<br />

TOTAL PRIORIZAÇÃO<br />

COMPLEXIDADE<br />

(valor do investimento +<br />

tempo+time interno+engajamento<br />

influenciadores+engajamento<br />

decisores políticas públicas +<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

BARREIRAS QUE IMPEDEM QUE A<br />

JORNADA DO PACIENTE ACONTEÇA DE NOME DO PROJETO QUE ELIMINARÁ A<br />

FORMA MAIS EFETIVA E SEM<br />

BARREIRA<br />

SOBRESSALTOS<br />

escreva aqui a barreira que pretende<br />

eliminar<br />

escreva aqui o nome do projeto que<br />

eliminará a barreira<br />

IMPACTO<br />

(DÊ NOTA 5 PARA O MAIOR IMPACTO E 1 PARA O MENOR IMPACTO)<br />

Paciente<br />

Sustentabilidade<br />

Financeira<br />

Reputação da<br />

Organização<br />

Risco<br />

TOTAL PRIORIZAÇÃO<br />

IMPACTO<br />

(paciente+ sustentabilidade<br />

financeira+reputação da<br />

organização+risco, dividido por 4)<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

0<br />

38


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

BARREIRAS QUE IMPEDEM QUE A<br />

JORNADA DO PACIENTE ACONTEÇA DE<br />

FORMA MAIS EFETIVA E SEM<br />

SOBRESSALTOS<br />

escreva aqui a barreira que pretende<br />

eliminar<br />

NOME DO PROJETO QUE ELIMINARÁ A<br />

BARREIRA<br />

escreva aqui o nome do projeto que<br />

eliminará a barreira<br />

TOTAL PRIORIZAÇÃO<br />

COMPLEXIDADE<br />

(valor do investimento +<br />

tempo+time<br />

interno+engajamento<br />

influenciadores+engajamento<br />

TOTAL PRIORIZAÇÃO TOTAL PRIORIZAÇÃO DE<br />

IMPACTO<br />

PROJETOS<br />

(paciente+ sustentabilidade (total priorização complexidade +<br />

financeira+reputação da total priorização impacto,<br />

organização+risco, dividido por 4)<br />

dividido por 2)<br />

0 0 0<br />

0 0 0<br />

0 0 0<br />

0 0 0<br />

0 0 0<br />

0 0 0<br />

0 0 0<br />

0 0 0<br />

0 0 0<br />

0 0 0<br />

4.5 A importância de se trabalhar em redes para superar as barreiras<br />

Sem dúvida, agora é hora de compartilhar seus projetos com sua rede estratégica de relacionamento. Converse<br />

com outras associações de pacientes para compreender como seu projeto pode ser alavancado por outra<br />

associação, ou se essa associação já possui um projeto similar ou complementar. O trabalho em equipe<br />

potencializa os resultados e reduz o tempo de desenvolvimento do projeto, podendo até reduzir os<br />

investimentos e recursos necessários.<br />

Converse também com alguns públicos de interesse de seu projeto antes de iniciá-lo, tais como hospitais,<br />

centros de saúde ou clínicas especializadas para entender se ele terá aderência com o público esperado ou se<br />

alguma pequena alteração precisa ser feita antes ou durante o projeto.<br />

O papel do líder e liderado:<br />

Em todo processo de Planejamento Estratégico, desde a sua concepção, implantação, monitoramento e busca<br />

por resultados, vale a pena ressaltar a importância do papel do líder e também do liderado.<br />

No livro “O Divergente Positivo- Liderança em Sustentabilidade em um mundo perverso”, de Sara Parkin,<br />

2014, a autora menciona uma frase de Keith Grint, que afirma que a liderança “não é uma ciência, e sim uma<br />

arte; é um desempenho, não uma receita; é uma invenção, não uma descoberta.” Grint (2000) ainda<br />

completa dizendo que “Um líder descortina um futuro melhor e convence pessoas a segui-lo”. Para a autora,<br />

“a liderança em desenvolvimento sustentável imagina sim, um futuro melhor, mas que não seja coagido por<br />

limitações organizacionais ou geográficas, como ocorre em outros setores da economia. É por algo que vai<br />

além do indivíduo, organização ou mesmo família e país”.<br />

Neste mesmo livro, Sara Parkin explica que um líder é o ocupante de um cargo que pode ser eleito, escolhido<br />

ou nomeado para liderar algo como um exército, uma empresa ou um projeto. O ocupante pode ou não ser<br />

bom para liderar. A liderança, no entanto, pode ser exercida por qualquer um, de qualquer setor de uma<br />

organização ou grupo.<br />

Neste sentido, é fundamental que um líder exerça seu papel de liderança, atuando de forma colaborativa,<br />

