Monografia Ozymandias

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Um jeito que a série coloca esta relação de maneira clara
e direta é no penúltimo episódio da última temporada, em
Ozymandias (05,14). A titulação do episódio é uma homenagem
ao soneto escrito por Percy Bysshe Shelley em 1818 sobre arrogância
e a transição de poder. Ozymandias é o apelido do faraó
Ramsés II, cuja dinastia durou 67 anos (durante o século XIII
a. C) e foi considerada a mais longa e poderosa do Egito. Percy
escreve em seu poema sobre a relação entre o domínio que
Ozymandias acumulou ao longo de seus 90 anos de vida, e que
são historiados até hoje, e o que restou dele séculos depois. O
autor descreve que apesar de todas as conquistas e influência
que O Grande Faraó teve em vida, mesmo suas riquezas
e grandes feitos não resistem ao tempo; a realidade concreta
que permanece hoje sobre seu comando e soberania, na época
gravados em uma escultura feita em sua homenagem, hoje
se encontra desgastada e fragmentada no deserto, aos poucos
sendo encoberta pela vasta areia (OZYMANDIAS..., 2013).
Enquanto o episódio anterior termina com um tiroteio
entre Hank, Gomez e os neonazistas, Ozymandias inicia [238]
com um flashback de uma cena não exibida do episódio piloto
sobre o momento em que Walt e Jesse estão cozinhando pela
primeira vez no deserto. Com o cenário, a RV e os dois personagens
enquadrados em um Plano Geral, vemos os homens e os
elementos serem retirados aos poucos da cena em efeito fade
out, deixamos somente o retrato do deserto. Após os créditos
de abertura que aparecem logo após a cena anterior, a mesma
imagem do deserto vazio é recomposta aos poucos, com
efeito fade in, com os elementos e os personagens do episódio
anterior. Esta colocação é muito poderosa para retratar dois
aspectos: 1) a cena atual ocorre exatamente no mesmo lugar
onde tudo começou para Walt e Jesse, e 2) tudo que já ocorreu
naquele ambiente foi irrelevante para o deserto, que permanece
intacto. E, como se não bastasse, as calças que Walt perde no
primeiro episódio podem ser revistas sutilmente no penúltimo
Ozymandias (original)
I met a traveller from an antique land
Who said: two vast and trunkless legs of stone
Stand in the desert. Near them on the sand,
Half sunk, a shatter’d visage lies, whose frown
And wrinkled lip and sneer of cold command
Tell that its sculptor well those passions read
Which yet survive, stamp’d on these lifeless things,
The hand that mock’d them and the heart that fed.
And on the pedestal these words appear:
“My name is Ozymandias, king of kings:
Look on my works, ye mighty, and despair!”
Nothing beside remains: round the decay
Of that colossal wreck, boundless and bare,
The lone and level sands stretch far away.
Ozymandias (tradução)
Eu encontrei um viajante de uma antiga terra
Que disse: duas imensas e destroncadas pernas de pedra
Erguem-se no deserto. Perto delas na areia
Meio enterrada, jaz uma viseira despedaçada, cuja fronte
E lábio enrugado e sorriso de frio comando
Dizem que seu escultor bem suas paixões leu
Que ainda sobrevivem, estampadas nessas coisas inertes,
A mão que os escarneceu e o coração que os alimentou.
E no pedestal aparecem estas palavras:
“Meu nome é Ozymandias, rei dos reis:
Contemplem as minhas obras, ó poderosos, e desesperai-vos!”
Nada mais resta: em redor a decadência
Daquele destroço colossal, sem limite e vazio
As areias solitárias e planas espalham-se para longe.