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Luís Carlos<br />
Desde o início da civilização, há mais ou<br />
menos uns 10.000 anos, o ser humano<br />
tem se deparado com uma série de dúvidas<br />
a respeito do mundo em que vive e, principalmente,<br />
sobre ele mesmo. Porém, por<br />
mais que ele especule sobre a sua existência,<br />
por mais que ele tente desvendar o mistério<br />
das coisas, por mais que ele procure<br />
conhecer o desconhecido, dificilmente tem<br />
conseguido chegar a uma conclusão pacífica<br />
sobre as indagações que o tem perturbado<br />
nesse tempo todo.<br />
Entretanto, para alguns tem sido até<br />
fácil. Basta apenas acreditar num ente supremo,<br />
que tudo provê, e crer que, além<br />
desta nossa “insignificante” vida terrena,<br />
haverá outra onde ele poderá ser mais feliz<br />
do que talvez o tenha sido nesta. Já para<br />
outros tem sido muito mais difícil, pois, se<br />
ele não crê na primeira hipótese, forçosamente<br />
deve acreditar que só se vive uma<br />
vez e então, terminada sua breve existência<br />
em nosso planeta, nada mais sobrará.<br />
Nada mesmo.<br />
O primeiro caminho que o homem tem<br />
seguido tem sido o da religião; o outro, o<br />
da ciência. O impasse entre essas duas<br />
correntes ainda continua atual, apesar das<br />
inúmeras conquistas científicas que se têm<br />
verificado ao longo de todos esses séculos.<br />
Entretanto, mesmo entre aqueles que<br />
procuram a segurança na religião, na crença<br />
e na fé, sempre remanescem dúvidas<br />
quando as inevitáveis circunstâncias da<br />
vida os levam no mais das vezes a se sentir<br />
inseguros e fragilizados. E quando se achava<br />
que a ciência, a partir do Renascimento<br />
e do Iluminismo no século 18 conseguiria<br />
resolver todos os problemas do homem e<br />
até desvendar alguns dos mais profundos<br />
mistérios da natureza, ao contrário do que<br />
se pensava, mais e mais dúvidas foram<br />
surgindo nos últimos dois séculos.<br />
Mas como ninguém quer ficar na dúvida,<br />
porque esta leva à insegurança, a maioria<br />
das pessoas não quer nem mesmo refletir<br />
superficialmente sobre o assunto, porque,<br />
para essa extrema maioria, basta tão somente<br />
procurar viver sem maiores preocupações,<br />
minimizando os problemas. Viver,<br />
pura e simplesmente. Aproveitar ao máximo<br />
B<strong>ED</strong>RAN<br />
Sociólogo e articulista da Revista<br />
Comércio & Indústria de Araraquara<br />
Ciência e Religião<br />
a vida, comer, beber, amar e divertir-se enquanto<br />
pode, porque não desconhece que a<br />
vida não é eterna.<br />
Outros, porém, alguns poucos que querem<br />
descobrir o significado das coisas, não<br />
se conformam com a sua atroz insignificância<br />
e então procuram confortar seu pensamento<br />
ou suas angústias tentando descobrir<br />
fórmulas que os satisfazem, dentro da<br />
liberdade, do livre-arbítrio de que supostamente<br />
possam ter ou do destino fatal a que<br />
estão sujeitos.<br />
É isso que a Humanidade tem se deparado<br />
durante todo esse tempo em que o<br />
homem começou a desfrutar do ócio, a ter<br />
tempo e condições para refletir. Ou ele parte<br />
para a religião ou então para a ciência. Mas<br />
quando, nem uma e nem outra conseguem<br />
satisfazê-lo suficientemente, aí ele procura<br />
o caminho da filosofia.<br />
Porque é na filosofia que ele tenta escapar<br />
do dogmatismo da fé e também do<br />
dogmatismo da fé na ciência, levada até as<br />
suas últimas consequências. Mas isso não<br />
quer dizer que também ele conseguirá escapar<br />
das eternas dúvidas e dos mistérios<br />
eternos que ainda envolvem a existência do<br />
homem na sociedade em que vive.<br />
Ao contrário do que se poderia imaginar,<br />
mesmo as descobertas filosóficas mais surpreendentes,<br />
mesmo as ideias e as interpretações<br />
dos grandes filósofos em todos<br />
os tempos, têm conduzido o ser humano a<br />
muito mais dúvidas ainda, as infinitas dúvidas.<br />
Mas como ele está fadado a pensar, a<br />
raciocinar e a usar da razão, que é da sua<br />
própria condição humana, não há como escapar<br />
dessa sua eterna sina.<br />
Por isso, apesar do possível conforto<br />
espiritual que a religião poderia nos proporcionar,<br />
apesar de todas as descobertas<br />
científicas que têm levado o homem a viver<br />
melhor, ou pelo menos, aparentemente melhor<br />
em sua vida material - e isso já é uma<br />
discutível dúvida filosófica -, ainda assim<br />
restam as eternas indagações humanas,<br />
que, tanto a religião, quanto a ciência ou<br />
a filosofia estão tentando responder, mas<br />
que ainda estão bem longe de conseguir<br />
desvendá-las.<br />
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