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Revista Curinga Edição 01

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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tos de testemunhas e pesquisa<br />

documental, o órgão buscará<br />

levantar informações sobre<br />

torturas, desaparecimento e<br />

mortes ocorridas entre 1946<br />

e 1988, além de identificar os<br />

responsáveis pelas violações.<br />

De acordo com o relato do<br />

texto oficial, a Comissão da Verdade<br />

não possui um perfil punitivo,<br />

e as provas obtidas durante<br />

o processo poderão ser utilizadas<br />

no Judiciário por qualquer<br />

pessoa. Busca-se, a partir<br />

da compreensão de algumas<br />

lacunas do passado, substituir<br />

impunidade e esquecimento por<br />

um pouco de conforto àqueles<br />

que foram traumatizados pela<br />

violência, arquitetando um futuro<br />

no qual os direitos humanos<br />

sejam realmente exercidos,<br />

e qualquer violência passe a ser,<br />

de fato, condenável.<br />

Sobre futuro, direito e moralidade<br />

Giulle Vieira da Mata<br />

Quando nos é proposto refletir sobre o futuro,<br />

e em especial sobre a relação entre futuro e respeito<br />

à dignidade humana, devemos começar pelo<br />

deve-ser. O homem não nasceu para o que é. Está<br />

destinado a superar o dado; destinado a buscar<br />

o que deve-ser, a refletir sobre o que é moral, ou<br />

seja, a se impor limites em nome do reconhecimento<br />

de um valor maior: a dignidade do outro.<br />

O raciocínio vale para quem coloca o som alto,<br />

pratica bullying, racismo, homofobia, preconceito<br />

de classe, escravidão, aquele que desrespeita as<br />

regras de trânsito (ou qualquer regra acordada<br />

que vise à proteção do bem-comum), que está<br />

sempre disposto à violência de qualquer tipo.<br />

Por que a moralidade é necessária? Simplesmente<br />

porque o ser humano não existe diante de<br />

personalidades incapazes de impor limite social<br />

ao próprio comportamento. O império do desejo<br />

as comanda, as autoriza a conduzir-se como<br />

poder capaz de neutralizar qualquer um que tente<br />

se defender. Quem cruza o caminho de personalidades<br />

assim é sempre vítima; tem roubada sua<br />

dignidade. E quando falta dignidade o que resta<br />

é a sobrevivência. Todavia, a sociedade em que<br />

vivemos quer nos convencer de que nosso direito<br />

máximo é o direito à sobrevivência. Salário mínimo,<br />

emprego mínimo, justiça mínima, cesta básica,<br />

saúde básica e educação básica. Neste tipo de<br />

sociedade aprendemos a nos ver como seres que<br />

valem pelo têm e não pelo que fazem. Se tenho o<br />

mínimo, meu valor é praticamente nenhum.<br />

Acontece que o homem em seu sentido pleno<br />

(digno!) não se define pelo que tem. Um homem<br />

se reconhece em suas ações. Por isso a palavra<br />

trabalho é tão importante para o homem; este<br />

ser que se define pelo direito de colocar suas<br />

habilidades, seus talentos a serviço do mundo.<br />

O verdadeiro homem é reconhecido por essa sua<br />

capacidade de transformação pública do mundo.<br />

Sua dignidade se constrói na ação; na autonomia<br />

da ação. Mas vivemos tempos de autonomia denegada.<br />

Tempos de “colapso moral”. As ameaças<br />

ao bem-comum se tornaram tão freqüentes que<br />

a consciência do que é bem-comum se perdeu.<br />

Quase coração nenhum se inflama em seu nome.<br />

Acontece que, sem consciência do significado de<br />

responsabilidade pública não há garantias para os<br />

direitos das pessoas.<br />

Nos últimos anos, no Brasil, ideias poderosas<br />

têm sido movidas no sentido de esclarecer<br />

a importância da defesa dos direitos das pessoas<br />

enquanto projeto comum, de todos nós: erradicação<br />

da pobreza, distribuição de renda, combate à<br />

desigualdade social, ao racismo, à violência no lar,<br />

à homofobia; defesa da qualidade da vida urbana,<br />

do meio ambiente, da saúde pública, da educação<br />

(também pública!), da justiça para todos. Essas<br />

ideias merecem eco. Merecem ser colocadas em<br />

prática. A verdade da imagem de homem como<br />

ser capaz de agir em nome do que tem valor<br />

para além dele, em nome da moral, em nome do<br />

coletivo cada vez mais amplo, em nome do futuro<br />

daqueles que ele nem conhece. Mais que nunca é<br />

preciso que essa verdade se inscreva em nós.<br />

21<br />

dezembro 2<strong>01</strong>1

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