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ANO IX • Nº <strong>103</strong> • AGOSTO DE 2018 • R$ 10<br />
E C O N O M I A | P O L Í T I C A | E S P O R T E S | H U M O R | C U LT U R A<br />
EXCLUSIVO<br />
EXECUÇÃO DE<br />
MARIELLE<br />
ADVERTÊNCIA DOS CHEFÕES INTERNACIONAIS DA DROGA?<br />
CRESCE, ENTRE<br />
ESPECIALISTAS, A TESE DE<br />
QUE O ASSASSINATO DA<br />
VEREADORA CARIOCA FOI<br />
REALIZADO POR UM<br />
“CHACAL” ASSASSINO DE<br />
ALUGUEL VINDO DO<br />
EXTERIOR – PARA<br />
MOSTRAR QUE O<br />
GOVERNO FEDERAL NÃO<br />
TEM QUALIFICAÇÃO PARA<br />
ENFRENTAR O TRÁFICO.<br />
SERIA UMA MENSAGEM<br />
CONTRA A INTERVENÇÃO<br />
MILITAR NO RIO<br />
PÁGINA 20<br />
“A EMPRESA VAI MAL? DEMITA O GERENTE DE RECURSOS HUMANOS” - (SÉRGIO MARCHIONI, EX-PRESIDENTE DA FIAT)<br />
NOMES & NOTAS - PÁGINA 8
8 20 28<br />
NOMES & NOTAS<br />
GERENTE DE RH: O<br />
ÚNICO E GRANDE<br />
CULPADO QUANDO A<br />
EMPRESA FRACASSA<br />
A primeira atitude do genial Sérgio<br />
Marchionne, ao assumir a<br />
presidência da Fiat foi demitir o<br />
gerente mundial de RH. E explicou,<br />
didático: “Se a empresa vai<br />
mal é porque ele não soube contratar<br />
o pessoal”<br />
REPORTAGEM DE CAPA<br />
FORTES SUSPEITAS:<br />
TRÁFICO TROUXE<br />
CHACAL PARA<br />
EXECUTAR MARIELLE<br />
Ganha força a suspeita de que o<br />
tráfico internacional trouxe um<br />
matador do exterior para executar<br />
a vereadora carioca Marielle,<br />
como advertência aos militares<br />
para suspenderem a intervenção<br />
federal no Rio<br />
ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />
NOVOS TEMPOS: VOCÊ<br />
NÃO PRECISA SAIR DE<br />
CASA PARA GANHAR<br />
DINHEIRO<br />
A aposentadoria ou, o mais<br />
grave que tudo, o desemprego,<br />
abrem novas possibilidades profissionais<br />
sem sair de casa.<br />
Exemplos: aulas particulares,<br />
traduções, transcrições de gravações<br />
etc. Confira a lista<br />
ANO IX - Nº <strong>103</strong> - AGOSTO DE 2018<br />
ÍNDICE<br />
OPINIÃO 8<br />
CARTA DO CANADÁ 24<br />
CARTA DO SERTÃO 26<br />
A VIDA É BELA 32<br />
SEU MELHOR MÉDICO É VOCÊ 36<br />
AQUI ENTRE NÓS 46<br />
ERA SÓ O QUE FALTAVA 50<br />
PALAVRA DO LEITOR 52
38 40 42<br />
É DESSE JEITO<br />
AFRICANAS SAEM NA<br />
FRENTE: COBRAM POR<br />
SEXO COM HOMENS<br />
PREGUIÇOSOS<br />
Em Uganda, aquele remoto país<br />
africano, os maridos que não<br />
participarem das despesas da<br />
casa sabem que ficarão na mão.<br />
As esposas cobram por favores<br />
sexuais prestados aos inadimplentes.<br />
Se a moda pega...<br />
AUTOAJUDA<br />
SEJA HONESTO: SEU<br />
CASAMENTO DEPENDE<br />
DESSAS 10 SIMPLES<br />
PERGUNTAS<br />
É fácil salvar seu casamento do<br />
naufrágio – se for o caso. Basta<br />
responder, com acerto e sinceridade,<br />
às perguntas que apresentamos.<br />
Uma delas é in dis pen -<br />
sável aos cônjuges: “Temos mesmo<br />
uma amizade forte?”<br />
HORA EXTRA<br />
ANOTE NA AGENDA: 13<br />
COISAS QUE ROBIN<br />
WILLIAMS ENSINOU À<br />
PLATEIA<br />
Em seus filmes, frequentou as<br />
principais salas de cinema mineiras.<br />
Veja 13 coisas que ele ensinou<br />
com sua maravilhosa visão<br />
da vida. Uma delas: “O errado<br />
sempre será errado, mesmo<br />
quando ele te ajuda”<br />
E C O N O M I A |P O L Í T I C A |E S P O R T E S |H U M O R |C U L T U R A<br />
EXPEDIENTE<br />
Márcio Rubens Prado (IN MEMORIAM)<br />
31 2534-0600<br />
MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR<br />
durvalcg@yahoo.com.br<br />
DIRETOR RESPONSÁVEL E EDITOR GERAL:<br />
Durval Guimarães<br />
EDITOR DE TEXTO: Carlos Alenquer<br />
PROGRAMAÇÃO VISUAL: Antônio Campos<br />
IMAGENS:<br />
Creative Commons OCO<br />
COLABORADORES:<br />
ADALBERTO FERRAZ; ALBERTO SENA;<br />
ARTHUR VIANNA; CATARINA<br />
BALLESTEROS; DULCE NETO; IVANI<br />
CUNHA; JOÃO PAULO COLTRANE; JOSÉ<br />
ANTÔNIO SEVERO; SANDRO FIORANI;<br />
ROMERSON CANGUSSU; SYMPRHRONIO<br />
VEIGA; TIÃOZITO.<br />
REDAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E PUBLICIDADE: Rua Canopus, 11 • Sala 5 • São Bento • CEP 30360-112 • Belo Horizonte • MG
OPINIÃO<br />
O BRASIL ESTÁ NO MELHOR<br />
MOMENTO DA SUA HISTÓRIA,<br />
PODE ACREDITAR<br />
ROMERSON CANGUSSU(*)<br />
Há cerca de 10 anos, eu tive o prazer<br />
de levar um casal oriundo de<br />
um pequeno país africano a um<br />
desses restaurantes self service que existem<br />
aos milhares no Brasil. Um restaurante<br />
de preço quase popular. Nada demais.<br />
Eu não me esqueço da reação dos<br />
meus amigos africanos quando sentamos<br />
à mesa. Eles disseram nunca ter<br />
visto coisa igual em toda a vida. Nunca tinham<br />
presenciado uma variedade e uma<br />
quantidade tão grande de comida. Fizeram<br />
o cálculo em dólar e acharam tudo<br />
muito barato. Sinceramente, eu fiquei<br />
surpreso.<br />
Dez anos atrás, a produção agrícola<br />
do Brasil era de 140 milhões de<br />
toneladas de grãos. A previsão para<br />
2018 é de 240 milhões. É muita coisa!<br />
O Brasil pode em breve alcançar a<br />
liderança mundial na produção<br />
agrícola.<br />
Na década de 60, na minha pequena cidade<br />
do Norte de Minas Gerais (Porteirinha),<br />
era comum assistirmos pequenos<br />
cortejos vindos da zona rural trazendo seus<br />
anjinhos para serem sepultados. Hoje, a<br />
taxa de mortalidade infantil na cidade é de<br />
9,8 crianças que morreram antes de completar<br />
um ano de vida a cada mil nascidas<br />
vivas no período de um ano. Ainda está<br />
muito distante da realidade japonesa de<br />
2,0. Porém, hoje em dia, diminuiu bastante<br />
o envio de “anjinhos” para o Céu.<br />
Precisamos deles aqui no Brasil.<br />
Verdade seja dita, nosso país avança a<br />
despeito de seus governantes. Outra verdade<br />
que precisa ser ressaltada: O Brasil<br />
avança, mas avança a passos de tartaruga.<br />
Com toda a falta de planejamento,<br />
o país teimosamente avança. Para travar<br />
o Brasil é necessário fazer muita força. E<br />
nossos governantes são bons nisso.<br />
A média de altura do homem brasileiro<br />
era de 1,64cm, 40 anos atrás. Um país<br />
de nanicos. Hoje a média é de 1,73. Ainda<br />
baixa, mas está subindo. Observem que<br />
a maioria de nossos filhos tem altura superior<br />
aos pais.<br />
A estimativa de vida do homem brasileiro,<br />
70 anos atrás, era de 51 anos. Impensável!<br />
Já estou no lucro com meus 55<br />
anos. Imaginem que no tempo da Segunda<br />
Guerra Mundial nossos cidadãos<br />
lutavam uma guerra silenciosa contra a<br />
morte que prematuramente batia à nossa<br />
porta. As chances não eram melhores e<br />
maiores do que as chances de nossos<br />
pracinhas na Itália.<br />
Não tenho dúvida de que, se no<br />
futuro próximo, tivermos alguns<br />
homens e mulheres com um mínimo<br />
de decência política na liderança deste<br />
6<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
QUANDO O BRASIL SE TORNOU INDEPENDENTE, EM 1922, O PAÍS TINHA TUDO PARA DAR ERRADO.<br />
OS ANALFABETOS SOMAVAM MAIS DE 90% DOS HABITANTES. HOJE SOMOS UM DOS DEZ PAÍSES<br />
MAIS IMPORTANTE O DO MUNDO, INTEIRAMENTE CONSTRUÍDO POR BRASILEIROS.<br />
país, seremos uma grande nação.<br />
Temos todos os recursos do mundo<br />
para isso. Eu acredito que estamos<br />
caminhando para um novo tempo.<br />
Nunca antes na história deste país<br />
tivemos tantos políticos e empresários<br />
poderosos no xadrez. Isso é novidade.<br />
Penso que podemos,<br />
teimosamente,<br />
continuar<br />
acreditando no<br />
país do futuro. ,<br />
justamente abandonada<br />
pelos brasileiros.<br />
Contudo,<br />
uma de nossas virtudes<br />
é o otimismo.<br />
Se nós,<br />
brasileiros, não<br />
acreditarmos em<br />
nós mesmos,<br />
quem vai acreditar?<br />
Tomo para mim<br />
as palavras do Profeta<br />
Jeremias que<br />
após o massacre<br />
imposto pelos babilônios<br />
aos judeus,<br />
disse ao povo:<br />
“Quero trazer à<br />
memória o que me<br />
pode dar esperança”<br />
(Jr 3:21).<br />
(*) Romerson Cangussu<br />
é pastor evangélico<br />
e superintendente<br />
da Igreja do<br />
Nazareno em Minas<br />
Gerais.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 7
NOMES & NOTAS<br />
MARCHIONNE VEIO<br />
MUITAS VEZES<br />
A BELO HORIZONTE SEM<br />
NINGUÉM SABER.<br />
AGORA LEIA O QUE<br />
ELE DISSE<br />
Aprimeira vez que o chefão Sergio<br />
Marchionne visitou a Iveco em<br />
Sete Lagoas, em 2008, “vivemos<br />
dias de intensa excitação”, revelou o jornalista<br />
Marco Piquini, que na época era<br />
o responsável pela comunicação social<br />
da fábrica de caminhões. “A pressão era<br />
tamanha que chegamos a “maquiar” um<br />
auditório inteiro, com panos pretos e<br />
tudo, só para esconder paredes que precisavam<br />
de uma pintura” relatou mais<br />
adiante em sua página no Facebook.<br />
A fábrica vivia momentos de grandes<br />
vendas - ao contrário do que ocorria na<br />
Europa. Piquini caprichou na sua apresentação,<br />
que utilizou todos os recursos<br />
visuais disponíveis na época. Ele achou<br />
que estava arrasando. Mas percebeu<br />
apenas isso do chefão: “Ele acendeu um<br />
cigarro, olhou para o lado com enfado e<br />
falou de forma irônica: “I’m impressed.”<br />
Marchionne voltou muitas vezes a Betim<br />
e Sete Lagoas. Abaixo, algumas coisas<br />
que Piquini e seus colegas tomaram<br />
conhecimento a respeito do estilo dele:<br />
1.O CULPADO É O GERENTE DE RECURSOS<br />
HUMANOS – Logo após assumir o cargo,<br />
Marchionne demitiu o diretor mundial<br />
de RH. “Se a empresa está ruim é por<br />
causa das pessoas”, justificou. Em seguida,<br />
fez uma limpa: defenestrou gerentes<br />
e superintendentes de várias<br />
áreas. A mensagem foi muito clara para<br />
todos. E quando, um ano depois, ele<br />
conseguiu fazer a GM pagar US$ 2 bi<br />
para sair de uma parceria que paralisava<br />
a empresa, conquistou a admiração de<br />
todos.<br />
2. NO MEIO DA MASSA –<br />
Marchionne trocou o gabinete do<br />
CEO e a sala de reuniões que os<br />
alemães do tempo da<br />
DaimlerChrysler ocupavam no<br />
12º andar, em Detroit, por um<br />
8<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
gabinete no quarto andar – o<br />
mesmo do departamento de<br />
engenharia industrial. A<br />
mensagem parecia clara:<br />
“Marchionne era um CEO<br />
acessível, disponível e queria<br />
estar onde os produtos eram<br />
feitos”.<br />
3. DEVE SER CONFORTÁVEL PARA TODOS -<br />
Ele “gastou milhões” na renovação de<br />
cantinas, cafetarias e em obras de manutenção<br />
há muito adiadas. “Quando cheguei,<br />
via medo na cara dos trabalhadores.<br />
Eles temiam pelos postos de trabalho”,<br />
recordaria Marchionne. Só o tempo e os<br />
resultados poderiam apagar isso. Até lá,<br />
restava-lhe dar exemplos de que respeitava<br />
todos os operários, enquanto obrigava<br />
os poucos italianos da Fiat que levou<br />
para a Chrysler a falarem inglês. E proibiu-os<br />
de passarem os fins-de-semana na<br />
Europa, como era hábito entre os gestores<br />
que a Daimler pusera nos EUA.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 9
4. A CULPA É MINHA - “Quando era preciso<br />
trabalhar ao fim-de-semana, Sergio<br />
mandava flores para casa das pessoas<br />
com uma nota à família, que ele próprio<br />
escrevia: ‘A culpa é minha’.” Gestos assim<br />
faziam milagres.<br />
5.NOVA PRÁTICA DE GESTÃO - Reconfigurou<br />
uma das teorias clássicas<br />
do management. “A teoria definiu que<br />
a liderança tem a ver com a mudança:<br />
definir a direção, alinhar as pessoas,<br />
motivá-las e inspirá-las; e que a gestão<br />
tem a ver com complexidade: planificar<br />
e orçamentar, organizar e alocar<br />
recursos, controlar e resolver<br />
problemas. Nas empresas as duas atividades<br />
são realizadas por diferentes<br />
figuras; nas universidades, as duas<br />
ciências são estudadas por diferentes<br />
escolas. Marchionne criou um novo<br />
estilo que combinou ambas, liderança<br />
e gestão.<br />
6.CHAMADAS A QUALQUER HORA - Ligava<br />
na madrugada aos membros da<br />
equipe. E fazia-o em qualquer dia da<br />
semana. Ele próprio estava sempre a<br />
trabalhar – ou a viajar em trabalho. Italiano<br />
de nascimento, canadense por<br />
aculturação (emigrou aos 13 anos para<br />
o Canadá com os pais) e suíço por residência<br />
fiscal, dizia não ter “uma<br />
casa”. “Num ano, passo 43 dias completos<br />
dentro de aviões”, descreveu<br />
numa entrevista.<br />
8.RELAÇÕES INFORMAIS -<br />
Frugal na aparência, era também<br />
assim no método de liderar<br />
pessoas. “Muito do que faço é<br />
desafiar e questionar as<br />
premissas – o que acaba por dar<br />
um pouco o aspecto de que<br />
estou ali fazendo perguntas<br />
estúpidas”, descreveu<br />
Marchionne. Foi assim que<br />
encurtou o tempo de produção<br />
do Cinquecento – “o iPod da<br />
Fiat, como ele lhe chamaria –<br />
