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Teria que ter esclarecido o mal-entendido com ela.<br />
Não o tinha feito e não sabia por quê. Puro instinto. Apesar <strong>da</strong>s afirmações do duque, suspeitava que<br />
no núcleo <strong>da</strong>quele desacordo havia um escân<strong>da</strong>lo que podia desfazer todo o esmerado trabalho de Hugo.<br />
Não podia arrumar o problema se não sabia ao que se enfrentava, e se lhe tinha medo, possivelmente<br />
nunca descobrisse a ver<strong>da</strong>de… até que a visse na primeira página de um periódico.<br />
Mesmo assim, não gostava de mentir nem sequer por omissão.<br />
– Seja o que for a que se propõe senhorita Barton, não me fará perder quinhentas libras. Trabalhei<br />
muito duro por elas.<br />
A quarenta e cinco metros <strong>da</strong> janela, ela moveu a cabeça. O repentino movimento o sobressaltou e se<br />
voltou para trás, mas a mulher só olhava um pássaro que posou no chão diante dela.<br />
Hugo suspirou e separou de si os papéis. Não tinha sentido perder mais tempo com reflexões quando<br />
podia tentar averiguar a ver<strong>da</strong>de.<br />
Saiu do edifício pela porta de serviço, atravessou o beco e deu a volta na casa até a rua. Quando<br />
entrou na praça, a senhorita Barton seguia senta<strong>da</strong> no banco. Sorriu-lhe, essa vez com mais calor que no<br />
dia anterior.<br />
Havia algo nela que atraía o olhar dele.<br />
– Senhor Marshall – comentou. – Lhe disse que não teria êxito em sua busca de falatórios, recor<strong>da</strong>?<br />
– Ofende-me – ele não sorriu e a expressão dela se voltou incerta. – Assume que apenas me interessa<br />
bisbilhotar quando a ver<strong>da</strong>de é que pode que procure sua companhia pelo mero prazer de estar a ao seu<br />
lado.<br />
Ela inclinou a cabeça a um lado e pensou naquilo.<br />
– Agora considerei essa possibili<strong>da</strong>de e a rechacei. Vamos, senhor Marshall, me diga que não saiu<br />
aqui em busca de alguma história sórdi<strong>da</strong>.<br />
– Logo admite que a história é sórdi<strong>da</strong>.<br />
A mulher lhe apontou com o dedo.<br />
– Estou adivinhando seus pensamentos. Não deturpe as minhas palavras. Sei o que dizem de mim.<br />
Julgam-me em segredo e me encontram defeitos. Todos dizem que até não sou trigo limpo.<br />
Hugo encolheu os ombros.<br />
– Nunca entendi muito bem essa expressão. Por que terá que ser bom todo o tempo? Eu só me porto<br />
bem quando isso conta; e não lhe negaria uma conduta similar.<br />
Ela o olhou um momento.<br />
Hugo pensou que já a enganava o bastante. Não tinha intenção de lhe mentir abertamente.<br />
– Não me acha – disse. – Não posso evitá-lo, é por minha cara. Faz pensar a todos que sou bastante<br />
amável, quando qualquer que me conheça poderia lhe advertir contra isso. Sou totalmente implacável.<br />
Careço de moral.<br />
O sorriso que lhe dedicou era condescendente.<br />
– Sério? Pois bem, estou segura de que é um homem muito mau. Estou muito assusta<strong>da</strong>.<br />
Hugo elevou os olhos ao céu.<br />
– Porras!