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ENTREVISTA<br />
“Disse-me que, dada a minha maneira de ser, talvez fosse mais ‘feliz’ na ida para Direito.<br />
ração de um projeto de resolução<br />
sobre os mecanismos para a proteção<br />
dos direitos humanos na Bósnia-Herzegovina.<br />
Como é que se<br />
sentiu neste papel e sua importância<br />
na resolução do conflito naquele<br />
país?<br />
- Estávamos no fim dos anos 80,<br />
princípio dos anos 90. A Bósnia-Herzegovina<br />
era um ‘barril de pólvora’<br />
em que as diversas etnias se defrontavam...<br />
Muçulmanos, sérvios, albaneses,<br />
estavam lá todos e foi importante<br />
intervir. O meu papel foi relativamente<br />
pequeno mas importante<br />
porque, presidi à Comissão que tentou<br />
encontrar mecanismos que permitissem<br />
dar à Bósnia-Herzegovina<br />
uma estrutura de Estado e, felizmente,<br />
conseguimos isso. A Bósnia-Herzegovina<br />
é hoje, um Estado de direito<br />
internacional, aceite pacificamente<br />
pela comunidade internacional e<br />
um membro do Conselho da Europa.<br />
Foi também consultor da Organização<br />
das Nações Unidas (ONU)<br />
para um programa de assistência<br />
em matéria de “Direitos Humanos”<br />
para o Estado de São Tomé<br />
e Príncipe. Como é que viveu essa<br />
experiência?<br />
- Em 1992, pediram-me para que<br />
fosse a São Tomé e Príncipe fazer<br />
o levantamento das necessidades<br />
no campo dos direitos humanos.<br />
Fui, ouvi as pessoas e confirmei que<br />
as carências eram imensas naquele<br />
país. Certa vez, visitei a sede da<br />
Polícia Judiciária de São Tomé. Eles<br />
tinham uma caixa de recolha de<br />
impressões digitais que tinha sido<br />
oferecida pela nossa Polícia Judiciária<br />
mas não tinham pó para a recolha<br />
das impressões digitais, quer<br />
dizer, não tinham material básico<br />
para trabalhar. Tão ou mais grave<br />
do que isto, havia muita fome entre a<br />
população. Havia fruta em abundância<br />
mas não havia carne nem peixe.<br />
Carne não havia, mas havia um mar<br />
cheio de peixe a que a população não<br />
chegava porque não tinha meios para<br />
pescar esse peixe. Os pescadores<br />
locais tinham umas pequenas pirogas<br />
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saber | NOVEMBRO | 2016