de quatro anos para 18 meses.<br />
7. SEMPRE A MESMA BLUSA - Vestia sempre<br />
a mesma coisa: uma blusa azul,<br />
camisa da mesma cor e umas calças<br />
pretas. “Compro por atacado, compro<br />
logo 50 exemplares, para não perder<br />
tempo de manhã a pensar no que vou<br />
vestir”, contaria. Esse seu hábito não<br />
era muito diferente de Cledorvino Bellini,<br />
o chefe brasileiro da Fiat, que jamais<br />
usou sapatos de cadarços. “Demoramos<br />
para calçá-los, explicou.<br />
9. SONHADOR PRAGMÁTICO - Este estilo<br />
exige três características: contratar pessoas<br />
que são sempre melhores em, pelo<br />
menos, uma coisa do que ele; e ser o<br />
tipo mais esperto na sala – aquele que<br />
faz as melhores perguntas e que ajuda<br />
os outros a ir mais além”.<br />
Sonhador pragmático? O próprio<br />
Marchionne, para quem tudo girava em<br />
torno de resultados, ajudou a definir o<br />
conceito: “Se você fixar metas que as<br />
pessoas julgam irrealistas, tens de<br />
ajudá-las a atingirem os objetivos. Ajudar<br />
não significa fazer o trabalho por<br />
elas. Mergulho no negócio, nas tarefas<br />
para guiar as pessoas no terreno de<br />
modo a que elas tomem as decisões<br />
certas.” E acrescentava: “Não sei quais<br />
são as melhores decisões quando vou<br />
para uma reunião. Mas penso que o<br />
fato de me envolver aumenta a possibilidade<br />
de sairmos dessa reunião com<br />
as medidas mais acertadas.” Detestava<br />
a cultura da descrença.<br />
10<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
AUMENTA A VENDA DE CARROS BLINDADOS<br />
A<br />
procura por carros blindados novos<br />
está em alta em Minas, como de resto<br />
em todo o país. A expectativa é que as<br />
vendas batam novo recorde em 2018, em<br />
função do aumento da criminalidade violenta.<br />
No ano passado, foram emplacados<br />
quase dois mil veículos no estado. No<br />
Brasil as vendas alcançaram 15.145 veículos.<br />
Estima-se que haja um crescimento<br />
do mercado de 25 por cento. A criminalidade<br />
violenta havia baixado entre 2008 e<br />
2012, mas voltou a aumentar recentemente,<br />
deixando os milionários de sobreaviso,<br />
principalmente se as futuras eleições<br />
presidenciais resultarem em picos<br />
de violência.<br />
SÓ UM MINUTINHO.<br />
VOU ALI COMPRAR<br />
UM PÃO<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 11
AFINAL,<br />
QUEM TROUXE<br />
DILMA DE VOLTA<br />
PARA MINAS?<br />
Os petistas mineiros estão perguntando<br />
quem foi o responsável por mandar<br />
Dilma Rousseff de volta para Minas Gerais:<br />
se Tarso Genro ou Olívio Dutra, os dois<br />
caciques rio-grandenses do Partido dos<br />
Trabalhadores.<br />
Os mineiros agradecem porque estavam<br />
embretados com a candidatura do<br />
deputado federal Virgílio Guimarães, de<br />
nula possibilidade eleitoral. A volta de<br />
Dilma reabriu a questão do Senado e botou<br />
o PT de novo no páreo, com o nome<br />
ideal para enfrentar o atual senador Aécio<br />
Neves, que ainda é o líder das pesquisas,<br />
não obstante o corredor polonês em que<br />
se encontra, fustigado pela oposição petista<br />
e açoitado pela facção paulista do<br />
PSDB, seu partido.<br />
quanto Olívio Dutra a Antônio Carlos Magalhães,<br />
então governador da Bahia.<br />
Como se recorda, o governo gaúcho mandou<br />
a Ford embora do Estado, quando a<br />
empresa já estava na fase de terraplenagem<br />
no local da fábrica e iniciava as obras<br />
DESAVENÇAS GAÚCHAS. Agora o Partido<br />
dos Trabalhadores tem candidata. Muitos<br />
militantes atribuem a defenestração<br />
branca de Dilma do Rio Grande do Sul a<br />
seu desafeto Tarso Genro, que foi ignorado<br />
por ela durante seu governo, mesmo<br />
quando o santa-mariense ocupava o Palácio<br />
Piratini e seria um aliado valioso. Ele<br />
devolveu o desprezo.<br />
Neste quadro, dizem esses companheiros,<br />
o PT gaúcho deu a Minas Gerais um<br />
presente tão oportuno e conveniente<br />
12<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
de um porto no rio Guaíba.<br />
O atracadouro seria destinado para o<br />
abastecimento do complexo industrial,<br />
uma vez que montadoras de automóveis<br />
trazem consigo um rosário de indústrias<br />
fornecedoras que se instalam nas imediações<br />
da nave mãe para entregar suprimentos<br />
“just in time”. Foi tudo por<br />
águas abaixo na pachorrenta correnteza<br />
do Guaíba e, como consequência, a fábrica<br />
foi parar na costa da Bahia, onde a<br />
Ford produz hoje os carros da linha<br />
Fiesta, vendidos no mercado interno e na<br />
exportação. Dilma é uma nova Ford.<br />
Dilma fazia parte desse governo como<br />
secretária de Minas e Energia.<br />
A QUEDA: DUAS VERSÕES. Segundo seus adversários,<br />
Dilma foi derrubada por inapetência<br />
e incompetência política. Já seus<br />
aliados e ela própria atribuem a queda a<br />
um golpe parlamentar, uma novidade na<br />
teoria política. Mas vá lá. Em vez de tanques,<br />
as canetas da oposição. Bem se diz<br />
que uma ideia é, politicamente, mais perigosa<br />
que um canhão. Dilma caiu no grito.<br />
Mas o bordão do golpe pegou. Tanto é<br />
verdade, que ressuscita Dilma Rousseff.<br />
Repetido todos os dias, aqui e no Exterior,<br />
o bordão de “Temer Golpista” foi colando,<br />
pegando e se espalhando o suficiente para<br />
converter Dilma Rousseff em vítima. Aí<br />
está o pulo do gato.<br />
O exemplo histórico marcante também<br />
vem do Rio Grande do Sul. Getúlio Vargas,<br />
deposto um mês antes das eleições<br />
em 1945, reverteu uma vitória certíssima<br />
da oposição e venceu em todas as fren-<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA<br />
13
tes. Ganhou a presidência da República<br />
com seu apaniguado, general Eurico Gaspar<br />
Dutra.<br />
Tal como Dilma, Getúlio candidatou-se<br />
ao parlamento e venceu de ponta a ponta.<br />
Naquele tempo uma pessoa podia apresentar-se<br />
candidata a vários cargos e em<br />
mais de um estado. Assim, Vargas foi eleito<br />
senador pelo Rio Grande do Sul e São<br />
Paulo, e deputado federal pelo Rio Grande<br />
do Sul, São Paulo, Distrito Federal (atual<br />
cidade do Rio de Janeiro), estado do Rio<br />
de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Bahia.<br />
DE VOLTA AO FUTURO. Alguém duvida que<br />
Minas Gerais oferecerá uma votação consagradora<br />
à filha pródiga expelida do poder<br />
pelas forças café com leite da dupla<br />
PSDB e Minas e São Paulo e (então)<br />
PMDB paulista? Ela caiu porque já era<br />
gaúcha. Então volta às alterosas e readquire<br />
sua cidadania politicamente consequente.<br />
É verdade que a chegada de Dilma em<br />
Minas não foi uma aterrisagem com mão<br />
de veludo, como dizem os pilotos. Foi um<br />
pouso três pontos, com um baque daqueles<br />
que deixam os passageiros com os pelos<br />
crispados, elogiando a mãe do comandante.<br />
Além do pré-candidato Virgílio, que<br />
perdeu a vez, deixou em palpos de aranha<br />
o candidato do MDB, deputado estadual<br />
Adaldever Lopes, que além de delfim do<br />
chefão emedebista local Newton Cardoso,<br />
o exuberante e folclórico ex-governador,<br />
deixou o atual detentor do Palácio da Liberdade,<br />
Fernando Pimentel, ameaçado<br />
de ser derrotado em sua reeleição pelo<br />
ex-governador Antônio Anastasia. Com<br />
Aécio no páreo, sobra apenas uma vaga.<br />
Adalclever contava com ela, mas a entrada<br />
de Dilma deixou-o no banco, fora do jogo.<br />
Então veremos nos palanques de Minas<br />
Gerais os protagonistas da grande opereta<br />
que constituiu o impeachment da presidente<br />
Dilma Rousseff. Na primeira linha do<br />
palco os dois galãs, Aécio Neves, o príncipe<br />
decaído, derrotado por Dilma nas urnas e<br />
autor do processo judicial e das manobras<br />
políticas que resultaram na deposição da<br />
mandatária. A seu lado o conde Antônio<br />
Anastasia, algoz da princesa, relator do<br />
processo que lhe roubou o poder. E também<br />
ela própria, a princesa adormecida.<br />
AO FUNDO, O CORAL. O grupo mais interessante<br />
é a chamada Bancada da Chupeta,<br />
aquele grupo de senadoras e do senador<br />
Lindbergh Farias que se colocaram frente a<br />
Anastasia, na Comissão do Senado, a repetir,<br />
todos os dias, incansavelmente, os mesmos<br />
bordões, ouvidos com paciência e maldade<br />
pelos líderes do movimento. Com aquela<br />
atuação, o grupo, composto ainda pelas senadoras,<br />
Fátima Bezerra, Gleisi Hoffman e<br />
Vanessa Graziotin (esta do PCdoB), botavam<br />
gasolina na fogueira do impeachment. A<br />
cada dia perdiam um aliado.<br />
Quando o processo vindo da Câmara<br />
chegou ao Senado não havia maioria para<br />
derrubar a presidente. Bastava paciência<br />
e um pouco de negociações. Entretanto, a<br />
Bancada Chupeta preferiu ir para um confronto<br />
heroico, perdendo espaço dia a dia,<br />
até que, quando se votou, Dilma Rousseff<br />
foi mandada para casa. Entretanto, sobrou<br />
um trunfo, seus direitos políticos, que ela<br />
agora exercita com essa candidatura.<br />
Com certeza da vitória, Dilma Rousseff<br />
já mandou fazer o vestido da posse. Os<br />
três protagonistas chegam juntos ao ato<br />
final do balé: Dilma e Aécio na mesma<br />
carruagem chegando a Brasília para assumir<br />
suas cadeiras no Senado Federal, e<br />
Anastasia pegando de volta sua caneta de<br />
todo-poderoso em Minas Gerais.<br />
José Antônio Severo<br />
14<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
PIMENTEL E A<br />
REFORMA DA PREVIDÊNCIA<br />
Pouca gente prestou atenção mas em<br />
entrevista publicada em três de julho,<br />
o governador de Minas Gerais, FER-<br />
NANDO PIMENTEL (PT) caiu na real e<br />
culpou o enorme gasto do governo mineiro<br />
com o pagamento para inativos pela<br />
situação calamitosa que vive o Estado,<br />
atrasando salários de servidores da ativa e<br />
também os repasses obrigatórios de<br />
ICMS e IPVA para os municípios.<br />
De acordo com os dados do Relatório<br />
Resumido de Execução Orçamentária, do<br />
Tesouro Nacional, a afirmação do governador<br />
faz sentido, pois Minas Gerais gastou<br />
62% de sua receita com o pagamento<br />
de servidores, tanto ativos como inativos.<br />
Além disso, o relatório aponta que o Regime<br />
de Previdência dos Servidores Públicos<br />
do estado apresenta o segundo<br />
maior déficit, em proporção à Receita<br />
Corrente Líquida, atingindo 26,3%; perdendo<br />
apenas para o Rio Grande do Sul.<br />
Na ocasião, Pimentel defendeu a realização<br />
de uma reforma da Previdência,<br />
para que o sistema fosse financiado apenas<br />
com os próprios recursos, ou seja,<br />
16<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
fosse autossuficiente ou superavitário. O<br />
governador mineiro é o primeiro grande<br />
cacique petista a admitir o grave problema<br />
fiscal que o descontrole de gastos<br />
previdenciários desencadeia, e defender<br />
uma ampla reforma no sistema.<br />
A declaração de Pimentel contrasta<br />
com o discurso nacional de lideranças e<br />
economistas do partido, que em entrevistas,<br />
debates e textos vivem a negar a<br />
necessidade de reformar a Previdência,<br />
classificando a proposta como “outra<br />
etapa do golpe” liderado por Michel Temer.<br />
Entretanto, quando confrontados<br />
com a realidade, fica impossível manter<br />
o discurso, tornando-se inevitável enfrentar<br />
o assunto.<br />
De fato, os gastos com Previdência crescem<br />
de maneira vertiginosa, ano após ano, a -<br />
tin gin do quase 60% dos gastos do governo<br />
fe deral, o que comprime os demais gastos em<br />
ser viços essenciais, como educação e saúde.<br />
EM BUSCA DE<br />
DESAFIOS<br />
PROFISSIONAIS<br />
A<br />
lém do ex-governador Eduardo Azeredo,<br />
que cumpre pena de 20 anos de<br />
prisão numa cela do Corpo de Bombeiro e<br />
não pode dar expediente na FIEMG, também<br />
se desligaram da entidade os consultores<br />
Paulo Brant e Ângela Flores Furtado.<br />
Cada um dos três recebia R$ 50 mil mensais.<br />
Nesse cenário de mudanças, destacase<br />
o retorno da executiva Marta Lassance,<br />
em cargo de assessoria especial da direção<br />
da entidade. Lassance trabalhou muitos<br />
anos na Usiminas, onde aconselhava o falecido<br />
presidente Rinaldo Campos Soares.<br />
UM DIA ISSO SERÁ<br />
TODO SEU, MEU FILHO<br />
Omaterial distribuído pela agência<br />
de propaganda que cuida da campanha<br />
eleitoral do empresário ROMEU<br />
ZEMA, candidato a governador de Minas<br />
Gerais pelo Partido Novo, publica<br />
orgulhosamente que o industrial apresenta<br />
vitoriosa carreira no mundo de<br />
negócios tendo sido seguidamente, cobrador,<br />
frentista, balconista, estoquista,<br />
caixa, comprador, vendedor, analista de<br />
marketing, analista comercial e gerente.<br />
