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CAPÍTULO 8<br />
AQUELA MANHÃ SERENA se separou de sua irmã em uma situação tensa. Não sabia o que ia ser<br />
dela; desconhecia as intenções de Hugo Marshall e não sabia se Freddy voltaria a lhe dirigir a palavra.<br />
Por isso, ao retornar, empurrou a porta <strong>da</strong>s acomo<strong>da</strong>ções de Freddy contendo o fôlego.<br />
Tudo parecia estar ordenado de novo. As luvas de Freddy estavam coloca<strong>da</strong>s uma em cima <strong>da</strong> outra na<br />
mesinha <strong>da</strong> entra<strong>da</strong>; suas botas de cano longo, secas e sem ter sido usa<strong>da</strong>s, achavam-se debaixo. Não<br />
havia nem rastro <strong>da</strong>s sapatilhas que lhe tinha atirado Freddy nem <strong>da</strong> valise que tinha jogado a seus pés.<br />
Tudo tinha sido guar<strong>da</strong>do.<br />
Serena entrou cautelosamente na sala principal.<br />
Freddy estava senta<strong>da</strong> ante a janela e nas mãos tinha um tecido que parecia muito mais fina que a que<br />
usava habitualmente para seus trabalhos benéficos. Era um tecido de cor laranja dourado, com um<br />
desenho sutil de <strong>da</strong>masco.<br />
– Frederica? – perguntou Serena.<br />
– Há pão na caixa e leite fresco – respondeu sua irmã. – E maçãs. Jimmy subiu maçãs <strong>da</strong> frutaria.<br />
Pensei que podíamos comer isso.<br />
Jimmy era o rapaz que vivia abaixo; Freddy lhe pagava para que lhe comprasse coisas. Mas até ele,<br />
um menino de treze anos, era às vezes muito para sua irmã. Se tivesse falado voluntariamente com ele…<br />
Serena quase esperava que Freddy seguisse zanga<strong>da</strong>. Em vez disso, escondeu-se detrás de uma<br />
facha<strong>da</strong> de normali<strong>da</strong>de. Retirou-se ao interior de uma carapaça grossa construí<strong>da</strong> a partir dessas salas.<br />
Na<strong>da</strong> do que dissesse Serena, nem fúria nem lágrimas, faria-a sair delas.<br />
– Freddy – começou Serena. – O sinto.<br />
Sua irmã elevou a vista com o cenho franzido.<br />
– E deveria. Hei-te dito mil vezes que não me chame Freddy – baixou a vista e alisou o tecido em que<br />
trabalhava. – Não é próprio de uma <strong>da</strong>ma. Não desejo responder a um nome assim.<br />
– Tinha razão. Pus-te em perigo e…<br />
– Você sempre o põe tudo em perigo. Se de menina te caía de uma árvore e eu te curava os joelhos, no<br />
momento seguinte voltava a subir a outra árvore. Nunca aprendia a lição.<br />
Serena não estava de acordo nisso. Sim aprendia a lição: “subir a mais árvores, praticar mais”.<br />
Mas supunha que essa não era a lição que Freddy queria que aprendesse.<br />
– Sempre é o mesmo – prosseguiu esta. – Você cai e eu te recolho. E antes que te tenha curado de<br />
tudo, já está procurando como cair outra vez.<br />
Estalou a língua com desaprovação e Serena a olhou fixamente.<br />
Ela pensava que Freddy estava traumatiza<strong>da</strong> e se escondia do mundo; e sua irmã pensava que ela<br />
estava desprotegi<strong>da</strong>. Era assim como a via Freddy? Como uma criatura estranha e impetuosa que ia de