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27<br />

mural do prédio. Vejam só o absurdo,<br />

eu quase tive que pagar uma multa.<br />

Tentei por muito tempo explicar a<br />

todos, fazer essa integração e não<br />

consegui. Eu não me culpo por isso,<br />

muito menos ao meu filho. Claro que<br />

nem todas as pessoas agiram assim.<br />

Um síndico foi afastado porque nos<br />

defendeu. Lamento. Não por mim e<br />

minha família. Apenas não vejo mais<br />

necessidade de comentar. O tempo<br />

passou e tenho talvez a esperança ou<br />

ilusão que momentos desagradáveis<br />

assim não se repitam.<br />

Faculdade e segundo<br />

casamento<br />

Meu segundo marido foi o pai do<br />

Mateus. Tínhamos uma relação muito<br />

especial um com o outro. O Paulo foi<br />

meu mestre, meu professor, namorado<br />

e não só isso. Meu companheiro<br />

em tudo. Eu fiz faculdade de psicologia<br />

para entender melhor o Mateus e<br />

lidar melhor com as questões que envolvem<br />

seu diagnóstico. O Paulo deu<br />

a maior força. Continuo estudando e<br />

é um caminho para mim. Ele sempre<br />

soube lidar com o Mateus. Nós<br />

brincávamos todos juntos, o Mateus<br />

o imitava.<br />

Colocava o seu sapato e saia pela casa.<br />

Um dia quando o Paulo foi me buscar<br />

em casa para sair, antes de nos casarmos.<br />

Eu estava me arrumando no<br />

quarto e o Paulo na sala sentou o Mateus<br />

em seu colo, naquela época com<br />

3... 4 anos. E eu do quarto sem querer<br />

ouvi esse presente.O Paulo perguntou<br />

se o Mateus queria ser seu filho, que<br />

poderia chamar ele de pai.<br />

Nós nos<br />

divertíamos<br />

muito juntos, em parques,<br />

cinema, teatro...<br />

Cozinhávamos e o Paulo sempre fazia<br />

a gente rir. Infelizmente ele foi adoecendo<br />

com o tempo e faleceu. Eu mais<br />

uma vez fiquei abalada. Em luto.<br />

O Mateus em crise se machucou<br />

muito. As crises fazem parte do transtorno.<br />

Desde pequeno entrou em<br />

diversas crises. Para mim a pior foi na<br />

puberdade. Ficou muito perigoso para<br />

o Mateus e impossível de controlarmos<br />

sozinhos a situação. Tivemos que<br />

colocá-lo em um lar por alguns meses.<br />

Ele melhorou e voltou para casa.<br />

Hoje moramos com os avós do<br />

Mateus. É muito bom almoçar em<br />

família... essa união, família é a base.<br />

É tudo!!!<br />

Autismo e dificuldades que<br />

podemos transpor<br />

O Mateus em momentos de crise usa<br />

capacete; já precisou fazer duas cirurgias<br />

plásticas faciais. Fala-se de diagnóstico<br />

precoce, autismo na infância.<br />

É muito importante o diagnóstico<br />

precoce para o tratamento.<br />

Mas quase não se fala dos adultos.<br />

Eles envelhecem e nós também.<br />

Meu filho precisa de assistência 24<br />

horas. Todos precisamos de nosso espaço<br />

garantido. Eles não são diferentes.<br />

Onde eles tenham todo cuidado,<br />

inclusão e sua individualidade.<br />

Penso que vão precisar de mais residências<br />

assistidas acessíveis.<br />

Centros de tratamento com atendimento<br />

multidisciplinar acessível.<br />

Sempre inclusão e atendimento prioritário.<br />

Todos têm seus direitos.<br />

Todos deveriam ter os melhores<br />

tratamentos.<br />

A lei muitas vezes não saem do papel.<br />

Ela existe, mas ainda, infelizmente,<br />

não é uma realidade efetiva. Já<br />

melhorou muito, mas precisamos<br />

caminhar mais. É uma luta, porém<br />

com o apoio e a união de todos. Tenho<br />

certeza que vamos conseguir. Já está<br />

bem melhor hoje. Participei no dia<br />

da conscientização do autismo, de<br />

um simpósio na Unicamp, fazendo<br />

um depoimento de pelo menos 30<br />

minutos. Com umas 800 pessoas nos<br />

assistindo. Fiz uma entrevista na<br />

Alesp e voltei lá em um evento para<br />

dar meu depoimento.<br />

Na Câmera<br />

Municipal<br />

de<br />

Campinas<br />

também<br />

estive dando meu<br />

depoimento no encerramento<br />

do simpósio da Unicamp.<br />

Na caminhada de conscientização<br />

do Autismo na Paulista,<br />

estava lá também, fiquei muito feliz<br />

de me encontrar com muitos amigos.<br />

Vendo uma adesão cada vez maior.<br />

Temos a frente parlamentar da<br />

deficiência e do autismo. Fico muito<br />

feliz com a iniciativa da revista Ser<br />

Autista.<br />

A informação está bem maior. A<br />

aceitação também. É muito importante<br />

que a gente conheça cada vez mais<br />

nossos direitos. Meu maior medo<br />

é onde o Mateus vai ficar quando<br />

não pudermos mais suprir as suas<br />

necessidades. Tenho o apoio familiar.<br />

Embora conforme o tempo passa fica<br />

mais difícil. Há algumas poucas leis<br />

dos governos para ajudar no custeio<br />

da escola e em gastos. Mas nada muito<br />

claro, definitivo e aplicado amplamente.<br />

Para conseguir alguma ajuda é<br />

uma luta. É preciso entrar com ações<br />

na justiça e são anos. Nem sempre se<br />

consegue.<br />

No Caps o diagnóstico é feito, porém o<br />

encaminhamento para o tratamento<br />

não acontece. E as pessoas que não<br />

tem plano de saúde e vão para o SUS?<br />

Foi uma luta para ensinar o Mateus<br />

a ir ao banheiro, tirar a fralda, a sua<br />

higiene pessoal e ser relativamente<br />

independente. Lembro que aos cinco<br />

anos ele aprendeu a segurar a bola e<br />

jogar para a outra pessoa. Foi um esforço<br />

meu e de todos os que acompanham,<br />

em um treino quase diário.

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