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Fernando Pessoa, Hermetismo e Ideal – Vitor Manuel Adrião – Comunidade Teúrgica Portuguesa<br />
O tipo supremo desta iniciação é o de Jesus, a quem Deus, de nascença, converteu em<br />
sua mesma Essência, tornando-o Cristo.”<br />
E adianta num outro fragmento sem data, de leitura difícil:<br />
“A iniciação comporta três tipos – (1) a conquista da consciência etérica, para<br />
devido comportamento contra o astral e os sentidos; (2) a sublimação dos sentidos,<br />
misticamente; (3) o conhecimento do íntimo e do lado divino das coisas.”<br />
E no seu Ensaio sobre a Iniciação:<br />
“Há três tipos distintos de iniciação – simbólica ou externa, intelectual<br />
(exterior à interna), e vital (interna). Nas iniciações simbólicas, que reforçam a<br />
vontade e em consequência conduzem à Magia como realização, o candidato não passa<br />
por estádios de compreensão, mas, por assim dizer, por estádios de intuição; está<br />
continuamente na superfície e na aparência das coisas e, muito embora atinja o mais<br />
alto grau seja em que ordem ou ordens se inicie, esse alto grau não precisa de<br />
corresponder (geralmente não corresponde) a qualquer coisa como um grau paralelo<br />
em qualquer das iniciações internas. Nas iniciações intelectuais, que reforçam o<br />
intelecto e por conseguinte conduzem ao Misticismo como realização, o candidato<br />
passa por estádios de compreensão, mas não por estádios na vida; pode saber muito,<br />
mas não carece de viver o que sabe no mesmo nível em que o sabe. Nas iniciações<br />
vitais, que reforçam a emoção e portanto conduzem à Alquimia como realização, o<br />
candidato vive isso mesmo que sente e sabe.<br />
“Mas o verdadeiro significado da iniciação é o de ser este mundo visível em que<br />
vivemos um símbolo e uma sombra, e o de ser esta vida que conhecemos por intermédio<br />
dos sentidos uma morte e um sono, e o de ser quanto vemos uma ilusão. A iniciação é<br />
o desfazer – um desfazer gradual e parcial – dessa ilusão. A razão para o seu segredo<br />
é não estar a maioria dos homens preparada para o compreender, razão por que, se for<br />
tornado público, o não saberão entender e farão confusões. A razão para ser simbólica<br />
é não ser a iniciação um conhecimento mas uma vida e por conseguinte deverem os<br />
homens pensar pela sua cabeça o que os símbolos mostram, pois de tal modo não<br />
apenas aprenderão as palavras em que se exprimem, mas viverão por si próprios as<br />
suas vidas.<br />
“Ordens de iniciação: (1) através de símbolos e (mais tarde) explicações em si<br />
próprias simbólicas; (2) através de doutrina simbólica, verdadeira no seu plano, e<br />
explicações, já não simbólicas; (3) através de comunicação directa, embora não<br />
necessariamente falada ou declaradamente comunicada.<br />
“Não digo que estas coisas representam uma verdade e não digo que não a<br />
representam. Digo que este é o significado da iniciação, que é assim que a iniciação<br />
existe e que é para esses fins que ela existe.”<br />
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