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Como avalia o papel e o peso das agências<br />
de viagens e operadores turísticos no<br />
desenvolvimento do turismo da Madeira?<br />
O sector das agências de viagens tem sido<br />
historicamente fundamental; no presente,<br />
é simplesmente e tão-só o mais importante<br />
veículo de vendas do destino.<br />
Analisando o turismo da ilha nos últimos<br />
10 anos, há muitas diferenças na forma<br />
como o destino é vendido/distribuído?<br />
Do ponto de vista da abordagem do negócio,<br />
o desenvolvimento das low cost e a digitalização<br />
da economia mudaram os modelos<br />
de distribuição, afastando-os da comercialização<br />
charter mais tradicional. Por outro<br />
lado, claro que também notamos no próprio<br />
destino importantes linhas de modernização,<br />
do lado da oferta. Digamos que identificamos<br />
uma óbvia evolução na área da promoção,<br />
mais profissional, mais moderna, e vectores<br />
de caracterização do destino que vão ao encontro<br />
das actuais tendências da procura.<br />
São muitas as vozes que referem que o<br />
aeroporto da Madeira tem constituído um<br />
entrave ao crescimento do turismo e do investimento<br />
na ilha. Concorda?<br />
Completamente. Vivemos uma situação<br />
perfeitamente anacrónica, que urge resolver.<br />
Temos os mesmos ventos, temos uma pista<br />
maior, temos melhor tecnologia a bordo das<br />
aeronaves e no aeroporto, e, acima de tudo<br />
isto, tivemos um enorme crescimento das<br />
incidências, que atingiram níveis insuportáveis,<br />
do ponto de vista da rentabilidade das<br />
operações. O destino corre simplesmente o<br />
risco de ser carimbado como “não credível”.<br />
Será este o maior desafio que se coloca<br />
ao turismo da Madeira?<br />
Não será o único, mas não podemos negar<br />
que torna outros mais difíceis de ultrapassar.<br />
A Madeira sofreu as consequências da falência<br />
de uma série de companhias de aviação.<br />
Todas estas falências significam uma<br />
quebra de procura, que demorará tempo a ser<br />
substituída. E aqui entronca o problema do<br />
aeroporto. Se for rotulado de “pouco seguro”,<br />
do ponto de vista da capacidade de realização<br />
normal de operações, mais difícil será<br />
substituir as operações agora perdidas. Mas,<br />
é evidente, que existem mais desafios. Entre<br />
outros, o facto de termos um crescimento importante<br />
de camas, justamente numa altura<br />
em que há menos voos, ou a eventual necessidade<br />
de promovermos a Madeira em novos<br />
mercados, como os EUA ou o Brasil, agora que<br />
ficou clara a dependência perigosa do mercado<br />
do Reino Unido.<br />
Relativamente a Portugal continental,<br />
fala-se do abrandamento do turismo para<br />
<strong>2019</strong>, isso mesmo referiu ao falar em fim de<br />
ciclo no congresso de 2018. De que forma<br />
pode o sector combater esta tendência?<br />
Falei em fim de ciclo, e, hoje, não vejo<br />
absolutamente ninguém capaz de desmentir<br />
este facto. Quando hoje caracterizamos<br />
Portugal enquanto destino turístico, somos<br />
obrigados a falar de um óbvio abrandamento<br />
do crescimento, o que, aliado ao crescimento<br />
da oferta hoteleira, não pode deixar de ser<br />
considerado sensível. Curiosamente, quando<br />
falei em fim de ciclo, no último congresso da<br />
APAVT, também expliquei que não via nada<br />
de decididamente desagradável ou extraordinariamente<br />
preocupante. E também admiti<br />
como absolutamente viável a possibilidade<br />
de o novo ciclo ser de consolidação e não de<br />
decrescimento, que é o mesmo que parece estar<br />
a acontecer, com um abrandamento, mas,<br />
ainda assim, um crescimento das receitas.<br />
Portanto, respondendo à sua pergunta, não<br />
sei se temos que combater uma tendência,<br />
que é de consolidação, em cima de um extraordinário<br />
crescimento.<br />
Na sua perspectiva, quais os maiores<br />
desafios que se colocam a Portugal enquanto<br />
destino turístico?<br />
Temos de resolver o problema dos aeroportos<br />
(Lisboa, Madeira e Faro têm problemas<br />
diferentes), uma vez que os turistas entram<br />
por via aérea. Temos de apostar na formação,<br />
porque não possuímos mão-de-obra capaz de<br />
dar resposta ao crescimento recente e temos,<br />
óbvias, deficiências ao nível do serviço.<br />
Precisamos de integrar mais território do<br />
ponto de vista turístico, porque é este o único<br />
modo de diminuirmos assimetrias, de combatermos<br />
a sazonalidade e de aumentarmos a<br />
estada média dos turistas.<br />
Temos de manter os esforços de ordenamento<br />
do território e de defesa da autenticidade,<br />
ao mesmo tempo que precisamos de<br />
desenvolver políticas específicas direccionadas<br />
ao MI – Meetings & Incentives, o que<br />
implicará pensarmos não apenas em centros<br />
e congressos, mas também em melhor mobilidade<br />
nas cidades, mais hotéis de referência,<br />
apenas para dar alguns exemplos. Mas, evidentemente,<br />
a lista não fica por aqui, pois há<br />
ainda tanto para fazer!<br />
Desafios das agências<br />
de viagens<br />
As agências de viagens continuam a ser<br />
quem está mais perto dos clientes, e<br />
residirá aí a maior vantagem do sector. Os<br />
agentes de viagens são os mais bem<br />
posicionados para captar turistas nos mais<br />
diversos níveis de procura, para definir as<br />
principais linhas de política, para contribuir<br />
para a melhoria do serviço e o aumento<br />
dos níveis de satisfação dos turistas. Se é<br />
verdade que necessitamos de volante, de<br />
ergonomia, de equilíbrios, de caixa de<br />
velocidades, também é verdade que sem<br />
motor o carro não anda. Continuamos a ser<br />
o principal motor da indústria do turismo.<br />
Além deste nosso papel tão imprescindível,<br />
enfrentamos outros desafios importantes, o<br />
principal dos quais continuar a gerar valor<br />
para o cliente.<br />
121 \ Marketeer n.º 274, <strong>Maio</strong> de <strong>2019</strong>