Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
11<br />
como TOD e TDAH são mais frequentes<br />
em crianças, assim como quadros<br />
de fobias e ansiedade de separação.<br />
Outros transtornos mentais graves,<br />
como quadros psicóticos e transtorno<br />
bipolar também podem ocorrer, mas<br />
são bem menos frequentes.<br />
E o TDAH? Possivelmente, na prática<br />
clínica, comorbidade de maior peso,<br />
tanto pela frequência quanto pela<br />
dificuldade de diferenciar os sintomas,<br />
é o déficit de atenção e hiperatividade.<br />
Sintomas de desatenção são<br />
facilmente camuflados pela falta de<br />
interesse social, pelos<br />
déficits de comunicação,<br />
e pelas dificuldades de<br />
automonitoramento,<br />
organização e execução<br />
de atividades comuns a<br />
pessoas com TEA.<br />
No componente da hiperatividade,<br />
alguns aspectos<br />
sensoriais, como<br />
crianças com um perfil<br />
chamado buscador,<br />
também são possíveis<br />
confundidores. Esse<br />
perfil buscador inclui<br />
algumas características<br />
como gostar de pular,<br />
e subir ou esbarrar em<br />
objetos e móveis; tocar<br />
pessoas e objetos com<br />
frequência; preferir<br />
brincadeiras mais brutas;<br />
não ter consciência<br />
da própria força; envolver-se<br />
em brincadeiras<br />
de forma mais agitada<br />
ou barulhenta.<br />
Todas essas características<br />
também podem<br />
estar presentes nos<br />
casos de hiperatividade.<br />
Já perfis de crianças<br />
pouco sensíveis a estímulos sensoriais<br />
podem ser parecidos com sintomas de<br />
desatenção, como: ser muito quieto,<br />
passivo ou retraído, e desconsiderar<br />
ou não responder a estímulos da<br />
intensidade usual disponível em seu<br />
ambiente sensorial.<br />
Em alguns casos, o tratamento medicamentoso<br />
pode ser iniciado num<br />
quadro sugestivo de TDAH, mesmo<br />
que não se tenha certeza do diagnóstico.<br />
Lembrando que pessoas com<br />
TEA estão mais sujeitas a apresentarem<br />
efeitos adversos ou reações<br />
paradoxais às medicações.<br />
Comportamentos relacionados ao<br />
transtorno obsessivo-compulsivo<br />
(TOC) são frequentemente uma dúvida<br />
diagnóstica. Talvez mais do que<br />
qualquer outro transtorno, a preocupação<br />
em como separar os sintomas<br />
de TOC dos sintomas de TEA é uma<br />
investigação clínica difícil. Uma<br />
pessoa com TOC se envolve em atos<br />
repetitivos com o objetivo de reduzir<br />
a ansiedade normalmente gerada por<br />
uma obsessão (como um pensamento<br />
intrusivo e repetitivo de que minhas<br />
mãos estão sujas).<br />
Do ponto de vista das definições,<br />
os sintomas da TEA também atendem<br />
a esse critério. Três fatores que<br />
precisam ser atendidos incluem:<br />
engajamento em atos típicos do TOC,<br />
como lavagem frequente das mãos<br />
para matar germes, capacidade de<br />
resposta às intervenções normalmente<br />
eficazes para o TOC (validade) e um<br />
conjunto básico de sintomas do TOC<br />
que estaria além do padrão típico de<br />
sintomas de TEA. Parece complicado,<br />
mas vamos tentar entender melhor.<br />
Muitas vezes, por restrições da comunicação<br />
típicas de TEA, não conseguimos<br />
investigar de maneira eficaz<br />
a presença das chamadas obsessões.<br />
Diante dessa dificuldade, quando<br />
encontramos na clínica indivíduos<br />
com TEA que apresentam padrões<br />
repetitivos de comportamentos (como<br />
rasgar papéis, arrumar objetos, fazer<br />
perguntas de forma perseverativa),<br />
podemos optar por testar o tratamento<br />
medicamentoso para TOC.<br />
Vale lembrar que alguns comportamentos<br />
são próprios da idade ou<br />
podem ser agravados por fatores<br />
ambientais, pela dificuldade de comunicação,<br />
por doenças clínicas.<br />
Um olhar cuidadoso<br />
para cada pessoa, considerando<br />
todos esses elementos,<br />
é fundamental<br />
para não transformar<br />
comportamentos típicos<br />
em doença, mas também<br />
para não deixar<br />
passar um diagnóstico<br />
que exige tratamento<br />
diferenciado. Vamos<br />
tentar resumir um<br />
pouco?<br />
Diagnóstico diferencial:<br />
processo inicial e<br />
passageiro na avaliação<br />
para determinar qual<br />
transtorno ou doença<br />
explica os sinais e<br />
sintomas apresentados,<br />
excluindo outros transtornos<br />
que têm sinais<br />
e sintomas parecidos.<br />
Alguns dos diagnósticos<br />
diferenciais de TEA<br />
são: TDAH, Deficiência<br />
intelectual, Transtornos<br />
específicos de linguagem,<br />
Transtornos de<br />
aprendizagem.<br />
Comorbidade: presença<br />
de um ou mais transtorno ou doença<br />
que ocorrem ao mesmo tempo que o<br />
diagnóstico principal. Algumas das<br />
comorbidades de TEA são: TDAH,<br />
Deficiência Intelectual, Transtorno<br />
Opositor Desafiante, Depressão e<br />
Ansiedade. Uma avaliação adequada<br />
das comorbidades é essencial para o<br />
sucesso do tratamento!<br />
GRACCIELLE RODRIGUES<br />
CUNHA: Vice coordenadora do<br />
ambulatório de cognição social<br />
(TEAMM)da UNIFESP; Psiquiatra<br />
da infância e adolescência<br />
gracci.rc@gmail.com