MOÇAMBIQUE
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ALEX SANTANA FRANÇA<br />
Catembe (1965) e os contrastes de Lourenço Marques<br />
Catembe: sete dias em Lourenço Marques 7 (1965), dirigido por Manuel<br />
Faria de Almeida, 8 por outro lado, é considerado o primeiro<br />
filme a fazer uma interpretação crítica ao regime colonial português<br />
no país (Piçarra, 2015: 229), mesmo que não intencionalmente,<br />
como informa o diretor em entrevista à pesquisadora Maria<br />
do Carmo Piçarra. Mesmo assim, apesar de não se declarar<br />
anticolonialista, como outras produções da época – a exemplo de<br />
A invenção do amor (1965), de Antônio Campos, e Deixem-me ao<br />
menos subir às palmeiras (1972), de Joaquim Lopes Barbosa, ambos<br />
proibidos pela censura portuguesa) –, Catembe, de fato, mostra<br />
uma visão disruptiva do que o cinema de propaganda portuguesa<br />
propunha nesse período.<br />
O filme recebeu apoio do Conselho do Cinema Português, que,<br />
após julgamento e aprovação, anunciada em abril de 1964, entendeu<br />
a necessidade de estimular a produção cinematográfica nas<br />
colônias, já que antes de Catembe apenas outras duas produções<br />
tiveram esse propósito: Feitiço do Império (1940), de Antonio Lopes<br />
Ribeiro, e Chaimite (1953), de Jorge Brum do Canto. Entendeu-se<br />
que investir em um cinema sobre as colônias mostrava-se<br />
fundamental, diante do grande desconhecimento desses territórios<br />
pelas populações da metrópole (Piçarra, 2015: 230). As filmagens<br />
de Catembe duraram cerca de três semanas.<br />
A primeira versão do filme foi apresentada em 19 de março<br />
de 1965 ao Ministério do Ultramar. 9 O departamento identificou<br />
uma série de problemas nele, que deveriam ser corrigidos pelo<br />
diretor, a fim de o filme ser liberado para exibição, situação que<br />
configurou a primeira censura que o filme sofreu. Recomendou-<br />
-se, por exemplo, que fossem retiradas expressões como “voltei<br />
a Portugal” ou “cheguei a Portugal”, já que no discurso oficial da<br />
época todas as colônias portuguesas faziam parte do território<br />
português, portanto “eram também Portugal”. Exigiu-se, ainda,<br />
que fossem re tiradas cenas que mostravam os chamados “bairros<br />
de caniço” (bairros onde moravam os negros), cenas que mostra-<br />
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