MOÇAMBIQUE
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O CINEMA EM <strong>MOÇAMBIQUE</strong> – HISTÓRIA, MEMÓRIA E IDEOLOGIA<br />
nos lugares e circunstâncias sociais, nos agentes que intervêm)<br />
determinados atributos para dar existência social (sensorial) a<br />
sentidos e valores e fazê-los atuar. Daí não se poder limitar a tarefa<br />
à procura do sentido essencial de uma imagem ou de seus<br />
sentidos originais, subordinados às motivações subjetivas do autor,<br />
e assim por diante. É necessário tomar a imagem como um<br />
enunciado, que só se apreende na fala, em situação. Daí também<br />
a importância de retraçar a biografia, a carreira, a trajetória das<br />
imagens. (Meneses, 2015: 28)<br />
Além do compromisso político, na experiência moçambicana<br />
o cinema também exerce papel muito significativo no campo da<br />
memória. O filme pode funcionar, por exemplo, como uma espécie<br />
de memória cinematográfica de acontecimentos históricos,<br />
seja através do registro de testemunhos e entrevistas, seja através<br />
de diferentes situações vividas por personagens. Para Pierre Nora<br />
(1993: 8), uma das questões importantes da cultura contemporânea<br />
situa-se no entrecruzamento entre o respeito ao passado e o<br />
sentimento de pertencimento a um dado grupo; entre a consciência<br />
coletiva e a preocupação com a individualidade; entre a memória<br />
e a identidade. Para ele, os lugares de memória, expressão<br />
que concebeu, convencido de que no tempo em que se vive os<br />
países e os grupos sociais sofreram profunda mudança na relação<br />
que mantinham tradicionalmente com o passado, são, primeiramente,<br />
lugares em uma tríplice acepção: são “lugares materiais”,<br />
onde a memória social se ancora e pode ser apreendida pelos sentidos;<br />
são “lugares funcionais”, porque têm ou adquiriram a função<br />
de alicerçar memórias coletivas; e são “lugares simbólicos”,<br />
onde essa memória coletiva se expressa e se revela. São, portanto,<br />
lugares carregados de uma vontade de memória (Nora, 1993: 21),<br />
como o cinema.<br />
Para o sociólogo austríaco Michel Pollak (1989), determinados<br />
tipos de memória podem abrir novas possibilidades no terreno<br />
fértil da história (principalmente quando entram em confronto<br />
com outras histórias, além das “oficiais”). Segundo ele, não se tra-<br />
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