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O jornalista destaca, porém, que a existência de uma<br />
variedade de vozes na grande imprensa, como acontece na<br />
Inglaterra e na Alemanha, onde é possível, por exemplo, investigar<br />
livremente as contas do governo ou as acusações<br />
de irregularidade em determinada empresa e “ver um fato<br />
sob diferentes olhares”, é positiva e necessária para a sociedade.<br />
Buscando garantir essa diversidade, a Constituição<br />
Federal estabelece em seu artigo 222 a complementaridade<br />
dos sistemas público, estatal e privado na exploração dos<br />
serviços de rádio e TV em território nacional.<br />
militares. A pesquisa mostra ainda que, nem mesmo com<br />
o fim da ditadura, notou-se significativa mudança de percepção<br />
do ponto de vista do controle de conteúdo.<br />
“A linguagem e os métodos utilizados para vigiar os<br />
meios de comunicação permaneceram similares mesmo<br />
após o fim da ditadura. O que evidencia o caráter do que<br />
historicamente entendemos por ‘transição suave’ e que,<br />
mesmo no contexto democrático, a vigília e o controle permaneceram”,<br />
relata Janaine Aires, pesquisadora da UFRJ.<br />
Manifestação na sede da EBC,<br />
em Brasília, após a intervenção<br />
do governo Temer. Imagem:<br />
Mídia Ninja<br />
Democracia fora do ar<br />
Episódios anteriores de interferência dos governos<br />
e de grupos empresariais nas atividades das emissoras do<br />
campo público deixaram marcas profundas na história do<br />
Brasil. Em 30 de março de 1964, na madrugada que marcou<br />
a instalação da ditadura civil-militar, a Rádio Nacional<br />
do Rio de Janeiro virou meio de transmissão de grupos<br />
que se opunham ao golpe que estava em vias de acontecer<br />
reunidos na Rede Pela Legalidade.<br />
No primeiro dia do golpe, o diretor da Rádio Nacional<br />
foi informado pelo telefone da chegada de dois tanques<br />
de guerra que apontavam os canhões para os transmissores<br />
da Rádio Nacional, acompanhados por cerca de<br />
100 soldados armados. Assim que se instalou, o presidente<br />
Castelo Branco demitiu 39 funcionários<br />
da Rádio Nacional sem qualquer<br />
processo. A emissora, criada em 1936<br />
e estatizada pelo Estado Novo em<br />
1940, tinha 800 empregados e produzia<br />
20 horas de programação diária,<br />
liderando a audiência no país.<br />
Documentos reunidos na pesquisa<br />
“O Serviço Nacional de Informações<br />
e a comunicação” (Peic/<br />
UFRJ) revelam que a espionagem, a<br />
censura e a demissão e perseguição<br />
de funcionários eram expedientes<br />
utilizados pelos governos militares<br />
como forma de conter as críticas ao<br />
regime feitas pelos movimentos democráticos.<br />
A partir da madrugada<br />
do dia 30 de março para o dia 1º de<br />
abril de 1964, os veículos públicos,<br />
privados, comunitários, educativos e alternativos eram alvos<br />
a serem neutralizados pelo Serviço de Inteligência dos<br />
Documentos coletados nos arquivos do SNI sobre espionagem<br />
de veículos do campo público por governos militares<br />
O uso dos meios públicos para a propaganda nazista<br />
durante a Segunda Guerra é um episódio que mostra a<br />
importância de se proteger o interesse público e garantir<br />
a diversidade de ideias nos meios de comunicação públicos<br />
para evitar o aparelhamento e a difusão de ideias dissonantes<br />
com os ideários democráticos e com os direitos<br />
humanos em geral. Embora a independência financeira<br />
seja constantemente alvo de pressão dos meios privados,<br />
os canais públicos, tanto na Alemanha quanto na Inglaterra,<br />
se financiam por meio de uma taxa anual que os cidadãos<br />
dos dois países pagam. Atualmente a taxa anual de<br />
TV está em 215,76 euros por residência na Alemanha (por<br />
ano). No Reino Unido, o valor anual é de 145,50 libras.<br />
Na Alemanha e em outros países da Europa – como<br />
Portugal e Espanha – onde o modelo de radiodifusão se<br />
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DIREITO À COMUNICAÇÃO NO BRASIL 2016<br />
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