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Fernando Pessoa, Hermetismo e Ideal – Vitor Manuel Adrião – Comunidade Teúrgica Portuguesa<br />
enquadradas no artificialismo plástico da corrente «new age» que hoje em dia<br />
penetra até mesmo em organizações de cariz espiritual ou iniciático de grande<br />
valor provado no Passado, tendo prestaram grandes e valiosos serviços ao<br />
desenvolvimento intelectual e moral do Género Humano, procurarei penetrar o<br />
mais justamente possível no que seria o entendimento particular de Fernando<br />
Pessoa da Portugalidade Iniciática ou Espiritual. Para conseguir isso, só com as<br />
palavras do próprio e a elas recorrerei tanto quanto possível servindo-me dos<br />
seus textos coligidos por João Gaspar Simões, Dalila L. Pereira da Costa, Yvette<br />
Centeno, Pedro Teixeira da Mota, António Quadros e igualmente de revistas e<br />
jornais da época ou recentes, com testemunhos de quem na altura vivenciou<br />
directamente com o poeta e ensaísta.<br />
Inquestionavelmente foi o conjunto de poemas patrióticos, escritos entre<br />
1914 e 1934, agregado num corpo tríplice – já considerado Supra-Camoneano – a<br />
que chamou Mensagem, que arremessou Fernando Pessoa para a fama universal<br />
inscrito no Sagrado e no Mítico Português. Considere-se que sem a Mensagem<br />
dificilmente ele seria conhecido como hoje é dentro e fora da Lusofonia. É o<br />
próprio a explicar a origem de tal nome e a sua relação com o de Portugal, no seu<br />
ensaio sobre A Pátria Portuguesa – A Crise Central da Nacionalidade (em texto<br />
recolhido e organizado por António Quadros):<br />
“O meu livro Mensagem chamava-se primitivamente «Portugal». Alterei o<br />
título porque o meu velho amigo Da Cunha Dias me fez notar – a observação era por<br />
igual patriótica e publicitária – que o nome da nossa Pátria estava hoje prostituído a<br />
sapatos, como a hotéis a sua maior Dinastia. «Quer V. pôr o título do seu livro em<br />
analogia com “portugalize os seus pés”?» Concordei e cedi, como concordo e cedo<br />
sempre que me falam com argumentos. Tenho prazer em ser vencido quando quem me<br />
vence é a Razão, seja quem for o seu procurador ocasional.<br />
“Pus-lhe instintivamente esse título abstracto. Substituí-o por um título<br />
concreto por uma razão…<br />
“E o curioso é que o título Mensagem está mais certo – à parte a razão que me<br />
levou a pô-lo – de que o título primitivo.”<br />
Perante o sucesso imediato que o livro teve e querendo aprofundar o<br />
sentido último da obra decerto escondido para lá da letra impressa, o autor foi<br />
entrevistado pelo jornalista seu amigo Artur Portela, entrevista publicada na<br />
Revista de Comércio e Contabilidade, em 1934, com o título Dez minutos com<br />
Fernando Pessoa:<br />
“A calva socrática, os olhos de corvo de Edgar Poe, e um bigode risível,<br />
chaplinesco – eis a traços tão fortes como precisos a máscara de Fernando Pessoa.<br />
Encontramo-lo friorento e encharcado desta chuva cruel de Dezembro a uma mesa do<br />
Martinho da Arcada, última estampa romântica dos cafés do século XX. É ali que<br />
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