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Fernando Pessoa, Hermetismo e Ideal – Vitor Manuel Adrião – Comunidade Teúrgica Portuguesa<br />

complicadas do que afinal é simples e só. Também há quem o aperceba<br />

parcialmente simpatizante destas ou aquelas ciências ocultistas e assim<br />

pretenderem-no, conforme as crenças postuladas, militante das respectivas<br />

organizações: ou espírita ou teosofista, ou maçom ou rosacruciano, ou isto ou<br />

aquilo… Filosofando a incongruência, poderei dizer que ele foi tudo isso e nada<br />

disso, mas sobretudo o Iniciado Real que como Livre-Pensador naturalmente<br />

dispunha-se além das afiliações humanas em quaisquer sociedades esotéricas,<br />

mesmo simpatizando com os postulados filosóficos das doutrinas de algumas<br />

delas.<br />

Acerca do Espiritismo, é claríssima a sua posição em Hyram 1 quanto aos<br />

seus inconvenientes:<br />

“Para as entidades que comunicam: intensificação das suas paixões e<br />

desejos inferiores pelo facto de voltarem a sua atenção para a vida terrestre,<br />

atraso na sua evolução espiritual, e muitas vezes o doloroso despertar de lindos<br />

sonhos em que a entidade está mergulhada. Para o médium e circunstantes:<br />

diminuição da vitalidade, desorganização orgânica, perturbações no<br />

funcionamento do sistema nervoso cardiovascular, nas funções psíquicas e<br />

finalmente a loucura.”<br />

Essa é exactamente a mesmíssima opinião de Helena Petrovna Blavatsky,<br />

fundadora da Sociedade Teosófica, em 7 de Setembro de 1875, em Nova Iorque,<br />

América do Norte. Sobre a Teosofia, Fernando Pessoa admirava-a “pelo seu<br />

mistério e grandeza ocultista”, porém repudiava o seu lado moralista e<br />

conservador cujo puritanismo mostrava-se opositor de um mais amplo<br />

desenvolvimento mental, factor psicológico imposto no seio dessa Sociedade pós-<br />

Blavatsky sobretudo pelo ex-sacerdote anglicano Charles Leadbeater.<br />

Apesar de em 1935 ter defendido publicamente a Maçonaria (decerto<br />

exclusivamente pela sua vertente Tradicional e Iniciática, como o próprio<br />

revela) 2 , quando foi aprovado o projecto-lei contra as Associações Secretas da<br />

autoria do deputado José Cabral, não deixou de escrever em Hyram: “Não sou<br />

mação nem pertenço a qualquer outra Ordem Maçónica”. Em carta a Casais<br />

Monteiro, volta a reiterar não pertencer a qualquer instituição esotérica 3 .<br />

De maneira que parece cair em “saco roto” a afirmação corrente de<br />

“Fernando Pessoa ter sido iniciado no rito inglês do Royal Arch”, pois o mais<br />

podendo dizer-se é que compreendia o sentido secreto e iniciático da Maçonaria e<br />

a sua importância na evolução mental e moral da Sociedade Humana, quase de<br />

1<br />

Fernando Pessoa, Hyram. Filosofia Religiosa e Ciências Ocultas. Notas e Postfácio de Petrus. “Tendências”, C.E.P.,<br />

Porto (s/d).<br />

2<br />

Fernando Pessoa, Associações secretas. Jornal Diário de Notícias, n.º 4388 de 4 de Fevereiro de 1935.<br />

3<br />

João Gaspar Simões, Vida e Obra de Fernando Pessoa (História de uma Geração). Livraria Bertrand, SARL –<br />

Lisboa, 1980.<br />

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