39


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

convencendo e engajando as pessoas para o atingimento de resultados no projeto. Uma associação de<br />

pacientes visa o bem comum e um futuro melhor e, por isso, não deve estar restrita a uma única organização,<br />

mas sim, envolver atores dos mais diversos setores e, inclusive, parceiros e organizações similares para a<br />

obtenção de um objetivo em comum.<br />

Ainda, para Sara Parkin neste mesmo livro, “o papel do seguidor responsável, inclui mitigar (reduzir o risco) a<br />

liderança, assim como uma orquestra tem que fazer com um maestro mal preparado. Significa poder avaliar<br />

criticamente, do ponto de vista da sustentabilidade, a orientação de um líder e ter confiança para assumir o<br />

tipo de desafios leais, mas independentes, de que depende uma boa liderança. Isso significa o crescimento de<br />

sua própria confiança sobre o rumo certo a seguir para que esse seguidor possa discordar ou desviar-se<br />

quando apropriado. O papel do seguidor versado em sustentabilidade começa então a se parecer muito com<br />

a liderança “versada em sustentabilidade”.<br />

Este item reforça a importância do papel e o comprometimento de todos da organização visando o sucesso<br />

dos projetos, de forma a motivar e engajar todos os atores da sociedade em que essa organização atua.<br />

Para ajudar você e sua associação a respeito da importância do trabalho em redes, apresentamos o estudo de<br />

caso a seguir, que apresenta como o trabalho multidisciplinar planejado pode alterar a qualidade de vida dos<br />

pacientes e ajudar a reduzir algumas barreiras mencionadas neste documento.<br />

4.6 Superando barreiras: estudo de caso dos centros de referência para DST/Aids 7<br />

Centro de Referência DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil.<br />

Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.<br />

Durante os últimos dez anos, as associações de pacientes têm crescido no Brasil, explicitando objetivos que vão<br />

desde a defesa dos direitos dos pacientes até a busca por mais informação, maior autonomia e responsabilidade<br />

pela própria saúde. Os grupos voltados às questões do HIV/Aids – os quais reúnem pacientes, familiares, amigos<br />

e profissionais de saúde – têm se destacado no cenário das associações, formando uma rede que abrange grupos<br />

mais formalizados, como as ONGs, e grupos menores e mais “voltados para dentro”. Em estudo recente sobre<br />

hospitais no Rio de Janeiro e São Paulo, uma das constatações foi a de que 36% desses hospitais instituíram a<br />

participação de associações e comunidades em itens de decisão do hospital (Costa et al., 2000). Tal dado levanta<br />

questões interessantes como, por exemplo, o perfil dessas associações e qual o seu papel no cenário da saúde<br />

pública 8 .<br />

Esse estudo de caso pesquisou 26 profissionais de 4 centros de referência para DST/Aids em São Paulo. O estudo<br />

visava compreender como as necessidades de saúde das pessoas com Aids são percebidas e respondidas no<br />

âmbito de equipes multiprofissionais nos serviços de atenção à saúde, buscando identificar, na dinâmica de<br />

articulação do trabalho desses profissionais, aspectos facilitadores e limitadores da qualidade da assistência.<br />

A complexidade e a variedade dos problemas suscitados pela Aids exigem respostas por parte dos serviços de<br />

saúde que considerem não somente os aspectos clínicos mas também os impactos sociais, psicológicos e<br />

econômicos associados aos estigmas e preconceitos que ainda a permeiam. Para responder a essa questão, os<br />

serviços têm recorrido a equipes compostas por profissionais oriundos de diferentes áreas de formação, ou seja,<br />

indivíduos com diferentes saberes e formas de trabalhar.<br />

7 O Estudo de caso acima é uma adaptação livre do estudo de caso: Silva, Oliveira, Figueiredo et al, 2002, Revista Saúde Pública, Limites do trabalho<br />

multiprofissional: estudo de caso dos centros de referência para DST/Aids<br />

8 Trecho extraído do artigo de Andrade e Vaitsman, Departamento de Ciências Sociais, Escola Nacional de Saúde Pública - Fundação Oswaldo Cruz - Temas<br />

