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Revista Curinga Edição 24

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Entre os nomes dos autores citados no estudo<br />

de José Lemos Monteiro, um possui destaque: o<br />

escritor que fez uma ruptura pioneira no teor romantizado<br />

da palavra negro, Lima Barreto. No início<br />

do século XX, pouco tempo depois do fim da escravidão,<br />

esse autor soube retratar sua cor a partir<br />

de uma crítica aguda ao que negros e negras eram<br />

submetidos durante o período escravocrata: “negros,<br />

negras, negros flexíveis, pardos, pardas, pardos<br />

claros, escuros, morenos, morenas, caboclos,<br />

caboclas, mestiços, crioulos, azeitonas, morenos<br />

pálidos, morenos fortes, negra suja, velha preta,<br />

criada preta, moça pobre mulata”.<br />

Dessa forma, seus romances fazem-se densos<br />

a partir de “uma miríade de cores para dar conta<br />

desse vocabulário brasileiro que acomoda origem,<br />

hierarquia, sexualidade, região, geração e classe<br />

social”, como ressalta a historiadora e antropóloga<br />

Lilia Moritz Schwarcz, autora de importantes<br />

obras que retratam o negro.<br />

Apesar de acharmos que o jeito de agir e falar<br />

entre nós é harmônico e cordial, na verdade isso<br />

apenas mostra uma vocação quase explícita de não<br />

se criar conflito direto. Tudo o que é problemático<br />

é tratado de maneira velada, escondida. Tal comportamento<br />

explica as especificidades do “racismo<br />

à brasileira”, que produz desigualdades visíveis nos<br />

dados, mas se reproduz com força quase inabalável<br />

em processos culturais e silenciosos de opressão.<br />

Apesar de 54% dos brasileiros serem negros, segundo<br />

dados disponibilizados pelo IBGE em 2015,<br />

a rejeição simbólica do negro e do africano ainda é<br />

persistente no Brasil. Uma informação relevante<br />

dentre tantas outras acerca dos desafios que cabem<br />

à luta pela igualdade racial.<br />

Segundo José Monteiro, ‘’qualquer tentativa<br />

de mudança não deve centrar-se na preocupação<br />

exclusiva com o uso da língua. Esta,<br />

sendo espelho ou reflexo da sociedade, apenas<br />

sugere sintomas do comportamento social’’.<br />

É hora de tirar o racismo do seu vocabulário, porque<br />

preconceito não precisa ter voz.

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