Ao final dessa estupenda carreira,<br />
Romeu alcançou o invejado posto de<br />
Presidente do Conselho de Administração<br />
do Grupo Zema. O noticiário se esquece<br />
de revelar, porém, que o conglomerado<br />
empresarial ao qual preside foi<br />
fundado pelo seu bisavô, o falecido empreendedor<br />
Domingos Zema. Ou seja:<br />
na verdade, a empresa pertence à família,<br />
onde todos os herdeiros cumpriram<br />
o mesmo percurso de sucesso.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 17
GANHAR ALGUM PRA<br />
ANDAR DE BICICLETA?<br />
NA HOLANDA, POR EXEMPLO, O<br />
GOVERNO VAI PAGAR PARA AS<br />
PESSOAS ANDAREM DE BICICLETA<br />
AHolanda é um dos países onde a<br />
população mais se desloca de bicicleta,<br />
especialmente em trânsito local.<br />
A geografia do país, com poucas elevações,<br />
é ideal para incentivar as pessoas<br />
a pedalar – bem diferente de Belo Hori-<br />
18<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
zonte, onde há montanhas por toda<br />
parte. Mas apesar de existirem mais bicicletas<br />
que pessoas, ainda existem zonas<br />
onde o tráfego de automóvel é demasiado<br />
elevado para o gosto das<br />
autoridades. É o caso de Eindhoven, capital<br />
da província do Brabante, onde já<br />
existem incentivos para as pessoas trocarem<br />
o carro pela bicicleta.<br />
O projeto B-Riders inclui várias medidas<br />
para facilitar a escolha pelas bicicletas.<br />
Para isso, as grandes e médias empresas<br />
são incentivadas a pagar R$ 0,50<br />
por quilômetro percorrido para o trabalho.<br />
Este valor é depois abatido nos impostos.<br />
As empresas também se beneficiam<br />
com trabalhadores mais saudáveis<br />
e com menor possibilidade de faltarem<br />
ao serviço por doença, e os novos ciclistas<br />
continuam a andar de bicicleta normalmente,<br />
mesmo quando não recebem<br />
o incentivo.<br />
A iniciativa tem o apoio da vice-ministra<br />
do Transporte, Stientje van Veldhoven,<br />
que deseja tirar 200 mil automóveis<br />
das ruas, estimulando o uso da<br />
bicicleta. Sem carros, o tráfego na hora<br />
de ponta é eliminado e também melhora<br />
o ambiente para os ciclistas. Talvez<br />
alguém queira fazer o mesmo incentivo<br />
em Belo Horizonte ou nas<br />
grandes cidades do Estado.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA<br />
19
REPORTAGEM DE CAPA<br />
ASSASSINATO DE<br />
MARIELLE MIGRA<br />
PARA O MISTÉRIO DOS<br />
CRIMES INSOLÚVEIS<br />
SUSPEITAS APONTAM PARA EXECUÇÃO COMETIDO POR CHACAL<br />
ENVIADO PELO TRÁFICO GLOBALIZADO COMO RECADO CONTRA<br />
INTERVENÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NO COMBATE ÀS DROGAS<br />
JOSÉ ANTÔNIO SEVERO<br />
Rio de Janeiro<br />
Adedução de especialistas é que a<br />
execução da vereadora do PSol do<br />
Rio de Janeiro Marielle Franco foi<br />
trabalho de um chacal, um matador profissional,<br />
estrangeiro, que entrou no Brasil,<br />
matou a moça e sumiu. Seus apoios no<br />
País também já não podem falar.<br />
O Brasil teve um “upgrade” de criminalidade<br />
no atentado que matou a vereadora.<br />
Especialistas já estão certos de que<br />
os tiros não visavam à vítima em si, mas<br />
a seu símbolo. O episódio foi um recado<br />
muito explícito do sistema internacional<br />
do tráfico para atestar a impotência dos<br />
esquemas de repressão e controle brasileiros.<br />
A ação ocorreu quando o governo<br />
brasileiro se preparava para uma ação<br />
forte, talvez internacionalmente articulada,<br />
como no caso das contas secretas desnudadas<br />
no caso Lava Jato.<br />
Isto colocaria em perigo toda a superestrutura<br />
do crime no continente, abalando<br />
interesses acima do tráfico ou das<br />
organizações criminosas convencionais.<br />
Segundo os estudiosos, o buraco é bem<br />
mais embaixo.<br />
NINGUÉM SABE QUEM MANDOU ELIMINAR MA-<br />
RIELLE. Nem as polícias e nem mesmo o cri -<br />
me organizado nacional e sul-americano têm<br />
condições de saber quem realmente man -<br />
dou eliminar uma figura emblemática das<br />
hostes politicamente corretas. Ou seja: bus -<br />
cavam claramente uma repercussão em ba -<br />
raçosa, sem, contudo, criar arestas no mun -<br />
do da criminalidade, o que ocorreria se ti -<br />
vessem eliminado um mandachuva da polícia<br />
ou grande chefão do tráfico. A vereadora não<br />
tinha nada com isto. A operação foi só um<br />
alerta. Ela foi apenas um recado. Esse tópico<br />
voltaremos a aprofundar mais adiante.<br />
A polícia do Rio de Janeiro está desconfiada<br />
que a munição encontrada nas proximidades<br />
do atentado contra a vereadora<br />
20<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
Marielle Franco foi plantada para confundir<br />
a investigação. Pela velocidade das balas<br />
e pela precisão dos tiros disparados de<br />
um veículo em movimento, é provável que<br />
se usassem projéteis mais modernos e<br />
novos, e não um produto fabricado pela<br />
humilde brasileira CBC em 2006 e obtido<br />
de um lote desviado da Polícia Federal há<br />
mais de 10 anos. Uma bala tão velha engastaria<br />
na arma.<br />
SEGUEM AS EXECUÇÕES, DEPOIS DA MORTE<br />
DA VEREADORA. Outra suspeita a levantar<br />
novas dúvidas foi a execução misteriosa<br />
de dois funcionários do crime organizado<br />
do Rio de Janeiro, Alexandre Cabeça e o<br />
subtenente Anderson Cláudio da Silva,<br />
suspeitos de envolvimento no atentado<br />
contra a vereadora, noticiado há semanas<br />
no jornal O Globo, do Rio. Essa queima<br />
de arquivo reforça a concepção teórica<br />
composta por um grupo de aficionados<br />
em temas de mistérios criminais, que se<br />
reúne em Belo Horizonte, São Paulo e outras<br />
cidades para falar dessas questões<br />
no Brasil e no mundo.<br />
Onde quer que se verifique um crime<br />
sem solução, envolvendo alta criminalidade,<br />
tanto na área comum como nos<br />
campos do terrorismo ou da espionagem<br />
(militar ou industrial), lá estará a atenção<br />
desses especialistas, que se debruçam sobre<br />
hipóteses, trocam experiências e informações<br />
com correspondentes de outros<br />
pontos do País ou do Planeta e traçam<br />
suas teorias, muitas vezes confirmadas<br />
depois pelas investigações.<br />
Segundo uma hipótese deles, pode ter<br />
sido um chacal o assassino da vereadora<br />
Marielle Franco. Como nos filmes policiais,<br />
o sicário seria estrangeiro, desconhecido<br />
no submundo brasileiro e sul-americano,<br />
podendo sumir sem deixar rastros. É um<br />
chacal. Crime insolúvel.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 21
O CRIME ENTRA NO TERRENO DA PÓS-FICÇÃO.<br />
A operação contra Marielle tem essas características,<br />
é o que analisam esses observadores<br />
integrantes dessa confraria de<br />
aficionados, composta por investigadores<br />
de eventos criminais misteriosos. Não só<br />
casos ocorridos no Brasil, mas principalmente<br />
de crimes insolúveis pelo mundo a<br />
fora. O crime de Marielle os atrai.<br />
Entre esses aficionados pelos mistérios<br />
criminais há policiais (da ativa e aposentados)<br />
de várias procedências e áreas técnicas<br />
dentro das forças judiciárias, pessoal<br />
da comunidade de informações (militares<br />
e civis), analistas de segurança privados e<br />
forenses de diferentes especialidades, escritores<br />
de ficção e jornalistas autores de<br />
livros publicados e alguns premiados, além<br />
de toda a fauna que compõe essa comunidade<br />
de estudiosos e interessados profissional<br />
ou amadoristicamente no tema.<br />
Nesse meio, o crime do Rio já entrou<br />
para o terreno da pós-ficção.<br />
Cenário: Contratado por canais secretos<br />
no Exterior, sem contato direto com o cliente,<br />
o chacal chega ao país sozinho. Seus contatos<br />
locais não o conhecem, não sabem<br />
quem será o alvo nem bem que veio fazer.<br />
Todos os segmentos são compartimentados,<br />
incomunicáveis. Só o comando tem acesso<br />
e controle total da movimentação. O chacal<br />
age sozinho, isolado, como nos filmes, pois<br />
os roteiristas de Hollywood produzem enredos<br />
baseados verossímeis.<br />
O chacal entra no país com documentação<br />
falsa, sem chance de ser rastreado.<br />
Assim que recebe suas armas, assume o<br />
comando operacional e se descola do comando<br />
central. Realizada a missão, evapora-se.<br />
Ele não teme porque tem certeza<br />
de que os auxiliares locais serão executados.<br />
Sem rastro.<br />
Os dois suspeitos teriam características<br />
de operadores das milícias: Anderson,<br />
morto no Recreio, era subtenente da Polícia<br />
Militar, com origem e patente muito<br />
apropriadas para integrar milícias. O<br />
mesmo de Alexandre Cabeça, Carlos Alexandre<br />
Pereira Maria, tido como guardacostas<br />
de um político apontado como<br />
tendo bases eleitorais em comunidades<br />
infestadas de grupos armados.<br />
A operação propriamente demanda<br />
uma alta especialização. A arma do crime<br />
é um artefato de tiro rápido. Como declarou<br />
a sobrevivente, o tiroteio durou um<br />
segundo, disse ela. A polícia do Rio já tem<br />
uma hipótese do tipo de pistola.<br />
A arma tem mira a laser, como se vê<br />
nos seriados de TV. O matador tem óculos<br />
de infravermelho, que, com auxílio de sensores<br />
de fontes de calor, vão além dos<br />
obstáculos físicos. Como na visão de raios<br />
X do Superman, ele “viu” Marielle através<br />
da lataria do carro e do vidro fumé.<br />
CONTORNOS DE SERIADOS POLICIAIS DA TELE-<br />
VISÃO. O alvo. É uma ação semelhante ao<br />
que se assistiu pela tevê no documentário<br />
sobre a execução do terrorista Osama Bin<br />
Laden e sua família no Paquistão. O presidente<br />
Obama e seus assessores assistiam<br />
sentados em poltronas da Casa Branca a<br />
ação do comando. Os pobres jahadistas,<br />
no interior da residência, não tinham como<br />
se esconder. Paredes, portas, telhados, tudo<br />
era devassado pelos raios do satélite e pelos<br />
óculos dos sicários. A única diferença é que<br />
não havia, no caso de Marielle, um monitoramento<br />
por satélite.<br />
O tiro. Além dos equipamentos de visão<br />
noturna, o matador tinha instalado no<br />
banco traseiro do carro, possivelmente fixado<br />
em seu braço esquerdo, um dispositivo<br />
para fixar a arma, uma espécie de<br />
tripé com um estabilizador giroscópio no<br />
dispositivo de apoio da arma, com certeza.<br />
Este é um dispositivo semelhante aos es-<br />
22<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
tabilizadores de tiro que equipam tanques<br />
de guerra ou veículos militares armados,<br />
que mesmo em movimento em terreno<br />
acidentado e irregular mantém a mira<br />
como se estivesse deslizando num piso<br />
de taco de parquet. É assim que esses especialistas<br />
veem a cena do crime.<br />
Porque um estrangeiro? Além da segurança<br />
do segredo, os mandantes sabem<br />
que nossos larápios não chegaram a esse<br />
ponto. São ousados, bons de tiro, sabem<br />
manejar armas modernas, mas também<br />
é muita sofisticação para nossos pistoleiros<br />
do terceiro mundo. Coisa para especialista.<br />
Se era um preto, pode ser norte-americano,<br />
europeu, saudita ou sul africano.<br />
Então vem a pergunta: por que tudo<br />
isto? Quem pagou a conta? Os investigadores<br />
ainda estão todos tontos, sem respostas.<br />
Não há um fio para pegar a ponta<br />
da meada.<br />
A razão do alvo ser Marielle, nesta hipótese<br />
de crime internacional, já se supõe:<br />
além de todos seus ingredientes midiáticos,<br />
a vereadora era carioca, um fator a<br />
mais de repercussão porque todos os holofotes<br />
estavam focando a intervenção militar<br />
no estado e pela importância do Rio<br />
de Janeiro como caixa de ressonância no<br />
País e no restante da América do Sul.<br />
Objetivo plenamente alcançado, no<br />
campo psicossocial. Outro fator para escolha<br />
do alvo: ela não era ligada a nenhum<br />
grupo do crime organizado, nem mesmo<br />
remotamente. Sua morte não provoca retaliações.<br />
Marielle era uma defensora de<br />
direitos humanos, sem ligação com o<br />
crime, portanto sua morte não provoca reações<br />
de facções, tanto de bandidos comuns<br />
como de milicianos. É um alvo “limpo”.<br />
UM RECADO PARA TODOS OS PODERES CONS-<br />
TITUÍDOS. Por fim, seu assassinado tem<br />
um efeito demonstração da capacidade<br />
de certos grupos criminosos internacionais<br />
de colocar em xeque todo o sistema<br />
de inteligência, de investigação, de intercomunicação<br />
e de conluio entre bandidos<br />
e mocinhos no País. Como a dizer que há<br />
limites para a repressão aos negócios criminosos<br />
no Brasil. Ninguém sabe que<br />
mão apertou o gatilho que disparou aquelas<br />
balas.<br />
Aos grandes cardeais do crime não interessam<br />
os resultados da luta entre estado<br />
