primeira mao julho 2019
Revista laboratório do Curso de comunicação da Ufes
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Elas sempre estiveram<br />
ali, no meio<br />
da praça, paradinhas,<br />
esperando<br />
seus velhos e fiéis<br />
clientes. E ainda<br />
estão por ali, só<br />
não se sabe muito<br />
bem até quando.<br />
As famosas bancas de jornais, que recebiam<br />
os primeiros clientes às 6 da manhã<br />
para comprar o jornal do dia antes de irem<br />
trabalhar.<br />
Um costume tão comum a uns anos<br />
atrás vem desaparecendo com o passar do<br />
tempo. As bancas são uma parte cultural<br />
da sociedade que ultrapassam sua função<br />
econômica, sendo também um ponto<br />
de encontro da vizinhança. Lá, os poucos<br />
que ainda as procuram chegam com um<br />
“bom dia” e saem sabendo de tudo que se<br />
passa na vida do vizinho, debatem sobre<br />
o jogo de ontem e o “tchau” é só um “até<br />
amanhã”.<br />
É tão forte essa impressão comunicativa<br />
das bancas, que se você estiver perdido<br />
em um bairro desconhecido, basta<br />
pedir uma informação ao jornaleiro da<br />
praça, tornando até um serviço de utilidade<br />
pública. O status desse local tão querido<br />
na sociedade era enorme. A força da<br />
comunicação digital vem destruindo “sem<br />
dó” uma camada cultural que não consegue<br />
mais se reerguer. O fato é: não dá para<br />
competir com a tecnologia. Então, que<br />
medidas tomar?<br />
Para Marcelo Geara, dono de uma<br />
banca de jornais em Itaparica, Vila Velha,<br />
“está cada dia mais difícil, estamos vendo<br />
muitas revistas que eram semanais se<br />
tornando mensais, e até outras que estão<br />
saindo de circulação”.<br />
Em meio a tanta inovação, Marcelo<br />
acrescenta que “com a tecnologia cada<br />
vez mais acessível e as informações em<br />
tempo real, a concorrência fica, de certa<br />
forma, desleal. Afetou completamente”.<br />
Muitas bancas espalhadas pela cidade<br />
estão tendo que se readaptar ao mercado,<br />
trazendo itens inovadores, antes<br />
nunca comercializados, como por exemplo:<br />
carregador de celular e pen drives. É<br />
até estranho perceber que as bancas, aos<br />
poucos, se tornam lojas.<br />
Mesmo respirando por aparelho, as<br />
bancas ainda buscam um meio de estar<br />
presente na vida das comunidades que,<br />
por muitos anos, foram sua família.<br />
Para o estudante de Arquitetura e Urbanismo<br />
da Universidade de Belas Artes<br />
de São Paulo, João Felipe Falqueto, as<br />
bancas são uma segurança visual, “elas<br />
são os olhos da rua, que acompanham<br />
todo o movimento, se acontece alguma<br />
coisa, elas viram”, afirma. Além disso, o<br />
estudante enfatiza que sem as bancas a<br />
vivacidade das ruas será perdida, “as bancas<br />
são uma garantia de circulação de informação<br />
e de pessoas”, conclui.<br />
Assim, elas estão em constante mudança,<br />
buscando inovação, investindo<br />
em conveniência. O estabelecimento de<br />
Geara já está adquirindo outras funções<br />
como máquina de xerox, souvenirs, refrigerantes,<br />
cartões de visitas, panfletos e<br />
funcionando também como uma tabacaria<br />
que, segundo o jornaleiro é a área que<br />
mais vende.<br />
Abrir o leque dos itens que uma banca<br />
comercializa é fundamental para continuar<br />
seguindo nesse caminho cheio<br />
de incertezas. Hoje, há tantas perguntas<br />
em relação ao futuro que nem mesmo a<br />
tecnologia é capaz de responder. Tudo<br />
é rápido, imprevisível e atual. Saber que<br />
competir com a tecnologia é a escolha<br />
mais errada devido a tantas mudanças,<br />
mas entendê-la e introduzi-la na rotina é<br />
a decisão mais adequada seja qual for seu<br />
negócio.<br />
Não são só as bancas que estão tendo<br />
que reestruturar seu trabalho. Os próprios<br />
jornais se viram num mundo onde as pessoas<br />
já não procuram mais os classificados<br />
para anunciar, indo agora para a internet<br />
por causa de sua celeridade. Marcelo<br />
acredita que os jornais impressos terão<br />
um fim no futuro. “Com a notícia na palma<br />
da mão, os jornais viverão de publicidade<br />
e irão circular de forma gratuita”, afirma.<br />
38 <strong>julho</strong> <strong>2019</strong>