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Revista Dr. Plinio 231

Junho de 2017

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<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />

Gleb Osokin (CC3.0)<br />

as perspectivas: uma é o desequilíbrio<br />

da Humanidade, mas não o desequilíbrio<br />

frenético, de um lado. E,<br />

de outro lado, uma situação que prepara<br />

o espírito humano para a vinda<br />

do demônio.<br />

Então, em que consiste este comer<br />

os próprios frutos envenenados,<br />

para que os homens não os comam<br />

demasiado e possam continuar na<br />

sua rota de perdição?<br />

Consiste no seguinte: a Revolução<br />

engole, tanto quanto é tecnicamente<br />

possível, os barulhos que ela produziu.<br />

As velocidades que a Revolução<br />

pôs em cena ela não engole, mas faz<br />

com que as pessoas percam, tanto<br />

quanto possível, a noção de velocidade,<br />

de maneira a ficarem conaturais<br />

com a velocidade. E, dentro desse<br />

mundo que de si, na fase de destruição,<br />

punha as pessoas loucas, a<br />

Revolução faz um disfarce pelo qual<br />

a pessoa julga errado aquilo que está<br />

executando.<br />

Contradição entre a<br />

sensibilidade e a razão<br />

Por exemplo, o avião. Todo ambiente<br />

aeronáutico de hoje é tendente<br />

a fazer esquecer o risco e até<br />

a própria supervelocidade. Quando<br />

a pessoa se encontra no avião, ela se<br />

esquece de que está fazendo algo de<br />

inteiramente prodigioso.<br />

A velocidade do automóvel era<br />

uma forma de beleza. Os automóveis<br />

de corrida tinham a sua atração própria<br />

como o inebriante da velocidade.<br />

Hoje a velocidade já não inebria<br />

mais, passou a ser comum.<br />

O pouso de um avião não tem nada<br />

de extraordinário, é a operação<br />

mais comum que possa haver. O autofalante<br />

interno anuncia: “Senhoras<br />

e senhores, estamos voando a quinze<br />

mil metros de altura.” Na mesma hora<br />

a aeromoça pergunta: “Quer um<br />

chazinho? Menta, hortelã ou…” E o<br />

passageiro ouve que ele está numa<br />

altura inumana de quinze mil metros,<br />

mas ao mesmo tempo lhe oferecem<br />

os chazinhos mais caseiros para<br />

satisfazer os gostos que o avô dele<br />

sentia quando estava de chinelos.<br />

Contradição entre a sensibilidade<br />

e a razão. E depois o avião todo<br />

revestido de umas matérias plásticas<br />

clarinhas, a música ambiente tranquilizadora<br />

– ao menos a que ouvi –,<br />

aquela lenga-lenga. Dir-se-ia que se<br />

está em terra firme em todos os sentidos<br />

da palavra. E, de outro lado, as<br />

estatísticas são ultrafavoráveis e os<br />

números dos desastres de avião vão<br />

diminuindo cada vez mais, a ponto<br />

de, encontrando-se no ar a quinze<br />

mil metros de altura, está-se mais seguro<br />

do que andando na rua de automóvel.<br />

Isso acrescenta à sensação<br />

de segurança uma certeza racional.<br />

Dentro do avião, do ruído dos<br />

motores ouve-se apenas um zumbido<br />

que, acompanhado pela música,<br />

tem um efeito qualquer muito especial,<br />

indicando uma velocidade ou<br />

uma eficácia de desnortear. Quando<br />

começa a ficar escuro, acendem-se<br />

luzes de gás néon, não há sombras,<br />

pois o gás néon as eliminou. Então<br />

tudo fica tão caseiro, tão normal,<br />

tão engraçadinho… Por outro lado,<br />

o sindicato garante a aposentadoria,<br />

o remédio, o médico, etc., está tudo<br />

direitinho… Depois, quando chega<br />

a hora de sair, o sujeito encontra<br />

lá fora um automovelzinho que vem<br />

esperá-lo, porque ele mora um pouquinho<br />

longe. Tudo visando a mais<br />

completa tranquilidade.<br />

Perda do senso da realidade<br />

Há situações fantasmagóricas assim:<br />

no quinto subsolo de um banco,<br />

para não dar a ideia de que é o<br />

quinto subsolo, põem papéis de parede<br />

com cenas da França e tocam<br />

música. Em nenhum lugar da verdadeira<br />

Provence e do verdadeiro Artois<br />

o panorama suscitará a impressão<br />

aguda causada por aquele papel<br />

de parede. De maneira que quase se<br />

diria não valer a pena fazer turismo:<br />

Juriën Minke (CC3.0)<br />

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