e bandidos. Policiais e criminosos matandose<br />
e se estourando faz parte do cenário e<br />
do sistema. A ameaça a ser contida seria<br />
que se avançasse além da conta. Foi um<br />
recado para os interventores no Rio (não<br />
os generais operadores, mas aos detentores<br />
do poder) e também para o crime organizado<br />
local (brasileiro e sul-americano).<br />
Na lei da selva há um respeito aos territórios<br />
de cada um. O comércio no país<br />
é exclusividade do tráfico nacional; o<br />
combate ao crime deve se limitar a esses<br />
espaços. Parecem dizer: quem pisar fora<br />
da linha já sabe.<br />
Aí está Marielle para demonstrar que<br />
ninguém, nem bandido nem mocinho,<br />
pode cruzar além dessa cortina invisível.<br />
O recado está dado. O chacal já está longe,<br />
dizem aqueles observadores, e nunca será<br />
descoberto, como tantos outros no domínio<br />
do mistério.<br />
Nos últimos dias têm aparecido novos<br />
suspeitos. Isso indica que a polícia do Rio<br />
de Janeiro está procurando encerrar o<br />
caso da forma obscura e confusa. Não<br />
pode admitir que uma ação desta natureza<br />
tenha ocorrido no Brasil. Melhor encontrar<br />
alguém que assuma a culpa e permita fechar<br />
a pasta. Enquanto isto, feministas,<br />
homoafetivos, ultra esquerdistas e tantos<br />
outros gritam que ela foi vítima da direita,<br />
e assim as suspeitas vão para longe. Só<br />
falta dizer-se: a culpa é do Michel Temer.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 23
?????????????<br />
CARTA DO CANADÁ<br />
TORONTO DE<br />
TODAS AS COPAS<br />
ARTHUR VIANNA<br />
Eu estava em Toronto na Copa do<br />
Mundo de 1994. A cidade vestia a<br />
camisa de acordo com o país de origem<br />
de cada uma de suas comunidades.<br />
Como grande parte dos brasileiros vive<br />
entre os bairros português e italiano de<br />
Toronto, várias lojas da região ostentavam<br />
o verde-amarelo em suas vitrines. E, já<br />
que Portugal não participava da fase final,<br />
a bandeira brasileira tremulava no comércio<br />
lusitano de Toronto. Na<br />
semifinal, era possível encontrar<br />
uma ou outra bandeira<br />
da Bulgária ou da<br />
Suécia. Mas a grande comunidade<br />
italiana se fazia<br />
presente por toda a cidade.<br />
Sua colônia estava<br />
pronta para comemorar a<br />
conquista de mais uma<br />
Copa do Mundo.<br />
Assisti à decisão final –<br />
Brasil e Itália – no fantástico<br />
SkyDome, ao lado da<br />
Torre CN. O estádio, com<br />
seu teto retrátil e utilizado<br />
para futebol americano,<br />
beisebol e shows, estava<br />
com sua capacidade de 50<br />
mil lugares quase completa.<br />
Havia torcedores de<br />
várias etnias, mas a grande<br />
maioria era mesmo de brasileiros<br />
e italianos. A emoção tomou conta<br />
no fim, com o empate e a disputa por pênaltis.<br />
Com o apito final do juiz indiano, o<br />
Brasil de Romário, Branco e Dunga emplacou<br />
os três gols necessários para a<br />
posse do caneco e a glória de ser a primeira<br />
seleção do mundo a conquistar um<br />
tetracampeonato. Fim do jogo, carreata e<br />
muito samba. Como o bairro italiano já<br />
estava preparado para a festa, fomos todos<br />
24<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
comemorar a vitória ao lado dos vice-campeões,<br />
nossos vizinhos.<br />
Neste ano, como nas edições passadas,<br />
Toronto se preparou para a Copa do<br />
Mundo. E lá estávamos, canadenses das<br />
mais diversas origens e bandeiras. Cada<br />
um torcendo para a sua seleção.<br />
Maior cidade canadense, Toronto é uma<br />
verdadeira confederação de nações. Para<br />
11,3% da população de origem canadense,<br />
a cidade tem 12% de origem chinesa; 9,7%<br />
são da Irlanda; 6,9%, da Itália; e 3,6%, de<br />
Portugal. Isso sem contar os indianos, alemães,<br />
franceses, russos e muitos outros<br />
povos e raças. Bairros étnicos, como Chinatown,<br />
Corso Italia, Little India, Greektown,<br />
Koreatown, Little Jamaica, Little Portugal e<br />
Roncesvalles Village (poloneses), possuem<br />
placas de ruas na língua de seus moradores.<br />
Nesse ambiente multicultural, um<br />
evento como a Copa do Mundo ganha um<br />
sabor especial. Cada seleção tem seu público<br />
e sua bandeira. Não importa em que<br />
país a Copa esteja acontecendo. Para todos<br />
nós, torcedores, a disputa é travada<br />
ali mesmo, no estádio dos telões ou no<br />
gramado de nossos quintais.<br />
Para Toronto, a Copa de 2018 começou<br />
com uma ausência sentida. A seleção<br />
da Itália estava fora das partidas finais.<br />
E assim perdemos o brilho da<br />
sempre animada comunidade italiana.<br />
Cada disputa, uma surpresa. Com o Brasil<br />
e Portugal fora de campo, a favorita<br />
Inglaterra perde para a Croácia e a<br />
França vence a Bélgica. No fim, assistimos<br />
à vitória dos franceses sobre os<br />
croatas. Uma partida acompanhada, minuto<br />
a minuto, pelas colônias dos dois<br />
países. Em Toronto, há cerca de 40 mil<br />
canadenses de origem croata e 120 mil<br />
de origem francesa.<br />
Mesmo tendo mais uma<br />
Copa do Mundo pela frente,<br />
a ser realizada no Catar daqui<br />
a quatro anos, Toronto<br />
já começa os preparativos<br />
para uma edição especial.<br />
Eleito pelo Comitê Executivo<br />
da FIFA, o Canadá, ao<br />
lado dos Estados Unidos e<br />
do México, irá sediar a<br />
Copa do Mundo de 2026.<br />
Em Toronto, os jogos serão<br />
disputados no Estádio<br />
BMO, que pertence à prefeitura.<br />
Com apenas 20 mil<br />
lugares, será o menor estádio<br />
oficial de 2026. Mas<br />
a cidade já está acostumada<br />
a se transformar no<br />
mundo em cada Copa.<br />
Quem viver verá.<br />
arthurviannanet@gmail. com<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 25
CARTA DO SERTÃO<br />
CUMA,<br />
DEPUTADO?<br />
TIÃOZITO (*)<br />
Numa entrevista para a televisão, alguém<br />
perguntou ao então Presidente<br />
Sarney quais os países convidados<br />
para determinada conferência<br />
americana e ele respondeu de imediato:<br />
— Os oitos aqui mais pertamente (!)<br />
Vê-se que foi um lapso, ou lapsos, do<br />
presidente-poeta, mas falar errado ou trocando<br />
o significado das palavras é coisa<br />
comum tanto em políticos como até em<br />
profissionais liberais e professores daqui.<br />
É verdade que estes últimos só cometem<br />
erros grosseiros por despreparo.<br />
Stanislau Ponte Preta, o saudoso “Lalau<br />
de Tia Zulmira”, contou que em Palmeira<br />
dos Índios-AL, terra do genial Graciliano<br />
Ramos, um engenheiro explicava, á Câmara<br />
de Vereadores, atendendo pedido<br />
do prefeito municipal, as razões pelas<br />
quais, determinada obra, seria onerada<br />
em seu orçamento e ele explicou que “O<br />
fator principal era a Lei da Gravitação Universal<br />
ou Lei de Newton”.<br />
— Por que a gente não revoga esta lei?<br />
– interrogou o primeiro mandatário referido.<br />
— Porque esta lei é de âmbito federal –<br />
explicou o sapientíssimo presidente da<br />
Casa Legislativa.<br />
Segundo Sérgio Porto tudo ficaria por<br />
aí, se um dia ele não tivesse contando o<br />
fato a um deputado federal, ou “depufede”,<br />
como gostava de chamá-los, daqueles<br />
como o nosso famoso Fernando “Cuma”,<br />
e ele acrescentasse:<br />
— Pra você ver, eu já estou na minha<br />
terceira legislatura e nunca vi esta lei no<br />
Congresso, acredita?<br />
Tivemos “Ocride” (leia-se Euclides)<br />
Paes Mendonça, como senador, Benedito<br />
“Bosta” Valadares governador e temos o<br />
nosso Urbano “Cem Contos” deputado,<br />
mas o que me impressiona é uma professora<br />
daqui dizer “Estas mulheres do clube<br />
têm uma mau vontade”, e, ainda,“Maria<br />
disse que só com o pó desta latrinha<br />
(guaraná), esmagreceu que foi um disagêro”<br />
e ainda pleitear uma diretoria<br />
de escola.<br />
A língua pátria é a matéria prima<br />
dos advogados e conheço deles que<br />
desconhecem e desrespeitam concordância,<br />
bem como escrevem “inguinorada”,<br />
“hectárea”, além de confundir, um<br />
deles, discriminação com indiscrição<br />
(com é mesmo?).<br />
Mas acho que só o clientelismo e<br />
coronelismo políticos explicam as razões<br />
de não se exigir do candidato, a<br />
qualquer cargo público, pelo menos<br />
segundo grau de escolaridade, pois<br />
não vejo nisso falta de democracia.<br />
26<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
Vejam dois prefeitos meus conhecidos.<br />
Um deles, em visita á capital e ao governador,<br />
recebeu deste a seguinte e corriqueira<br />
indagação:<br />
— Então, senhor Prefeito, como vai a<br />
nossa zona?<br />
— Ih, Doutor, tá uma desgraça...<br />
— Por que, meu cidadão? – perguntou<br />
apreensivo o governante.<br />
— A seca tá danada de braba, o dinheiro<br />
curto e as rapariga (prostitutas) foram<br />
tudo s’imbora, hôme?<br />
Compreensivo e cortês o governador<br />
mudou de assunto:<br />
— E a televisão, o sinal está entrando<br />
bem por lá?<br />
— Não senhor, se mageia num proesia<br />
e se proseia num mageia.<br />
Traduzam, pois encontro o outro prefeito,<br />
pergunto-lhe como<br />
vão suas<br />
relações com a Câmara de Vereadores e<br />
ele me respondeu senhor de si:<br />
— Eles, agora, tão na corda curta comigo,<br />
pois tão querendo aumentar o ganhame<br />
deles e eu disse que só aprovo se<br />
eles liberá meus crédito.<br />
— Ainda mais agora que vamos ter eleições,<br />
não é? — insisti ávido pela resposta:<br />
— Pois é, quero meus crédito e até vou<br />
na Disposição (leia-se exposição!) de<br />
Gado de Guanambi manter relação com<br />
dois deputados que tão lá.<br />
Já um candidato a vereador, que troca<br />
anexo por anêcho, que só se refere a alínea<br />
como alinea, bem como que a coisa melhor<br />
do mundo é o sêcho (leia-s sexo) frágil,<br />
num casamento da roça, vendo-me<br />
cercado por seus pobres eleitores,a grande<br />
maioria clientes meus e que me têm em<br />
altíssima conta no saber, assim como o<br />
candidato, achando-me humilde naquele<br />
meio, bateu no meu tórax e sentenciou<br />
entre eufórico e incisivo:<br />
— Isto é que é um home despeitado,<br />
hein meninos?<br />
Todos o apoiaram e eu tive que<br />
agradecer o elogio, pois para eles,<br />
candidatos e eleitores, analfabetos<br />
e inofensivos, orgulho e<br />
vaidade carrega-se no peito e<br />
eu sou despejado deles.<br />
Como estamos ás vésperas<br />
de eleições, aqui e<br />
nos municípios vizinhos,<br />
fica difícil de escolher os<br />
candidatos a prefeito e vereador,<br />
uma vez que o nível<br />
dos postulantes é o mesmo<br />
dos exemplos acima.<br />
(*) Sebastião Cardoso, o Tiãozito, é<br />
tabelião aposentado em<br />
Brumado (BA)<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 27
ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />
SAIR DE CASA PRA<br />
GANHAR DINHEIRO?<br />
PARA COM ISSO<br />
A EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA LIBERTOU<br />
PROFISSIONAIS DE DIVERSAS ÁREAS DO TRABALHO<br />
QUE VIVIAM ENCARCERADOS EM ESCRITÓRIOS<br />
ADALBERTO FERRAZ<br />
Atecnologia também quebrou barreiras<br />
geográficas. Neste momento,<br />
nosso editor de texto, Carlos Alenquer,<br />
está em Brasília, de onde coordena<br />
a criação de peças publicitárias de campanhas<br />
eleitorais em várias partes do País.<br />
E nosso programador visual, Antônio<br />
Campos, comanda a reforma gráfica de<br />
um grande jornal do Nordeste. Cada um<br />
deles está a mais de 700 quilômetros da<br />
redação, com a qual estão conectados de<br />
forma permanente.<br />
A Internet foi, neste sentido, libertadora,<br />
permitindo que se trabalhe a partir de casa.<br />
O trabalho em regime de frilas tem ganhado<br />
cada vez mais espaço no mundo laboral.<br />
Na listagem abaixo, apresentamos muitos<br />
serviços que você pode fazer em casa.<br />
Alguns dependem de uma vasta rede de<br />
contatos; outros exigem pequenos investimentos.<br />
As remunerações mensais de<br />
cada uma destas profissões são baseadas<br />
nos estudos de apoio a pequenos empreendedores.<br />
(Nos Estados Unidos, buscamos<br />
socorro ao site de recrutamento de<br />
nome Indeed.com, frequentemente citado<br />
pela revista norte-americana Love Money.)<br />
1. EDIÇÃO DE IMAGEM<br />
Se você domina programas específicos<br />
para este trabalho, saiba que pode<br />
ser de grande valia para empresas de<br />
comunicação e marketing. Aqui em<br />
Belo Horizonte será possível obter R$<br />
7 mil mensais com a atividade. Mas<br />
não basta saber mexer com os botões:<br />
é necessário ter bom trânsito com pessoal<br />
de agências e propaganda e produtoras<br />
de TV.<br />
2. TRANSCRIÇÃO<br />
Para muitos jornalistas, a pior parte<br />
do seu trabalho de repórter é a transcrição<br />
de extensíssimas entrevistas. Alguns<br />
