29.03.2017 Views

Direito

3GaWlL40D

3GaWlL40D

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

pai de Carlos Eduardo, um dos cinco jovens assassinados<br />

por policiais do 41º Batalhão da Polícia Militar em novembro<br />

de 2015, teve cerceado seu direito à manifestação.<br />

Tais ações repressivas estão respaldadas pela Lei Geral<br />

das Olimpíadas. O inciso IV do artigo 28 estabelece como<br />

condição para o acesso e permanência nos locais oficiais,<br />

por exemplo, “não portar ou ostentar cartazes, bandeiras,<br />

símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, de caráter<br />

racista ou xenófobo ou que estimulem outras formas de<br />

discriminação”. O inciso X do mesmo artigo determina ainda<br />

que não se pode “utilizar bandeiras para outros fins que não<br />

o da manifestação festiva e amigável”.<br />

São puníveis com prisão de até um ano a produção<br />

e distribuição de produtos que imitem símbolos oficiais<br />

da competição, mas também a mera modificação de qualquer<br />

símbolo, ainda que seu objetivo seja, por exemplo, a<br />

realização de uma paródia. Em abril deste ano, diversas<br />

entidades da sociedade civil repudiaram a Lei das Olimpíadas<br />

e Paralimpíadas, sancionada pela presidenta Dilma<br />

Rousseff, por seu caráter autoritário.<br />

A coordenadora do Centro de Referência Legal da<br />

ONG Artigo 19, Camila Marques, mostrou-se preocupada<br />

com a repressão à liberdade de expressão que marcou<br />

os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. “Com apenas uma<br />

semana do início do evento, já vimos o aumento da ocupação<br />

na Maré, no Complexo do Alemão e de uma forma<br />

geral. Cada vez mais o Estado está se aprimorando no seu<br />

aparato de repressão, através da compra de equipamentos,<br />

e esse legado é o que realmente vai ficar dos megaeventos<br />

no Brasil”, considera Camila Marques.<br />

Sangue no chão<br />

A comunicação independente, alternativa e comunitária<br />

segue pulsante, apesar de todas as dificuldades<br />

impostas pela repressão cotidiana que se acirra no contexto<br />

dos megaeventos. As articulações de comunicadoras<br />

e comunicadores em favelas e bairros periféricos do Rio<br />

de Janeiro levaram à criação, por exemplo, de páginas no<br />

Facebook para denunciar violências cometidas pela polícia,<br />

prefeitura, governo do Estado e Forças Armadas – que<br />

ocuparam o Complexo da Maré durante a Copa de 2014.<br />

Mas, além de canal de denúncia, as redes sociais<br />

têm sido um meio para perseguir comunicadores. Gizele<br />

Martins, da Maré, já recebeu até ameaças de estupro e<br />

avisos de que deve “calar a boca”. No Complexo do Alemão,<br />

outro conjunto de favelas cariocas, Raull Santiago,<br />

do Coletivo Papo Reto, também é alvo de perseguição. Em<br />

abril deste ano, Santiago denunciou para a mídia e a Comissão<br />

de <strong>Direito</strong>s Humanos da Assembleia Legislativa do<br />

Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que policiais da Unidade<br />

de Polícia Pacificadora (UPP) do Alemão têm abordado<br />

moradores perguntando se o conhecem. O Papo Reto atua<br />

principalmente na denúncia à violência policial, através<br />

de redes sociais e de conteúdo audiovisual.<br />

Os riscos de fato são grandes para quem defende os<br />

direitos humanos no Brasil. Segundo a organização internacional<br />

Front Line Defenders, o país está em primeiro lugar<br />

na lista mundial de defensores assassinados em 2016:<br />

ao todo, 24, entre janeiro e abril. A disputa de narrativas<br />

sobre os megaeventos e seu impacto, especialmente nas<br />

comunidades mais pobres ou periféricas, certamente incomoda<br />

as instituições violadoras de direitos. Para Gizele<br />

Martins, “com a mídia comercial ao lado da prefeitura e<br />

do governo, eles sabem que vão alienar, silenciar, apagar a<br />

história e mentir dizendo ao mundo que este é um exemplo<br />

de cidade e que durante os Jogos tudo aconteceu perfeitamente,<br />

sem qualquer sangue no chão”.<br />

Entrevista<br />

Débora Prado, Instituto Patrícia Galvão<br />

A cobertura comercial dos<br />

Jogos Olímpicos ficou marcada<br />

pelo sexismo<br />

O reforço de estereótipos que silencia a diversidade de mulheres e desrespeita<br />

sua atuação como atletas foi analisado pela jornalista Débora<br />

Prado, coordenadora de projetos especiais do Instituto Patrícia Galvão, na<br />

entrevista a seguir.<br />

Uma pesquisa recente demonstrou que as mulheres em geral têm menos<br />

aparição na mídia do que os homens e, quando são retratadas, ainda<br />

são comuns os estereótipos e outras violências. Como você avalia a cobertura<br />

dos Jogos Olímpicos Rio 2016 a partir desta perspectiva?<br />

As desigualdades e as relações de poder construídas em torno dos gêneros<br />

28<br />

DIREITO À COMUNICAÇÃO NO BRASIL 2016<br />

DIREITO À COMUNICAÇÃO NO BRASIL 2016<br />

29

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!