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REVISTA COLETIVA MARÇO ABRIL 2016_web

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76<br />

literatura |<br />

77<br />

Literatura.<br />

Por que erramos?<br />

O lado positivo de assumir<br />

o erro<br />

*José Garcia Neto<br />

“Errar é humano” é uma frase<br />

que repetimos desde os primórdios<br />

de nossa civilização. Mas<br />

este talvez seja o único momento<br />

em que pensamos, ou no<br />

mínimo temos a certeza, de que<br />

“os outros” são mais humanos<br />

do que nós. Sabemos que todos<br />

cometemos erros, a espécie humana,<br />

em geral, é falível. Mas<br />

quando isso se refere a “mim”,<br />

neste exato momento, a todas<br />

as crenças que mantenho, aqui,<br />

no presente do indicativo, de<br />

repente toda essa apreciação<br />

abstrata de falibilidade escapa<br />

imediatamente pela janela mais<br />

próxima, desaparece magicamente,<br />

e não consigo pensar em<br />

nada sobre o que eu possa estar<br />

errado. E oW fato é que o tempo<br />

presente é onde vivemos. É<br />

no tempo presente que participamos<br />

de reuniões; é no tempo<br />

presente que vamos às urnas e<br />

votamos; é no tempo presente<br />

que decidimos o que comemos;<br />

para onde viajamos; o que falamos;<br />

quem amamos; enfim, no<br />

que acreditamos. Então, efetivamente<br />

acabamos viajando<br />

pela vida presos a essa pequena<br />

bolha onde nos sentimos muito<br />

certos sobre tudo. Isso é um<br />

problema que nos afeta demasiadamente<br />

na vida individual<br />

e coletiva, social e profissional.<br />

Kathryn Schulz nos convence<br />

com delicadeza, bom humor<br />

e essencialmente inteligência<br />

que sair desta bolha que nos<br />

aprisiona é o maior salto moral,<br />

intelectual e criativo que podemos<br />

realizar. Então, por que nos<br />

prendemos a esse sentimento<br />

de que sempre estamos certos?<br />

Emocionalmente, quando percebemos<br />

que estamos equivocados,<br />

nos sentimos humilhados,<br />

“para baixo”, com vergonha, e<br />

muitos outros sentimentos negativos.<br />

Neste clarividente ensaio,<br />

a autora nos mostra que isso<br />

pode ser devastador, revelador e<br />

até mesmo bem engraçado. No<br />

entanto, estar simplesmente errado<br />

não traz sensação nenhuma.<br />

O problema é a percepção,<br />

como no desenho animado em<br />

que o “coiote correndo atrás do<br />

pássaro papa-léguas, quando<br />

termina o penhasco, continua no<br />

ar numa boa e só despenca no<br />

abismo quando olha para baixo<br />

e tem consciência de que está<br />

solto no ar” (enxerga o erro).<br />

Ela nos ensina que culturalmente<br />

somos convencidos de<br />

maneira massacrante que só terá<br />

sucesso aquele que não erra e<br />

que sempre acerta. Essa sensação<br />

de certeza que todos experimentamos<br />

tão frequentemente<br />

não é um guia confiável, pois<br />

imaginamos que aqueles que<br />

discordam de nós (que nunca<br />

são poucos) são ignorantes, idiotas<br />

ou mal-intencionados. Mil<br />

e duzentos anos antes de Descartes<br />

dizer “Penso, logo existo”,<br />

Santo Agostinho disse “Fallo,<br />

ergo sum” (Erro, portanto, existo).<br />

Errar é humano. Ainda assim,<br />

a maioria de nós passa a vida<br />

presumindo que está certo sobre<br />

quase tudo, desde a origem do<br />

universo até como utilizar uma<br />

máquina de café. A autora explora<br />

por que achamos tão gratificante<br />

estarmos certos e tão<br />

angustiante estarmos errados, e<br />

como essa atitude em relação ao<br />

erro desgasta os relacionamentos<br />

e piora a qualidade de vida<br />

das pessoas.<br />

Um livro cativante, escrito de<br />

maneira sagaz, que nos convida<br />

a fazer uma das perguntas mais<br />

desafiadoras da vida: Por que<br />

erramos? Por fim, se aceitarmos<br />

o lado positivo do erro e viajarmos<br />

profundamente neste livro,<br />

poderemos realmente descobrir<br />

o “nirvana”, e, para isso, talvez,<br />

você só precise dar um passo<br />

para fora daquele pequenino,<br />

aterrador espaço de certezas e<br />

olhar ao redor (um para o outro)<br />

e fitar a vastidão, a complexidade<br />

e os mistérios do universo<br />

e ser capaz de dizer: “Uau, eu<br />

não sei. Talvez eu esteja errado”.<br />

Aproveite, erre mais. Leia um<br />

pouco!<br />

Por que erramos? O lado positivo<br />

de assumir o erro<br />

Autora: Kathryn Schulz<br />

Editora: Larousse<br />

Páginas: 368<br />

Ano: 2011<br />

Coletiva | março • abril/<strong>2016</strong><br />

Coletiva | março • abril/<strong>2016</strong>

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