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Acesso a Justica - Mauro Cappelletti

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à semelhança do que ocorre, por exemplo na Bulgária e na União Soviética), quanto do terceiro (o que sugeriria<br />

maior formalidade e maior executoriedade das decisões) seria prejudicial ao modelo de autogestão.<br />

Essa experiência polonesa nos ensina, portanto, a examinar cuidadosamente os objetivos e táticas das<br />

recentes propostas de reformas. Objetivos tais como desviar as disputas dos tribunais, a execução do direito<br />

estatal e a construção de uma verdadeira justiça vicinal, não se encontram necessariamente em harmonia entre si.<br />

As relações com a vizinhança, com o sistema judiciário formal e com instituições tais como a polícia, precisam ser<br />

cuidadosamente elaboradas, ou a reforma corre o risco de não agradar a ninguém.<br />

Apesar de alguma experimentação inicial, o potencial desse tipo de reforma em nosso mundo ocidental<br />

permanece incerto, Um autor chegou a sugerir que isso se deve ao fato de que a maior parte dos indivíduos<br />

ocidentais são muito “móveis” para que tais órgãos vicinais possam ser úteis na solução de litígios pessoais<br />

Ademais, pode ser que as propostas para discussões ou mediadores vicinais não alcancem os principais<br />

problemas que as pessoas enfrentam, uma vez que esses problemas podem envolver litígios com instituições fora<br />

do contexto da vizinhança. No entanto, é possível que essas novas reformas acrescentem uma nova dimensão a<br />

nossas vizinhanças. Existem, apesar de tudo, áreas estáveis mesmo em nossos centros urbanos, e tem-se<br />

manifestado claramente, em muitos lugares, um interesse renovado, refletido na experiência francesa do<br />

Conciliateur local, em desenvolver e preservar as comunidades vicinais. Tribunais vicinais bem organizados,<br />

atendidos principalmente por pessoal leigo, podem auxiliar a enriquecer a vida da comunidade, criando uma justiça<br />

que seja sensível às necessidades locais.<br />

3. Tribunais especiais para demandas de consumidores<br />

Ainda mais diretamente relacionadas ao movimento de pequenas causas são as reformas — de iniciativa<br />

pública ou privada — que criam organismos e procedimentos especiais para demandas de consumidores. Sem<br />

dúvida, o evidente fracasso da maior parte dos tribunais de pequenas causas no sentido de promover uma solução<br />

eficaz para os consumidores prejudicados tem desencadeado essa atitude, Não é necessário dizer que existem<br />

numerosas possibilidades para estruturar os mecanismos de defesa do consumidor. Apenas alguns serão<br />

mencionados aqui.<br />

a) Mecanismos que enfatizam a persuasão mais que a coerção – solução das demandas dos consumidores<br />

através dos meios de comunicação<br />

Uma reforma de iniciativa particular, recentemente implementada e do maior interesse, com relação aos<br />

direitos dos consumidores, é o que pode ser chamado de “solução pela imprensa”.<br />

Muitas estações de rádio e de televisão e alguns jornais em lugares como o Canadá, a Inglaterra e os Estados<br />

Unidos recebem queixas dos consumidores, encaminham-nas a outras agências, investigam diretamente algumas e<br />

tentam utilizar a arma da publicidade adversa para obter resultados em favor de consumidores que tenham sido<br />

prejudicados. O relatório norte-americano para o Projeto de Florença afirma que, “por equilibrar o poder de<br />

barganha d as partes, o poder da imprensa dilui a vantagem que as grandes corporações normalmente levam face<br />

ao consumidor individual”.<br />

Na prática, tem havido êxitos notáveis com esse método e o Major Appliance Consumer Action Panel nos<br />

Estados, apesar de algumas limitações óbvias. Ainda que certamente não Unidos. Outras fórmulas, com maior ou<br />

menor participação da imprensa, que talvez sejam um substituto para soluções públicas mais sistemáticas,<br />

incluem as Comissões da Liga de Consumidores da Holanda, programas que têm grande potencial no auxílio aos<br />

consumidores.<br />

b)Arbitragem privada de demandas do consumidor<br />

Os esquemas de arbitragem para demandas dos consumidores também têm proliferado em resposta às<br />

demandas do público, por dispositivos acessíveis de solução de litígios. Muitos dos mais importantes desses<br />

esquemas são promovidos pelas empresas, baseando-se, para sua eficácia, “no próprio interesse dos empresários,<br />

em termos de prosperidade e reputação no seio da comunidade empresarial”.<br />

Dentro dessa categoria, por exemplo, estão os novos programas americanos e canadenses intitulados<br />

Agências de Melhores Negócios, estabelecidos em 1972 e 1974, respectivamente, o sistema germânico de<br />

arbitragem para questões surgidas em relação a reparos de automóveis (Consumentenbond) e os sistemas de<br />

arbitragem para consumidores propostos pelo Diretor Geral da Auto-regulamentação do Comércio (Pair Trading)

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