Monografia Ozymandias
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Transformação visual<br />
147<br />
Evolução<br />
A expressão em inglês to break bad é utilizada principalmente<br />
no sudeste americano para se referir à alguém que se<br />
desvia do caminho politicamente certo e correto para fazer o<br />
mal, desafiando as convenções e a autoridade. Uma das possíveis<br />
traduções dessa expressão para o português coloquial é<br />
“mudar da água para o vinho”.<br />
Como concluído ao final da análise da série (ver pág. 89),<br />
acompanhamos o desvalorizado professor de química Walter<br />
White passar por um momento de ruptura de personalidade<br />
ao descobrir sobre eu câncer pulmonar, já em estado avançado,<br />
e iniciar gradativamente um processo de transformação<br />
ao se tornar cada vez mais seu alter-ego Heisenberg. Assim<br />
como o enredo acompanha o protagonista, esta evolução no<br />
arco do personagem caminha de mãos dadas com a narrativa<br />
visual da série.<br />
Algumas das maneiras que Breaking Bad utiliza para<br />
ilustrar esta transformação narrativa pela imagem é por meio<br />
da iluminação e das cores.<br />
Iluminação<br />
O uso da iluminação na fotografia e no cinema representa<br />
uma carga semântica poderosa, capaz de intervir e contribuir<br />
diretamente na dramatização da cena e no ambiente<br />
(SOUSA, 2012). Como vimos no estudo sobre a iluminação cinematográfica<br />
neste projeto (ver pág. 41), a luz se comporta<br />
como um elemento fundamental para a arte, desempenhando<br />
a função de elemento chave para diversos tipos de experimentações<br />
que tiveram o intuito de explorar a dramaticidade e expressão,<br />
como por exemplo em pinturas barrocas no século<br />
XVII e no cinema expressionista no final do século XIX.<br />
Considerando uma escala evolutiva em Breaking Bad,<br />
a iluminação não deve ser somente interpretada como um<br />
elemento pontual, mas também como uma transformação<br />
gradativa e evolutiva; conforme o protagonista se transmuta<br />
– conforme colocado por Vince Gilligan 33 – de Mr. Chips para<br />
Scarface 34 , a iluminação o acompanha. Desta maneira, podemos<br />
considerar que a iluminação clara pode representar a<br />
ingenuidade, o bom caráter, e transparência que Mr. Chips e<br />
Walter White representam, assim como pouca luminosidade<br />
(escuro) pode representar a violência, o segredo, a malícia de<br />
Scarface e Heisenberg [240].<br />
Tratando desta forma, a forma gradual da representação<br />
da narrativa imagética de Breaking Bad ao longo das três aberturas<br />
propostas ficaria distribuído da seguinte maneira de<br />
acordo com o que foi analisado durante a série de uma maneira<br />
geral: a primeira abertura, que representa a ruptura inicial<br />
e o início da presença do alter ego de Walter, deverá apresentar<br />
uma iluminação geral relativamente mais clara; enquanto<br />
a terceira abertura representa a reta final de Heisenberg, representado<br />
por uma iluminação relativamente mais escura.<br />
A segunda abertura servirá como um intermediador gradual<br />
entre a primeira e a última abertura [241].<br />
33 Fonte: http://www.theguardian.com/tv-and-radio/2012/may/19/vince-gilligan-breaking-bad<br />
34 Mr. Chips é o protagonista do filme britânico Adeus, Mr. Chips (1969) dirigido por<br />
Herbert Ross, que conta a história do um professor ao relembrar sua carreira e vida<br />
pessoal ao longo das décadas; já Scarface (1983), representado por Al Pacino e dirigido<br />
por Brian De Palma, é um exilado criminoso cubano que toma posse de um cartel de<br />
drogas em Miami.