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Fernando Pessoa, Hermetismo e Ideal – Vitor Manuel Adrião – Comunidade Teúrgica Portuguesa<br />
supor-se que a ideia de conquista tivesse de princípio grande parte na nossa vida<br />
imperial.<br />
“Nunca tivemos uma ânsia verdadeira de conquista. Nossa posição geográfica,<br />
de uma parte, nossa pequenez, de outra, no-lo inibiam. Fruto dessas condições<br />
mésicas, somos assim. O que de ódio nasceu em nós contra castelhanos, contra<br />
franceses, contra ingleses (contra alemães nunca verdadeiramente chegámos a ter<br />
ódio, tão pouco somos dados a isso), derivou de justas causas, de agressões, de perigos<br />
e de explorações de que temos sido vítimas.<br />
“(Verify) Os índios da Índia inglesa dizem que são índios, os da Índia<br />
portuguesa que são portugueses. Nisto, que não provém de qualquer cálculo nosso, está<br />
a chave do nosso possível domínio futuro. Porque a essência do grande imperialismo<br />
é o converter os outros em nossa substância, o converter os outros em nós mesmos.<br />
Assim nos aumentamos, ao passo que o imperialismo de conquista só aumenta os<br />
nossos terrenos, e o de expansão o número de os imperialismos da Besta da Cabala e<br />
do Apocalipse.”<br />
E adianta nos mesmos fragmentos, mas em texto com a indicação Bandarra:<br />
“Não é pois para uma absorção mística que avançamos, sendo para a<br />
conjunção clara dos dois poderes da Força, dos dois lados do Conhecimento. Far-se-á<br />
a aparente conquista da inteligência material pela espiritual e da espiritual pela<br />
material”. Que é dizer, a união ou metástase da mente superior espiritual com a<br />
mente inferior material, do mental com o cérebro, da Sabedoria com o<br />
Conhecimento, do Espiritual com o Temporal, da causa com o efeito, da<br />
assimilação com a vivência, pois quem muito assimila e nada vive continua<br />
inapto em termos de experiência, logo não sabendo como aplicar o muito ou<br />
pouco assimilado e, mais que isso, como sistematizá-lo e enquadrá-lo na vivência<br />
imediata, a única via por que se consegue experiência e sabedoria. Isto vale tanto<br />
individual como colectivamente.<br />
“De aí o ser o Império Português ao mesmo tempo um império de cultura e o<br />
mesmo império universal, que é outra coisa.<br />
“A «paz» que o Bandarra diz que haverá em todo o Mundo será a paz de não<br />
haver diferenças religiosas, a de «um só deus será conhecido», como ele diz ainda.<br />
“E isto tudo durará o tempo que tiver que durar, porque nada há perene ou<br />
eterno, e o mesmo Deus que criou este Mundo não é porventura mais que um de muitos<br />
«deuses», criador de um de muitos «universos», misteriosamente coexistentes, todos<br />
eles porventura descritíveis como infinitos e eternos. O Mistério – di-lo o mais Alto<br />
Ocultismo – é maior não só que o Universo, mas que o mesmo Deus.”<br />
Mas já antes, em textos provavelmente de 1918 e face à descrença e escassa<br />
fé geral na Missão Espiritual de Portugal recém-saído de uma Guerra Mundial em<br />
que fora seriamente lesado moral, social e economicamente, garantia que “os<br />
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