Livres, Apoio Social e Redes – Conectando Solidariedade e Saúde<br />

40


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Num primeiro momento, quando iniciaram suas atividades nos centros de referência, os diferentes agentes<br />

encontraram dificuldades no desenvolvimento de seus trabalhos específicos. Oriundos de outros serviços de<br />

saúde, e sem experiência anterior na atenção a pessoas vivendo com HIV/Aids, os profissionais tinham como<br />

desafio conhecer a doença e as formas de tratamento; compreender as necessidades de saúde dos usuários dos<br />

centros referência; e vencer barreiras pessoais que dificultavam o atendimento dos que diferissem de seu<br />

conjunto de valores.<br />

As ações desenvolvidas para um maior conhecimento do objeto de trabalho nesses serviços aconteceram a<br />

partir de treinamentos e capacitações oferecidos aos profissionais. As características clínicas da doença e o<br />

tratamento foram citados como temas recorrentes, sendo escassos ou inexistentes, contudo, os espaços para a<br />

discussão e vivência de outros temas, que posteriormente, percebeu-se ser necessário. Isso porque, reuniões<br />

informais aconteciam constantemente, segundo as necessidades percebidas pelos agentes no cotidiano de suas<br />

práticas de trabalho, como no relato de uma enfermeira a respeito de um atendimento de uma paciente<br />

gestante que se negava a fazer um exame anti-HIV. Essa troca informal de experiência talvez tenha sido o<br />

principal momento em que esses profissionais puderam se apossar das dimensões interdisciplinares e das<br />

necessidades de assistência às pessoas com Aids.<br />

A multiprofissionalidade foi apontada muito claramente como estratégia privilegiada para atender às demandas<br />

da assistência nos centros de referência, com a justificativa sintetizada num dos depoimentos: “... a Aids tem<br />

mesmo múltiplas facetas... além da queixa dele... ou da diarréia... ele carrega um monte de coisas, da história da<br />

vida dele, a questão do parceiro, do contar ou não, da responsabilidade...do abandono, da rejeição da família<br />

que largou...ele vive uma história de opção sexual que é complicada por si e que aqui acaba aparecendo muito...<br />

se eu não puder estar discutindo o caso com o psicólogo, ou com a assistente social, ou com a educadora, enfim,<br />

com gente que possa ter uma outra leitura do que realmente ele precisa, eu tenho certeza que eu, como médica,<br />

não dou conta! Eu dou conta, realmente, só de um pedacinho, e muito mal!...” (médica).<br />

No trabalho da equipe multiprofissional, da articulação entre seus membros, sobretudo no ambulatório e no<br />

hospital-dia, denotou-se que o encaminhamento entre os profissionais tem sido a estratégia mais usual para<br />

responder à diversidade de necessidades dos usuários dos centros de referência. No entanto, o reconhecimento<br />

da necessidade da intervenção de um profissional de outra área ocorre somente a partir do julgamento<br />

particular de quem decide encaminhar, no próprio momento em que emerge a demanda, sem planejamento<br />

anterior, diferente da assistência domiciliar terapêutica, que exige que os profissionais multidisciplinares estejam<br />

articulados a partir de um projeto, que é discutido e desenhado anteriormente às intervenções.<br />

Ao final da pesquisa, foi unânime a percepção dos entrevistados em torno da importância do trabalho<br />

multiprofissional nos centros de referência e com relação às particularidades do trabalho de assistência às<br />

pessoas com Aids. A partir das lições extraídas dos depoimentos e das reflexões sobre estes, é possível concluir<br />

sobre o importante papel desempenhado por cursos e treinamentos que visam a preparar os profissionais para a<br />

assistência a pessoas com o HIV/Aids.<br />

No entanto, é fundamental que os conteúdos e as estratégias do treinamento visem não apenas às<br />

especificidades do trabalho de cada um dos agentes das equipes mas também propiciem espaços para a<br />

discussão e vivência de construção de projetos assistenciais comuns, o que mostrou ter um efeito<br />