jornais, como O Tempo, contratam estagiários<br />
para essa função. Você poderia<br />
substituí-los e pode ganhar até R$ 100<br />
por dia na atividade.<br />
28<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
3. TESTE DE NOVOS SITES E<br />
APLICATIVOS<br />
Com novas empresas sites abrindo as<br />
portas todos os dias, há quem procure<br />
pessoas fidedignas e isentas para testar<br />
os seus produtos. Não é um trabalho inteiramente<br />
sustentável, mas ajuda a<br />
complementar rendimentos. Segundo<br />
especialistas, dá para salvar uns R$ 20<br />
por hora.<br />
4. ENSINO A DISTÂNCIA<br />
No mundo digital, tornou-se cada vez<br />
mais fácil ter acesso ao conhecimento<br />
através da internet. Há cursos online grátis,<br />
mas também há especialistas requisitados<br />
para ajudar alunos dos vários graus<br />
de ensino a ultrapassar dificuldades, sejam<br />
elas a matemática do 7º ano ou uma<br />
tese de metrado ou doutoramento.<br />
5. EXPERIMENTAÇÃO GASTRONÔMICA<br />
Se você tem aptidão para a culinária,<br />
esta é uma boa opção. Quem é pago<br />
para testar receitas, conferindo os tempos<br />
de cozedura, os ingredientes e os<br />
passos para a confecção do prato pode<br />
ganhar até R$ 30 mil por ano, caso consiga<br />
ser requisitado por autores de livros<br />
ou programas de televisão de culinária.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 29
Nesse caso, recomendamos que o candidato<br />
tenha plano de saúde.<br />
6. REVISÃO DE TEXTO<br />
Não é de todo fácil conseguir escrever<br />
um texto suficientemente aprofundado<br />
sem que este precise de revisão,<br />
gramatical ou de estilo. Por isso, há<br />
quem recorra a pessoas com tempo<br />
disponível para analisar palavra por palavra,<br />
frase por frase, período por período,<br />
de modo a garantir que o texto<br />
se mostre imaculado. O poeta e jornalista<br />
Paulinho Assunção, por exemplo,<br />
além de editar diariamente um blog<br />
com textos de sua autoria (e da melhor<br />
qualidade), tem uma empresa virtual, a<br />
Consultoria Criativa, “para quem pretende<br />
escrever um livro, para quem já<br />
começou a escrevê-lo e para quem deseja<br />
retrabalhar um livro já escrito”. Ele<br />
faz atendimentos semanais, quinzenais<br />
ou mensais – sempre virtuais. E deixa o<br />
endereço: assunção.paulinho@gmail.<br />
com. (A pedido do profissional, que é<br />
mineiro de soberba qualidade, entre<br />
elas a modéstia, não revelamos o valor<br />
dos seus rendimentos, que o qualificam<br />
como cliente Prime do Bradesco.)<br />
7. TRADUÇÃO<br />
O Google Tradutor ajuda a perceber a<br />
ideia de uma frase ou texto, mas nunca o<br />
traduz corretamente (especialmente para<br />
uma língua com tantas variantes como o<br />
português). Assim sendo, os especialistas<br />
em tradução conseguem ganhar entre<br />
R$ 4 e R$ 5 mil mensais em Belo<br />
Horizonte. Quem sabe mesmo inglês e<br />
estudou para isso, pode faturar até cinco<br />
vezes mais.<br />
8. RECURSOS HUMANOS<br />
Algumas pequenas empresas podem<br />
não ter o espaço nem dinheiro necessários<br />
para empregar fisicamente um<br />
gestor de recursos humanos, preferindo<br />
por isso recorrer a trabalho externo<br />
ou temporário que as ajude, a<br />
distância, a selecionar candidatos a entrevistas<br />
de emprego ou a gerir a força<br />
laboral da empresa. Profissionais que<br />
já tenham uma extensa lista de contatos<br />
conseguem ganhar, em média, R$<br />
60 mil por ano.<br />
9. CONSULTOR DE VIAGENS<br />
O mundo da Internet levou cada vez<br />
mais pessoas a querer conhecer outros<br />
lugares no mundo. Para quem tem<br />
pouco tempo, no entanto, a marcação<br />
das férias, a estadia e outros encargos<br />
são entregues à responsabilidade de<br />
consultores de viagem, que tratam de<br />
tudo pelos clientes. Trabalho personalizado,<br />
para clientes que detestam excursão<br />
com parentes e sogras (dos outros,<br />
e mesmo deles) e que, portanto,<br />
podem gastar um pouco mais com<br />
serviço tão exclusivo. É possível, com<br />
um leque de contatos extenso, que o<br />
consultor consiga lucrar até R$ 60 mil<br />
e, se der sorte e souber inglês fluentemente,<br />
ganhar um convite para a viagem.<br />
10. DESENVOLVIMENTO DE APPS<br />
Há quem tenha uma ideia brilhante<br />
para um aplicativo em celular, mas não o<br />
conhecimento técnico para a materializar.<br />
Por isso, quem ajuda remotamente<br />
as empresas neste processo consegue<br />
ganhar mais de R$ 50 mil por ano.<br />
11. GESTORES DE PROJETOS<br />
São responsáveis pelo planeamento e<br />
execução de projetos específicos de uma<br />
empresa. O fato de terem de gerir várias<br />
30<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
coisas ao mesmo tempo e em locais diferentes<br />
permite-lhes trabalhar em casa<br />
e há quem consiga amealhar mais de R$<br />
70 mil por ano.<br />
12. ASSISTENTE PESSOAL<br />
Se você tem ao seu encargo a documentação<br />
e a agenda de outra pessoa,<br />
pode perfeitamente fazê-lo a partir de<br />
casa. Quem consegue construir uma<br />
rede de contatos suficientemente estável<br />
pode ganhar mais de R$ 40 mil por ano<br />
(EUA).<br />
13. OPERADOR DE ASSISTÊNCIA<br />
MÉDICA<br />
A tecnologia tem permitido aos serviços<br />
remotos ganhar cada vez mais espaço.<br />
Para quem tem qualificações para<br />
ser enfermeiro, paramédico ou médico<br />
assistente, este trabalho pode ajudar<br />
bastante a complementar rendimentos.<br />
Você pode acompanhar a saúde do<br />
cliente a partir de sua casa, monitorando<br />
a pressão, glicose e outros índices fornecidos<br />
pela internet. Profissionais da área<br />
ganham mais de R$ 7 mil mensais, caso<br />
acrescentem visitas aos clientes para<br />
acompanhar o desempenho de cuidadores<br />
no local.<br />
14. CONTABILISTA<br />
Basta ter os acessos às contas internas<br />
da empresa para que este trabalho<br />
possa ser feito a partir de casa. A monitorização<br />
de contas empresariais em<br />
modo freelance pode render até R$ 5<br />
mil mensais, caso inclua complicadas<br />
declarações de imposto de renda.<br />
15. ANÁLISE DE DADOS<br />
Este trabalho consiste em ajudar empresas<br />
a perceber a sua fonte de lucros e<br />
a descobrir futuras fontes de rendimentos,<br />
como parcerias. Através da partilha<br />
de dados online, é possível trabalhar<br />
uma carteira de contatos suficiente para<br />
potenciar o rendimento desta profissão,<br />
que pode chegar até aos R$ 10 mil mensais<br />
(EUA).<br />
16. JORNALISMO<br />
Muitas empresas entendem que é<br />
cada vez menos necessário ter um jornalista<br />
fisicamente presente na redação. As<br />
notícias estão lá fora e para as escrever<br />
basta um leptop (ou iPhone) e ligação à<br />
Internet para enviar os textos à editoria.<br />
A rapidez, talento e rede de contatos podem<br />
garantir por volta de R$ 500 por reportagem<br />
que é feita em apenas dois<br />
dias. Ou mais, se a matéria demandar<br />
mais tempo.<br />
17. GESTÃO DE REDES SOCIAIS<br />
É vital para as empresas estarem presentes<br />
em todo o lado onde há possíveis<br />
clientes. E não há sítio mais vital que as<br />
redes sociais, onde podem atingir milhares<br />
de pessoas espalhadas pelo mundo.<br />
Deste modo, criou-se a profissão chamada<br />
de social media manager para,<br />
precisamente, otimizar os conteúdos veiculados<br />
pelas empresas para os seus<br />
clientes. Quem tiver experiência e rede<br />
de contatos consegue juntar até R$ 10<br />
mil mensais.<br />
18. REDATOR DE PROPAGANDA<br />
Quem escreve slogans ou textos para<br />
serem lidos em programas de rádio, televisão<br />
ou jornais consegue cobrar em<br />
média mais de R$ 1 mil por peça – ou,<br />
dependendo da importância do cliente,<br />
muito mais. Mais uma vez é o caso do<br />
nosso editor de texto, que exerce sua<br />
paixão pela propaganda, publicidade e<br />
jornalismo dentro de casa.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 31
A VIDA É BELA<br />
UM MINEIRO NO<br />
CAMINHO DE<br />
SANTIAGO DE<br />
COMPOSTELA<br />
A PÉ E SÓ COM O NECESSÁRIO NA MOCHILA, PERCORREMOS<br />
POR DUAS VEZES A SAGRADA TRILHA ESPANHOLA.<br />
NO TOTAL, UMA CAMINHADA DE 1.300KM<br />
32<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
ALBERTO SENA *<br />
O PEREGRINO<br />
ALBERTO SENA<br />
A CAMINHO DE<br />
SANTIAGO<br />
Foram 1.300 quilômetros a pé, com<br />
mochila nas costas contendo água, e,<br />
no mais, o estritamente necessário –<br />
uma muda de roupa, três cuecas, dois pares<br />
de meia – calçado de botinas de trekking<br />
e vestido de calça tactel, empunhando<br />
o imprescindível cajado. Na alma, carregava<br />
a sensação de estar percorrendo aquelas<br />
trilhas como trilharam um sem número de<br />
pessoas desde os tempos mais remotos,<br />
enfrentando toda sorte de dificuldades, até<br />
chegar à catedral de Santiago de Compostela,<br />
onde estão os restos mortais de Tiago<br />
Maior, apóstolo de Jesus Cristo.<br />
Quem trabalhou a vida inteira condicionado<br />
ao relógio – ou ainda trabalha –<br />
e, no meu caso particular, pressionado<br />
pelo fluxo de edição de jornal diário, quem<br />
nunca pensou em se ver livre, mas com<br />
lenço e documento, disposto a fazer a famosa<br />
caminhada de Santiago de Compostela,<br />
na Espanha?<br />
Já fizemos muitas viagens boas ao redor<br />
do mundo, mas essa de percorrer a pé o<br />
Caminho milenar, ter contato com gente de<br />
quase toda parte do mundo, é uma experiência<br />
marcante para a<br />
vida toda. Inda mais se<br />
se considerar que foram<br />
duas as oportunidades.<br />
Para quem gosta de<br />
andar e quer fazer algo<br />
considerado “uma façanha”,<br />
a melhor pedida é<br />
a pé trilhar os mais de<br />
800 quilômetros do Caminho<br />
de Santiago, saindo<br />
de Saint-Jean-de-<br />
Pied-de-Port, na França;<br />
subir as montanhas dos<br />
Pirineus franceses e atravessar<br />
a fronteira com a<br />
Espanha até a bela e<br />
cultural cidade de Santiago<br />
de Compostela,<br />
onde há quase 1.500<br />
anos estrelas apontaram<br />
o lugar da sepultura do<br />
apóstolo degolado a<br />
mando do rei Herodes.<br />
Qualquer pessoa que<br />
tenha gosto de andar<br />
pode fazer essa experiência.<br />
Isto é, se tiver<br />
bem fisicamente e possuir<br />
condições financei-<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 33
as de arcar com as passagens (de ida e<br />
volta) e a estada, fazendo o percurso que<br />
fizemos. Saímos – eu e Sílvia Batista – de<br />
Belo Horizonte a São Paulo, onde embarcamos<br />
para Madri. Tomamos outro avião e<br />
fomos para Pamplona. Lá alugamos um<br />
táxi rumo a Saint-Jean, de onde iniciamos<br />
a caminhada no dia seguinte.<br />
Não há um dia sequer<br />
em que não recordamos<br />
algo relativo<br />
à trilha de<br />
Santiago. A gente sai<br />
do Caminho, mas o<br />
Caminho nunca<br />
mais sai da gente.<br />
Para quem gosta<br />
desse tipo de experiência,<br />
imagina estar<br />
hoje em um lugar<br />
e no dia seguinte<br />
UM BOM LUGAR PARA REZAR<br />
noutro e assim por diante, conhecendo<br />
paisagens novas, gentes diferentes, curtindo<br />
passo a passo, respirando ares do<br />
campo e ouvindo o canto melodioso de<br />
passarinhos.<br />
Imagina a possibilidade de ouvir o silêncio<br />
pelas trilhas e de estar sozinho consigo<br />
mesmo tendo a oportunidade de refletir,<br />
penetrar o recôndito do seu imo.<br />
Tendo o cuidado de sempre seguir as setas<br />
amarelas. O Caminho é comparável a<br />
um curso superior com aulas ao vivo, lições<br />
carregadas de emoção, aventura, espiritualidade,<br />
misticismo, magia, filosofia,<br />
poesia, que nenhuma escola convencional<br />
seria capaz de ministrar.<br />
Evidentemente, o peregrino, pois esta é<br />
a denominação de quem inicia o Caminho,<br />
já sai do Brasil com uma credencial própria<br />
e um roteiro. Os caminhos são vários.<br />
Fizemos a primeira vez em 2001, o Aragonês,<br />
saindo de Burgos, antiga capital<br />
espanhola, e andamos 500 quilômetros<br />
em 17 dias. Nosso tempo era curto. No<br />
ano seguinte voltamos para fazer o Caminho<br />
Francês todo, mais de 800 quilômetros,<br />
em 25 dias.<br />
O mais caro da viagem são as passagens<br />
de ida e volta. Durante o percurso, o<br />
peregrino poderá gastar o dinheiro que tiver<br />
optando por ficar em hotéis ou senão<br />
em albergues públicos<br />
e privados pagos,<br />
além de hosteis. No<br />
nosso caso, ficamos<br />
em hotéis e albergues.<br />
A concepção de<br />
albergue lá é bem diferente<br />
da que temos<br />
por aqui. Os albergues<br />
espanhóis são<br />
confortáveis e relativamente<br />
baratos.<br />
Tanto é que há quem<br />
busque o Caminho até para “fazer turismo<br />
barato”.<br />
Passaram-se 16 anos quando fizemos<br />
