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Revista Curinga Edição 24

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Padrões e rupturas<br />

A descoberta do sexo do bebê é uma etapa de grande<br />

expectativa para os pais e, como forma de ritualizar esse<br />

momento, há um fenômeno novo: os “chás de revelação”.<br />

Nessa comemoração, a decoração faz referência a ambos<br />

os sexos, que, na maioria das vezes, são representados<br />

pelas cores rosa e azul. Durante a festa, os pais, familiares<br />

e demais convidados descobrem o gênero do bebê de<br />

acordo com a cor do bolo.<br />

Paolla Mello já havia descoberto que ganharia uma<br />

menina. No entanto, resolveu fazer uma celebração para<br />

revelar o sexo do bebê à família. “São os primeiros netos<br />

dos meus pais, pois sou filha única, e meus sogros só<br />

tinham netos meninos, então foi criada uma expectativa<br />

muito grande sobre o sexo do meu bebê. Queríamos<br />

contar a eles de uma maneira especial e escolhemos esta”.<br />

Embora extremamente atraentes e pensados de<br />

maneira carinhosa pelos pais, os chás de revelação, os<br />

ensaios newborn, isto é, um álbum de fotos realizado<br />

quando o bebê tem de 5 a 12 dias de vida, os mesversários,<br />

que são as comemorações de cada mês completado pelos<br />

bebês, e as fotografias durante o parto revelam também<br />

formas de criar novos mercados e necessidades de<br />

consumo. Segundo a professora e pesquisadora Karina<br />

Gomes Barbosa, da Universidade Federal de Ouro Preto<br />

(UFOP), em momento algum devemos descredibilizar a<br />

mãe por realizar esses rituais, porém é preciso entender<br />

o que existe por trás de todo esse mercado. Conforme<br />

explica Karina, esses eventos são “uma oportunidade de<br />

criar novas ‘necessidades’ de consumo que alimentam a<br />

roda econômica do capitalismo contemporâneo”. Para<br />

além da questão econômica, essas práticas revelam que<br />

a indústria quer vender uma imagem de maternidade:<br />

“É preciso mostrar às mães que a maternidade é atraente<br />

e esconder a depressão pós-parto, o cansaço, a birra, o<br />

choro, a cólica infantil, a dor da amamentação”.<br />

Há algumas mães e pais que buscam quebrar esse<br />

padrão, como é o caso de Juliana Rodrigues de Almeida,<br />

jornalista, e de Caio Rodrigues do Vale, professor. O casal<br />

escolheu descobrir o sexo do bebê no instante do parto.<br />

“Ambos escolhemos isso por algumas razões. Uma delas é<br />

porque para nós não faz diferença se é menino ou menina<br />

e a gente queria viver essa emoção como antigamente se<br />

vivia, de descobrir o sexo do bebê quando ele nasce. Ter<br />

essa emoção completa do momento do nascimento”.<br />

Além disso, a grande diversidade de itens que a<br />

indústria de produtos para bebês oferece, criando assim<br />

um consumo excessivo, também levou Juliana Rodrigues<br />

a optar por descobrir o sexo do bebê durante o nascimento.<br />

“Quando você não conhece o sexo, você acaba comprando<br />

o básico, não ficando tentada a comprar. Por exemplo,<br />

quando você sabe que é menina, vestido, lacinho ou se<br />

você sabe que é menino, boné e camisa quadriculada.<br />

A gente é que constrói as necessidades de consumo do<br />

bebê”. Juliana também relata que “essas construções de<br />

gênero começam muito cedo e são constituições que os<br />

pais impõem, pois as crianças não nascem aprendendo<br />

que rosa é de menina e azul de menino, ou que boneca é<br />

para menina e carrinho para menino”.<br />

CURINGA | | EDIÇÃO <strong>24</strong> 17 13

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