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ENTREVISTA<br />
"O meu pai é um homem de família e em<br />
Raquel Coelho<br />
Há quem entre no gabinete do PTP-M à sua procura a fim de<br />
contratar os seus serviços de advogada. Raquel Coelho até<br />
acha piada na confusão e reconhece que, se calhar, para o<br />
exercício do cargo político que exerce - é deputada do PTP-M<br />
na Assembleia Legislativa Regional da Madeira - teria sido<br />
melhor ter enveredado pelo direito. Licenciada em Gestão<br />
de Empresas, Raquel Coelho tinha 23 anos quando assumiu a<br />
presidência do grupo parlamentar do seu partido tornando-se,<br />
assim, na mais jovem responsável por um grupo parlamentar<br />
na Assembleia Legislativa da Madeira. O PTP-M elegeu três<br />
deputados à ALM nas eleições legislativas regionais de 9 de<br />
Outubro de 2016 viabilizando na sua estreia parlamentar,<br />
a constituição do grupo parlamentar que teve – e tem - no<br />
carismático José Manuel Coelho a sua referência incontornável.<br />
A política à qual chegou “quase por acidente” é o fio condutor<br />
desta conversa com esta jovem deputada de 29 anos apenas,<br />
mas à qual não se consegue ficar indiferente.<br />
Dulcina Branco<br />
Fotos: cortesia Raquel Coelho<br />
Fale-nos um pouco de si, Raquel:<br />
onde nasceu, estudou, trabalhou<br />
e o que tem feito.<br />
- Sou natural de Santa Cruz. O<br />
ensino primário fi-lo no Externato<br />
Princesa Dona Maria Amélia, o<br />
ensino básico na Escola Básica e<br />
Secundária de Santa Cruz, o ensino<br />
secundário na Francisco Franco<br />
e o ensino superior na Faculdade de<br />
Economia do Algarve e na Universidade<br />
de Tomas Bata na República<br />
Checa. Licenciei-me em Gestão<br />
de Empresas. Trabalhei no Crédito<br />
Agrícola como bancária. Fiz também<br />
durante algum tempo estudos<br />
de mercado para várias empresas.<br />
Atualmente, quando não estou em<br />
deputada na ALRAM, dou assessoria<br />
ao Grupo Parlamentar do PTP.<br />
Eu própria fui induzida em erro<br />
no que concerne à sua formação,<br />
já que, a Raquel é formada em<br />
Gestão e não em Direito...<br />
- Pois, tem graça. Sou licenciada<br />
em gestão e não em direito, mas<br />
por alguma razão muita gente está<br />
convencida que tirei advocacia. De<br />
vez em quando, surgem pessoas no<br />
gabinete do PTP à minha procura<br />
a fim de contratar os meus serviços<br />
de advogada. O que acho piada!<br />
Embora reconheço que, se calhar,<br />
para o exercício do cargo político<br />
que hoje exerço, teria sido melhor<br />
ter enveredado pelo direito.<br />
Neste caso, vamos manter o Direito<br />
para saber a sua opinião sobre<br />
o estado da justiça em Portugal.<br />
Como é que estamos nesta área,<br />
na sua opinião?<br />
- É com muita preocupação que<br />
encaro o estado da Justiça Portuguesa.<br />
Hoje fazer valer os seus<br />
direitos em tribunal não está ao<br />
alcance de qualquer um. Efetivamente,<br />
existe uma justiça para<br />
pobres e outra para ricos. O acesso<br />
aos tribunais com a exigência<br />
do pagamento das custas judiciais,<br />
impossibilita o acesso à justiça<br />
por parte de uma grande fatia da<br />
população. Existe o apoio judiciário<br />
mas só os mais pobres entre os<br />
pobres conseguem aceder, é preciso<br />
ser quase indigente para ter acesso<br />
a este apoio. Tudo o resto, digamos<br />
os remediados, a grande maioria<br />
da população, ficam impedidos<br />
de aceder à justiça que passou a ser<br />
considerada um serviço de luxo.<br />
Por outro lado, outra preocupação<br />
é a falta de independência que existe<br />
entre o poder político e o poder<br />
judicial. E nos meios pequenos<br />
como o caso da Madeira a situação<br />
é bem alarmante. Muitos magistrados<br />
e juízes do Ministério Público<br />
vêm para a Madeira e ficam aqui<br />
durante anos a fio e a pouco e pouco<br />
vão sendo capturados pelo poder<br />
político, seja por um emprego que<br />
dão ao conjugue na administração<br />
local, seja por uma licença camarária,<br />
frequentam assiduamente os<br />
eventos sociais e através de amizades<br />
que vão desenvolvendo ou através<br />
de relações maritais vão criando<br />
laços e raízes que lhes impossibilidade<br />
julgar com isenção. Tudo<br />
4<br />
saber | Fevereiro | 2017