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da humanidade. A música ia se tornando<br />
cada vez mais intensa, até alcançar<br />
uma dimensão caótica. Tudo isso antes<br />
de começar a integração. Compartilhavam<br />
o que haviam vivido e escritos que<br />
haviam feito ou passagens da literatura<br />
que falavam sobre o que tinham passado.<br />
Destaca-se que as jornadas terapêuticas<br />
vividas eram conhecidas pela sua<br />
interculturalidade.<br />
Em uma viagem a cidade de Tequila,<br />
nas proximidades de Guadalajara,<br />
pude provar o agave. O agave azul é<br />
a planta que origina a famosa Tequila<br />
mexicana e o Mescal. No mito ligado<br />
à planta e à bebida, diz-se que um raio<br />
caiu sobre o agave e o cozinhou. Os indígenas<br />
sentiram o seu cheiro e era bom.<br />
Se o cheiro era bom; o sabor deveria<br />
ser bom. Provaram o adocicado agave.<br />
Quando, acompanhando o processo<br />
de produção da tequila, provei aquele<br />
agave doce, foi bom. E, embora quase<br />
nauseante, o cheiro doce não era nada<br />
desprezível. A cidade tinha esse cheiro<br />
doce. Bastante doce.<br />
Lidar com tamanha diversidade em<br />
um único congresso nem sempre é tão<br />
doce. Visões de mundo muito diferentes,<br />
que por vezes se chocavam. Isso não<br />
é científico... ou é científico demais. A<br />
minha fala, por exemplo, mais política<br />
do que científica, foi sentida por uma<br />
participante como “política demais” (ou<br />
acadêmica de menos). É bom escutar<br />
as críticas. Acho até que podemos<br />
aprender a curtir amargores, como o peculiar<br />
gosto da toranja. Alguns preferem<br />
amargores mais brandos. Outros, mais<br />
intensos. Mas a crítica tem mão dupla<br />
e, ao que me parece, nossa saída para<br />
uma política mais sã sobre substâncias<br />
psicodélicas não reside na regulamentação<br />
isolada do seu uso médico-psicoterapêutico,<br />
tampouco na regulação isolada<br />
dos usos religiosos.<br />
E foi sobre isso a minha fala: “Psicodélicos,<br />
salud y política: la experiencia de<br />
la Asociación Psicodélica de Brasil”. Estive<br />
ao lado das belas apresentações do<br />
prof. Luis Fernando Tófoli, sobre os usos<br />
terapêuticos da ayahuasca no renascimento<br />
da ciência psicodélica, e do psicólogo<br />
chileno Christopher Timmermann,<br />
que falou sobre o DMT como uma ferramenta<br />
de exploração neurocientífica e<br />
fenomenológica. Falei sobre os intermináveis<br />
malefícios do proibicionismo aos<br />
usuários de psicodélicos, a exemplo das<br />
adulterações das substâncias sintéticas e<br />
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