Monografia Ozymandias
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Controle<br />
O controle visual está muitas vezes relacionado diretamente<br />
com a transformação imagética da série e a própria<br />
narrativa. O cineasta Lewis Bond (2016), fundador do Channel<br />
Criswell, explica em um de seus vídeos Composition in Storytelling<br />
35 como um elemento passa a ter o controle da cena. Lewis<br />
divide o controle em dois tipos: o artificial e o principal. O controle<br />
artificial trata-se de uma questão estética que direciona<br />
o olhar do espectador para o elemento; já o controle principal<br />
faz referência sobre qual assunto ou elemento está controlando<br />
mais a narrativa naquele determinado momento. O<br />
elemento em questão pode se tratar de relações interpessoais<br />
entre os personagens, relações entre personagem e ambiente,<br />
ou ser estabelecido por uma comparação de tamanho e escala.<br />
Tentando entender um pouco mais sobre esta percepção<br />
de controle (ver registros em pág. 172 e análise das temporadas<br />
em pág. 75), cheguei a conclusão de que existe dois tipos<br />
de controle e descontrole: o narrativo e o visual, e que quase<br />
sempre eles estão diretamente ligados.<br />
Coloco com a palavra descontrole ao fazer referência à<br />
falta de controle, ou a perda deste controle. Considerando<br />
que a série é narrada quase que completamente pelo ponto de<br />
vista do protagonista, com suas próprias visões e perspectivas<br />
de mundo, então ele tem o controle narrativo. Quanto mais o<br />
drama se aproxima das intenções narrativas do protagonista;<br />
ou seja, das ações que ele pretende tomar para controlar a linha<br />
narrativa do drama, maior controle ele adquire. Por exemplo,<br />
no episódio 13 da 5ª temporada (To’hajiilee) Walt requisita<br />
os serviços do tio Jack e os neonazistas para matar Jesse. Neste<br />
momento, o protagonista está em completo controle da narrativa,<br />
uma vez que ele e somente ele está definindo o rumo da<br />
história de acordo com o que ele espera [245].<br />
Porém, quando outros elementos da história participam<br />
e interferem no andamento da narrativa dramática de acordo<br />
com a visão de Walt, estes elementos estão tirando o controle<br />
narrativo do protagonista. Por exemplo, neste mesmo episódio<br />
do exemplo anterior (To’hajiilee), Jesse decide colaborar<br />
com Hank para vingar-se de Walt e atraí-lo para uma emboscada,<br />
dizendo por telefone que ele irá queimar todo o dinheiro<br />
“The size of an object in the frame should equal it’s importance in<br />
the story at that moment.”<br />
— Alfred Hitchcock<br />
enterrado de Walt caso ele não chegue ao local o quanto antes.<br />
Enquanto dirige rumo ao deserto para resgatar sua fortuna,<br />
Pinkman para de responder as chamadas telefonicas e Walt<br />
encontra-se desesperado. Nesta situação, podemos observar<br />
que Pinkman está tirado o controle narrativo do protagonista,<br />
direcionando o rumo dramático para a incerteza do acontecimento,<br />
tirando o controle narrativo de Walt.<br />
Quando me refiro ao controle e descontrole visual, me<br />
refiro em como a imagem precisa ser composta cinematograficamente<br />
para passar esta percepção de controle narrativo.<br />
As imagens ao lado são referente às cenas das respectivas<br />
situações descritas acima. Quando Walt está com o controle<br />
narrativo, buscando matar o próprio parceiro, a imagem adquire<br />
uma iluminação escura com a influência da cor vermelha<br />
como indício visual. Há poucos elementos na tela e o foco<br />
está fechado no rosto do protagonista. O enquadramento e a<br />
iluminação agem em conjunto para deixar a imagem com uma<br />
característica mais centrada, de maneira que a quantidade de<br />
informação visual exposta naquela cena seja mais limitada,<br />
direcionando o olhar do espectador com maior precisão (controle<br />
artificial) para o elemento que está em maior controle da<br />
narrativa (controle principal). Enquanto o protagonista perde<br />
seu controle narrativo para Jesse e a incerteza de seu dinheiro,<br />
a câmera vai abrindo o foco e se distanciando progressivamente,<br />
agindo em conjunto com a iluminação presente na<br />
cena, ao ponto de termos dificuldade de acompanhar o carro<br />
de Walt na estrada diante de tantas informações visuais, e depois<br />
perdê-lo por completo nas areias do deserto [246].<br />
Com isso, tenho a intenção de aplicar estas percepções de<br />
controle e descontrole visual a partir da visão do controle narrativo<br />
que Breaking Bad apresenta ao longo das 5 temporadas,<br />
fragmentando-as em três aberturas. Em uma maneira generalista,<br />
unindo estas concepções para desenvolver a ideia de controle/descontrole<br />
visual, teríamos um resultado similar a esta<br />
representação, onde a tonalidade representa a intensidade da<br />
iluminação, e o tamanho o foco dos enquadramentos. [247]<br />
151<br />
35 Fonte: