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Fernando Pessoa, Hermetismo e Ideal – Vitor Manuel Adrião – Comunidade Teúrgica Portuguesa<br />

FERNANDO, QUE PESSOA?<br />

UM CASO CLÍNICO OU UM ACASO GÉNIO?<br />

Fernando a Pessoa de andar saltitante e nervoso dobra em três passos<br />

incertos e velozes a esquina do Chiado de Lisboa e, sibilino, desaparece algures na<br />

cidade, talvez a caminho do Martinho da Arcada, talvez para as bandas da Gare<br />

Central, aquela onde está o D. Sebastião à entrada, para tomar o comboio que o<br />

leve ao xadrez serrano e paradisíaco de Sintra!… Maneira de deslocar-se, entre o<br />

calmo e o inquieto, o devagar e o veloz, numa mudança súbita de humor interior,<br />

revela o psíquico potencial, o que lida mais com as coisas do Espírito para maior<br />

desprazer das coisas da matéria, para ele simples objectos de prazer e de ilusão<br />

efêmeros. Os seus olhos, brilhando inquietos, falam do que lhe vai dentro, do<br />

ardor de génio que o consome sem parar. O seu corpo alto e delgado, quase seco<br />

mas tendendo a engordar nos últimos anos de vida, as suas mãos de intuitivo<br />

potencial, de dedos finos e longos, o trejeito tímido e desajeitado que nunca<br />

olhava as <strong>pessoa</strong>s de frente, tudo isso psicologicamente revela os traços do<br />

Homem Psicomental em potência e integralidade, ou seja, o Jina, o escritor<br />

iluminado pela barda e profética Voz da Intuição, tendo feita da pena espada<br />

sagrada e do papel campo de lide, onde a Verdade impressa se oculta sob o véu<br />

diáfano da aparente «fantasia» do poeta.<br />

Todo ele [re]velava a discreta compostura de quem vive plenamente a<br />

intensidade da disciplina interior, esotérica, auto-imposta por necessidade de<br />

Perfeição e não por alguma e moralista imposição religiosa.<br />

Foi esse esoterismo que reflectiu na sua vasta obra feita além, muito além<br />

das posteriores catalogações intelectualmente preconceituosas, subversivas e<br />

surrealistas dos auto-assumidos «especialistas <strong>pessoa</strong>nos», indo complicar o que<br />

não era complicado, indo interpretar e firmar tese aquilo que, afinal, foi<br />

inteiramente estranho ao poeta e à sua intenção tanto manifesta como íntima.<br />

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