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Toolkits para capacitação no Brasil<br />
O projeto piloto iniciou-se no município de Florestópolis (15 mil habitantes) no Estado do Paraná, à época com<br />
uma das maiores taxas de mortalidade infantil no Estado (127 mortes por 1000 nascidos vivos) 2 . Ele foi realizado<br />
no âmbito da igreja católica sob a denominação de Pastoral da Criança. Em 1991, menos de uma década após o<br />
programa se iniciar, a taxa de mortalidade infantil de Florestópolis se reduziu para 43,8 mortes por 1000<br />
nascidos vivos, de acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil de 2013.<br />
Após três anos de atividades, Dra Zilda Arns e sua equipe de voluntários visitaram comunidades onde o projeto<br />
havia tido sucesso e outros em que o programa não estava funcionando tão bem. Eles perceberam que os<br />
principais problemas incluíam:<br />
- Ausência de recursos para treinar lideranças,<br />
- Falta de comprometimento pelos coordenadores locais dos programas, relacionado à escassez de tempo<br />
Ao notar esses problemas, Dra Zilda Arns solicitou uma reunião individual com o presidente do então INAMPS<br />
(Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social) para apresentar o trabalho e solicitar auxílio<br />
financeiro para dar continuidade ao projeto. Dr. Ezio Cordeiro, presidente do INAMPS, enviou técnicos para<br />
avaliar o trabalho nas comunidades. Como a avaliação dos resultados já iniciada pela equipe da Dra. Zilda Arns<br />
era promissora e o custo do programa muito baixo (menos de US$ 1 por criança ao mês), em 1987 a Pastoral da<br />
Criança e o Ministério da Saúde assinaram um convênio. Nesta parceria, a Pastoral da Criança ofereceria os<br />
serviços de aconselhamento para as famílias e o Ministério da Saúde ajudaria com recursos financeiros. Neste<br />
mesmo ano outra fonte de recursos financeiros foi fundamental para a expansão do programa: o apoio oficial da<br />
Rede Globo de Televisão, por meio do programa Criança Esperança. Atualmente conta, ainda, com ajuda de<br />
empresas privadas e um percentual da renda obtida com as contaas de energia elétrica em alguns estados<br />
brasileiros.<br />
Em 1991 o Ministério da Saúde institucionalizou o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS) como parte<br />
de seu plano de reorganização da atenção à saúde no Brasil. Como o trabalho da Pastoral da Criança também se<br />
baseava no suporte a lideranças comunitárias, seu trabalho teve continuidade no âmbito do PACS, com inteiro<br />
apoio institucional do Ministério da Saúde.<br />
De acordo com a própria Dra. Zilda Arns, em entrevista concedida em 2003, a participação comunitária foi a<br />
principal chave para o sucesso do programa. O monitoramento quantitativo e avaliação do programa também<br />
foram fundamentais para garantir estabilidade financeira e possibilitar sua disseminação. Esse monitoramento<br />
era realizado semanalmente por meio da avaliação do peso das crianças, ao mesmo tempo em que mães, avós e<br />
líderes comunitárias trocavam conhecimento e informação. Havia um sistema de informação próprio do<br />
programa, o que permitiu que os resultados fossem mensurados quantitativamente e, inclusive, publicados em<br />
artigos científicos e encontros com diversos stakeholders, como governo e outras organizações não<br />
governamentais, do Brasil e do mundo.<br />
Uma das chaves para o sucesso no recrutamento e manutenção de voluntários veio, segundo ela, pela<br />
valorização humana e pela rede de solidariedade criada, com encontros anuais para troca de experiências e<br />
fortalecimento dos vínculos e da rede. Em 1994 esse programa ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Este<br />
reconhecimento tornou possível a disseminação deste programa para outros países, além do Brasil.<br />
A iniciativa da Pastoral da Criança é um exemplo de como um programa com claro reconhecimento do problema<br />
e solução de baixo custo, além do engajamento comunitário e rigoroso processo de avaliação e monitoramento<br />
tornaram possível sua disseminação a nível nacional e internacional e suporte do Ministério da Saúde.<br />
2 Para se ter uma ideia da magnitude desse valor, a taxa de mortalidade infantil no Brasil em 2015 é de 13,8, e ainda acima de países como Japão, com uma<br />
taxa inferior a 3 óbitos por 1000 nascidos vivos.<br />
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