o Caminho todo, mas posso assegurar, no<br />
trajeto de tradição milenar nada mudou.<br />
Ao que sabemos, a infraestrutura melhorou<br />
ainda mais. A estabilidade do euro<br />
garante os preços. Gastamos ao todo R$<br />
12 mil – passagens, comida, bebida (vinho<br />
tinto seco), hospedagem – em cada viagem,<br />
vivendo com razoável conforto. Mas<br />
não sabíamos o que nos aguardava logo<br />
no início, subindo os Pirineus, resumidamente<br />
será contado mais adiante.<br />
Antes de empreender a caminhada,<br />
convém o interessado pesquisar bem,<br />
agora com as facilidades da internet, e<br />
passar por uma preparação física. E a melhor<br />
delas é caminhar. Academia ajuda,<br />
mas não é a melhor opção. Nós descobrimos<br />
isso depois de fazermos a primeira<br />
experiência. Entramos para uma academia.<br />
Mas, devíamos ter feito o que fizemos<br />
34<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
na segunda vez. Durante cinco fins de semana<br />
fomos à serra do Cipó, onde andamos,<br />
ida e volta, 24 quilômetros na trilha<br />
do Parque Nacional do Cipó, da portaria<br />
até o Cânion das Bandeirinhas.<br />
Uma providência importante, antes de<br />
iniciar uma caminhada desse porte é prevenir<br />
bolhas nos pés. Acaso surja alguma,<br />
compromete a caminhada. O ideal é fazer<br />
o seguinte: calçar meias de nylon e sobre<br />
elas meias de algodão. As meias de nylon<br />
têm a propriedade de fazer a sola dos pés<br />
se deslizarem dentro da botina e isso impede<br />
o surgimento de bolhas.<br />
Um instrumento fundamental em toda<br />
caminhada do tipo é o cajado. Além de ser<br />
uma peça cheia de simbologia, o cajado<br />
serve de apoio e até como meio de defesa<br />
contra possíveis ataques de cães, como<br />
aconteceu conosco. Outra propriedade do<br />
cajado é de se tornar confidente do peregrino,<br />
como aconteceu comigo. O peregrino<br />
tanto pode fazer o próprio cajado, como<br />
foi o meu caso, como<br />
os Pirineus, onde tive um princípio de hipotermia<br />
porque escorreguei e enfiei os<br />
dois pés em um córrego de água gelada.<br />
As botas ficaram ensopadas por dentro.<br />
Em seguida, caiu granizo.<br />
Isto e muito mais é contato no livro, encontrado<br />
nas livrarias da Savassi, em Belo<br />
Horizonte: Ouvidor, Quixote, Scriptum e Savassi<br />
Livros, ao preço de R$ 60. Pode ser<br />
adquirido também pelos correios, sem<br />
custo de postagem, bastando para isso o<br />
interessado entrar em contato pelo e-mail<br />
albertosenabatista@gmail.com ou por meio<br />
de mensagem privada pelo Facebook.<br />
Não fizemos o Caminho para depois<br />
escrever um livro. A intenção não era essa.<br />
E não se trata de ficção. Fizemos o Caminho<br />
para conhecer de fato essa trilha famosa<br />
e agradecer a Deus pelo dom da<br />
vida. Mas, sabemos de muitos casos de<br />
quem fez a caminhada na ânsia de encontrar<br />
a si mesmo ou para resolver algum<br />
trauma, como aquele pai que havia acabado<br />
de perder tragicamente<br />
comprá-lo pronto.<br />
a filha de<br />
Vendedor de cajado<br />
há por todo canto.<br />
No nosso caso, o<br />
cajado acabou se tornando<br />
personagem<br />
do livro Nos Pirineus<br />
Da Alma, de minha<br />
autoria, lançado no<br />
final do ano passado<br />
em Montes Claros e<br />
em Belo Horizonte,<br />
SANTIAGO, O FIM DO CAMINHO<br />
dois anos de idade.<br />
Uma informação<br />
deve ficar bem clara<br />
na cabeça e na alma<br />
de quem pretende<br />
percorrer a pé ou de<br />
bicicleta a trilha de<br />
Santiago de Compostela:<br />
o Caminho em si<br />
não transforma ninguém.<br />
Se alguma<br />
narrando os 40 dias passados andando<br />
rumo a Santiago de Compostela. O livro é<br />
de 192 páginas, sendo 34 delas com fotos<br />
coloridas, que corroboram a narrativa.<br />
A melhor época para fazer a caminhada<br />
é na <strong>Prima</strong>vera, no mês de maio em<br />
transformação acontece, ela vem de dentro<br />
do indivíduo. O Caminho só provoca, por<br />
meio de longas, quase eternas, oportunidades<br />
de exercitar a capacidade de refletir sobre<br />
a vida e a Humanidade, contemplando<br />
as belezas deste planeta criado por Deus.<br />
diante. É possível deparar com dias chuvosos,<br />
principalmente no início, ao subir * Alberto Sena é jornalista e escritor<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 35
SEU MELHOR MÉDICO É VOCÊ<br />
A NOVA FONTE<br />
DA ETERNA<br />
JUVENTUDE<br />
EMPRESA NORTE-AMERICANA DISPONIBILIZA<br />
TRANSFUSÕES DE SANGUE DE ADOLESCENTES<br />
PARA COMBATER OS EFEITOS DO ENVELHECIMENTO<br />
CATARINA BALLESTEROS<br />
Segundo uma start-up, o sangue<br />
adolescente pode ser o elixir de<br />
juventude<br />
É mais um daqueles casos em que a<br />
vida (quase) imita a ficção. Na produção<br />
cinematográfica de 2015, Mad Max: Estrada<br />
da Fúria, Max (interpretado pelo<br />
ator Tom Hardy) é aprisionado e ten seu<br />
sangue retirado para curar um guerreiro<br />
doente. É claro que no filme isso é passado<br />
num deserto pós-apocalíptico mas<br />
a mesma ideia base está ocorrendo<br />
neste exato momento nos Estados Unidos<br />
da América.<br />
A empresa Ambrosia, uma start-up<br />
com instalações em Tampa e San Francisco,<br />
promove tratamentos com recurso<br />
a transfusões de sangue para retardar o<br />
processo de envelhecimento. “O sangue<br />
jovem é uma excitante nova terapia que<br />
mostra promessas no que diz respeito<br />
ao processo de envelhecimento e também<br />
no retrocesso de danos causados<br />
pela doença de Alzheimer. Os nossos<br />
36<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
pacientes já demonstraram melhorias<br />
na qualidade da pele, bem como aumento<br />
de energia e memória”: este é o<br />
texto que pode ser lido no site oficial da<br />
empresa, que acrescenta: os tratamentos<br />
são ambulatórios e demoram cerca<br />
de duas horas.<br />
DE ONDE VEM O SANGUE? Majoritariamente<br />
de adolescentes, sendo requisito<br />
básico que pertença a indivíduos com<br />
25 anos ou menos — mas os jovens podem<br />
não saber exatamente para que fins<br />
o sangue está sendo usado, dado que a<br />
empresa adquire o seu fornecimento<br />
através de bancos de sangue, que também<br />
vendem o produto a laboratórios<br />
farmacêuticos.<br />
De acordo com declarações de Jesse<br />
Karmazin, médico formado na Stanford<br />
Medical School e fundador da Ambrosia,<br />
na Code Conference (uma conferência<br />
de âmbito tecnológico), em junho de<br />
2017, a empresa não promete acabar<br />
com os efeitos do envelhecimento. Porém,<br />
Karmazin afirmou que pretende recrutar<br />
centenas de pessoas para estudar<br />
se as transfusões podem tratar sintomas<br />
associados ao processo de envelhecimento.<br />
O fundador acrescentou também que<br />
quem já se submeteu a estas transfusões<br />
observou efeitos positivos e não reportou<br />
negativos. As transfusões de sangue<br />
podem acarretar diversos riscos,<br />
incluindo reações alérgicas.<br />
NÃO É PARA TODOS OS BOLSOS. Na mesma<br />
conferência, Jesse Karmazin comunicou<br />
que cerca de 100 pessoas já se tinham<br />
inscrito para receber estes tratamentos.<br />
No entanto, estes não estarão ao alcance<br />
de todas as pessoas: no site oficial da<br />
empresa podemos verificar que os tratamentos<br />
começam nos US$ 8 mil, o<br />
que corresponde aproximadamente a R$<br />
30 mil.<br />
Apesar de ainda não existir qualquer<br />
base científica que suporte essa pesquisa<br />
e consequentes tratamentos, o<br />
caso está causando muitas discussões<br />
nos EUA, e circularam vários rumores,<br />
ligando nomes fortes na área da tecnologia<br />
e Sillicon Valley à empresa.<br />
O fundador da Ambrosia declarou que<br />
qualquer pessoa acima de 35 anos pode<br />
tornar-se seu cliente, mas que a maior<br />
parte dos indivíduos que já tinham ou<br />
estavam para receber as transfusões se<br />
encontram na terceira idade.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 37
É DESSE JEITO<br />
MULHERES COBRAM<br />
TAXA DO SEXO DE<br />
MARIDOS PREGUIÇOSOS<br />
MAIS DE 30 MIL MULHERES UGANDESAS EXIGEM QUE OS<br />
HOMENS IRRESPONSÁVEIS – QUE NÃO CONTRIBUEM PARA AS<br />
DESPESAS – PAGUEM SE QUISEREM TER RELAÇÕES SEXUAIS<br />
38<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
DULCE NETO<br />
O movimento da “taxa do sexo”<br />
está dividindo Uganda,<br />
onde não há sexo grátis<br />
Pode uma mulher exigir do marido<br />
que lhe pague se ele quiser ter sexo<br />
com ela? “Não”, diz o ministro da<br />
Ética e da Integridade do Uganda, o reverendo<br />
Simon Lokodo: “Ter sexo com a<br />
esposa é um direito do homem”. O governante,<br />
citado pelo jornal nigeriano<br />
Pulse, argumenta que “negar sexo a um<br />
marido é injusto. Porque é que as mulheres<br />
terão que cobrar pelo sexo para<br />
ter benefícios econômicos? Essa prática<br />
mostra como a moral tem descido tanto”.<br />
“Sim”, diz Tina Musuya, diretora executiva<br />
do Centro de Prevenção da Violência<br />
Doméstica no mesmo país. A ativista<br />
pelos direitos das mulheres<br />
sustenta, em declarações à revista digital<br />
norte-americana OZY: “Se os homens são<br />
irresponsáveis e se é a única maneira de<br />
as mulheres conseguirem ter dinheiro deles<br />
para gerir a casa, então deixem que<br />
elas cobrem pelo sexo. Injusto é pensar<br />
que uma mulher pode gostar de ter sexo<br />
com o marido que não paga as contas”.<br />
A verdade é que mais de 30 mil mulheres<br />
ugandesas viram na “taxa do sexo”<br />
uma solução para um problema que as<br />
atinge: o de os maridos serem preguiçosos,<br />
não trabalharem ou então gastarem<br />
tudo o que ganham em álcool e com outras<br />
mulheres sem contribuírem para as<br />
despesas da casa e da família.<br />
GRANA OU ABSTINÊNCIA. 150 mulheres exigiram<br />
dinheiro – cerca de R$ 30 – para<br />
terem relações sexuais com os maridos.<br />
O número de mulheres cresceu para<br />
cinco mil em 2016 e tornou-se numa estratégia<br />
que alastrou e dividiu o país. Se<br />
as mulheres e as organizações de direitos<br />
humanos a defendem, o mesmo não se<br />
pode dizer dos ministros e dos líderes<br />
religiosos que a consideram “imoral” e<br />
“nada religiosa”.<br />
Só que o gesto parece estar contribuindo<br />
para o aumento da violência doméstica,<br />
galopante em Uganda, tendo já<br />
havido registro de mortes. Os homens<br />
que não querem pagar para ter sexo com<br />
as mulheres, simplesmente as espancam.<br />
Foi o que aconteceu com Philipe Byabasaija,<br />
empregado de loja, citado pela OZY:<br />
“Isso é estúpido. Como é que a minha<br />
mulher me pode exigir dinheiro?” Quando<br />
a mulher exigiu, ele agrediu a esposa e<br />
ela desistiu da ideia.<br />
GRANA E COLABORAÇÃO. Outros homens<br />
tiveram atitudes diferentes, não só pagando<br />
como aceitando partilhar tarefas<br />
domésticas. O marido de Beatrice Atim,<br />
vendedora no mercado, que saía para o<br />
trabalho sem lhe deixar dinheiro para as<br />
despesas, aceitou pagar R$10 para transar<br />
com ela. “Ele não discute porque sabe<br />
que o dinheiro é para ser usado na casa”,<br />
diz Beatrice.<br />
Já a professora de 34 anos, Annet Nanozi,<br />
zangada com o marido, um mecânico<br />
de automóveis que deixara de pagar<br />
a comida da família e gastava o salário<br />
em álcool e para dormir com garçonetes,<br />
decidiu seguir o mesmo caminho. Agora<br />
o marido Tem que soltar a granao se quer<br />
ter relações sexuais com ela.<br />
Thomas Owori, taxista, seguiu um processo<br />
mais lento. Primeiro recusou-se a<br />
pagar à mulher e até a esbofeteou<br />
quando ela o exigiu. Mas aos poucos acabou<br />
por entender suas razões e cedeu.<br />
Agora, paga R$ 20 sempre que quer ter<br />
sexo com ela.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 39
AUTOAJUDA<br />
10 PERGUNTAS<br />
PARA OS CASAIS<br />
RESPONDEREM<br />
HONESTAMENTE<br />
(E DESCOBRIR SE SERÃO FELIZES<br />
PARA SEMPRE OU SE NADA TÊM A<br />
VER UM COM O OUTRO)<br />
SANDRA FIORANI<br />
Neste teste do amor, realizado a<br />
partir de um estudo da Universidade<br />
de Exeter, no Reino Unido,<br />
estão incluídas questões relacionadas<br />
com a amizade forte que o casal tem<br />
ou não e com os objetivos de vida futuros<br />
de cada um – isto é, se são compatíveis<br />
um com o outro.<br />
Os pesquisadores apresentaram<br />
questionários a mais de 40 casais que,<br />
tendo casado há dez anos, continuavam<br />
juntos ou, pelo contrário, se tinham divorciado,<br />
e a mais cinco casais em relacionamentos<br />
que duravam 15 anos.<br />
Os resultados do estudo mostraram<br />
que os casais com relacionamentos bem<br />
sucedidos tinham sido, com frequência,<br />
amigos antes de se envolverem, conversavam<br />
regularmente sobre problemas<br />
