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ocasião, houve um farto oferecimento de concessões ao<br />
chamado ‘centrão’, onde se localizou a maior parte da<br />
bancada. Foi dali que surgiram alguns dos empresários<br />
de mídia evangélica e a força de igrejas como a Iurd. Para<br />
estes grupos, estar nas mídias é parte de uma estratégia<br />
de ocupação de espaços na esfera pública”, conta a professora<br />
Magali Cunha. Atualmente, segundo levantamento<br />
de grupo de pesquisa coordenado pelo professor Jorge<br />
Miklos, da Universidade Paulista, a bancada evangélica é<br />
formada por 199 deputados federais e quatro senadores.<br />
O cruzamento dos dados da Frente Parlamentar<br />
Evangélica (FPE) e de concessionários de radiodifusão é<br />
uma tarefa difícil pela falta de transparência da Agência<br />
Nacional de Telecomunicações (Anatel). A Agência não<br />
disponibiliza um documento único com todas as rádios e<br />
tevês e os sócios e diretores. Existem dois sistemas separados:<br />
Sistema de Controle de Radiodifusão (SCR) e Sistema<br />
de Acompanhamento de Controle Acionário (Siacco). O<br />
SRD não fornece o quadro societário das emissoras, que<br />
precisa ser buscado no Siacco.<br />
“Esse programa, entretanto,<br />
só poderá revelar o capital investido<br />
nessa empresa, as nomeações<br />
que compõem o quadro societário,<br />
quanto cada sócio investiu e o<br />
cargo que ele assume, em consultas<br />
individuais, dificultando a investigação”,<br />
explica Jorge Miklos.<br />
O professor coordenou a<br />
pesquisa de uma média de 4.500<br />
rádios para cruzar os nomes dos<br />
deputados, senadores e seus familiares<br />
com as rádios e televisões<br />
brasileiras. Porém, houve<br />
uma diferença no resultado dos<br />
dados. “Por exemplo, o nome<br />
do deputado federal cassado<br />
Eduardo Cunha encontra-se no<br />
anexo do Ministério das Comunicações, mas não no da<br />
Anatel”, relata Miklos.<br />
Eduardo Cunha, evangélico da Assembleia de<br />
Deus, teve uma representação protocolada contra ele na<br />
Procuradoria da República do Rio de Janeiro em dezembro<br />
de 2016. Naquele mês, a revista Época divulgou que<br />
Cunha consta nos registros do Ministério das Comunicações<br />
como sócio da Rádio Satélite. O deputado cassado<br />
afirmou para a revista que, apesar de ainda estar na lista<br />
de acionistas do Siacco, vendeu suas cotas em 2007, e as<br />
transações de compra e venda constaram de suas declarações<br />
de renda à Receita Federal.<br />
Mesmo que a informação dada pelo ex-deputado<br />
esteja correta, trata-se de uma ilegalidade: a definição de<br />
que empresa terá direito de explorar o serviço de radiodifusão<br />
depende da sua participação em uma licitação, seguida<br />
de aprovação pelo Congresso Nacional. Assim, Cunha não<br />
poderia simplesmente ter vendido sua outorga.<br />
Bancada religiosa e direitos humanos<br />
O aumento da bancada da bíblia é patente: na legislatura<br />
de 2003-2006, era formada por 58 congressistas,<br />
um crescimento de 25% em relação à legislatura anterior.<br />
A revista Época noticiou que o<br />
ex-presidente da Câmara, Eduardo<br />
Cunha, é sócio da Rádio<br />
Satélite. Imagem: site da revista<br />
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DIREITO À COMUNICAÇÃO NO BRASIL 2016<br />
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