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Revista Curinga Edição 01

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Poltrona<br />

pseudo<br />

DOC<br />

TEXTO mateus fagundes EDIÇÃO GRÁFICA sophia figueiredo<br />

Imagens “reais” são costuradas por falas de especialistas. A narração e a forte marcação<br />

temporal descortinam os fatos, desconstruem opiniões, informam o espectador.<br />

Um tipo de ficção que se apropria desta forma de relato, seja para brincar com o espectador<br />

ou mesmo jogar com os limites da sétima arte. Um pseudodocumentário.<br />

O controverso Atividade<br />

Paranormal (2009), dirigido<br />

por Oren Peli, é mais um filme<br />

de suspense/terror que tem<br />

linguagem documental. Na<br />

trama, o casal Micah (Micah<br />

Sloat) e Katie (Katie Featherston)<br />

filma o que seriam<br />

manifestações de um ser<br />

sobrenatural em sua casa. Todas<br />

as cenas são registros do<br />

casal com a “câmera na mão”<br />

ou em cima de algum móvel.<br />

Nem o aviso “agradecemos<br />

ao departamento de polícia<br />

local e as famílias do casal”,<br />

muito menos os dois finais<br />

propostos, salvam o suspense<br />

do tédio. Até tenta, mas<br />

não convence, sequer, como<br />

pseudodocumentário. Como<br />

documentário, então...<br />

Já Zelig (1983), de Woody<br />

Allen, cumpre bem o que promete.<br />

Traz o clássico narrador<br />

que tudo sabe e tudo vê<br />

somado a cenas de “arquivo”<br />

(encenada por atores, obviamente)<br />

e depoimentos de<br />

personalidades reais, como<br />

a ensaísta Susan Sontag, e<br />

o vencedor do Nobel Saul<br />

Bellow.<br />

Tudo para contar a história<br />

de Leonard Zelig (o próprio<br />

Allen), que sofre de um<br />

distúrbio que o faz absorver<br />

as características das pessoas<br />

próximas a ele, um efeito<br />

camaleão. A trajetória desse<br />

histérico personagem passa<br />

por fatos históricos como a<br />

crise de 1929 e a ascensão do<br />

Nazismo na Alemanha. Para<br />

convencer ainda mais, o diretor<br />

fez uso de chroma-key,<br />

a técnica de sobrepor duas<br />

imagens para gerar apenas<br />

uma, inserindo os personagens<br />

da trama em cenas de filmes<br />

reais, além de produzir sequências<br />

com técnicas iguais às<br />

usadas tipicamente na década<br />

de 1980.<br />

dezembro 2<strong>01</strong>1<br />

Atividade Paranormal<br />

(2009) e Zelig (1983) são<br />

exemplos opostos de como a<br />

estética e a técnica documental<br />

podem ser utilizadas por<br />

filmes de ficção. A obra de<br />

Allen é convincente não apenas<br />

no aspecto histórico, mas<br />

também no narrativo, diferente<br />

de Atividade Paranormal,<br />

que não tem trama plausível.<br />

Mesmo diferentes, os<br />

filmes mostram como a arte<br />

sempre foi uma tentativa de<br />

reproduzir a verdade. Convincentes<br />

ou não, evidenciam<br />

que o cinema pode, de<br />

diferentes formas, provocar<br />

questionamentos no público<br />

da poltrona. O principal deles<br />

é: qual o limite entre realidade<br />

e ficção?<br />

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