do dia a dia e conseguiam ultrapassar<br />
juntos momentos estressantes.<br />
Já no caso dos casais que terminaram<br />
as suas relações, os motivos para<br />
a separação foram, na maioria das vezes,<br />
por problemas financeiros ou relacionados<br />
com os filhos. Também o fato<br />
de haver casais com expectativas irreais<br />
sobre própria relação e de existir<br />
falta de esforço de uma das partes em<br />
mantê-la viva foram problemas apontados<br />
pelos casais como razão para a<br />
ruptura.<br />
A advogada britânica Sara Dores, conhecida<br />
por representar frequentemente<br />
membros da família real britânica<br />
e outras celebridades em<br />
processos de divórcio, e que ajudou a<br />
compilar as perguntas, afirma que<br />
“mais de 50% das pessoas que a consultam<br />
sobre este tipo de assuntos disseram<br />
ter percebido muito cedo que os<br />
seus casamentos eram incompatíveis”.<br />
Também Anne Barlow, uma das autoras<br />
do estudo, defende que, apesar de<br />
todas as relações serem diferentes,<br />
porque as pessoas também o são, os<br />
dados revelaram que as pessoas com<br />
“relacionamentos bem sucedidos partilham<br />
algumas qualidades que são fundamentais”.<br />
40<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
Aqui, as 10 perguntas que os casais<br />
deveriam responder. Com toda sinceridade<br />
Eu e o meu parceiro<br />
1. encaixamos?<br />
Temos uma amizade<br />
forte? 2.<br />
Conseguimos ver o<br />
3. melhor um do outro?<br />
As nossas expectativas<br />
são realistas? 4.<br />
Queremos as mesmas<br />
coisas relativa-<br />
5.<br />
mente à relação e à<br />
vida?<br />
Conseguimos discutir<br />
assuntos juntos? 6.<br />
Somos capazes de<br />
7. manter a nossa relação<br />
viva?<br />
Conseguimos assumir<br />
o compromisso 8.<br />
de fazer as coisas<br />
resultarem em algo<br />
positivo, mes mo nos<br />
momentos difíceis?<br />
Seríamos capazes<br />
9. de ultrapassar situações<br />
estressantes?<br />
Temos apoio de<br />
10. outras pessoas à<br />
nossa volta?<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 41
HORA EXTRA<br />
13 COISAS QUE<br />
APRENDI COM<br />
ROBIN WILLIAMS<br />
OPINIÕES, COMENTÁRIOS E REVELAÇÕES QUE NÃO<br />
PODEM FICAR PARA DEPOIS (NEM PARA A PRÓXIMA<br />
EDIÇÃO) E DEVEM SER DITAS OU MOSTRADAS AGORA<br />
JOÃO PAULO COLTRANE<br />
Mesmo uma revista como <strong>Matéria</strong>-<br />
<strong>Prima</strong>, que tem o propósito de falar<br />
de coisas exclusivamente mineiras<br />
(ou com inequívoca repercussão no<br />
estado), não pode se omitir diante da<br />
morte dolorosa do extraordinário ator Robin<br />
Williams, aos 63 anos. Ele frequentou<br />
muitas vezes as salas de cinemas da cidade<br />
e em cada uma delas se estendeu<br />
por muitos dias, até semanas. Vai daí, consideramos<br />
gente nossa esse ator engraçadíssimo<br />
e sua maravilhosa visão da vida.<br />
Alguém disse que ele teve acesso à<br />
versão mais complexa de todas as emoções<br />
que tivemos. E quando ele usou<br />
esse acesso para nos fazer rir, não houve<br />
ninguém melhor no mundo que ele. Sob<br />
esse aspecto Robin foi extraordinariamente<br />
generoso, pois entregou todo o<br />
seu talento e sagacidade para nós.<br />
Selecionamos 13 coisas importantes<br />
que ele nos revelou em seus filmes.<br />
1. Errado é errado, mesmo quando ele<br />
te ajuda.<br />
2. Não importa o que alguém lhe diz,<br />
palavras e idéias podem mudar o<br />
mundo.<br />
3. O espírito humano é mais poderoso<br />
que qualquer droga.<br />
4. Para viver intensamente, viver seria<br />
uma tarefa terrivelmente gigantesca.<br />
5. Há três coisas que você precisa:<br />
respeitar todas as pessoas e seus estilos<br />
de vida, a sua saúde e um blazer (casaco)<br />
azul marinho.<br />
6. Faça a sua vida espetacular.<br />
7.. Chorar nunca ensinou ninguém a<br />
fazer qualquer coisa. Se você tiver algum<br />
problema, trate de enfrentá-lo como um<br />
homem.<br />
8. Você só tem noção das suas perdas<br />
quando perder alguém a quem<br />
amou mais que a si mesmo.<br />
9. O que algumas pessoas chamam<br />
de impossível é apenas aquilo que eles<br />
não viram antes.<br />
1o. Sim, já enfrentamos e ainda enfrentaremos<br />
muitas doenças. Mas a pior<br />
42<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
“NÃO FREQUENTO CLUBES QUE ME ACEITAM COMO SÓCIO” (GROUCHO MARX)<br />
de todas é a indiferença.<br />
11. Ninguém tira uma foto daquilo que<br />
deseja esquecer.<br />
12. Eu costumava pensar que a pior<br />
coisa na vida era acabar sozinho. Não é.<br />
A pior coisa na vida é acabar como as<br />
pessoas que fazem você se sentir sozinho.<br />
13. Mesmo quando você estiver completamente<br />
limpo, lembre-se que pode<br />
cair na lama.<br />
COISAS QUE NÃO SÃO<br />
TÃO BOAS COMO PARECEM<br />
1. Café da manhã na cama. Haverá<br />
migalhas espalhadas por toda parte e<br />
que te espetarão hoje à noite. Também<br />
não há um lugar seguro para se colocar<br />
o suco de laranja.<br />
2. Ver sua namorada correr numa ma-<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 43
atona, domingo pela manhã. A largada<br />
é às sete horas, na Pampulha. E os organizadores<br />
pedem para se chegar uma<br />
hora antes.<br />
3. Um dueto de karaokê num bar. Não<br />
há vencedores aqui. (ADALBERTO FER-<br />
RAZ).<br />
COMO IDENTIFICAR UM<br />
TRANSEXUAL<br />
Um amigo confessou-me, preocupado,<br />
que estava sem sorte. Na última semana,<br />
foi a um bar por duas vezes seguidas e<br />
se apaixonou por mulheres maravilhosas.<br />
Em ambos os casos, poucos minutos<br />
após os primeiros beijos, ele percebeu<br />
que estava com um transexual, que é tipo<br />
de pessoa que não faz parte da sua preferência<br />
amorosa. O que fazer para não<br />
passar por novos constrangimentos? Respondi:<br />
– É simples. Saia com um rato no<br />
bolso do paletó e mostre para ela. Se ela<br />
fugir, com certeza, será uma mulher. Aí<br />
então, você poderá continuar nos amassos.<br />
(DURVAL GUIMARAES)<br />
E O EINSTEIN NÃO<br />
ACREDITAVA EM<br />
NOSSA ASTÚCIA<br />
Einstein, o grande físico, cheio de moral<br />
resolve detonar o Mineirinho.<br />
Einstein: Mineirinho, vou te fazer uma<br />
pergunta, se não souber responder você<br />
me paga R$ 1,00. Você me faz outra, se<br />
eu não souber a resposta eu te pago<br />
R$10 mil.<br />
Mineirinho: Tá certo.<br />
Einstein: O que quer dizer E=mc2?<br />
Mineirinho: Toma um real.<br />
Einstein: Obrigado.<br />
Mineirinho: Einstein, qual é o animal<br />
que entra no mato com quatro pernas e<br />
sai com duas?<br />
Einstein: Toma aqui R$10 mil.<br />
Mineirinho: Tô no lucro, uai!<br />
Einstein: Agora, Mineirinho, me diz:<br />
qual é mesmo esse animal que entra no<br />
mato com quatro pernas e sai com duas?<br />
Mineirinho: Toma um real, sô! (Enviado<br />
por BETH ROSA).<br />
OS INIMIGOS<br />
DA FELICIDADE<br />
Um leitor nos indaga quais são os<br />
grandes inimigos da felicidade, vejam só!<br />
Em atenção ao assinante, reunimos a redação<br />
na hora do recreio (de 15h30 às<br />
19h00). Da discussão, brotaram as seguintes<br />
luzes:<br />
44<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
Disponibilidade. De uma maneira geral,<br />
só conquistamos nossos objetivos<br />
com as armas que se encontram à disposição.<br />
Mas o que está à disposição<br />
nem sempre é excelente. “Porque ela estava<br />
lá” é um bom motivo para escalar<br />
uma montanha. Mas, coisas fantásticas<br />
nem sempre estão à nossa frente. Você<br />
terá de construí-las.<br />
Preguiça de pensar. Se não sabemos<br />
como fazer algo grandioso, simplesmente<br />
não iremos fazê-lo. Se não soubermos<br />
que a grandeza é possível, não<br />
há como construí-la.<br />
Consenso. O consenso é uma forma de<br />
unanimidade, e como todas elas, é burra –<br />
já repetia Nelson Rodrigues. Há consensos<br />
impossíveis. Imagine Galileu aceitando um<br />
consenso: “Durante o dia, a terra gira em<br />
torno do sol; à noite é o contrário”.<br />
Conforto. Por que perseguir a grandeza,<br />
quando você tem 324 canais de TV à sua<br />
disposição e uma cadeira reclinável?<br />
Rotina. Se você faz as mesmas coisas,<br />
repetidamente, há anos, você está num<br />
buraco. Outras pessoas chamam a isso<br />
de “minha carreira profissional”.<br />
Passividade. Há uma diferença entre<br />
ser agradável e concordar com tudo. Você<br />
pode dizer amistosamente que tem outra<br />
opinião sobre o tema. E siga em frente.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 45
AQUI ENTRE NÓS<br />
VOCÊ QUER DORMIR<br />
COMIGO OU ESTÁ ME<br />
CADASTRANDO PARA<br />
O BOLSA FAMÍLIA?<br />
NEM SEMPRE PERGUNTAR DEMAIS É A MELHOR<br />
MANEIRA DE DAR INÍCIO A UMA GRANDE AMIZADE<br />
SYMPHRONIO VEIGA<br />
Itapecericano do Tamanduá, com 60<br />
anos como jornalista profissional registrado<br />
no Ministério do Trabalho, cabeça<br />
boa e cara ruim, Symphronio Veiga não<br />
perdeu a graça, pelo menos para contar<br />
coisas que fazem rir. Quem preferir, pode<br />
escolher ‘como escrever legal’ a partir de<br />
‘com o texto errado’.<br />
COM O TEXTO ERRADO<br />
COMO ESCREVER LEGAL - Era comum<br />
antigamente, o aluno concluir o<br />
curso primário conhecendo o necessário<br />
e o suficiente da Língua Pátria para falar<br />
e escrever corretamente. Já no curso ginasial,<br />
eram poucos os que desconheciam<br />
de cor e salteado as regras de gramática.<br />
Os erros cometidos por falta de<br />
conhecimento de concordância, regência<br />
e grafia eram insignificantes, raros. Na<br />
década de 50, por exemplo, os profissionais<br />
mais antigos e tarimbados nas redações<br />
de jornais tinham pouco trabalho<br />
na correção dos originais que desciam<br />
“penteados” (copidescados) para os linotipistas<br />
nas oficinas. Que o digam o então<br />
chefe de redação do Diário de<br />
Minas, Milton Fernandes, e o secretário<br />
Urias Botelho ou o copy Fernando<br />
Dias Correia e o chefe de<br />
reportagem Fernando Roquette Reis, da<br />
Folha de Minas, ou, ainda, o circunspecto<br />
Odair de Oliveria, do Estado de<br />
Minas. As anotações do trabalho de correção<br />
de texto eram sempre observadas<br />
pelos focas. No quadro de avisos, lia-se<br />
indicações como estas:<br />
- Não confunda: ‘senão’, que quer dizer<br />
“caso contrário” e ‘se não’, equivale<br />
a “se por acaso não”. Chegue cedo, senão<br />
eu vou embora. Se não chegar cedo,<br />
eu vou embora.<br />
- ‘Taxar’ quer dizer ‘tributar’, ‘fixar<br />
preço’. ‘Tachar’ é ‘atribuir defeito’, ‘acusar.<br />
46<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
- E nunca diga: ‘Eu torço para o Cruzeiro’.<br />
Quem torce de verdade, ‘torce<br />
pelo Cruzeiro’.<br />
- Há viagem com G (substantivo) e<br />
viajem com J (verbo) .<br />
- Geralmente, se usa<br />
o ‘x depois da sílaba inicial<br />
en’: enxaguar, enxame,<br />
enxergar, enxaqueca,<br />
enxofre, enxada,<br />
enxoval, enxugar, etc.<br />
Mas cuidado com as exceções:<br />
encher e seus<br />
derivados (enchimento,<br />
enchente, enchido,<br />
preencher etc) e<br />
quando en se junta a<br />
um radical iniciado por<br />
ch: encharcar (de<br />
charco), enchumaçar<br />
(de chumaço), enchiqueirar (de chiqueiro),<br />
etc.<br />
- ‘Afim’ tem relação com afinidade:<br />
gostos afins, palavras afins. ‘A fim<br />
de’ equivale a para: veio logo a fim<br />
de me ver bem vestido.-<br />
‘Falir’ é um<br />
’verbo<br />
defectivo. No presente<br />
do indicativo<br />
só apresenta a primeira<br />
e a segunda<br />
pessoa do plural:<br />
nós falimos, vós falis.<br />
- Algures é um<br />
advérbio de lugar e<br />
quer dizer ‘em algum<br />
lugar’. Já alhures significa<br />
‘em outro lu-<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 47
gar’.<br />
- Ancião tem três plurais: ‘anciãos’,<br />
‘anciães’, ‘anciões’.<br />
- Não existe aterrisar. O certo é aterrissar,<br />
com dois s.<br />
- Ainda se vê muito nas entradas a<br />
expressão bem vindo e/ou benvindo. As<br />
duas estão erradas. Deve-se<br />
escrever ‘bem-vindo’, com hífen, quando<br />
se referir à saudação de chegada.<br />
- Pouca gente sabe, mas o plural<br />
de caráter é ‘caracteres’. João é um<br />
bom-caráter, mas os dois irmãos dele<br />
são dois maus-caracteres.<br />
- ‘Você não bebe a champanhe. Bebe<br />
o champanhe’. É palavra masculina.<br />
- Não devemos dizer estadia em lugar<br />
de estada. Portanto, a minha estada no<br />
Rio de Janeiro durou dois dias. Mas<br />
a estadia do navio em Porto Alegre demorou<br />
três dias. Portanto, ‘estada para<br />
permanência de pessoas, e estadia para<br />
navios e outros veículos’.<br />
- É frequente se ouvir no rádio os entrevistados<br />
dizerem: Há muitos ‘anos<br />
atrás...’ Talvez nem saibam que estão<br />
construindo uma frase redundante. Afinal,<br />
há já dá idéia de passado. Ou se diz<br />
