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Hoje em dia a concorrência<br />
é cada vez mais feroz, cruel<br />
e digital<br />
gal, Brasil, Angola, Espanha, Argentina e Estados<br />
Unidos da América.<br />
Como profissional activo e conhecedor do<br />
sector, que balanço faz? O sector das viagens<br />
está pujante, ou antes pelo contrário, já teve<br />
dias melhores e como é que o governo da<br />
República tem lidado com o sector?<br />
- À semelhança de tantas outras áreas, a das viagens<br />
está em profunda expansão e, para usar o<br />
termo, pujante. Para tal, tem contribuído a estabilidade<br />
económica e política do país, permitindo<br />
às pessoas viajarem mais para o estrangeiro. Por<br />
outro lado, tem contribuído, numa perspectiva<br />
de receptivo, o facto de Portugal estar na moda<br />
e ser um país altamente recomendável pelos factores<br />
que são por todos reconhecidos: segurança,<br />
património, gastronomia, mar, clima, beleza<br />
em geral, simpatia e hospitalidade. O governo,<br />
seja da República seja outro, não se intromete<br />
nas questões que têm que ver com as viagens,<br />
isto no sentido de quem viaja para fora. Quanto<br />
ao viajar cá para dentro, naturalmente tem tido<br />
um papel crucial de há uma meia dúzia de anos<br />
a esta parte com todo o apoio que tem dado aos<br />
operadores turísticos estrangeiros e aos investidores<br />
portugueses. Tem cumprido o seu papel, o<br />
que nos dias que correm é sempre de enaltecer.<br />
Como é que viu a falência do operador Thomas<br />
Cook e de que forma a situação está a<br />
ser gerida pela Abreu?<br />
- Vejo com preocupação no sentido de manchar<br />
terrivelmente a credibilidade do negócio do turismo<br />
e por ser uma das empresas mais antigas<br />
do mundo. Só um esclarecimento: ao contrário<br />
do que tem vindo a público, não é o operador<br />
de viagens mais antigo do mundo, pois a Abreu<br />
cumpre em dezembro deste ano, 179 anos. Posto<br />
isto, a Abreu não tem negócios com a Thomas<br />
Cook pois esta tem as suas próprias estruturas<br />
montadas por todo o mundo sem ter que assinar<br />
parcerias com locais, pelo que, não nos afecta<br />
directamente.<br />
O que é que poderia ser feito para evitar<br />
situações como a Cook? O que é que falhou?<br />
- Pensar consistentemente, agir consolidamente,<br />
gerir melhor ponderando cada passo, não<br />
enveredar por projectos megalómanos, sobretudo<br />
quando o turismo é uma das indústrias<br />
mais sensíveis que existe em todo o mundo.<br />
Naturalmente que a insegurança e impreparação<br />
em relação ao Brexit, que está como está,<br />
terá provocado a precipitação deste lamentável<br />
desfecho. E, sobretudo, não vender ao desbara-<br />
to quando hoje em dia a concorrência é cada vez<br />
mais feroz, cruel e digital. Se é para “sobreviver”<br />
neste charco de tubarões, que se nade com estilo<br />
e dignidade.<br />
Está em curso a preparação para o novo<br />
governo executivo nacional. Se fosse ministro<br />
ou secretário do Turismo português, o<br />
que é que mudaria no sector?<br />
- Para já, nunca aceitaria um cargo desses por<br />
mais prestigiante que pudesse ser. O meu estômago<br />
é muito frágil, não se relaciona bem com<br />
sapos nem com carneirismos, sou o oposto do<br />
“yes man”, gosto de dormir muito bem e de ter<br />
tempo para fazer livremente o que gosto e gosto<br />
de preservar a paz familiar. A minha forma irreverente<br />
de estar teria uma gigantesca dificuldade<br />
em gerir essa remota e hipotética possibilidade,<br />
pelo que me escuso de responder à segunda<br />
questão.<br />
Quais são os destinos que emergerão e os<br />
que poderão vir a desaparecer ?<br />
- De uma forma geral, temos sempre as crónicas<br />