41


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

potencializador para a integração dos diferentes profissionais das equipes de saúde e para melhorar a qualidade<br />

do cuidado prestado.<br />

Nesse mesmo sentido, ressalta-se a importância das discussões de casos, reuniões periódicas, de supervisão e<br />

planejamento, com a participação de todos os membros da equipe, pois também eles, antecipando demandas,<br />

constroem projetos, favorecendo a integração dos membros da equipe. Em síntese, uma estratégia que parece<br />

fundamental para tornar efetivo o trabalho multiprofissional é o planejamento de ações que busquem identificar<br />

e incorporar demandas antevistas à rotina.<br />

A concretização da construção coletiva do projeto de trabalho pela equipe multiprofissional e as possibilidades<br />

de incorporar o cuidado às práticas dos profissionais, indicam a necessidade do aprofundamento da<br />

comunicação e do planejamento entre os sujeitos envolvidos na relação assistencial, em uma relação de<br />

complementaridade.<br />

5. Mãos à obra - Atividade<br />

Agora é hora de arregaçar as mangas e fazer seus projetos acontecerem:<br />

1. Comece pelo Planejamento Estratégico<br />

1.1 Vá para a tabela de Barreiras e Desafios com Relação ao Câncer<br />

1.2 Identifique quais são os pontos de contato que sua entidade tem com o paciente durante sua jornada e<br />

quais barreiras sua organização definiu eliminar ou reduzir o impacto junto ao paciente<br />

1.3 Liste as barreiras que sua instituição pretende enfrentar<br />

1.4 Analise os motivos que levam à criação dessas barreiras<br />

1.5 Identifique, na jornada do paciente, onde essas barreiras são encontradas<br />

1.6 Faça alguns exercícios de brainstorming junto à sua equipe visando identificar soluções para eliminar<br />

essas barreiras (nesse exercício, responda às perguntas do item 5.3 - Encontrando soluções para as<br />

Barreiras e Desafios prioritários à sua organização)<br />

1.7 Liste as barreiras que sua organização deseja combater e as soluções sugeridas pela equipe para cada<br />

barreira.<br />

1.8 Para cada barreira, crie um projeto a partir das soluções sugeridas. Crie um nome para esse projeto e<br />

defina um objetivo<br />

1.9 Agora preencha as tabelas abaixo, definindo e priorizando objetivos, estratégias e táticas por projeto:<br />

Defina e priorize 2 a 3 objetivos por projeto:<br />

Objetivo<br />

O objetivo<br />

é válido<br />

(3=Sim/<br />

1=Não)<br />

É<br />

relevante?<br />

(3=Sim/<br />

1=Não)<br />

É<br />

alcançável?<br />

(3=Sim/<br />

1=Não)<br />

Ranking de<br />

prioridade<br />

(1=alta/<br />

3=Média/<br />

5=Alta)<br />

Nível de<br />

dificuldade<br />

(1=fácil,<br />

3=médio,<br />

5=difícil)<br />

Justificativa (para<br />

validade do objetivo e<br />

dificuldade para alcançalo)<br />

Ranking<br />

Faça o checklist do objetivo prioritário<br />

42


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Questões para confirmar se o objetivo está bem definido Sim Não<br />

Você possui evidências que sustentem o alcance dos objetivos? <br />

Você conhece e compreende os desafios? <br />

Você conhece as políticas e práticas que estão em vigor atualmente<br />

sobre a questão que pretende trabalhar?<br />

<br />

<br />

O objetivo desejado é executável? <br />

Liste duas estratégias para o objetivo escolhido<br />

Objetivo<br />

Estratégias<br />

1.<br />

2.<br />

43


Adequação<br />

Qualidade<br />

Engajamento<br />

Toolkits para capacitação no Brasil<br />

Faça o checklist das estratégias<br />

Questões para confirmar se as estratégias estão ajudam a alcançar o objetivo Sim Não<br />

A abordagem tem foco/ é específica? <br />

A abordagem está ligada à direção organizacional? <br />

Foi dada alta prioridade ao interesse público? <br />

É possível que a política resultante da abordagem seja tanto eficiente como<br />

eficaz?<br />

Poderiam os resultados da abordagem trazer políticas diferentes das políticas<br />

desejadas?<br />

A sua abordagem é atingível e realista? <br />

Você se sente confortável em implementar sua abordagem? <br />

A abordagem é viável em termos de financiamento, esforço e pontualidade? <br />

A abordagem segue todas as leis apropriadas? <br />

A sua abordagem é mensurável e podem progressos ser avaliados? <br />

Os stakeholders foram incluídos na abordagem? <br />

A sua abordagem envolve grupos que são capazes de lidar com as barreiras<br />

identificadas?<br />

Você estabeleceu o que será necessário para mover grupos relevantes adiante? <br />