simplesmente ‘há muito anos...’ ou ‘muitos<br />
anos atrás...’<br />
- Não tenho ‘nada a ver’ com isso, e<br />
‘não haver’ com isso.<br />
- Toda vez que usar o ‘verbo<br />
gostar’ tenha cuidado com a ligação que<br />
ele tem com a preposição de. Ex: a coisa<br />
de que mais gosto é passear no parque.<br />
A pessoa de que mais gosto é minha<br />
mãe.<br />
- Só use ‘quantia’ para somas em dinheiro.<br />
Para o resto, pode usar ‘quantidade’.<br />
Veja: Recebi a quantia de 20 mil<br />
cruzeiros. Era grande a quantidade de<br />
animais no meio da pista.<br />
- Fique atento: só<br />
empregamos ‘São’ antes de nomes que<br />
começam por consoante: ‘São Mateus’,<br />
‘São João’, ‘São Tomé’, etc. Se o nome<br />
começa por vogal ou h, empregamos<br />
‘Santo: ‘Santo Antônio’, ‘Santo Henrique’,<br />
etc.<br />
CONVERSA DE BOTEQUIM<br />
NA MESA 7<br />
- Você é linda!<br />
- Obrigada.<br />
- Tá solteira?...<br />
- Estou.<br />
- Tem filho?<br />
- Tenho.<br />
- Quantos?<br />
- Você quer dormir comigo ou me cadastrar<br />
para o Bolsa Família?<br />
NA MESA 3<br />
Pai, posso pegar aquela lourinha filha<br />
da vizinha?<br />
- Não filho, eu pulei a cerca, a filha da<br />
vizinha é sua irmã.<br />
A mãe, ao lado, ouve e interfere:<br />
“Pode sim, filho. Este aí não é seu pai.”<br />
~~~<br />
ELE: “Chega, pra mim você morreu.”<br />
ELA: “Então, agora vou te chamar de<br />
viúvo.”<br />
(Marido e mulher discutindo o fim da<br />
relação na porta do Clube Mackenzie<br />
– BH)<br />
SONEGAÇÃO BEM BOLADA<br />
Mardoqueu parou o caminhão na<br />
frente da loja do Seu Nagib, na Praça do<br />
Triunfo, em Itapecerica do Tamanduá. E<br />
falou:<br />
- Seu Nagib, tem aqui um caminhão<br />
de arroz sem nota pela metade do preço,<br />
o senhor aceita?<br />
- Claro que Nagib aceita - e vira-se<br />
para o filho e pede:<br />
48<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
- Kaled, vai bra esquina da travessa dr.<br />
Gabriel Passos e se abarecer fiscal vem<br />
corendo avisar babai.<br />
Começam a descarregar e aparece<br />
Kaledinho, correndo:<br />
- Babai!... Fiscal vem vindo!<br />
- Bára tudo e volta caregar - grita Nagib.<br />
Chega o fiscal:<br />
- Venda grande não é seu Nagib?<br />
- Ôh ôh, melhor venda do ano que Nagib<br />
feiz...<br />
- E isso aí tem nota?<br />
- Ainda num tem nota borquê<br />
Nagib está esberando carega bra<br />
ver quanto mercadoria cabe na<br />
caminhón... daí, Nagib tira nota.<br />
- Não pode! diz o fiscal. A nota<br />
fiscal tem de ser emitida antes de<br />
carregar!<br />
- Ah!... Antão bára tudo, que<br />
Nagib non qué brobrema com<br />
receita!...<br />
- Volta, volta, descarega tudo<br />
caminhón e guarda lá dentro<br />
do loja!....<br />
NO TERAPEUTA<br />
AMOR DE MENOS - Aconteceu<br />
em ITABERABA (metade ITApecerica,<br />
metade uBERABA). Com mais<br />
de 30 anos de matrimônio, Atanavir<br />
e Dinavir vão ao psicólogo. A mulher<br />
tira uma lista longa e detalhada de todos<br />
os problemas que teve com o marido durante<br />
o matrimônio: “Pouca atenção, falta<br />
de intimidade, vazio, solidão, não se sentir<br />
amada, não se sentir desejada”...<br />
A lista era enorme. Ainda lendo a lista,<br />
o terapeuta aproxima-se da mulher, pede<br />
que ela pare e lhe dá um beijo apaixonante,<br />
enquanto o marido, desconfiado,<br />
observa os dois.<br />
A mulher fica muda e senta-se na cadeira,<br />
meio aturdida. O terapeuta se dirige<br />
ao marido e lhe diz: “Isto é o que<br />
sua esposa necessita ao menos três vezes<br />
por semana. Pode fazê-lo?”<br />
O marido medita um instante e responde:<br />
“Bem, posso trazê-la aqui nas segundas<br />
e quartas. Mas nas sextas tenho<br />
futebol”.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 49
ERA SÓ O QUE FALTAVA<br />
DA COLHER DE<br />
PEDREIRO À<br />
AGULHA DE TRICÔ<br />
IVANI CUNHA<br />
Seu pai sabe tricotar?<br />
Isso mesmo: “Tricô – tecido executado<br />
à mão com duas agulhas<br />
onde se armam as malhas de modo que<br />
o fio, passando de uma agulha a outra,<br />
permite a execução de dois tipos de<br />
ponto que servem de base a grande variedade<br />
de padrões”.<br />
Acrescento à definição do “Aurélio”<br />
que tricotar é um exercício de paciência;<br />
exige grande concentração principalmente<br />
dos iniciantes. No entanto, com<br />
alguma prática, a pessoa pode fazer<br />
tricô dividindo a atenção com a TV, o rádio<br />
e ao mesmo tempo participar<br />
de um bate-papo. Parece<br />
que as mãos<br />
aprendem a fazer tudo sozinhas.<br />
Trabalho, passatempo, vício,<br />
o tricô é coisa de... mulher.<br />
Meu pai, com suas mãos ásperas de<br />
operário da construção civil, ignorou<br />
esse estigma e aprendeu a fazer tricô.<br />
Iniciou-se por acaso, nessa arte,<br />
numa das longas fases de afastamento<br />
do trabalho motivadas pela doença de<br />
Chagas, que o levaria desta vida antes<br />
dos 60 anos.<br />
Uma das minhas irmãs treinava com<br />
as agulhas diante dele, que lia o seu jornal<br />
kardecista. Um olho nas páginas, outro<br />
nas mãos da filha, nas agulhas que<br />
iam e vinham, depois voltavam ao início<br />
formando a teia.<br />
Ele decorou a posição das mãos, a altura<br />
em que deveria ficar a peça diante<br />
dos olhos, a trajetória das agulhas, seus<br />
volteios, quando fazer inserção única ou<br />
dupla nas carreiras, todos os detalhes.<br />
Esperou até a filha se levantar da cadeira<br />
para ir à cozinha ou ao banheiro.<br />
Então pegou os novelos de lã, as agulhas<br />
e começou a atravessá-las na peça<br />
com movimentos sincronizados, comparando<br />
de tempo em tempo o resultado<br />
do trabalho com o já produzido pela titular<br />
do serviço.<br />
50<br />
AGOSTO DE 2018 • MATERIAPRIMAREVISTA.COM.BR
Estava bem concentrado quando a<br />
dona do tricô retornou à sala. O pai lhe<br />
entregou logo os apetrechos e reiniciou<br />
a leitura do jornal espírita. A filha procurou<br />
algum estrago em seu tricô e não<br />
encontrou. Se tivesse prestado atenção<br />
no homem à sua frente, naquele momento,<br />
veria seu meio-sorriso de satisfação.<br />
Talvez até pudesse ler em seus<br />
olhos que ele achara muito mais fácil<br />
aprender a tricotar do que levantar paredes<br />
e fazer os acabamentos das obras<br />
– e nisso ele era mestre.<br />
Tricotar era bem mais fácil e deixava<br />
a cabeça leve, os problemas esquecidos<br />
horas e horas numa parte escura<br />
da memória.<br />
Assim, ele aprendeu a produzir sapatinhos<br />
e fez um par de lã azul clarinha<br />
para o primeiro neto. Depois tricotou<br />
uma blusinha de mangas compridas na<br />
mesma tonalidade para o bebê.<br />
Os filhos se surpreenderam só um<br />
pouco com a nova diversão do pai. Bem<br />
melhor do que o vício do cigarro, que ele<br />
cultivou desde a juventude e só abandonou<br />
depois dos quarenta por causa de<br />
muitas advertências dos médicos.<br />
Durou pouco o gosto pelo tricô, mas<br />
valeu como mais uma demonstração de<br />
versatilidade daquele homem que aprendeu<br />
a tocar violão de ouvido, tinha sempre<br />
um livro à mão e evitava ensinar o<br />
significado das palavras (“Meu filho, consulte<br />
o nosso dicionário e aproveite para<br />
aprender mais lendo também o sinônimo<br />
da palavra que vem antes<br />
e o daquela que vem<br />
depois desta que<br />
você procura”).<br />
Desconhecia a<br />
barreira que, naquela<br />
época, impedia<br />
a maioria dos homens de assumir<br />
o fogão e preparava bolos<br />
e broas de fubá deliciosos no<br />
forno a lenha e, depois, no fogão<br />
a gás (“Não comam quente porque<br />
terão dor de barriga”, dizia,<br />
depois de conferir o cozimento enfiando<br />
o cabo do garfo na massa).<br />
Além disso, nos períodos em que tinha<br />
condições de trabalhar, levantava mais<br />
cedo cantando modinhas antigas e preparava<br />
um feijão tropeiro legítimo, com<br />
todos os ingredientes e temperos proibidos<br />
pelo médico.<br />
Nunca mais comi feijão tropeiro com<br />
aquele sabor, e até hoje não sei de ninguém<br />
que use com a mesma competência<br />
a colher de pedreiro e a agulha de tricô.<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 51
PALAVRA DO LEITOR<br />
O INDI não começou na semana passada<br />
Grato pelo envio da edição de julho da<br />
revista <strong>Matéria</strong> <strong>Prima</strong>. Foi nela que fiquei<br />
sabendo que o INDI comemorou 50 anos,<br />
através da mensagem publicada do Dr.<br />
Abílio dos Santos, um de seus fundadores<br />
e ex-Presidente. Curiosamente, fui um de<br />
seus Diretores no Governo do Dr. Itamar<br />
mas como trataram o Dr. Abílio desse<br />
jeito, devem ter esquecido que outras<br />
pessoas lá serviram como diretores ao<br />
longo desses 50 anos.<br />
IVAN LIBÂNIO VIANNA<br />
BH- MG<br />
Ninguém critica os salários do futebol<br />
Nesta campanha eleitoral, vários candidatos<br />
à presidência da República mostraram<br />
sua mentirosa compaixão com os pobres,<br />
reclamando da desigualdade salarial pago<br />
nas empresas. Um simplesmente disse<br />
que é fundamental as empresas alterarem<br />
radicalmente a política de salários pois<br />
não é aceitável a grande disparidade entre<br />
os salários de topo, dos administradores,<br />
e os salários mais baixos e médios.<br />
Na verdade, são afirmações simplistas.<br />
Não vejo ninguém falar dos salários que<br />
se pagam no futebol e noutras áreas, a<br />
pessoas com muito menos qualificações.<br />
Num clube de futebol, um roupeiro ganha,<br />
quase sempre, o salário mínimo, enquanto<br />
as estrelas recebem valores estratosféricos.<br />
Mas esses senhores não fazem essas<br />
comparações.<br />
MARCELO BAMBIRRA<br />
BH – MG<br />
As máquinas roubam mais empregos.<br />
Há pouco tempo visitei as instalações<br />
de nova unidade da Fiat Automóveis em<br />
Betim, onde conviviam 150 trabalhadores<br />
humanos com outros tantos robôs. Está<br />
claro que essas máquinas, muito mais<br />
eficientes que o homem, estão roubando<br />
nossos empregos.<br />
Então pergunto: as máquinas vão mesmo<br />
ficar com os nossos trabalhos ou vão<br />
tornar-nos mais felizes? O debate ainda<br />
está em aberto, mas o que se sabe é que<br />
a automação está a chegar em força.<br />
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Gostaria que <strong>Matéria</strong><strong>Prima</strong> tratasse com<br />
mais frequência do assunto, pois estimase<br />
que 50% dos atuais postos de trabalho<br />
possam ser alvo de uma automação, seja<br />
ela feita por software ou por um robô.<br />
Lembro-me que recentemente, o vicepresidente<br />
de automação da IBM, Mike J.<br />
Hobday, disse que a automação está a<br />
chegar e precisamos de planejá-la. Se<br />
não houver planejamento, haverá consequências<br />
sociais, profetizou. À medida<br />
que este fenómeno fica mais evidente,<br />
surge a questão: o que é que os humanos<br />
podem fazer para manterem-se competi-<br />
ECONOMIA │ POLÍTICA │ ESPORTES │ HUMOR │ CULTURA 53
tivos face às máquinas?<br />
Aqui quero dar minha contribuição, antecipando-me<br />
às reportagens que a revista<br />
fatalmente fará. Revelarei, abaixo, as dez<br />
características que os profissionais devem<br />
ter para garantirem uma melhor adaptação<br />
a este novo mundo mais automatizado<br />
que se avizinha. Na minha opinião, são<br />
estas as respostas para se sobreviver à<br />
revolução das máquinas, que se avizinha:<br />
1. Tercapacidade de resolução de problemas<br />
complexos.<br />
2. Ter pensamento crítico e ser capaz<br />
de transformar a interpretação de<br />
dados em ações concretas.<br />
3. Ser criativo. As idéias aleatórias<br />
ou únicas podem ser uma mais<br />
valia no futuro.<br />
4. Saber gerir uma equipe.<br />
5. Ser capaz de coordenar-se com<br />
outras pessoas no trabalho.<br />
6. Ter inteligência emocional – a<br />
empatia e a curiosidade vão<br />
representar um papel muito importante<br />
no futuro do trabalho.<br />
7. Ter bom senso e ser capaz de tomar<br />
decisões importantes. Conseguir tomar<br />
decisões “mensuráveis” será<br />
uma capacidade muito valorizada<br />
pelos recrutadores nos próximos<br />
anos.<br />
8. Ser capaz de concretizar uma estratégia<br />
de serviços que é focada no<br />
cliente, dando apoio e suporte de<br />
forma continuada.<br />
9. Ter capacidade de negociação. Esse<br />
aspecto promete ser uma das últimas<br />
“barreiras” aos sistemas de automação<br />
e inteligência artificial. Os humanos<br />
que souberem negociar poderão se<br />
mostrar confiantes em relação ao futuro.<br />
10. Ter flexibilidade cognitiva – ser capaz<br />
de adaptar a forma de ser e estar perante<br />
o grau de exigências e desafios<br />
que aparecem.<br />
REINALDO DE ABREU SANTOS<br />
BH-MG<br />
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