“zonas de conflito”, tipo Golfo Pérsico, que está<br />
outra vez na corda bamba devido à instabilidade<br />
geopolítica em que alguns fanáticos são useiros<br />
e vezeiros. E o Médio Oriente, palco de permanentes<br />
tensões. Serão sempre os políticos e as<br />
religiões a provocarem problemas e a interditarem,<br />
nem que seja temporariamente, um determinado<br />
destino. Veja-se, por exemplo, o caso<br />
do Mali, um destino fantástico que ficou interditado<br />
por causa da Al-Qaeda. Ou o Afeganistão,<br />
um dos locais mais belos do planeta e com<br />
um património absolutamente imperdível. E a<br />
Síria! Um dos mais belos destinos que tive oportunidade<br />
de conhecer. O sector turístico a nível<br />
mundial debater-se-á sempre com estas instabilidades<br />
e também com a económica, pois sem<br />
dinheiro as pessoas não podem cumprir sonhos.<br />
Por oposição, a paz será sempre o motor mais<br />
credível e o aliado mais fiel de qualquer destino<br />
turístico. Desaparecer desaparecer, não direi<br />
mas existe alguma tendência, e também muita<br />
especulação, quanto a destinos que poderão vir<br />
a sofrer consequências muito prejudiciais devido<br />
ao aumento do nível das águas dos oceanos.<br />
Maldivas, por exemplo. Destinos emergentes:<br />
Coreia do Norte (um dos lugares mais pacíficos<br />
e seguros que conheço em todo o mundo),<br />
Butão (um dos destinos mais raros e preciosos<br />
que conheço já quase como a palma das minhas<br />
mãos), os pequenos tesouros de quem ninguém<br />
se lembra à partida, como a Ilha do Príncipe, as<br />
ilhas Faroé, a Gronelândia, o Equador, o Benim,<br />
a Etiópia, o Djibuti... O que o verdadeiro viajante<br />
hoje em dia procura é um destino alternativo<br />
e desmassificado. As pessoas que sabem viajar<br />
estão cada vez mais cansadas das angústias<br />
das multidões.<br />
Serão sempre os políticos e<br />
as religiões a provocarem<br />
problemas e a interditarem<br />
um determinado destino;<br />
veja-se o caso do Mali, um<br />
destino fantástico que ficou<br />
interditado por causa da<br />
Al-Qaeda<br />
Como é que o sector está a encarar o futuro<br />
do sector face às alterações climáticas?<br />
- É um pouco o regresso à questão anterior...<br />
Acabo de vir da Gronelândia e, apesar de ser um<br />
destino verdadeiramente espetacular, a verdade<br />
é que existem glaciares que na última década<br />
perderam praticamente 40% da sua área. A<br />
poluição, em termos gerais, será também e sempre<br />
um factor prejudicial e danoso para qualquer<br />
destino e que poderá levar muita gente a<br />
não o procurar.<br />
Para terminar mas não menos importante:<br />
o que tem de mais desafiante trabalhar neste<br />
mundo das viagens e se vale continuar a<br />
apostar no mesmo?<br />
- Ai se vale! Absolutamente. Pelo menos para<br />
mim, que tenho o privilégio de conciliar a parte<br />
profissional com a componente de lazer.<br />
Ou seja, consigo perfeitamente realizar-me em<br />
ambos os aspectos, divertir-me à brava com o<br />
meu trabalho e fazê-lo em permanente enriquecimento<br />
de gentes e de lugares. Nunca me<br />
cansa, pelo que estou na profissão certa e dificilmente<br />
encontraria uma que conseguisse substituir<br />
à altura. Bem, talvez ser escritor a tempo<br />
inteiro... Apostar no mesmo depende do tipo de<br />
negócio, ou projecto, (diferente, inovador, atrevido,<br />
desafiador) se é este o contexto da pergunta,<br />
e das garantias de retorno que o mesmo possa<br />
trazer num espaço nunca inferior a 3 anos. Normalmente<br />
o empresário português reduz essa<br />
estimativa para 3 meses. É melhor ficar quieto<br />
e dedicar-se ao cultivo do tomate ou da batata<br />
doce... s<br />
saber SETEMBRO 2019<br />
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