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E aquele homem não era um duque.<br />
Olhou-o, pois, aos olhos. “Não me dá medo”, pensou. E se a umi<strong>da</strong>de de suas mãos proclamava outra<br />
coisa, ele não tinha por que sabê-lo.<br />
A julgar pela quali<strong>da</strong>de do tecido de sua jaqueta, ele era um trabalhador médio. Tudo nele era médio.<br />
Não era especialmente alto nem muito baixo. Nem muito magro nem muito gordo. Quão máximo Serena<br />
podia imaginar que dissessem dele é que era a personificação do medíocre.<br />
Parecia inofensivo. Uma ideia ridícula, é obvio. Mesmo assim, Serena o olhou aos olhos, sorriu e<br />
assentiu levemente com a cabeça em um gesto de sau<strong>da</strong>ção.<br />
Ele cruzou a rua em direção a ela.<br />
Destacava tão pouco como os matagais que ladeavam a praça. Tinha um rosto anódino, tão familiar<br />
que poderia ter pertencido a qualquer um. Dedicou-lhe um sorriso amistoso e modesto.<br />
Serena não o devolveu. Ela não era amável nem fácil e estava cansa<strong>da</strong> de ser o alvo de outros.<br />
Lançou lhe um olhar mor<strong>da</strong>z e elevou as sobrancelhas com um gesto que implicava: “Não me faça perder<br />
o tempo”.<br />
Um homem tão ordinário como aquele deveria haver-se encolhido ao ver sua expressão, mas este<br />
chegou até o banco e se sentou a seu lado sem incomo<strong>da</strong>r-se em lhe pedir permissão.<br />
– Bonito dia –comentou.<br />
Sua voz era igual o seu rosto, nem muito agu<strong>da</strong> nem muito profun<strong>da</strong>. Sua pronúncia não continha o<br />
sotaque aristocrático treinado até a perfeição a não ser uma ameaça de um acento do norte.<br />
– É-o? –não o era; não para ela, que levava ali senta<strong>da</strong> o tempo suficiente para ter o nariz vermelho.<br />
E não quando um desconhecido se sentava a seu lado e iniciava uma conversa.<br />
Olhou-o com o cenho franzido.<br />
Ele a observava com um sorriso perplexo.<br />
– Acredito que não há um bom modo de continuar.<br />
Serena suspirou.<br />
– Veio a bisbilhotar, ver<strong>da</strong>de?<br />
– Poderíamos dizer que sim – ele ficou tenso e a olhou aos olhos. – Como certo, sou Hugo Marshall –<br />
lançou a apresentação e se reclinou no banco como esperando uma resposta.<br />
Era um homem importante? Serena recordou às faxineiras dispersando-se ao vê-lo aproximar-se.<br />
Talvez fosse um advogado, que podia ser portador de falatórios. Ou um mordomo, que fazia cumprir as<br />
normas. Parecia bastante jovem para ser mordomo em Mayfair, mas fosse quem Fosse, não pensava ir-se.<br />
Serena teria preferido que fosse uma mulher que iniciasse os falatórios, pois lhe resultava mais fácil<br />
falar com mulheres. Mas possivelmente aquele homem servisse igual.<br />
– Senhorita Serena Barton –disse ao fim. – Suponho que todo mundo quer saber por que estou aqui.<br />
Ele encolheu os ombros e lhe dedicou outro sorriso afável.<br />
– Não me interessa todo mundo – respondeu. – Mas sim eu gostaria de satisfazer minha curiosi<strong>da</strong>de<br />
pessoal. A história que ouvi resulta um pouco confusa.<br />
Serena não tinha intenção de satisfazer na<strong>da</strong> a aquele homem. Envergonhava-se de seu silêncio<br />
passado e acreditava que tinha chegado o momento de utilizar essa arma em benefício próprio.