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– Por que me conta isso?<br />
– Senhorita Barton – repôs Hugo. – Com quem acredita que está falando?<br />
A mulher respirou com força. Mas sua expressão não mudou depois de ouvir essa confissão.<br />
– Já vê o que passa – disse Hugo. – Terei que me livrar de você. Mas destruir a alguém é um assunto<br />
sujo e complicado. É muito menos trabalho ajudá-la que destroçá-la. Me deixe ajudá-la...<br />
Não lhe tinha tirado a vista de cima durante aquele discurso.<br />
– O que quer? – perguntou ele.<br />
– Quero que ele pague – ergueu o queixo. Juntou as mãos com um movimento delicado, mas o modo<br />
em que cruzou os dedos com força não tinha na<strong>da</strong> de delicado.<br />
– Dinheiro?<br />
– Reconhecimento – ela apertou a mandíbula. – Ele quer que eu guarde silêncio. Pois bem, eu quero<br />
que ele fale. Que sinta uma décima parte <strong>da</strong> censura que senti.<br />
Aquilo era impossível. Hugo entendia que Clermont lhe tivesse transpassado o problema <strong>da</strong>quela<br />
mulher. Qualquer forma de reconhecimento destruiria as possibili<strong>da</strong>des do duque de reconciliar-se com a<br />
duquesa. Havendo tanto em jogo, incluí<strong>da</strong>s as quinhentas libras esterlinas de<br />
Hugo…<br />
– Ele jamais fará isso – disse. – Me cai bem, senhorita Barton. Não quero tê-la em minha<br />
consciência.<br />
A mulher tomou o galho do banco e o estendeu.<br />
– Faça o pior que lhe ocorra – murmurou. – Tem fama disso, não?<br />
Hugo olhou um momento o galho nos dedos dela antes de tomá-lo e voltar a colocá-lo no banco.<br />
– O farei se for preciso – declarou. – Mas preferiria que não.<br />
A TINTA DO PERIÓDICO DA TARDE tinha manchado de negro as luvas de Serena, mas seguia na<br />
esquina <strong>da</strong> rua, tentando ler os anúncios <strong>da</strong> última página sem forçar a vista.<br />
Os aluguéis de proprie<strong>da</strong>des com poucos hectares se aproximavam <strong>da</strong>s quinze libras esterlinas<br />
anuais, e com uns gastos calculados no dobro disso mais sustento e o custo de alguém que ficasse com<br />
ela…<br />
Em outro tempo tinha sonhado com o que faria com o dinheiro que economizava cui<strong>da</strong>dosamente de<br />
seu salário de governanta. Tinha pensado que, quando tivesse economizado suficiente, alugaria uma<br />
pequena granja e cultivaria lavan<strong>da</strong>. A partir <strong>da</strong>í, suas ofegantes esperanças tinham construído um milhar<br />
de possibili<strong>da</strong>des. Freddy tinha burlado de suas ambições, e possivelmente tinha tido razão. Comprar um<br />
periódico nesse momento, em que seus sonhos nunca tinham estado tão longínquos, era o cúmulo <strong>da</strong><br />
insensatez. Só servia para sublinhar o muito que tinha perdido, quão afastados estavam seus sonhos de<br />
menina <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.<br />
Tinha economizado quarenta libras em três anos de salário. Tinha bastante para o presente, mas nem<br />
tanto que pudesse permitir-se morar no passado. E não podia livrar-se de sua situação sonhando<br />
acor<strong>da</strong><strong>da</strong>. A reali<strong>da</strong>de a esperava. Estava grávi<strong>da</strong> e não tinha ganhos.