A sua abordagem reduz a oposição á política? <br />

Será que a abordagem fará com que os stakeholders apoiem a política? <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Liste 3 táticas para cada estratégia descrita, assim como o cronograma, responsabilidades e necessidade de<br />

recursos<br />

Estratégias Táticas Cronograma Responsabilidades Recursos<br />

1. 1.<br />

2.<br />

3.<br />

44


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

2. 1.<br />

2.<br />

3.<br />

1.10 Priorize os projetos a serem realizados em um determinado período de tempo, como 1 ano, por exemplo,<br />

por meio do preenchimento da tabela do item 12 (Priorização de Barreiras), dando notas para o nível de<br />

complexidade do projeto e o impacto causado pelo mesmo. Repare que a tabela de complexidade sugere<br />

que as notas sejam mais altas para os projetos menos complexos. Por outro lado, a tabela de impacto<br />

sugere que as notas sejam mais altas para as atividades mais impactantes. Sua escolha para a priorização do<br />

projeto dependerá do quanto sua organização pretende realizar projetos com maior ou menor impacto e<br />

complexidade.<br />

Pronto, agora você possui um Planejamento Estratégico para a sua associação, com projetos estruturados e<br />

realizado com a participação de todos.<br />

2. Agora vamos ao Planejamento de Advocacy:<br />

2.1 Identifique quais dos projetos da sua instituição serão voltados para Advocacy<br />

2.2 Identifique seus stakeholders de acordo com cada projeto de advocacy<br />

2.3 Verifique onde seu projeto se encaixa no ciclo política da agenda de cada stakeholder<br />

2.4 Monitore os movimentos de seus stakeholders e os projetos políticos em desenvolvimento com relação ao<br />

seu projeto<br />

2.5 Identifique janelas de oportunidade e comece as atividades de relacionamento e engajamento de acordo<br />

com os dados levantados por sua associação e por seu cronograma de trabalho.<br />

Agora é realizar as atividades plajenadas, monitorá-las e readequá-las de acordo com as atividades e mudanças<br />

no decorrer do percurso.<br />

Sucesso!<br />

45


Toolkits para capacitação no Brasil<br />

6. Referências<br />

1. Bryson, J.M. Strategic Planning for Public and Nonprofit Organizations: a guide to strengthening and<br />

sustaining organizational achievement. Wiley: 4ª edição. 2011.<br />

2. Fleury S, Ouverney AM. Política de Saúde: uma política social. In: Giovanella L et al. editores. Políticas e<br />

Sistema de Saúde no Brasil. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2008. p. 23-64.<br />

3. Kingdon JW. Agendas, alternatives, and public policies. Updated Second Edition. New York: Pearson;<br />

2011.<br />

4. World Health Organization (WHO). Handbook on health inequality monitoring: with a special focus on<br />

low- and middle-income countries. Luxemburgo: World Health Organization; 2013. Página 2. Disponível<br />

em: < http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/85345/1/9789241548632_eng.pdf><br />

5. Cherman, A. & Tomei, P.A. Códigos de ética corporativa e a tomada de decisão ética: instrumentos de<br />

gestão e orientação de valores organizacionais. Rev. Adm. Contemp., vol 9(3): 99-120, 2005.<br />

6. Cressey, D. R and C. A. Moore. Managerial Values and Corporate Codes of Ethics. California<br />

Management Review, vol. 25 (Summer): 53-77, 1983.<br />

7. Paine, L. S. Harvard Business Review, Lynn Sharp Paine replies(Letter), May/Jun94, Vol. 72 Issue 3, p154-<br />

154, 1994.<br />

8. Instituto Ethos. Formulação e Implantação de Código de Ética em empresa. Disponível em:<br />

<br />

9. Atlas do Câncer, 2016, 2ªedição. Disponível em: <br />

10. Silva, Oliveira, Figueiredo et al. Limites do trabalho multiprofissional: estudo de caso dos centros de<br />

referência para DST/Aids. Revista Saúde Pública, vol. 36(4): 108-116, 2002.<br />

11. Costa NR, Ribeiro JM & Silva PLB. Reforma do Estado e mudança organizacional: um estudo de hospitais<br />

públicos. Ciência e Saúde Coletiva, vol 5(2):427-442, 2000.<br />

12. Andrade, G.R.B.; Vaitsman, J. Apoio social e redes: conectando solidariedade e saúde. Ciência & Saúde<br />

Coletiva, vol. 7(4):925-934, 2002.<br />

13. Grint K. The Arts of Leadership. Oxford University Press, 2000.<br />

46

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