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0.5 - A Paixão da Governanta

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Serena fez um movimento espasmódico de rechaço e lhe apertou a pulso com mais força. Elevou a<br />

cabeça, olhou-a aos olhos e ficou muito quieto.<br />

Ela podia contar suas respirações. E podia sentir o pulso lhe pulsando com força no punho que<br />

apertava os dedos dele.<br />

O homem a soltou devagar.<br />

– Minhas desculpas – murmurou. – Não pensava o que fazia. Lhe ia tirar as luvas e lhe esfregar os<br />

dedos para que recuperassem a sensação. Pode fazê-lo você mesma?<br />

Serena lutou com a luva, mas esta se pegava à pele e logo que podia sentir o que fazia. – Permite-me?<br />

– perguntou ele.<br />

Ela o olhou aos olhos. Ele tinha perdido seu ar ameaçador e, até sabendo muito bem o equivocado<br />

dessa ideia, ela voltou a ter a sensação de segurança. “Segura. Segura. Com este homem está segura”.<br />

Ridículo.<br />

Entretanto, Serena lhe estendeu as mãos.<br />

Lhe tirou primeiro uma luva e depois a outra. Só a tocou o tempo suficiente para lhe baixar o objeto<br />

pelos dedos.<br />

O ar resultava frio na pele nua, mas a sensação durou apenas alguns segundos. Ele deixou as luvas no<br />

banco, envolveu as mãos com uma toalha e esfregou vigorosamente.<br />

“Segura”, sussurrou a mente dela.<br />

Ele deixou as mãos envoltas na toalha, a modo de manopla gigante, e tomou a cigarreira metálica. Era<br />

um recipiente plano e magro, como o que usavam os cavalheiros para guar<strong>da</strong>r genebra, mas ele<br />

desenroscou o plugue e saiu uma nuvem de vapor.<br />

Serena suspirou ofegante. Ele serviu o conteúdo, um glorioso líquido marrom dourado, na taça e o<br />

estendeu.<br />

– Não sei como gosta do chá – disse– e não tinha meio de trazer o leite e o açúcar aqui. Pus ambas as<br />

coisas e confio em que o resultado seja agradável.<br />

Serena conseguiu tirar uma mão <strong>da</strong> toalha e tomou a taça. A mão tremia ain<strong>da</strong> e ele a olhou<br />

entrecerrando os olhos. Mas a taça estava quente, tão quente que lhe queimava a pele. E o chá… O chá<br />

estava divino. Forte e doce, com uma garoa generosa de leite cremoso.<br />

O primeiro gole pareceu lhe derreter o gelo dos dedos.<br />

– Por que faz isto?<br />

– Já o disse – repôs ele. – Eu não ataco a mulheres.<br />

– Você não é responsável por minha presença aqui. Estou aqui por teimosia – ela tomou outro gole de<br />

chá.<br />

- É isso que você acha?<br />

Em vez de responder a pergunta, Serena tomou outro gole do copo.<br />

– Isso é pura semântica – replicou ele. – Você está aqui. Quem tem a culpa a não ser eu?<br />

– Me ocorre que o duque de Clermont. Você está a seu cargo, não ao contrário.<br />

O senhor Marshall fez uma careta.

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