REVISTA COLETIVA MARÇO ABRIL 2016_web
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Crônicas.<br />
Amigos e mesa de bar<br />
são tudo de bom. Conto<br />
algumas histórias.<br />
Estávamos todos lá, protegidos<br />
pelos nossos copos e pelo anjo<br />
da guarda, o garçom, quando<br />
aparece um chato e senta-se à<br />
mesa sem ser convidado, caso<br />
contrário não pertenceria à<br />
classe dos chatotorixes. Incontinenti<br />
passa a fazer o que lhe<br />
compete, chatices. Fala alto<br />
cuspindo no próximo, cutuca o<br />
próximo, que já não é o mesmo,<br />
pois já saiu de fininho, conta<br />
piadas conhecidas e sem graça,<br />
ri sozinho delas, fica todo amigão.<br />
De repente se sente bem à<br />
vontade e diz: “Pô, gostei dessa<br />
turma, posso fazer parte?”<br />
Fraguinha foi rápido: “Não<br />
dá, chato na turma já temos<br />
aqui o Marcelo”. Marcelo sentiu-se<br />
levemente ofendido e<br />
profundamente agradecido.<br />
Rubio, grande amigo, querida<br />
figura humana, boêmio de<br />
quatro costados, apelidado<br />
por muitos amigos de Boca de<br />
Platina por seu paladar sofisticado.<br />
Devido a este paladar<br />
especial, tinha a mania de devolver<br />
os pratos que solicitava<br />
em restaurantes, principalmente<br />
se já tivesse tomado vários<br />
“pedacinhos”, como chamava<br />
as doses de uísque. Ele “rubiava”,<br />
do verbo rubiar, criado<br />
pelo Breno, para descrever esta<br />
conduta do Rubio de devolução<br />
dos pedidos. Em um almoço em<br />
restaurante estrelado de Goiânia,<br />
a mesa plena e ele pleno de<br />
pedacinhos, fez sua solicitação.<br />
Assim que o prato chegou, ele,<br />
sem ao menos provar, disse ao<br />
garçom: “Vou pagar, mas não<br />
quero”. O garçom, todo solícito,<br />
“O senhor não quer levar?” E o<br />
Rubio com sua voz grave: “Não<br />
crio porcos em casa!”.<br />
Blend, o bar, café, charutaria,<br />
ou seja lá o nome que se<br />
queira dar, foi sem dúvida o<br />
melhor de tudo isso que já frequentei<br />
em minha vida, sendo<br />
que a maioria dos grandes<br />
amigos que hoje tenho foram<br />
lá conquistados. Inesquecível.<br />
Rubio sempre lá. Num sábado,<br />
lá pelas tantas da tarde, vários e<br />
vários pedacinhos desfrutados,<br />
ele resolveu ir embora. Pegou<br />
o carro que estava no subsolo,<br />
saiu direto, atravessou a rua, foi<br />
de encontro ao meio-fio do outro<br />
lado, com a pancada voltou<br />
de ré até o meio-fio do lado de<br />
cá, que parou o veículo. Preocupação<br />
geral. Rubio desceu solenemente,<br />
veio, sentou-se como<br />
se nada tivesse acontecido, e<br />
pediu, “Me dá mais um pedacinho”.<br />
A Blend era tão boa que<br />
até os trocadilhos e piadas infames<br />
do Ronan, o dono, a gente<br />
aceitava. Também era o jeito de<br />
colocarmos pendura em cima<br />
de pendura. Grande abraço<br />
Ronan. Hoje o bar – bem, chamemos<br />
de bar – que frequento<br />
também é ótimo, com grandes<br />
amigos, só não digo o nome,<br />
pois aquele chato citado lá em<br />
cima está sempre rondando por<br />
aí. Chatos são onipresentes.<br />
costacelso@uol.com.br<br />
Coletiva | março • abril/<strong>2016</strong><br />
Coletiva | março • abril/<strong>2016</strong>