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António Cruz<br />
acruz.funchal@abreu.pt<br />
Texto e fotos<br />
António Cruz escreve de acordo<br />
com a antiga ortografia.<br />
Há sonhos que alimentamos ao longo de boa parte da vida.<br />
A maioria dos meus passa, quase inevitavelmente, por<br />
conhecer mundo. Em particular alguns dos seus destinos. E<br />
havia um que há muito me acompanhava: a Índia. Esse lugar<br />
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…Samode. Uma pequena vila com quinze mil habitantes que cresce em<br />
redor de um palácio do século XVI que é hoje expoente máximo da hotelaria<br />
de luxo. Um quase não lugar, por se encontrar retirado das habituais<br />
rotas turísticas. E por onde só passa gente que sabe ao que vai.<br />
Um espaço de tranquilidade e paz onde os detalhes de bom gosto se reúnem<br />
com um único objectivo, o de fazer a nossa passagem - mais ou menos prolongada<br />
- se torne inolvidável. Tudo é silêncio, tudo é requintado, tudo é coberto<br />
por um género de manto diáfano que nos seduz e envolve amorosamente.<br />
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Samode cresceu. Pouco, se a compararmos com a grandiosidade quase<br />
doentia das grandes metrópoles indianas. No final de contas estou num<br />
país com 1.300 milhões de habitantes e já levo em mim cidades imensas<br />
de gente, de ruído, de poluição atmosférica. De uma insanidade inexplicável.<br />
Samode é, por isso, um doce e suave oásis.<br />
Se existe beleza na decadência? Sim, existe. Sempre a reconheci e sempre<br />
me tocou profundamente. Apagar as manchas do Tempo, raspar as<br />
imperfeições dos elementos, imaginar como foi. Olhando o presente de forma<br />
tranquila e embevecedora. Sentir-me privilegiado por aqui estar e passar<br />
a fazer parte destes lugares que olho pasmado.<br />
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saber | Fevereiro | 2017