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RCIA - ED. 108 - JULHO 2014

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Luís Carlos<br />

Desde o início da civilização, há mais ou<br />

menos uns 10.000 anos, o ser humano<br />

tem se deparado com uma série de dúvidas<br />

a respeito do mundo em que vive e, principalmente,<br />

sobre ele mesmo. Porém, por<br />

mais que ele especule sobre a sua existência,<br />

por mais que ele tente desvendar o mistério<br />

das coisas, por mais que ele procure<br />

conhecer o desconhecido, dificilmente tem<br />

conseguido chegar a uma conclusão pacífica<br />

sobre as indagações que o tem perturbado<br />

nesse tempo todo.<br />

Entretanto, para alguns tem sido até<br />

fácil. Basta apenas acreditar num ente supremo,<br />

que tudo provê, e crer que, além<br />

desta nossa “insignificante” vida terrena,<br />

haverá outra onde ele poderá ser mais feliz<br />

do que talvez o tenha sido nesta. Já para<br />

outros tem sido muito mais difícil, pois, se<br />

ele não crê na primeira hipótese, forçosamente<br />

deve acreditar que só se vive uma<br />

vez e então, terminada sua breve existência<br />

em nosso planeta, nada mais sobrará.<br />

Nada mesmo.<br />

O primeiro caminho que o homem tem<br />

seguido tem sido o da religião; o outro, o<br />

da ciência. O impasse entre essas duas<br />

correntes ainda continua atual, apesar das<br />

inúmeras conquistas científicas que se têm<br />

verificado ao longo de todos esses séculos.<br />

Entretanto, mesmo entre aqueles que<br />

procuram a segurança na religião, na crença<br />

e na fé, sempre remanescem dúvidas<br />

quando as inevitáveis circunstâncias da<br />

vida os levam no mais das vezes a se sentir<br />

inseguros e fragilizados. E quando se achava<br />

que a ciência, a partir do Renascimento<br />

e do Iluminismo no século 18 conseguiria<br />

resolver todos os problemas do homem e<br />

até desvendar alguns dos mais profundos<br />

mistérios da natureza, ao contrário do que<br />

se pensava, mais e mais dúvidas foram<br />

surgindo nos últimos dois séculos.<br />

Mas como ninguém quer ficar na dúvida,<br />

porque esta leva à insegurança, a maioria<br />

das pessoas não quer nem mesmo refletir<br />

superficialmente sobre o assunto, porque,<br />

para essa extrema maioria, basta tão somente<br />

procurar viver sem maiores preocupações,<br />

minimizando os problemas. Viver,<br />

pura e simplesmente. Aproveitar ao máximo<br />

B<strong>ED</strong>RAN<br />

Sociólogo e articulista da Revista<br />

Comércio & Indústria de Araraquara<br />

Ciência e Religião<br />

a vida, comer, beber, amar e divertir-se enquanto<br />

pode, porque não desconhece que a<br />

vida não é eterna.<br />

Outros, porém, alguns poucos que querem<br />

descobrir o significado das coisas, não<br />

se conformam com a sua atroz insignificância<br />

e então procuram confortar seu pensamento<br />

ou suas angústias tentando descobrir<br />

fórmulas que os satisfazem, dentro da<br />

liberdade, do livre-arbítrio de que supostamente<br />

possam ter ou do destino fatal a que<br />

estão sujeitos.<br />

É isso que a Humanidade tem se deparado<br />

durante todo esse tempo em que o<br />

homem começou a desfrutar do ócio, a ter<br />

tempo e condições para refletir. Ou ele parte<br />

para a religião ou então para a ciência. Mas<br />

quando, nem uma e nem outra conseguem<br />

satisfazê-lo suficientemente, aí ele procura<br />

o caminho da filosofia.<br />

Porque é na filosofia que ele tenta escapar<br />

do dogmatismo da fé e também do<br />

dogmatismo da fé na ciência, levada até as<br />

suas últimas consequências. Mas isso não<br />

quer dizer que também ele conseguirá escapar<br />

das eternas dúvidas e dos mistérios<br />

eternos que ainda envolvem a existência do<br />

homem na sociedade em que vive.<br />

Ao contrário do que se poderia imaginar,<br />

mesmo as descobertas filosóficas mais surpreendentes,<br />

mesmo as ideias e as interpretações<br />

dos grandes filósofos em todos<br />

os tempos, têm conduzido o ser humano a<br />

muito mais dúvidas ainda, as infinitas dúvidas.<br />

Mas como ele está fadado a pensar, a<br />

raciocinar e a usar da razão, que é da sua<br />

própria condição humana, não há como escapar<br />

dessa sua eterna sina.<br />

Por isso, apesar do possível conforto<br />

espiritual que a religião poderia nos proporcionar,<br />

apesar de todas as descobertas<br />

científicas que têm levado o homem a viver<br />

melhor, ou pelo menos, aparentemente melhor<br />

em sua vida material - e isso já é uma<br />

discutível dúvida filosófica -, ainda assim<br />

restam as eternas indagações humanas,<br />

que, tanto a religião, quanto a ciência ou<br />

a filosofia estão tentando responder, mas<br />

que ainda estão bem longe de conseguir<br />

desvendá-las.<br />

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